sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O Centenário da Caixa de Crédito Agrícola

O ano de 1913 em Vila Nova de Famalicão é um ano particularmente rico em acontecimentos, nomeadamente no campo social, cultural, educativo, político e económico. Se no campo social e económico é criado o Sindicato Agrícola (dando continuidade à Associação de Agricultura Famalicense, fundada em 1911), por outro lado, no campo social surgirá a Guarda Nacional Republicana. Por seu turno, no campo cultural, a Associação de Classe dos Empregados do Comércio (existente desde 1904), irá fundar a sua Tuna dos Empregados do Comércio e o seu Grupo Dramático Caixeiral, como irá surgir o Salão Olímpia. Ainda no campo cultural, teremos a grande obra dos republicanos e da comunidade famalicense com, sob o impulso de Sousa Fernandes, a criação da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, enquanto que no campo educacional, no Louro, será fundada a Escola Agrícola D. Maria das Dores. Se sairá o primeiro presidente da Câmara Municipal eleito nos tempos da República, pioneira na edificação da Biblioteca, a então Vila de Famalicão será igualmente pioneira no campo económico, sendo criada a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Famalicão, tendo sido, na época, uma das primeiras a surgir em todo o Minho. Neste sentido, a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo do Médio Ave (doravante CCAMMA) tem celebrado ultimamente o seu centenário, resolvendo publicar o livro “CCAMMA: 1913-2013-Um Século de Crédito Agrícola em Famalicão”. Fundada por algumas personalidades oriundas do Sindicato Agrícola, os autores do referido livro, Cláudio Garcia e Fernando Mendes, não só estabelecem um enquadramento social, económico e histórico-político de Famalicão, assim como do Médio Ave, como explicam igualmente a evolução histórica do crédito agrícola mútuo, desde D. Sancho I até aos nossos dias. Profusamente ilustrado, contém ainda uma tábua cronológica, permitindo assim ao leitor contextualizando-se no apogeu e nas vicissitudes da instituição económica famalicense centenária. De salientar, a referência que faz a Bernardino Machado (ficando desculpada a falha da não referência ao Museu com o seu nome) o qual, no seu Ministério de 1914, instituiu a mutualidade agrária. Acrescento e recordo que estas preocupações machadianas têm já a sua génese em 1893, sendo então Ministro das Obras Públicas no governo de Hintze Ribeiro. Aqui, não só fomentou e desenvolveu o ensino técnico, comercial e agrícola (instituindo a criação de uma Biblioteca Agrícola), como já tinha apoiado a constituição dos sindicatos e das cooperativas agrícolas. Da mensagem do Conselho de Administração da CCAMMA cito este pequeno fragmento: “Sem memória não há perspectiva de futuro. / Uma instituição que preserva a sua história divulgando-a e valorizando-a é uma instituição com identidade própria e com força para enfrentar os desafios do futuro. / É uma instituição que se orgulha da sua cultura, das suas tradições e do seu património.” A CCAMMA está de parabéns!

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

"Cem (e mais alguns) Anos de Livros", de Amadeu Gonçalves



Na próxima Sexta-Feira, dia 6 de Dezembro, pelas 10h15, na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, vai ser apresentado o livro de Amadeu Gonçalves com o título "Cem (e mais alguns) Anos de Livros". Este livro terá a apresentação de Henrique Barreto Nunes, figura incontornável da Leitura Pública em Portugal (fez também a introdução). Fica aqui um pequeno extracto, referente à fundação da Biblioteca, a qual aconteceu no dia 5 de Outubro de 1913 no âmbito das comemorações do III Aniversário da Implantação da República em Portugal.

Será, nomeadamente, em 3 de Agosto de 1913 que o “Estrela do Minho” noticiará nas seguintes palavras a futura inauguração da Biblioteca Municipal, indicando os respectivos melhoramentos:

Será inaugurada muito breve a biblioteca pública, que o município oferece aos estudiosos e já conta com mais de dois mil volumes, embora começasse só há alguns meses a organizar-se. Deve-se este belo resultado à tenacidade e boa vontade do presidente do Município, sr. Sousa Fernandes, que pelos seus amigos tem conseguido todos aqueles livros e ainda bastante dinheiro para a compra de outros. / A biblioteca vai ser servida por mais uma porta para o exterior do edifício e logo que os recursos o permitam, estará de noite franqueada ao público. / É mais um belo melhoramento importante para Famalicão, devendo-se muitos louvores a quem o iniciou[1].
Por seu turno, “O Porvir” começará por realçar as comemorações do III Aniversário da República e a respectiva comissão que o município organizou para a realização das mesmas. Assim sendo, em 25 de Setembro informa que “para tratar das festas comemorativas do 3.º ano da República nomeou a Câmara uma comissão constituída pelos srs. Dr. Delfim de Carvalho, Joaquim Malvar, António Gama, Albino Marques, Alípio Guimarães, Jaime Valongo, dr. Rodolfo Aguiar e Alfredo Costa, a que, também por nomeação camarária, foi agregada a junta paroquial da vila. / Na sua primeira reunião, que foi ontem, deliberou esta comissão que o programa das festas fosse o seguinte: alvorada com música e salvas; bodo aos pobres; bodo aos presos; inauguração da biblioteca; conferência no Salão da Câmara por um orador de fora[2]”; e a 2 de Outubro noticia não só a inauguração da Biblioteca[3], como igualmente as actividades que se irão realizar nas freguesias no âmbito das comemorações da República[4] e a oferta de um busto da  República[5].
Ora, o que terá acontecido nesse dia 5 de Outubro de 1913 em V. N. de Famalicão? Conforme o Convite institucional que o município famalicense então enviou para imprensa, convidando a população e inserindo o programa das actividades festivas do aniversário da Proclamação da República, no jornal “O Porvir”, de 2 de Outubro de 1913, lemos nesse convite que “a comissão dos festejos tem a honra de convidar todas as pessoas, sem distinção de classes, para assistirem aos actos comemorativos da data gloriosa de 5 de Outubro que se realizam nesta vila”, solicitando ainda que “a todos os habitantes desta localidade pede a mesma comissão para embandeirarem e iluminarem as fachadas dos seus prédios”, constando do programa: “às 9 horas, almoço aos presos das cadeias desta, com assistência do corpo judicial; bodo aos pobres da freguesia da vila às 13 horas, no edifício das escolas, salão do sexo feminino; às 15 horas inauguração solene da Biblioteca Municipal.” Mais nos diz este convite “à alvorada, a música percorrerá as ruas da vila tocando o hino nacional e far-se-á ouvir também em todos os actos constantes do programa”.
Para “O Comércio do Porto” nada se realizou do programa na vila, só havendo as comemorações na freguesia do Louro[6], destacando a trovoada que então se fez sentir. A informação mais completa e detalhada acabou por sair no jornal “A Montanha”, do Porto, com o sub-título “Diário do Partido Republicano Português” (I), notícia que aliás mereceu uma objecção do jornal “Desafronta”, o órgão do Partido Republicano Evolucionista de V. N. de Famalicão (II), criticando o entusiasmo dos republicanos famalicenses, conforme as notícias do jornal “O Porvir”[7], analisando de seguida as festas em Famalicão. Vejamos os textos referidos:
I)
Outubro, 5. O que foram aqui as festas de 5 de Outubro. / De manhã, a alvorada, grande quantidade de foguetes estralejaram nos ares e uma banda de música percorreu as ruas tocando «A Portuguesa» e a «Maria da Fonte». / Às 13 horas houve no salão da Escola do Sexo Masculino a distribuição da boda aos pobres, em número de 35, recebendo cada um 10 centavos, um cobertor e 2 broas de pão. / Presidiu o ilustre senador sr. Sousa Fernandes, secretariado pelos srs. dr. Delfim de Carvalho e Henrique Garcia. / Achavam-se presentes muitos cavalheiros. Entre eles lembra-nos ter visto os srs. Daniel Santos, administrador do concelho Rocha Carvalho, Zeferino Bernardes Pereira, Alfredo Costa, Eduardo Joaquim da Silva, Augusto Sampaio, Jaime Valongo, Augusto Trindade, dr. Rodolfo Aguiar, Lino Guimarães, dr. [António] Matos, Armindo Costa, Delfim Silva, Júlio Santos, Joaquim Portela, Júlio Coimbra, José Sampaio, José Teixeira, Horácio Garcia, etc. / O sr. Sousa Fernandes pronunciou um brilhante discurso alusivo ao acto, sendo no final muito aplaudido e ouvindo-se vivas à República. / A seguir todos se dirigiram para os paços do Concelho, onde se inaugurou a nova Biblioteca Municipal, com 2439 volumes. / O sr. Sousa Fernandes, fazendo uso da palavra, falou largamente, ficando os assistentes muito bem impressionados com as palavras de S. Ex.ª. Estes assinaram no fim o acto de inauguração. / Os bombeiros municipais e a Guarda festejaram com estrondo o aniversário da proclamação da República, achando-se os seus quartéis lindamente ornamentados. Estas duas corporações, durante os dias de ontem e de hoje têm feito queimar uma grande quantidade de fogo. / É comandante da Guarda Republicana o nosso prezado amigo e correligionário sr. Luís Gonzaga Caseiro. A este agradecemos a gentileza do convite que nos enviou para comparecemos à sessão solene que no seu quartel se realizou. Sobre esta nada podemos dizer, infelizmente, pois que não podemos comparecer, devido ao tempo e à nossa saúde. / Na freguesia do Louro, deste concelho, também se realizaram grandes festejos em honra da República, promovidos pelo nosso distinto correligionário sr. José de Araújo Carvalho. / Falaram na sessão solene os nossos amigos srs. Manuel Ferreira de Sousa, professor do Liceu da Guarda, António Maria Pereira, professor oficial desta vila, António Nogueira, professor oficial de Gavião, etc. / A corporação dos Bombeiros Municipais fez-se representar, a pedido da comissão das festas, por um piquete. / E assim tão brilhantemente acabaram nesta vila e concelho as festas de 5 de Outubro[8]. (itálico meu)
II)
Não despertaram o entusiasmo que seria para desejar, não só aqui como por todo o país, as festas comemorativas do 3.º aniversário da República. / Procurou justificar-se essa frieza com o mau tempo, que embora algum mal pudesse ter feito, não foi, ainda assim, o principal motivo dessa falta de entusiasmo. / As festas não eram feitas à República, mas sim ao sr. dr. Afonso Costa. Deu-se-lhe um carácter partidário, fazendo avultar a figura do homem que infelizmente nos governa, e nem ao menos nesse dia de recordações patrióticas, de festa nacional, se deixou de hostilizar homens que pelo muito amor que têm à República e pelo muito que prezam o seu nome, cada vez desejam ver mais afastados do grupo democrático. / Até nesse dia, os defensores da República do sr. Afonso, que cada vez contrasta mais com a nossa, com aquela que defendemos e havemos de ter, até nesse dia a canalha demagógica, com as costas guardadas pelo auxílio do alto, se lembrou de berrar avinhados gritos de hostilidade junto às portas do sr. António José de Almeida e Machado Santos! / E por aí fora, nessas festas de província, enquanto o sr. Afonso Costa era exaltado, apesar do que de S. Ex.ª se sabe já, e do que ainda possa vir a descobrir-se, os nomes daquelas duas figuras grandiosas da República, quando não fossem esquecidos, eram apenas lembrados para que qualquer orador barato se julgasse no direito de lhes fazer recriminações para agradar à seita. / Resultado: os republicanos sérios, que nada querem com o sr. Afonso Costa, vem com a sua gente, absterem-se das festas. / Daí a indiferença que por toda a parte se notou. / As festas eram deles? Pois que as fizessem. Não se diga que foi a chuva que prejudicou tudo. / Bem pouca seria a dedicação pelo ideal se a chuva de Domingo evitasse que por amor dele se dessem meia dúzia de passos. Mas alguma coisa se aproveitou dessa lição: o sr. Afonso Costa viu com o que podia contar e o sr. Presidente da República teve ensejo de ver as condições em que o Governo pôs o país. / Em Famalicão, apesar do que se mandou dizer para a “Montanha”, e por onde pode avaliar-se o conceito que deve ligar-se a um tal informador, as festas decorreram frias, desanimadas, com uma indiferença que foi a mais eloquente prova de que o prestígio democrático cá na terra está bem abalado. / É claro que nada tem com estas coisas a Comissão nomeada para levar as festas a efeito, a qual cumpriu o seu dever, e mete no programa dois números que nos são altamente simpáticos: o almoço dos presos e o bodo aos pobres. / Apenas uma coisa não pôde conseguir a Comissão: levar o povo da terra a interessar-se pelas festas, a animá-las com a sua presença, a ouvir a palavra do sr. Sousa Fernandes, que para cobrir a desautorização que recebeu, se fingiu indignado com o tempo chamando à chuva talassa e reacionária! / Na «Montanha», apesar do que aí fica, e que é a expressão da verdade, embora nos magoe ter de confessá-lo, fez-se largo escarcéu das festas, dizendo-se que foi grande a assistência à sessão solene. Mas como se diz que todos esses assistentes assinaram o auto da inauguração da Biblioteca, nós tivemos ocasião de verificar que esse auto não chegou a ser assinado por 20 pessoas! Para que se veja como é feita de mentiras a política democrática…[9] (itálicos meus).
De qualquer maneira, do programa da vila apenas não se concretizou a conferência que seria pronunciada no Salão da Câmara “por um orador de fora”, não se apresentando já no convite público, sendo a BMCCB inaugurada às 14h00, e não às 15h00, no âmbito das comemorações do III Aniversário da Implantação da República em Portugal. Com o regulamento aprovado em 27 de Setembro (ver anexo), no auto de inauguração da “Bibliotheca Municipal do Concelho de Famalicão”, Sousa Fernandes dirá que “conquanto a criação da Biblioteca não seja propriamente iniciativa da Câmara, é certo que a Câmara se empenhou em dar cumprimento ao decreto… por reconhecer digno de toda a consideração visto que tem por fim instruir o povo. E então não havendo verba orçamental para ocorrer a todas as despesas de instalação recorreu às ofertas quer de livros, quer de dinheiro dos compatriotas que se dedicam ao bem da instrução e ao engrandecimento da nossa terra.” Quer o “Estrela do Minho” (I), quer (II) “O Porvir”, referem-se ao acto fundacional do novo equipamento cultural de V. N. de Famalicão nos seguintes termos, aliando-o, como assim tem sido, à instrução.
I)

“Inaugurou no Domingo passado esta nossa biblioteca pública, constituindo este acto, como estava anunciado, um número das festas com que nesse dia se comemorou o advento da República. / A solenidade teve lugar no próprio recanto da biblioteca, devidamente ornamentado para o fim, assistindo muitas pessoas dotadas da vila e concelho, e tocando por vezes uma banda de música postada no átrio dos Paços do Concelho. / Eram 14 horas quando o sr. Sousa Fernandes tomou a palavra falando largamente sobre o assunto daquele novo centro de estudo e instrução que ia abrir-se para o povo de Famalicão, terminando às 15 horas por um vibrante viva a República que o selecto auditório repetiu em coro. / A biblioteca, que desde terça-feira está franqueada ao público durante as horas regulamentares, e de acordo com o regulamento já aprovado pela Câmara, foi inaugurada com 2439 volumes, sendo 1909 oferecidos por 98 cavalheiros do nosso concelho e de fora dele e 530 comprados com 275 escudos oferecidos em dinheiro por 23 outros generosos cidadãos que para esse fim ofereceram as suas verbas…[10]
II)

Inaugurou-se no Domingo passado esta nossa biblioteca pública, constituindo este acto, como estava anunciado, um número das festas com que nesse dia se comemorou o advento da República. / A solenidade teve lugar no próprio recinto da biblioteca, devidamente ornamentado para o fim, assistindo muitas pessoas gradas da vila e concelho, e tocando por vezes uma banda de música postada no átrio dos Paços do Concelho. Eram 14 horas quando o sr. Sousa Fernandes tomou a palavra falando largamente sobre o assunto daquele novo centro de estudo e instrução que ia abrir-se para o povo de Famalicão, terminando às 15 horas por um vibrante viva às República que o selecto auditório repetiu em coro. A biblioteca, que desde terça-feira está franqueada ao público durante as horas regulamentares, e de acordo com o regulamento já aprovado pela Câmara, foi inaugurada com 2439 volumes, sendo 1999 oferecidos por 98 cavalheiros do nosso concelho e de fora dele, e 530 comprados com 275 escudos oferecidos em dinheiro por 23 outros generosos cidadãos que para esse fim ofereceram as suas verbas […] À imprensa. Agora que a Biblioteca Municipal está aberta ao público, Câmara vai fazer um apelo à imprensa do país para que, pela remessa para ali das suas publicações, façam aquele gabinete de leitura de livros um gabinete de leitura de jornais. / A começar, já hoje, no lugar mais próprio, inserimos esse convite às publicações locais[11].
A BMCCB abrirá ao público com um horário curioso, conforme o estipulado no Artigo 3.º do seu Regulamento: “Nos dias úteis, a Biblioteca está aberta de 1 de Abril a 30 de Setembro desde as 20 horas às 22 horas; de 1 de Outubro a 31 de Março desde as 19 às 21”, com abertura aos Domingos, sendo “o horário da noite o mesmo de todos os dias úteis, sendo o diurno das 10 às 13 horas” (quem acabará com o horário de Domingo será a vereação de Júlio Gonçalves de Araújo, representando-o então, em ofício de 1 de Agosto de 1921, Francisco Correia Mesquita de Guimarães). Posteriormente, “O Porvir”, para mais esclarecimento dos seus leitores, publica o Regulamento da Biblioteca Municipal, um apelo para novas doações (principalmente para a constituição de um “Gabinete de Leitura de Jornais”), e um anúncio no qual dá a conhecer as obras repetidas para troca, publica a lista dos doadores e a conta da Biblioteca, assim como a lista dos doadores em dinheiro, tendo sido, indiscutivelmente, uma das preocupações de Sousa Fernandes a constituição de uma camiliana (acontecimento que refiro mais à frente); e a propósito dos jornais, a 23 de Outubro, para além de noticiar mais doações, ficando agora a Biblioteca com 2485 volumes, acrescenta os periódicos que entretanto foram doados:

Em jornais, além dos da localidade, a biblioteca começou a receber “O Primeiro de Janeiro”, “A Tarde” e a “Voz Académica”, do Porto, bem como a “Democracia”, de Santo Tirso. / Só na Segunda-Feira foram as circulares pedindo estes jornais; não admira, portanto, que poucos tenham vindo[12].
Contudo, a seguir a esta fase de encantamento, as notícias posteriores relativas ao novo equipamento cultural não serão as mais positivas. De facto, se entre 1914 a 1915[13] temos um apelo à leitura e a utilização presencial da Biblioteca, suege, também, por esta ocasião a primeira estatística pública[14], registando-se em 1917 novos apelos à leitura[15]. A partir de 1918, e em plena fase sidonista (numa altura em que a leitura popular tinha sido proibida na Biblioteca Nacional), começaram a surgir os primeiros sinais de desencanto[16]. Tais sinais manifestam-se pelo abandono institucional, na medida em que a autarquia famalicense não adquire novos fundos documentais, a leitura domiciliária suplanta a presencial e solicita-se, em 1921, que a Câmara institucionalize no seu orçamento uma verba para a aquisição de novos fundos documentais e para a conservação dos existentes[17]; e numa crónica não muito tardia, temos conhecimento, que afinal os “melhoramentos que o sr. Sousa Fernandes prestou à terra redundou” no seguinte: “distribui-se-lhe uma verba no orçamento que se lhe não aplica. Não se comprou nem encadernou mais nem um volume; e, para cúmulo, o funcionário encarregado da Biblioteca continua a vencer um ridículo ordenado, que é inferior ao do empregado varredor do edifício municipal”, concluindo que faltou dizer ao colega “insuspeito donde transcrevemos estas linhas, que ninguém frequenta a Biblioteca… O que talvez dê razão à Câmara em não querer gastar dinheiro com aquilo a que se não liga importância.”
Neste sentido, podemos efectivamente reparar no quadro que se segue, relativamente à estatística do movimento da BMCCB entre 1913 a 1934, em que as oscilações da consulta presencial são uma realidade, havendo vários anos em que ninguém realiza uma leitura presencial.


[1] “Biblioteca Municipal”. In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão, Ano 17, n.º 935 (3 Ago. 1913), p. 1.
[2] “Commemoração do 5 de Outubro””. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 18, n.º 294 (25 Set. 1913), p. 2.
[3] Inauguração da Bibliotheca”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 18, n.º 295 (2 Out. 1913), p. 2.
É no próximo Domingo às 15h00 da tarde que será inaugurada a nossa biblioteca municipal, sendo desde este dia franqueada ao público durante as horas regulamentadas. / O acto inaugural realiza-se no próprio recinto da biblioteca, sendo a entrada franca para todas as pessoas que queiram assistir.
[4] “Aniversario da Republica”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano18, n.º 295 (2 Out. 1913), p. 2.
Em várias freguesias do concelho sabemos que vai ser festivamente solenizado o 3.º aniversário da proclamação da República, / Será na freguesia do Louro e nesta vila, onde essas festas se vestirão maior imponência para o que no Louro não se poupou a despesas os prestantes cidadãos os srs. José de Araújo Carvalho e João de Sousa Pereira Ribeiro. / Em Famalicão, a Comissão para esse fim constituída, de que faz parte também a Junta de Paróquia, trabalha com amor para o lustimento nas festas.
[5] “Busto da Republica”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 18, n.º 295 (2 Out. 1913), p. 2.
Um dedicado amigo da nossa terra e da República vai oferecer à Escola Oficial Masculina desta vila, um busto em mármore executado por um dos primeiros artistas portugueses. / Ao deveras inteligente amigo da Educação e da República, saudamo-lo carinhosamente pela sua ideia intensamente formosa, e ao professor oficial cidadão A. Maria Pereira e alunos as nossas felicitações.
[6] “Interior. Famalicão”. In O Comércio do Porto. Porto, Ano 60, n.º 237 (7 Out. 1913), p. 1.
A chuva prejudicou por completo as festas pelo aniversário da República. No Louro, ainda o grande benemérito e nosso amigo sr. José de Araújo Carvalho chegou a distribuir um bacalhau de dois a três quilos e uma boroa de pão a cerca de 200 pobres. De resto, não se realizou nenhum número do programa. / A trovoada desta manhã, que se fez aqui sentir com violência, causou muito susto, pelas descargas eléctricas, em diversas casas, sem consequências. / No Vinhal, na mata do sr, Menezes, uma faísca fez num pinheiro verdadeiras diabruras.
[7] “3.º Aniversario da Republica”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 18, n.º 296 (9 Out. 1913), p. 1.
Embora o tempo estivesse de chuva não deixaram de revestir significativo aplauso às instituições as festas realizadas no Domingo passado nesta vila, no Louro, em Cavalões e noutras freguesias do concelho. / No Louro, principalmente, como noutro lugar vai relatado, essa comemoração do 3.º aniversário da República atingiu grande imponência, graças ao esforço do sr. João Ribeiro, e à bolsa do denodado republicano sr. José de Araújo Carvalho.
“Festa Civica em Cavalloes”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 18, n.º 296 (9 Out. 1913), p. 2.
Também na freguesia de Cavalões, a festa da República teve este ano uma simpática exibição, consistindo de um bodo a 11 pobres da paróquia, salvas de morteiros, cânticos patrióticos pelas crianças da escola, e discurso final pelo professor sr. Manuel Gonçalves da Costa. / Para complemento da obra a sr.ª D. Ana de Sá e Oliveira ofereceu 5$00 destinados à compra de livros que fossem distribuídos pelos escolares pobres, e isto completou por um belo gesto a comemoração festiva que a gloriosa data de 5 de Outubro teve neste recanto do concelho. / A iniciativa de toda esta meritória consagração, mista de patriotismo e beneficência, deve-se ao nosso prestimoso e dedicado amigo sr. António José de Azevedo Almeida, presidente da Junta Paroquial, a quem a República já deve em Cavalões serviços de valiosa cooperação.
[8] “Nas Provincias. Em Famalicão”. In A Montanha. Porto, Ano 3, n.º 807 (8 Out. 1913), p. 2.
[9] “Factos & Coisas. As Festas da Republica”. In Desafronta. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 54 (11 Out. 1913), p. 2.
[10] “Bibliotheca Municipal”. In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão, Ano 17, n.º 945 (12 Out. 1913), p. 1.
[11] “Bibliotheca Municipal”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 18, n.º 296 (9 Out. 1913), p. 3.
[12] “Bibliotheca Municipal”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 18, n.º 298 (23 Out. 1913), p. 2.
[13] “Biblioteca Municipal”. In Estrela do Minho, V. N. de Famalicão, Ano 17, n.º 967 (12 Abr. 1914), p. 1.
Tem recebido ultimamente bastantes volumes a nossa Biblioteca Municipal que, como temos dito, possui já muito mais de 2 mil volumes. / Não é demais repetirmos a lembrança de os estudiosos ali concorrerem a instruir-se, pois está aberta até às 20 horas com a presença do seu zeloso bibliotecário o sr. Henrique Garcia.
“Biblioteca Municipal”. In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão, Ano 17, n.º 985 (16 Ago. 1914), p. 1.
Possui já para cima de 2500 livros a recente biblioteca municipal do concelho, a qual, graças ao acrisolado esforço do sr. Sousa Fernandes, em pouco tempo a nossa terra adquiriu, pelo que muita gratidão deve ao preclaro cidadão que no Senado representa o nosso concelho. / Agora está a Câmara procedendo à encadernação de todos os volumes. / Bom é que a nossa Biblioteca seja visitada pelos estudiosos, que ali podem ilustrar-se sem gastar nada, pois está aberta diariamente até às 9 horas da noite.
“Biblioteca Municipal”. In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão, Ano 19, n.º 1025 (23 Maio 1915), p. 2.
Como é sabido, a nossa Biblioteca Municipal é o fruto de um utilíssimo esforço em favor da nossa terra, que necessita de ser compreendido, com a frequência dos estudiosos a consulta dos excelentes livros que já possui. / Aberta diariamente e com a assistência do prestimoso bibliotecário sr. Henrique Garcia, possuindo mais de dois mil volumes, em que os melhores clássicos e escritores contemporâneos brilhantemente representados, ali devem ir de quando em vez os nossos rapazes instruir-se, o que, não lhes custando nada, terá para eles, além do benefício da instrução, o de afugentá-los ainda de lugares onde só podem ser prejudicados.
[14] “Biblioteca Municipal. In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão, Ano 19, n.º 1032 (11 Jul. 1915), p. 2.
Publicamos hoje a estatística do movimento da nossa Biblioteca Municipal, onde existem livros dos melhores mestres da literatura nacional e estrangeira. Desejamos ver aquele estabelecimento utilizado por todos, mais frequentado pela mocidade principalmente, porque diariamente se encontra aberta e onde todos podem gratuitamente instruir-se. / Ano de 1913. De 5 de Outubro a 31 de Dezembro. Livros requisitados, mediante caução, 151; consultados na Biblioteca, 107; Ano de 1\914. 1.º semestre. Livros requisitados mediante caução, 65; consultados na Biblioteca, 157; 2.º Semestre. Livros requisitados mediante caução, 93; consultas na Biblioteca, 61; Ano de 1915. 1.º Semestre: livros requisitados mediante caução, 105; consultas na Biblioteca, 211.
[15] “Noticiario. Biblioteca Municipal”. In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão, Ano 22, n.º 1135 (8 Jul. 1917), p. 2.
Não será demais repetirmos que existe em Famalicão uma Biblioteca permanente e gratuita, nos Paços do Concelho, que se oferece aos estudiosos, para o que têm funcionário próprio, que lá se encontra duas horas por dia, à noite, fora de horas de trabalho, e quatro horas aos Domingos. Ali pode instruir-se quem quiser, pois têm à sua disposição, nos seus milhares livros, os melhores autores clássicos e contemporâneos.
[16] “Biblioteca Municipal”. In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão. In Estrela do Minho, Ano 24, n.º 1195 (8 Set. 1918), p. 2.
Alguém chamou a nossa atenção para o abandono a que há tempos se tem votado a nossa Biblioteca Pública, não tendo a Câmara adquirido livros novos, quando todos os anos, as Câmaras passadas destinavam uma verba para a compra de obras novas e conservação das existentes. / Para o caso chamamos a atenção de quem compete, para que não deixe no esquecimento esse já importante manancial educativo para o povo, que devemos à iniciativa do sr. Sousa Fernandes, quase sem despesa para o Município, pois para a aquisição de muitas centenas de livros recorreu aos seus amigos.
[17] “Biblioteca Municipal”. In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão, Ano 26, n.º 1347 (14 Ago. 1921), p. 1.
Ao sr. vereador da instrução nós pedimos para que não deixe de adquirir alguns livros para a nossa Biblioteca e beneficie os existentes para que, dentro em pouco, não fiquem inutilizados. No orçamento costumava haver uma verba para a Biblioteca, mas parece que se lhe não tem dado a devida aplicação. / Pois é necessário não esquecer a Câmara esse elemento de educação que foi promovido e inaugurado pela Câmara presidida pelo sr. Sousa Fernandes, que carinhosamente adquiriu para ela alguns milhares de volumes – bela iniciativa que infelizmente não tem tido continuadores. / Nem só de pão vive o homem.