quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Sousa Fernandes (1849-1928), o republicano

 
 

Joaquim José de Sousa Fernandes
(Vila Nova de Famalicão, 24/01/1849-Vila Nova de Famalicão, 13/041928)

 

Nascido em Vila Nova de Famalicão, era filho de António Joaquim Fernandes e de Justa Maria de Sousa Fernandes. Com treze anos, em 1862m emigrou para o Brasil, segundo um caminho já traçado por outros membros da sua família, tornando um brasileiro de torna-viagem, até fixar residência definitiva em V. N. de Famalicão, em 1906. No Brasil, a exemplo de outros portugueses emigrados, seguiu a carreira comercial, no Rio de Janeiro, na casa Gomes & irmão, tornando-se sócio-gerente em 1878.


Foi, precisamente, no Rio de Janeiro que começou a sua instrução autodidacta, vindo a ser influenciado pela revolução republicana brasileira (1889), escrevendo assiduamente não só para o jornal portuense “O Primeiro de Janeiro” as suas afamadas “Crónicas Brasileiras”, como igualmente na Revista do Retiro Literário Português, fundada por Sousa Fernandes, vindo, aliás, a ser Presidente Honorário e seu Sócio Benemérito do Retiro. Colabora, igualmente, ainda nesta época, em dois almanaques, nomeadamente no “Almanaque do Minho” (1893) e no “Almanaque de Braga” (1894), com ficções e textos de divulgação sobre V. N. de Famalicão, o mesmo acontecendo, no último caso, no citado jornal portuense, segundo demonstra a seguinte notícia: “Este importantíssimo diário portuense publicou no seu número de Domingo último gravuras desta formosa vila, acompanhas dum artigo descritivo do ilustrado publicista nosso conterrâneo, Exmo Sr. Sousa Fernandes.[1]” Publicou três livros: “Recordações de Viagem” (1883), “Telas de Viagem” (1890) e “Pequenos Estudos” (1891), sendo um dos primeiros a escrever, e a publicar, sobre o género, a literatura de viagens, em V. N. de Famalicão


[1] “O Janeiro”. In O Lutador. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 69 (16 Abr. 1902), p. 2.



Como aconteceu um pouco por todo o País, a última década do século XIX foi marcada pela efervescência da propaganda republicana, o mesmo acontecendo entre nós. Na sequência do Ultimatum e da revolução republicana do Porto de 31 de Janeiro de 1891, o Partido Republicano Português vê aumentar a sua força, crescer o número de aderentes e multiplicam-se os órgãos de propaganda. Em V. N. de Famalicão, e através de Sousa Fernandes, publicou-se a revista literária “Nova Alvorada”, de propaganda carismaticamente republicana, sendo Fernandes seu director entre 1891 a 1895; e, por seu turno, neste mesmo último ano funda não só a Comissão Municipal do Partido Republicano, como igualmente o seu órgão, o jornal “O Porvir”, assim se candidatando às eleições municipais.
Destes tempos de propaganda temos, pelo menos, dois testemunhos; o de Manuel da Silva Mendes (1869-1938) e o de Nuno Castelo Branco (18641896). Nuno Castelo Branco, a 27 de Outubro de 1895 no jornal “O Leme”, numa crónica denominada “A Política do Concelho”, analisa os três partidos que então vão concorrer à autarquia famalicense: do Partido Regenerador, diz-nos que “as coisas não lhe estão na melhor ordem”, enquanto que relativamente ao Partido Progressista questiona: “Quem é o chefe? Onde está o chefe? Quem são os progressistas? Onde estão eles?” Quanto ao Partido Republicano, afirma que este é o que vai ganhando “sangue novo”, tratando “de se preparar para as eleições camarárias com toda a sua força.” E continua: “ Não sabemos se tem bons dados para o alcançamento da vitória”, existindo “grande receio por parte dos regeneradores, progressistas e mesmo católicos”.


Quem nos conta um pouco mais desta época republicana nascente em V. N. de Famalicão, e do papel de Sousa Fernandes, é Silva Mendes nas suas “Impressões de Macau”. Referindo-se a si mesmo como “republicaneiro”, informa-nos que dizia mal da odiosa monarquia e dos monárquicos no “Porvir” de Sousa Fernandes; e deste, diz-nos, a dada altura, que “vindo da Rua do Quitanda para Famalicão, donde era natural, com alguns fumos de rico, e muitos de liberal-republicano. No Rio tinha feito muitos discursos vermelhos, sabia de cor Danton e Robespierre e fundou na vila “O Porvir”, que era como quem dissesse a República à porta."
Esta fase de euforia republicana duraria até finais de 1897, altura em que Sousa Fernandes regressou ao Brasil. A partir daqui, com o fim da publicação do jornal “O Porvir” e as demissões verificadas na Comissão Municipal Republicana, alguns dos quais irão surgir mais tarde nas fileiras do Partido Progressista, os republicanos famalicenses passariam por uma crise identitária, só terminando com o regresso de Sousa Fernandes, com uma nova fase de propaganda, a saber: reorganizou uma nova Comissão Municipal em 1905, 1906 e 1908 e fez parte da Comissão Distrital Republicana de 1908 e 1910. Em 1906 faz Fernandes ressurgir “O Porvir” e neste mesmo ano, na Associação do Operariado Famalicense, mais propriamente no Teatro Progresso, realiza em 18 de Novembro a conferência “O Espírito da Associação na sua Evolução Histórica e Modo de Ser Actual” e o comício de Braga em 1908, uma nova etapa de propaganda republicana em Famalicão se concretiza, tendo sido o acontecimento mais marcante a inauguração em 14 Novembro de 1909 do Centro Republicano Dr. Bernardino Machado, com a presença do patrono, o qual proferiu a conferência “Têm Liberdade os Monárquicos em Portugal?”, numa homenagem, ao mesmo tempo, ao republicano Gonçalves Cerejeira.


 
Depois do 5 de Outubro, Sousa Fernandes será, sucessivamente, Administrador do Concelho e Presidente da Comissão Municipal Republicana da Câmara Municipal (recorde-se, não sem incidentes de percurso, como são os casos da Fonte Santa de Mouquim, a polémica à volta do regulamento da Guarda Nacional Republicana ou ainda a intenção de Fernandes de acabar com os Bombeiros e a sua respectiva associação, para dar voz a uns Sapadores de Bombeiros, polémica esta com a Comissão Municipal do Partido Republicano Evolucionista, entre outras), que tomou posse a 8 de Outubro de 1910, ficando marcado este último cargo, indiscutivelmente, pela sua intervenção na fundação da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco. Foi deputado à Assembleia Constituinte (1911) e eleito Senador pelo Distrito de Braga. Desiludido com os sucessivos governos republicanos, considerava que só o Governo Provisório e o I Ministério de Afonso Costa tinham feito obra útil e republicana, afastando-se Fernandes da actividade política a seguir ao sidonismo, dedicando-se a causas cívicas e culturais. participando e discursando nas sessões cívicas e comemorativas de V. N. de Famalicão, no plano cívico, e segundo o “Estrela do Minho”, de 15 de Abril de 1928, numa espécie de In Memorian, sabemos que o edifício escolar da época “deve-lhe grande auxílio de alguns contos que lhe prestou, abrindo uma subscrição entre os seus amigos no Brasil.”
 
 

Paralelamente, será nomeado por Carlos Bacelar Director da Casa-Museu de Camilo em 1924, assim que a Comissão de Homenagem a Camilo, presidida então por José de Azevedo e Menezes, passaria a administração da respectiva Casa-Museu para o município famalicense. O “Estrela do Minho”, de 13 de Abril de 1924, noticia, assim, já na parte final da notícia, o referido acontecimento: “Está, portanto, entregue em boas mãos o Museu Camiliano de Seide. O sr. Sousa Fernandes é um culto e um alto espírito que muito honra Famalicão. Tem, por isso, toda a competência para aquele delicado cargo, além de ser também um fervoroso admirador da obra do grande torturado de S. Miguel de Seide.”
Em 1925, entrando já a República na sua fase de decadência, no jornal “O Minhoto”, órgão do Partido Republicano Radical da Comissão Municipal, em 5 de Outubro de 1925, considerava-se Fernandes “um soldado fiel e disciplinado do velho e benemérito Partido Republicano Português.” Homenageado em 1911 e em 1925 por um Grupo de Republicanos Famalicenses, a Câmara Municipal de V. N. de Famalicão homenageou-o em 1988.





terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Bernardino Machado: Obra Política III


Numa organização da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e em colaboração com o Museu Bernardino Machado, assim como com as Edições Húmus, a apresentação do III Tomo da Obra Política de Bernardino Machado tem já a sua data confirmada, respectivamente, para o próximo dia 8 de Março de 2013 às 21h30 no Museu Bernardino Machado. O Período que abrange o presente volume (1910-1914) corresponde a três fases muito distintas no percurso politico de Bernardino Machado: a) a sua acção ministerial no Governo Provisório e participação nas Constituintes; b) da sua malograda candidatura a Presidente da Republica até ao fim da sua actividade, como senador, da Republica (em meados de 1912);  e c) a sua estadia oficial no Brasil, como ministro de Portugal, de meados de 1912, até ao seu regresso a Portugal, no início de 1914. O 1º destes períodos é de grande euforia: é o da realização do programa do Governo Provisório, no qual se empenha, entusiasticamente, convicto de que as medidas implantadas não só correspondem às promessas do P.R.P. na Oposição como se identificam com a opinião pública e as aspirações populares; o 2º período, é o da sua deliberada marginalização politica pelo “bloco” do Poder (maioritário no Senado e na Câmara dos Deputados) que procuram “linchá-lo” e desacreditá-lo, moralmente, enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros (através do “caso” Batalha Reis) mas também minimizar a sua acção no tempo da propaganda republicana (como fez Camacho); o 3º período, é o da sua estadia oficial no Brasil, cujo regresso a Portugal – já com o Partido Democrático, com a maioria absoluta na Câmara dos Deputados (desde Novembro) e a maioria absoluta nos municípios – acabará por se traduzir numa vitória triunfal sobre os seus inimigos, ao ser convidado, por Manuel de Arriaga, para formar Governo. A introdução, assim como as notas deste volume, do Professor Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado e das Obras de Bernardino Machado, encontra-se assim estabelecida:

 
1.          Imperativo e razões de união do Partido Republicano

2.          As ideias religiosas de Bernardino Machado

3.          Defesa do Governo Provisório e porquê

4.          O lugar da “metáfora” no discurso politico de Bernardino

5.          A ideia de revolução e a revolução de 5 de Outubro

6.          Nação, pátria e PRP: uma e a mesma coisa

7.          O “5 de Outubro” foi, acima de tudo, um movimento da “alma nacional” (e, subsidiariamente, um acto pontual)

8.          Contra os conspiradores

9.          9. O anticlericalismo: justificação e limites.

10.      A emancipação religiosa, politica e económica como regeneração e redenção da “alma nacional”.

11.      A mulher

12.      A estadia de Bernardino no Brasil:

12.1.                     A emigração portuguesa no Brasil e para o Brasil

12.2.                     As relações luso-brasileiras

13.       Em defesa da descentralização