domingo, 30 de outubro de 2011

biblioteca municipal camilo castelo branco a caminho do centenário

para a cândida, afectuosamente
… a Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco é fruto duma memória e de um percurso que atravessa os séculos, unindo todas as gerações de famalicenses que a sonharam.

Artur Sá da Costa


Sousa Fernandes


O jornal famalicense Estrela do Minho, no dia 12 de Outubro de 1913, logo na sua primeira página, noticiava o novo equipamento cultural famalicense nos seguintes termos, intitulando o artigo “Bibliotheca Municipal”.

Inaugurou no Domingo passado esta nossa biblioteca pública, constituindo este acto, como estava anunciado, um número das festas com que nesse dia se comemorou o advento da República. / A solenidade teve lugar no próprio recanto da biblioteca, devidamente ornamentado para o fim, assistindo muitas pessoas dotadas da vila e concelho, e tocando por vezes uma banda de música postada no átrio dos Paços do Concelho. / Eram 14 horas quando o sr. Sousa Fernandes tomou a palavra falando largamente sobre o assunto daquele novo centro de estudo e instrução que ia abrir-se para o povo de Famalicão, terminando às 15 horas por um vibrante viva a República que o selecto auditório repetiu em coro. / A biblioteca, que desde terça-feira está franqueada ao público durante as horas regulamentares, e de acordo com o regulamento já aprovado pela Câmara, foi inaugurada com 2439 volumes, sendo 1909 oferecidos por 98 cavalheiros do nosso concelho e de fora dele e 530 comprados com 275 escudos oferecidos em dinheiro por 23 outros generosos cidadãos que para esse fim ofereceram as suas verbas…



O primeiro bibliotecário


A notícia termina com um apelo camarário dirigido à imprensa nacional para a criação de um “Gabinete de Leitura de Jornais”, na oferta das suas publicações; e uma das maiores preocupações de Sousa Fernandes, Senador da República e Presidente da Comissão Municipal Administrativa, foi, indiscutivelmente, a constituição de uma camiliana, tal como demonstra o seu jornal O Porvir.
O que aqui convém salientar é, acima de tudo, a generosidade e a solidariedade social dos cidadãos famalicenses, estando presente uma empresa, assim como do exterior, na oferta de obras e de um orçamento para a compra das mesmas tendo em vista a constituição da biblioteca municipal. Assim sendo, e a título exemplificativo, temos, no caso dos famalicenses doadores António Dias Costa, António Luís Machado Guimarães, António José de Sousa Cristino, Bernardino Machado, Delfim José Pinto de Carvalho, Daniel Rodrigues, Eduardo José da Silva Carvalho, Francisco Correia de Mesquita Guimarães, Gaspar Pinto de Sousa & Irmão, Heitor Esteves Brandão, Júlio Brandão, Sousa Fernandes, José de Azevedo e Menezes, Nuno Simões, Rodrigo Terroso, Tipografia Minerva, Visconde de Pindela, Visconde de Castelões, Henrique Garcia Pereira Martins, entre tantos outros; e dos cidadãos exteriores ao concelho podemos salientar Américo de Castro, Alberto Pimentel, Mendes dos Remédios, Tomás da Fonseca, Visconde de Vila-Moura, etc. Facto a registar para a constituição da biblioteca famalicense foi a união de republicanos e monárquicos.




P. Benjamim Salgado


O que convém aqui evocar é que as raízes da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco (BMCCB) não é propriamente filha da República, na medida em que a Lei publicada no Diário do Governo de 25 de Março de 1911 estipula e obriga as Câmaras Municipais a instituírem e a fundarem as bibliotecas municipais. Desta forma, a génese das bibliotecas populares e municipais podemos encontrá-la na Geração de 70, mais propriamente no Decreto de 2 de Agosto de 1870, o qual cria essas mesmas bibliotecas, e no de 20 de Janeiro de 1871, o qual institui o seu Regulamento, aparecendo um nome associado, o de D. António da Costa. Estes decretos vão dar origem, apesar de tardio, ao Gabinete Português de Leitura, o qual foi constituído numa sala das Escolas do Conde de São Cosme do Vale, inauguradas em 1903. O Estrela do Minho vai denominar esse mesmo “Gabinete” de “Biblioteca Municipal”- Aliás, já temos conhecimento desta mesma realidade em 1898, até porque a Junta da Paróquia de Vila Nova de Famalicão tinha já então a intenção de criar numa das salas do referido edifício um “Gabinete Público de Leitura”. Nesta época, finais do século XIX, temos também a indicação da existência de uma “Bibliotheca da Escola Oficial para o Sexo Masculino”, e, em 1907, temos a “Bibliotheca Escolar de Villa Nova de Famalicão”, esta criada pelo professor, do então ensino primário, António Maria Pereira em 1907, estando na sua constituição o espírito doativo.
Com a referida lei de 1911, será só na sessão da Câmara Municipal de 7 de Setembro, presidida pelo nosso já conhecido Sousa Fernandes, e com a presença dos vereadores Lopes da Silva, Albino Marques e Zeferino Pereira, que é aprovada a acta para a realização da Biblioteca Municipal, a qual terá as suas instalações na Secretaria da respectiva Câmara. Por seu turno, na sessão de 23 de Dezembro do mesmo ano, Fernandes irá propor o nome de Camilo Castelo Branco para patrono da biblioteca famalicense; e, logo de seguida, a 28, é nomeado o primeiro bibliotecário, Henrique Garcia Pereira Martins, permanecendo no cargo até 1933, sucedendo-lhe Paulo Brandão Peixoto, ficando até 1944 e, em 1945, por concurso público não menos polémico (conforme notícia publicada pelo correspondente de Famalicão no jornal bracarense Correio do Minho) é nomeada bibliotecária Ana Lucília Vieira de Castro e Costa.


Vasco de Carvalho



Será, precisamente, no dia 5 de Outubro de 1913, às 14 horas, e no âmbito das comemorações republicanas, que a BMCCB será oficialmente inaugurada nos Paços do Concelho, sendo aprovado em 27 de Setembro o seu Regulamento interno. No Auto da inauguração da “Bibliotheca Municipal do Concelho de Famalicão”, Sousa Fernandes dirá que “conquanto a criação da Biblioteca não seja propriamente da iniciativa da Câmara, é certo que a Câmara se empenhou em dar cumprimento ao decreto… por o reconhecer digno de toda a consideração visto que tem por fim instruir o povo. E então não havendo verba orçamental para ocorrer a todas as despesas de instalação recorreu às ofertas quer de livros, quer de dinheiro dos compatriotas que se dedicam ao bem da instrução e ao engrandecimento da nossa terra.” Ao longo da sua história, entre a República e o Estado Novo, a biblioteca famalicense conhecerá algumas vicissitudes, umas positivas, outras negativas. Em 1934 é transferida para a praça 9 de Abril, ficando instalada num edifício alugado; e em 1943 instala uma polémica na imprensa, local e nacional, a propósito das suas instalações (desconfortáveis), da desorganização dos catálogos e da falta de leitores. Já antes, em 1938, Folhadela de Macedo, no Notícias de Famalicão, fala não só da urgência da aquisição de novas obras e das más instalações, como proclama e solicita a criação de uma Biblioteca-Museu (surgindo esta mesma proposta muitos anos mais tarde, em 1966, pelo Presidente da Câmara Municipal de Famalicão José Pinto de Oliveira). Até 1961 e 1965, os quais serão anos cruciais e emblemáticos para a projecção da biblioteca famalicense (e já iremos ver porquê) vão surgindo solicitações para a criação de novas bibliotecas, num caso ou noutro mais temáticas. Muito antes, em 1915, a imprensa famalicense reivindica a criação de uma Biblioteca Móvel, a qual só será concretizada em 1944. Em 1931 pretende-se instaurar em Famalicão as Bibliotecas Agrícolas, por iniciativa da Associação dos Bombeiros Voluntários de Famalicão, ficando a selecção a cargo de Bento Carqueja. Em 1930, o “Estrela do Minho” solicita, a exemplo de outros municípios, e para que o espólio da biblioteca não ficasse desactualizado, à Câmara Municipal a adopção de uma percentagem do orçamento do município para aquisição de novos volumes, já que os que existem, segundo o jornal, eram os mesmos desde a inauguração! Aliás, já em 1914, e em anos posteriores, esta será uma constante preocupação do mesmo jornal. A par destas sugestões e da institucionalização de um equipamento cultural, o concelho de Famalicão conhecerá mais dois novos equipamentos: 1955 será o ano em que é fundada uma Biblioteca Popular em Cabeçudos e em 1959, na Casa do Povo de Ribeirão, é inaugurada uma outra.





Nuno Simões

Como acima dissemos, 1961 e 1965 são anos fulcrais para o desenvolvimento das colecções bibliográficas da nossa biblioteca e, essencialmente, por três razões: em primeiro lugar, porque em 1961 são inauguradas as novas instalações nos novos Paços do Concelho (o vereador da cultura, P. Benjamim Salgado, assume o cargo de bibliotecário até 1972, ano em que vai dirigir os serviços culturais da Fundação Cupertino de Miranda) e, por outro lado, com as doações dos espólios particulares de Vasco de Carvalho (essencialmente história local, conhecido pelos seus estudos históricos famalicenses) e de Nuno Simões (espólio marcado essencialmente pela literatura, a sociologia e a história do Brasil), o primeiro em 1961 e o segundo em 1965. Este espírito doativo será ainda mais concretizado em 1996 com o espólio de Armando Bacelar (particularmente sobre o Neo-Realismo) e o de Eduardo Prado Coelho (essencialmente filosofia e literatura) em 2007. Por seu turno, em 1992 a biblioteca obtém uma variada documentação da actividade da Oposição Democrática não só do concelho de Famalicão (não só política como também cultural), como igualmente do distrito de Braga e de âmbito nacional da época do Estado Novo, salientando nesse espírito doativo os nomes de Joaquim Loureiro, Macedo Varela, Margarida Malvar, Artur Sá da Costa e Lino Lima (aliás, este último, oferecia ainda nesse mesmo ano uma série de documentos originais referentes à actividade da Monarquia do Norte em Famalicão).
A influência luso-brasileira de Nuno Simões vai dar um novo incremento e uma nova actividade não só à própria biblioteca, como também à comunidade famalicense. Será, precisamente, tal como o entendo e denomino, o Ciclo Luso-Brasileiro Famalicense: em 1959 Assis Chateaubriand faz uma doação de livros para a Casa de Camilo; em 1965, o mesmo oferece 165 cartas inéditas de Camilo para a Casa-Museu; em 1969 a Biblioteca Nacional do Brasil oferece à BMCCB 1675 volumes; e em 1971 o Governo brasileiro faz a doação de um milhar de volumes à nossa biblioteca, cuja oferta terá a designação de Biblioteca Assis Chateaubriand.



1966 será também um ano fulcral para Famalicão em termos de leitura pública, até porque será inaugurada a 114.ª Biblioteca Fixa da Fundação Calouste Gulbenkian, com cerca de 2200 volumes, no antigo edifício dos Bombeiros Voluntários de Famalicão. Em 1967 surge uma descentralização cultural em termos de leitura, a par dos exemplos dos anos cinquenta: em Landim é inaugurada uma biblioteca com a doação de livros do P. José Dias Veloso.
Em 1970 a Câmara Municipal ao adquirir à Fundação Cupertino de Miranda o edifício do antigo hospital, tinha então a intenção de aqui instalar a biblioteca com outras repartições camarárias; e com a inauguração da mesma Fundação, em 1972, integrando nos seus serviços uma biblioteca, José Casimiro da Silva irá propor, pela primeira vez e publicamente, no jornal Estrela da Manhã, a necessidade de um edifício de raiz e exclusivo para a BMCCB. Mas antes de chegar a este ponto, gostaria de referir o projecto inovador realizado em 1973, denominado o Programa de Leitura Juvenil, sendo o vereador da cultura Camilo Freitas.



Assim sendo, o sonho de um edifico de raiz e único para a biblioteca famalicense começará a ter sentido e a concretizar-se, precisamente, nos seguintes anos: em 1983 ano em que surge o 1.º Manifesto de Leitura Pública em Portugal; em 1985 surge o Manifesto da UNESCO sobre as Bibliotecas Públicas e, finalmente, em 1987 quando surge o Projecto para a Criação de uma rede nacional de Leitura Pública, neste mesmo ano, numa Assembleia Municipal ordinária do município famalicense, a Câmara efectua um empréstimo de 50 mil contos, tendo sido aprovado por unanimidade. Mais uma vez, tal com em 1913, a cultura reuniu as forças ideológicas do município; e, por seu turno, em 25 de Dezembro, a autarquia assinará o Contrato-Programa com o então Instituto Português do Livro e da Leitura para a concretização das novas instalações de raiz da BMCCB, sendo o edifício da autoria do arquitecto João Marta e inaugurado em 1 de Junho de 1992
Ora, se a BMCCB foi o sonho das gerações de todos os famalicenses, ela continuará ser o sonho da actual geração em direcção ao futuro, não devendo esquecer as suas comemorações centenárias (2013). A comunidade famalicense marcará, indubitavelmente, a sua presença.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

bernardino machado sócio efectivo da academia das ciências de lisboa

para o dr. manuel sá marques, com uma abraço fraterno e saudoso de amizade





"A Academia e a Política". In Portugal, LisboaAno 1, n.º 81 (16 Jun. 1917), p. 1





dos feriados e da memória histórica

para a cândida, afectuosamente




Um País que esquece a sua própria História é um país falhado. Hoje, que não há tempo histórico da memória, apenas uma memória sem história que se pretende reinventar, quer a nível colectivo, quer a nível individual, sendo o esquecimento o tempo histórico do imediato devido a falta de referências, a medida que este governo pretende imprimir aos feriados do dia 1 de Dezembro e do 25 de Abril de 1974, de pretender suprimir esses mesmos feriados, o que temos é um atentado à memória histórica e colectiva. Jacques Le Goff, num texto que se chama "Memória" (publicado entre nós em 1984 na "Enciclopédia Einaudi") diz-nos, a dado passo, que a memória é um elemento essencial perante aquilo a que se costuma designar de identidade (individual e colectiva), sendo a sua busca uma das actividades fundamentais do ser humano e das sociedades contemporâneas. O que este governo não encontrou ainda é o que Jacque LeGoff nos diz a seguir: que a memória colectiva é não somente uma conquista, sendo também, e aqui é que é assustador, um objectivo de poder. No primeiro caso, já aqui o tenho dito neste blog, o que esta direita conservadora, mais do que construir, senão mesmo de reconstruir, tem desfacelado essa mesma memória colectiva perante a fragmentação social. No segundo caso, a república democrática na qual vivemos, quer na fase da esquerda social, que estando demissionária e em gestão de poder, a qual não pretendeu comemorar Abril numa atitude de comodismo, e, por outro lado, a direita que pretende a reforma da administração local, dessacraliza não só a memória histórica, como, igualmente, as conquistas do poder local. A conclusão a que se chega é que o projecto para uma ampla cidadania activa dos cidadãos na sociedade portuguesa pode ficar em risco. Jacque LeGoff, no mesmo texto referido, conclui que a memória onde cresce a História, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Acima de tudo, devemos trabalhar de uma forma para que a memória sirva para a libertação e não para a servidão do ser humano. E, numa altura em que as comemorações dos 40 anos do 25 de Abril se aproximam (2014), a supressão do dia 25 de Abril como feriado nacional é, precisamente, uma tentado à memória histórica e colectiva da sociedade portuguesa. Não devemos apagar a memória. Já agora, porque não suprimir o dia 5 de Outubro?

terça-feira, 25 de outubro de 2011

bibliotecas

para a cândida, afectuosamente, que gosta de bibliotecas e de livros

Vieira da Silva, Biblioteca, 1949


"Um bibliotecário é um bibliotecário. Quero dizer, um bibliotecário não é um técnico de administração, como também não é um técnico de administração, como também não é um conservador-restaurador. Tão pouco é um historiador, muito embora faça muita e demorada investigação bibliográfica, às vezes histórica também. Estas afirmações parecem desnecessárias mas, de facto, por questões de sobrevivência profissional e posicionamento é absolutamente indispensável recolocar os dados da questão."

Maria Luísa Cabral



  • Preservar as nossas colecções
  • Bibliotecas versus Museus
  • Sensibilizar leitores e pessoal não especializado para os problemas da preservação
  • Património cultural e políticas de preservação
  • Para uma estratégia em preservação e conservação na Biblioteca Nacional
  • Microfilmagem & Digitalização: a coexistência pacífica
  • Aprender a vencer a ansiedade ao passar de uma política de gestão da preservação para a sua prática
  • Da conservação à transferência
  • Jornais microfilmados: que destino?
  • Microfilmagem, hoje ainda

antónio ventura e a cultura portuguesa


para a cândida, afectuosamente

estes estudos do prof. antónio ventura (um especialista dos estudos históricos da guerra peninsular e da república) sobre a cultura portuguesa, e publicados em várias revistas, nomeadamente, por exemplo, "revista da biblioteca nacional" ou "lusitânia sacra", ou incluídos em várias obras colectivas, reflectem, precisamente, áreas como o neo-realismo, a seara nova, antónio sardinha, padre antónio vieira, a guerra peninsular, nicolau tolentino, entre outros. esta obra foi publicada em 2004 e encontrei-a num alfarrabista em famalicão, a preço de saldo, no leclerc.


  • Algumas reflexões sobre o pensamento político de D. José da Cunha de Azeredo Coutinho
  • A "Guerra das Laranjas" na poesia coeva: uma sátira atribuída a Nicolau Tolentino
  • D. Pedro de Sousa e Holstein entre Lete e Mnemosine
  • O 1.º Duque de Palmela e Olivença: uma rentativa gorada de acordo (1816)
  • A contestação ao Centenário Antoniano de 1896
  • O movimento antoclerical português oitocentista perante o Padre António Vieira
  • Entre Cila e Caríbdis. Eusébio Leão perante a Espanha e a Inglaterra
  • A «Seara Nova» e a Galiza: contribuição para o estudo das relações culturais luso-galegas
  • Há uma estérica seareira?
  • O Professor Ferreira de Macedo, fundador da Universidade Popular Portuguesa
  • António Sardinha: mitologia integralista e revisão da História de Portugal
  • Correspondência de Abtónio Sardinha para o editor elvense António José Torres de Carvalho (1902-1916)
  • António Sardinha republicano
  • António Sardinha íntimo: cartas inéditas a Ana Júlia e a David Nunes da Silva
  • Os Neo-Realistas portugueses e a II Guerra Mundial

domingo, 23 de outubro de 2011

a maçonaria feminina portuguesa




O Prof. Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado e em representação do Vereador da Cultura da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão Dr. Paulo Cunha, na apresentação do Prof. António Ventura, afirmou que este tem trabalhos inovadores no âmbito da República, publicando uma série deles só em 2010, devido, precisamente, às fontes que investiga.
Realizando no início da sua conferência uma perspectiva histórica perante a inclusão ou não das mulheres na Maçonaria, na qual os seus membros masculinos deveriam ser homens de bem, de boa reputação, leais, nascidos livres e não escravos, com a exclusão das mulheres, já que estas criariam perturbações de várias ordem aos elementos masculinos.
Em Portugal (temos a escassez de fontes originárias), surge a primeira loja de adopção em 1864, com 19 obreiras, não se sabendo a loja à qual pertenciam. Mas em 1886 sabe-se que a Loja Filipa de Vilhena se encontra adoptada pela Loja Restauração de Portugal, esta fundada em 1863. Se, entretanto, surgem dissensões no Grande Oriente Lusitano, se este seria, surgindo a polémica, uma federação dos ritos ou de federação de lojas, surge a Grande Loja dos Maçons Antigos Livres de Portugal, saindo do Grande Oriente Lusitano pelo menos 15 lojas, e o Grande Oriente Lusitano Unido, este fundado em 1889. No primeiro caso, a Loja de Portugal integra-se na primeira loja, sendo esta que protegia a da Filipa de Vilhena (então constituída por 12 obreiras).


o Prof. António Ventura, o conferencista convidado, e o Prof. Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado, no momento da apresentação do convidado


Em 1904, com o movimento republicano português a implantar-se na sociedade portuguesa, a maçonaria portuguesa aparece com um papel independente face à maçonaria francesa. Surgem duas lojas femininas: a Loja Humanidade (estando à frente Ana de Castro Osório), adoptada pela Loja Fernandes Tomás da Figueira da Foz, e a Loja 8 de Dezembro. Em 1913, já em plena República, surgiu o inquérito de Ana de Castro Osório, no qual se questionava a presença ou não das mulheres na Maçonaria. Entre as várias opiniões que o Prof. António Ventura citou (Afonso Costa, António José de Almeida, Magalhães Lima ou José Mata), cita-se a do Maçon José Pinheiro de Melo, o qual era “contra a promiscuidade dos sexos” na instituição maçónica. Em 1915 surge a Loja Carolina Ângela, tendo novas características: não estava dependente de uma loja masculina, e, uma outra, é a de obediência mista. Integrando-se mais tarde na Loja Humanidade, surgiu nos anos 20 na Loja dos Direitos Humanos de Paris, de obediência universal e não nacional. Será com Adelaide cadete que a Loja Humanidade sai do Grande Oriente Lusitano Unido e muitas lojas masculinas solidarizam-se com a própria loja, cerca de metade.



O Prof. António Ventura, na sua conferência

Em conclusão, o Prof. António Ventura salientou que as lojas femininas portuguesas não praticam o ritmo de adopção e, por outro lado, para os historiadores surge a falta de documentação para o aprofundamento dos estudos históricos da maçonaria feminina em Portugal.


um aspecto da assistência

vila do conde 2011/10/22

para a cândida, amorosamente

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

a cultura no município famalicense

para a cândida, afectuosamente


 

 

Hoje fui até à Casa da Cultura e lembrei-me de ir ver as novidades literárias que a autarquia famalicense patrocina. Dois já conhecia, por amável oferta dos seus autores, nomeadamente Salvador Coutinho e o seu livro "Um dia Há Tanto Tempo no Mundo" e o de Serguilha "Kao`e". Dos que trouxe constam o de Bernardete Costa com o título "Transpiração", a poetisa da memória afectiva, do músico famalicense Carlos Macedo "Simplesmente Peregrino" e o de Fernando Pereira "Apenas Acreditar". Relembro aqui o projecto IMAN, dirigido por Alexandre Costa, famalicense com projecção artística internacional, nas novas visões estéticas e das novas configurações da arte, nos seus mais variados aspectos. Retiro do livro de Bernardete Costa este poema:

Primeiro beijo

"Um beijo frágil a desvanecer
na luz do azul, a morrer
                                               docilmente
no declínio da noite;
mas um beijo a arder, a clamar sede
e fome no mar do amor e do desejo;
um beijo sem nome,
com sabor a mel,
                                               apaixonadamente
a despertar no corpo a primavera."





quarta-feira, 19 de outubro de 2011

um país adiado

para a cândida, com afecto, estas linhas escritas no nosso café, de nome "casal"




anteontem, ao chegar a casa, e ao ligar a sicnotícias, às sete, o ministro das finanças lá estava, e mais descontraído, e, depois, durante o noticiário das oito, nas entrevistas, parecia que estava com um sorriso irónico para os portugueses, ou pelo menos para metade dos portugueses. liguei a lindo sorriso, e digo-lhe, Olha, o nosso amigo, não deve ser coisa boa o que aí vem! Mudei logo de canal, para os filmes, ao menos a catástrofe, ou as catástrofes, materiais e humanas, são irreais e ficcionais, às vezes da própria existência, o que já é mais sério. ´lições de vida, diria. e se o país acordou, os portugueses não deixarão de sonhar por uma vida melhor, com o que de melhor a vida tem para oferecer. alguns politólogos e políticos, e mesmo jornalistas, sabemos quem são, o têm afirmado: é hora de deixar de sonhar! Não, é a hora de continuar a sonhar criativamente, não para o abismo, como cada vez mais nos querem fazer crer, mas para o futuro, já que os políticos não pensam no futuro, nem no futuro a médio-prazo: pensam simplesmente num presente imediato sem soluções, sem prospectivarem políticas económicas para o desenvolvimento do país. a catástrofe está precisamente, para além das injustiças fiscais (sendo a segunda vez) na desunião de um país que não se encontra a si mesmo; e os políticos , em vez de projectarem essa união, projectam no imediato a fragmentação social. desde a esquerda dita social, passando pela direita conservadora, que a fragmentação social tem sido projectada dramaticamente e, possivelmente, num futuro imediato, poderá ser assustador. a passividade portuguesa destes últimos anos tem muitas frustrações acumuladas. o que poderá ser perigoso; e se a esquerda dita social foi criando o mito entre a função pública e o privado, a direita conservadora, com argumentos que não convencem, tornou esse mito cada vez mais real. e ontem, que namorei, só acordei quando fui ao café e observei que jogava o benfica, e não deixou ficar mal os benfiquistas.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

espinosa e o amor


para a cândida, afectuosamente

"quando amamos, e somos amados, trememos."

O Livro dos Saberes Práticos



"O amor é a alegria acompanhada da ideia de uma causa exterior.

EXPLICAÇÃO
Esta definição explica de maneira suficientemente clara a essência do amor. Ao contrário. a dos autores que definem o amor a vontade do amante de se unir à coisa amada não exprime a essência do amor, mas uma propriedade deste. / Como a essência do amor não foi bem percebida por esses autores, daí resulta que também não puderam fazer um conceito claro das suas propriedades; o que fez com que todos julgassem a sua definição extremamente obscura. Deve observar-se, todavia, que, quando digo que essa propriedade consiste na vontade do amante de se unir à coisa amada, não entendo por vontade um consentimento ou deliebração da Alma, isto é, uma decisão livre..., nem mesmo o desejo de se unir à coisa amada quando ela está ausente, ou de permanecer na sua presença quando ela está presente. Com efeito, o amor pode conceber-se sem nenhum desse desejos; mas, por vontade, entendo o contentamento íntimo que se produz no amante por causa da presença da coisa [ser humano, pessoa*] amada, contentamento pelo qual a alegria do amante é fortificada ou ao menos alimentada."

Espinosa

* palavras minhas.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

do olhar

para a cândida, afectuosamente


"... é sobretudo com o olhar que o amor acontece e dele resulta a sua existência."

Aristóteles

domingo, 16 de outubro de 2011

os metafísicos, os ironistas e as bibliotecas



para cândida batista, que gosta de bibliotecas

este foi um livro que me marcou fortemente na licenciatura. ajudou-me a ultrapassar dificuldades e a repensar a vida. estabelecendo as diferenças entre as pessoas metafísicas e as ironistas, considerando as primeiras como aquelas em constante interrogação e que o mundo está sempre em descoberta, pelo contrário, as ironistas são aquele tipo de pessoas que estão perante a contingência e a historicidade do mundo, rorty parte para algo assombroso, a forma como os metafísicos e os ironistas constroem a sua própria biblioteca.




"Os metafísicos vêem as bibliotecas como estando divididas segundo disciplinas correspondendo a diferentes objectos de conhecimento. As ironistas vêem-nas como estando divididas segundo tradições, em que cada membro  destas adopta parcialmente e modifica parcialmente os vocabulários dos autores que leu. As ironistas consideram os textos de todas as pessoas com dotes poéticos, todas as mentes originais que tiveram talento para a redescrição - Pitágoras, Platão, Milton, Newton, Goethe, Kant, Kierkegaard, Baudelaire, Darwin, Pascal - como grãos para o mesmo moinho dialéctico. Os metafísicos, pelo contrário, pretendem começar esclarecendo quais dessas pessoas foram poetas, quais foram filósofos e quais foram cientistas. Pensam ser essencial esclarecer os géneros - ordenar os textos por referência a uma grelha previamente determinada, uma grelha que, seja o que for que além disso fizer, pelo menos distinguirá claramente entre pretensões de conhecimento e outros modos de chamar a nossa atenção.A ironista, pelo contrário, gostaria de evitar condicionar os livros que lê utilizando qualquer grelha dessas (ainda que, com uma resignação irónica, se aperceba de que dificilmente o pode evitar."

Rorty
I
CONTINGÊNCIA
A contingência da linguagem
A contingência da individualidade
A contingência de uma comunidade liberal

II
IRONISMO E TEORIA
A ironia privada e esperança liberal
Autocriação e filiação: Proust, Nietzsche e Heidegger
Da teoria ironista às alusões privadas: Derrida

III
CRUELDADE E SOLIDARIEDADE
O barbeiro de Kasbeam: Nabokov e a crueldade
O último intelectual da Europa: Orwell e a crueldade
Solidariedade

gavião em festa

Como se não chegassem os governos da esquerda dita social, a direita ultra-conservadora, agora no poder, o que cria com o orçamento do próximo ano, e para 2013, é simplesmente a evolução das dissenções, das fracturas e conflitos sociais, como se Portugal não fosse um único País. A função pública não deve ser, como escrevi da última vez, o bode expiatório, de um País que sobrevive sem imaginação. O argumento de que a função pública tem ordenados superiores aos do privado não convence, porque as remunerações, quer no público, quer no privado, são em si próprias idênticas, baixas e altas. Salva-nos as memórias fotográficas e históricas da igreja paroquial de Gavião, hoje estando a freguesia em festa. Um bom Domingo.