segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

dos dias

dos dias e das noites, assim pensando e sentindo-te

O Livro dos Saberes Práticos

para a cândida



TRABALHOS
PRIMEIRO EXERCÍCIO LITERÁRIO

“Se o quotidiano lhe parecer pobre não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser bastante poeta para conseguir apropriar-se das suas riquezas.”

Rainer Maria Rilke, Cartas a um Jovem Poeta

[Redescreve-se? O mundo se redescreve. Melhor, o mundo nasce. Dedicado, na época, este texto, a  Charles Baudelaire, o poeta da cidade contemporânea. Leitura de “O Spleen de Paris”. Escrevia, então, mais abaixo da dedicatória: “os deuses agora nos escutam, no silêncio infinito do real”. Mais citações. Duas. Jorge Luís Borges. i) “A biblioteca é uma esfera cujo centro cabral é qualquer hexágono, cuja circunferência é inacessível.” ii) “Suspeito de que a espécie humana – a única – está para se extinguir e que a Biblioteca permanecerá: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta.” Das “Ficções”, daquele texto fantástico “A Biblioteca de Babel”. Começava então assim o texto que se chamava “A Cidade dos Pássaros”. Hoje, trabalhos. Subtítulo: primeiro exercício literário. Pode haver modificações, redescrições. Nós nos redescrevemos.] Já o afirmámos várias vezes, como tantos outros, provavelmente: o edifício, um dia destes, cai de monotonia. O que o sustêm são [as] milhares e milhares, infinitas palavras que comporta. As colunas que sustentam o edifício, interiormente e exteriormente, não sustentarão a educação e as artes, nem farão protecção à protecção e as figuras irão desaparecer lentamente no espaço, na imensidão serena do abraço eterno, nem sustentarão o ser e o universo fictício, a busca espiritual cessará e os opostos vencerão todos os esforços de conjugação e de união para a ventura do infinito [no real]. As palavras ficarão intactas porque só elas sabem o segredo da conservação, e assim a  tradição da escrita manter-se-á, na busca serena de toda a verdade possível, como de um ciclo se tratasse. Às vezes o edifício torna-se cansado em si mesmo, numa monotonia errante e contagiosa, numa busca constante de algo. [Vive-se amorosamente]. [Assim como se diz em "O Livro dos Saberes Práticos", que cito, "dos dias e das noites, assim pensando e sentindo-te"].

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