terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"quo vadis" (1912) no salão olímpia em 1914


inaugurado em 16 de novembro de 1913, o salão-teatro olímpia (para além do sucesso que o animatógrafo avenida teve com o filme "os miseráveis" em 1912), um novo equipamento cultural da repúiblica em famalicão de propriedade privada e, por ironia, de um monárquico, Álvaro Bezerra, logo no início de 1914, mais propriamente em 8 de janeiro, passa o filme "quo vadis" de enrico guazzoni, de 1912. mereceu uma página inteira, a qual reproduzo, no jornal famalicense "estrela do minho". contudo, o primeiro jornal a noticiar a vinda do filme "quo vadis" foi o "desafronta", precisamente em 1 de novembro de 1913 e nos seguintes termos: "o facto de saber-ser  que a empresa cinematográfica desta vila tenciona brevemente no seu sação, ao campo mouzinho, a assombrosa película o quo vadis, tão admirada em todo o mundo, volta a ser lido com interesse o romance de henryk sienkiewicz, tradução de eduardo noronha. que há questão de uma dúzia de anos causou também um sucesso extraordinário no nosso meio literário." termina a notícia esclarecendo o público que o aluguer da película custou então a quantia de 300 escudos.


a 3 de janeiro de 1914, o mesmo jornal, "desafronta" anuncia a "sensacional fita" e que tanta gente aí espera com ansiedade", já que, diz-se e comenta-se "ser a mais assombrosa película até hoje exibida em todo o mundo." mas quem procura os bilhetes para esta "fita sensação" (segundo o "estrela do minho" de 28 de dezembro de 1912)? segundo o "desafronta", "os bilhetes estão sendo procurados com verdadeiro interesse, por todas as pessoas ilustradas da terra". após a exibição do filme, este "despertou interesse entre as pessoas ilustradas" de vila nova., segundo a notícia de 10 de janeiro de 1914. por seu turno, o "estrela do minho", de 11 de janeiro, que noticia que foram passadas as três sessões em vez das quatro anunciadas, refere que "assistiu numerosa concorrência, principalmente à segunda, ficando o público muito bem impressionado pela opulência e por vezes deslumbrante efeito das cenas exibidas dos costumes da antiga roma dos césares, cuja história se faz reviver por momentos no quo vadis?" nada como dar uma espreitadela no sítio http://www.harpodeon.com/ fragmentos deste filme que assombrou famalicão em 1914.

a cruzada das mulheres portuguesas e o "estrela do minho"

Para o dr. Manuel Sá Marques, cujo texto que aqui se republica é, assim o julgo, de Manuel Pinto de Sousa, então proprietário, editor e director do jornal famalicense "Estrela do Minho", a propósito da Cruzada das Mulheres Portuguesas, contrariando assim a tese de alguns historiadores, para os quais a imprensa da província estava longe do que se passava a nível nacional.


Elzira Dantas Machado

"A partir de 1916, a mobilização feminina passou pela Cruzada das Mulheres Portuguesas..., tendo Ana de Castro Osório e Elzira Dantas Machado como dirigentes comuns. Fundada em Março, no mês da declaração de guerra da Alemanha a Portugal, era presidida pela esposa do Presidente da República; teve implantação nacional; reuniu mulheres de ministros e ex-ministros; dispòs, entre 1916 e 1918, de dezenas de subcomissões locais, desde Águeda a Vila Viçosa; e organizou-se em oito Comissões Centrais - Administrativa, Propaganda e Organização de Trabalho, Assistência às mulheres e mães dos mobilizados, Hospitalar, Enfermagem e criação dos cursos de enfermeiras laicas e profissionais, Assistência aos militares mobilizados, Assistência infantil, Angariadora de donativos - , cada uma com a sua presidente e vida autónoma na propaganda e no trabalho. Em pouco tempo, implementou o Instituto de Reeducação dos Mutilados de Guerra (Arroios); criou duas creches (em Alcântara  e Xabregas) e Casas de Trabalho; fundou a Escola Profissional n.º 1, em Lisboa, no Campo de Santa Clara, inaugurada pelo Presidente da República em 28 de Novembro de 1917; fez propaganda das escolas profissionais e agrícolas femininas; abriu a Escola Agrícola Feminina de Alcobaça; promoveu a assistência aos afilhados de guerra, repatriados e famílias; e proporcionou formação profissional a enfermeiras de guerra. Durante o Sidonismo, porque era presidida pela esposa do Presidente deposto, sofreu perseguições e tornou-se num símbolo da oposição feminina às suas orientações políticas."
João Esteves, Mulheres e Republicanismo

domingo, 26 de fevereiro de 2012

tomás da fonseca, famalicão e camilo

em 1912, tomás da fonseca andou por terras de famalicão. o "estrela do minho", de 15 de setembro de 1912, assim o noticia: "esteve há dias em famalicão o nosso velho amigo sr. tomás da fonseca, brilhante escritor, deputado e actual director das escolas normais de lisboa. / anda colhendo impressões pela província, que manda para o jornal «a montanha», do porto. " e a propósito do texto que publica de tomás da fonseca, que aqui se coloca, com o título "por vales e montanhas", tendo como pano de fundo famalicão e a casa-museu de camilo, acrescenta-se que, tal artigo, "é muito interessante, principalmente no que diz respeito a s. miguel de seide que, para vergonha nossa, há vinte anos se encontra ao abandono mais deprimente para a intelectualidade portuguesa." conclui-se nos seguintes termos: "felizmente que a nossa câmara vai iniciar o museu camiliano em seide, reconstituindo a casa do mestre, tal qual se faz lá fora, como a victor hugo ou michelet em frança, onde não falta até o próprio leito daquelas glórias da literatura mundial." deste apontamento histórico, realço, indiscutivelmente, pela coincidência, um outro, a notícia referente à biblioteca municipal, e que diz respeito à reunião de câmara de 7 de setembro que cria a mesma biblioteca. estamos a caminho das comemorações do seu centenário.


"os miseráveis" de victor hugo no animatógrafo avenida - famalicão (1912)





nos 150 anos de "os miseráveis", de victor hugo, nada como lembrar a passagem do filme, baseada na obra homónima de hugo, por terras de vila nova. fica-se é na dúvida de que filme poderá ter sido: ou o de j. stuart blackton de 1909, ou os dois de albert capellani, o primeiro de 1911 e um outro de 1913. o animatógrafo avenida, o sucessor do cynematographo pathé e o antecessor do olympia, foi inaugurado em 24 de novembro de 1912 na avenida barão de trovisqueira, sendo então os seus proprietários os srs. carvalho & irmão da boa reguladora no edifício da typographia minerva, e segundo notícia do jornal famalicense "estrela do minho" de 3 de novembro de 1912, com capacidade para mil espectadores!




no mesmo jornal, de 16 de fevereiro de 1913, anuncia-se da seguinte forma a vinda do respectivo filme: "no fim do próximo mês de março vai o animatógrafo exibir a fita de maior celebridade mundial, os miseráveis, obra que está traduzida em todas as línguas e que representa a maior coroa de glória do grande escritor francês que foi victor hugo. / a fita "os miseráveis" será por assinatura para as três sessões..." e no dia em que o filme foi exibido, a um domingo, em 30 de março de 1913, pela vila era "o assunto do dia, despertando grande entusiasmo o espectáculo que há noite há-de ser exbidido e para o qual, certamente, os lugares hão-de escassear." para além do "palpitante interesse", a empresa oferecia "magistralmente descontos". pelas notícias anteriores, relativamente a outros filmes que então o animatógrafo exibia, e com casa cheia, o que não deixa de ser impressionante, na exibição do filme "os miseráveis" também o mesmo deverá ter acontecido. coloco aqui a publicidade que o então jornal famalicense "estrela do minho" publicou a propósito do filme "os miseráveis".



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

o descanso semanal

hoje oferecemos aos leitores deste blog, e, em especial, ao dr. manuel sá marques, este texto de victor de sá sobre o descanso semanal. tem uma particularidade: dois famalicenses estiveram na origem da lei do descanso semanal. é o caso de rosa araújo e de bernardino machado: o primeiro comerciante e presidente da câmara municipal de lisboa, o segundo, já republicano, no apoio ao descanso semanal. selecciono algumas frases do texto de bernardino machado de 1904, precisamente com o título "o descanso semanal", uma ideia defendida nas campanhas eleitorais, relacionando tal ideia com o mito de prometeu, para a perfeição do humano, na unificação entre o espiritual e o corporal. bernardino machado proferiu esta conferência no teatro de santarém, na noite de 17 de julho de 1904, repetindo-a na póvoa de varzim no mesmo ano. encontra-se publicado no tomo I das obras de bernardino machado, com introdução do professor norberto ferreira da cunha, e editado pelo museu bernardino machado em 2011.


 

"Nenhuma causa mais justa do que o descanso semanal. Defendendo-o, as classes laboriosas defendem a sua vida, e não só a vida física, mas também a sua vida espiritual e, sobretudo, a sua vida moral."

"O descanso semanal aproveira não só a saúde do corpo, mas também a do espírito; queremo-lo no interesse do próprio trabalho, para se poder trabalhar mais e melhor. / Não há profissão nenhuma que ponha em jogo, em perfeito equilíbrio, desenvolvendo-as completamente, todas as nossas faculdades; todas as profissões mais ou menos as mutilam. E, se as faculdades feridas de abandono reagem quando pedem pela vida, sempre afinal acabam por se atrofiar."




"Que vida espritual levam as nossas classes trabalhadoras? Hão-de repetir incessantemente o mesmo trabalho, torturando, consumindo, mortificando não só o corpo, mas o espírito também. / É indispensável que o empregado do comércio, como todo o operário, tenha horas e dias feriados, em que possa ir ver o nosso mar, as nossas montanhas, os nossos campos e arvoredos, em que possa pegar num microscópio ou num telescópio para admirar as maravilhas do mundondos infinitamente pequenos ou dos infinitamente grandes, e, sobretudo, em que possa comunicar com as outras almas, frequentando uma aula, assistindo a uma conferência, lendo um livro, visitando os museus, indo a um teatro, a um concerto, etc. / São divertimentos? São exercícios espirituais igualmente necessários a todos."

"E, de todas as faculdades, a que sobretudo é necessário não deixar nunca atrofiar, é a liberdade, esta faculdade soberana que cria as artes, as indústrias e as ciências, isto é, toda a civilização."

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

domingo, 19 de fevereiro de 2012

cidadania e humanismo na maçonaria





um aspecto da sala de conferências do museu bernardino machado

“Cada época a sua Maçonaria”
“A Maçonaria está na vida e no mundo”
Fernando Lima
Mais de cem pessoas estiveram presentes no Museu Bernardino Machado no dia 17 de Fevereiro para a sessão inaugural do V Ciclo de Conferências dedicado à temática da “Maçonaria em Portugal: do século XVIII ao século XXI”, com a presença inicial do Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, Fernando Lima, o qual proferiu a conferência “A Maçonaria: instituição de saber ou de poder?”




fernando lima e norberto ferreira da cunha, num momento de convívio inicial, antes da conferência



fernando lima com paulo cunha, vereador da cultura da câmara municipal de famalicão, três momentos antes do início da conferência


paulo cunha, vereador da cultura da câmara municipal de famalicão, no momento da abertura do v ciclo de conferências

Com a presença do Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha, o qual, num primeiro momento, enalteceu o legado pensamento de Bernardino Machado, especificando o caso concreto da pedagogia, realçando nele um pensamento de vanguarda, num segundo momento evidencia as responsabilidades da Câmara Municipal na divulgação desse mérito emancipador; e, para além da exposição permanente que se encontra patente no Museu Bernardino Machado, com a publicação das obras e de iniciativas de outras temáticas, tal como a actividade do presente ciclo, o Museu é um espaço aberto e crítico e que está ao serviço de todos nós.




norberto ferreira da cunha, coordenador científico do museu bernardino machado, no momento da apresenção do conferencista


Por seu turno, Norberto Ferreira de Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado, para além de realçar o apoio incondicional da Câmara Municipal para com o Museu, mesmo em tempo de crise, já que o que está em causa é a divulgação das ideias e da cultura, e anunciando para o próximo mês a apresentação do II Tomo da Obra Política de Bernardino Machado, foca o respectivo Museu como sendo o lugar natural por excelência para a presença de Fernando Lima, já que Bernardino Machado foi Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano entre 1895 a 1899.



fernando lima, grão-mestre do grande oriente lusitano, a proferir a sua conferência

Fernando Lima, com a tese inicial de que a Maçonaria está na vida e no mundo, , parte da filosofia da existência, citando Albert Camus, estando em causa a problemática da felicidade, já que para Camus o não saber viver é um morrer de imediato. Com Camus, a vida surge como uma obra original, nas suas manifestações culturais, estando em causa uma ascese da alma. Neste sentido, num mundo a virar de paradigma, com uma crise da humanidade, surge com a Maçonaria uma espiritualidade laica com especificidades ocidentais ao lado de uma ética social (realçando a sua intervenção no serviço nacional de saúde). Assim sendo, e anunciando a Maçonaria na sua perspectiva histórica, filosófica e sociológica, anuncia Fernando Lima que a cada época a sua Maçonaria. Numa perspectiva histórica, deparamo-nos com uma Maçonaria operativa (herdeira dos construtores das catedrais), uma Maçonaria de espiritualidade esotérica (herança da razão iluminista), uma Maçonaria hermético-ocultista (com correntes filosóficas ligadas à gnose, estabelecendo que o conhecimento do divino é através da razão) e, finalmente, a Maçonaria humanista, na qual se insere o Grande Oriente Lusitano. Por seu turno, numa perspectiva filosófica, o que está em causa na Maçonaria é a libertação do ser, aqui salientando o processo de individuação ontológica para a formação de uma elite moral para formar o mundo. No plano sociológico, a Maçonaria aparece como uma instituição filantrópica, contendo em si uma dimensão prática, estabelecendo assuntos para discussão, tais como a justiça, o respeito, a paz, o civismo, os direitos humanos, etc. Acima de tudo, a Maçonaria pretende combater a ignorância, na difusão dos valores humanos. Nesta perspectiva, Fernando Lima focou o exemplo do Grão-Mestre Sebastião de Magalhães Lima e o seu pensamento de vanguarda, relativamente à teorização dos Estados Unidos da Europa, ou enquanto fundador da Liga dos Direitos Humanos, evidenciando a emancipação da Maçonaria no mundo.




Sendo a Maçonaria a mais velha instituição democrática do mundo, nas palavras de Fernando Lima, realça a ética da responsabilidade (porque não é maçon quem quer) da própria Maçonaria enquanto instituição estabelecida na sociedade. Postulando a ideia de fraternidade na diversidade, sendo isto que parece perturbar a sociedade contemporânea relativamente à Maçonaria, das ideias feitas perante a polémica recente em Portugal, Fernando Lima salientou o seguinte: a Maçonaria surge como algo obsoleto, muito dos melhores que existem em Portugal pertencem ou foram maçons (sendo isto que é difícil de aceitar), ou então a Maçonaria enquanto instituição iniciática (estando aqui patente mais um sentido de progressão na vida da pessoa para que esta melhore a sociedade, sendo a sua base uma espiritualidade laica para a busca da felicidade, para se lutar contra a injustiça, fortalecer as crenças, defender a natureza, olhar o outro com amor, etc.) Tal como na vida, em que tudo é ritual e simbólico na aceitação da vida de cada um, o mesmo o faz a Maçonaria. Paralelamente, foca a consciência livre do cidadão perante a cidadania, considerando a obrigatoriedade da declaração de interesses uma brecha numa sociedade democrática como a portuguesa. E, tal como qualquer instituição, a Maçonaria tem as suas reservas, não é secreta, foi, contudo, clandestina.
Terminou Fernando Lima a sua conferência referindo-se à Loja Perseverança de Coimbra, à qual Bernardino Machado se iniciou na Maçonaria, para que sejamos perseverantes para o futuro, porque o presente está muito perigoso.





uma vez mais, o público que honrou com a sua visita o museu bernardino machado

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

maria veleda no jornal "estrela do minho" (1906)



Estrela do Minho. Vila Nova de Famalicão (4 Fev. 1906), p. 2

Estrela do Minho. Vila Nova de Famalicão (11 Fev. 1906), p. 2

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

bernardino machado contra as ditaduras

para o dr. manuel sá marques, com um abraço fraternal de amizade e de saudades, numa visitação ao "estrela do minho", jornal de vila nova de famalicão, para verificar as andanças do golpe de de 28 de maio de 1926 por vila nova, encontrei este texto que já conhecia de bernardino machado, porque já publicado em "o primeiro de janeiro", jornal portuense, em 3 de agosto de 1926. antes, bernardino machado já tinha publicado, no mesmo jornal, "o inquilinato: casas económicas" (23 de abril de 1925), "as revoltas e as facções" (entre maio e junho de 1925), e, finalmente, "militarismo" (13 de setembro de 1925). a este propósito, coloco aqui o texto "famalicenses em «o primeiro de janeiro» e, publicado noutras eras, claro, evoco bernardino machado.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

"o sorriso", um suplemento literário da república


Possivelmente o único suplemento literário da República, "O Sorriso", com apenas seis números, marcou a diferença na imprensa famalicense no campo literário logo no início da implantação da República em Portugal. Teve como director literário António Fontes, que esteve, segundo o jornal que publicou este mesmo suplemento literário, o "Novidades de Famalicão", no "arrolamento dos bens da igreja", representando "o seu chefe sr. António Augusto de Oliveira", segundo a notícia publicada em 29 de Julho de 1911. Não deixa de ser curioso que quem esteve nesta actividade foi não só o administrador do Concelho de então, Rocha Carvalho, como o futuro bibliotecário da Biblioteca Municipal, Henrique Garcia, que era ajudante de conservador. O jornal "Novidades de Famalicão", que apareceu em 27 de Julho de 1910, terminando a sua publicação em 27 de Julho de 1912, e que tinha como sub-título "Periodico Regenerador", demonstra bem a instabilidade política dos conservadores monárquicos famalicenses: se no n.º 14 (3 de Fevereiro de 1910) surgem, ao lado do director Manuel José Rodrigues, o nome do editor, Daniel Correia, assim como o do proprietário, nomeadamente Luís da Silva Carneiro; e a partir do n.º 20 (de 22 de Dezembro de 1910), Daniel Correia surge já como editor e administrador, enquanto Luís da Silva Carneiro será o director e o proprietário do jornal. Contudo, como dizia, o suplemento "O Sorriso", com seis números publicados entre 26 de Janeiro de 1911 até 11 de Março do mesmo ano, marcou a diferença, na imprensa periódica famalicense, na medida em que é um dos únicos suplementos literários dedicado à cultura e à literatura no tempo da República em Famalicão. É um exemplo concreto daquilo a que designo de "Literatura Local ao Global" (ver, por exemplo, o meu estudo "Literatura & Imprensa: do local ao global", in Boletim Cultural, V. N. de Famalicão, n.º 2, 3.ª série (206), pp. 121-152), de influência essencialmente francófona, com textos de escritores portugueses e franceses. Segundo a notícia publicada em 19 de Janeiro de 1911, podemos ler o seguinte e as intenções do "Novidades de Famalicão" a propósito da criação do suplemento literário: "No próximo número do nosso semanário iniciaremos uma secção exclusivamente literária, dedicada às damas, em que publicaremos trechos escolhidos dos nossos melhores autores, pérolas literárias traduzidas dos mais notáveis escritores estrangeiros e originais de diversos amigos nossos, que nos prometem a sua colaboração. / Assim iremos procurando melhorar, tanto quanto possível, o nosso jornal." Dos textos dos escritores portugueses, deparamo-nos com Júlio Dinis, Bocage, Antero de Quental, Bulhão Pato, Nicolau Tolentino, Augusto Gil, Gonçalves Crespo, António de Azevedo Castelo Branco, João da Câmara, entre outros, e um brasileiro, Coelho Neto, e dos estrangeiros com Alexandre Dumas, Moliére, Marivaux, as ditas "pérolas", etc.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

"a egualdade" (1885) a primeira referência republicana em famalicão



O jornal famalicense "A Egualdade", que surgiu em 1 de Fevereiro de 1885 e tinha como subtítulo "Semanario politico, noticioso e satyrico", publicando-se aos domingos, surge com a sua sede na então Praça da Mota, e é a primeira referência republicana pública em Vila Nova de Famalicão. Se no cabeçalho do jornal não conhecemos as menções de responsabilidade (propriedade, director e editor), será, contudo, num outro jornal famalicense, o "Estrela do Minho", numa série de crónicas com o título "Figuras Antigas: Rua Direita", que iremos conhecer a origem do jornal "A Egualdade", através de Samuel, pseudónimo de Rodrigo Terroso, contando-nos a vida social e intelectual dos finais do século XIX em V. N. de Famalicão. Será na de 18 de Novembro de 1917 que Rodrigo Terroso irá explicar a origem do jornal, sendo ele mesmo um dos fundadores ao lado de Luís de Miranda, tipógrafo que será depois actor. Ambos resolveram "atirar para a rua uma gazeta republicana." Para Rodrigo Terroso, e sendo ambos menores, faltava o editor, e entraram em contacto com o "único republicano em Famalicão", que se chamava Francisco José Gonçalves de Sousa, com a alcunha de "Chichurreta", o qual aceitou o convite. Vejamos o que Rodrigo Terroso nos conta: "Fez-se a habilitação perante o administrador do concelho, dr. José Carlos de Medeiros. Por cautela tirei a certidão desse acto e entreguei-a ao Correia Guimarães que era o dono da tipografia em que a Igualdade tinha de publicar-se. O 1.º número apareceu. Fez barulho. Escrevemo-lo eu e o Miranda, menos o artigo de apresentação, que o Correia quis fazer. O editor achou que alguns artigos eram bravos, excessivamente audazes. Precisei ludibriá-lo para que consentisse a sua publicação. Meti-lhe na cabeça que eram do Teófilo, da Angelina Vidal, do Alves da Veiga, e facilmente o convenci, pois que eram rubricados com pseudónimos e só lhos mostrava em provas." Na crónica seguinte, a 28 de Novembro, Rodrigo Terroso dir-nos-á de Francisco Correia Mesquita Guimarães que "não iam para a República as suas inclinações." Tal como as de Rodrigo Terroso, que militou no Partido Progressista do Barão de Trovisqueira. Nesta última crónica, Terroso conta-nos como terminou esta aventura "republicana" de sol de pouca dura, que não o chegou a ser.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

maçonaria, saber e poder







O V Ciclo de Conferências denominado “A Maçonaria em Portugal: do século XVIII ao século XXI” (organizado pelo Museu Bernardino Machado de V. N. de Famalicão), vai ter início no próximo dia 17 de Fevereiro (Sexta-Feira), pelas 21h30, com a presença do Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano (iniciado na Loja Universalis), Fernando Lima, o qual vai proferir a conferência “A Maçonaria: instituição de saber ou de poder?”
Nascido em Lisboa em 24 de Novembro de 1951, Licenciado em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa, com Mestrado em Direito Europeu, Político e Finanças pela Universidade Católica e Doutorando em Gestão Empresarial Aplicada (ISCTE), Fernando Lima é presidente da Engil/Abrantina e Galilei e é membro de diversas organizações não-governamentais. Para além de ter colaborado na “Revista de Engenharia”” (“Sobre a Responsabilidade dos Diversos Intervenientes no Acto de Construir”, 1990) e na “Revista da Ordem dos Advogados” (“Sobre o Advogado na Empresa”, 1986), tem participado em colóquios sobre a temática da Maçonaria e é editor de livros sobre a mesma.
As conferências do V Ciclo de 2012, com a entrada livre e gratuita e a entrega de certificado de presença, aguarda acreditação do Centro de Formação Científica, para os professores das disciplinas de História, Filosofia e de Sociologia.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

sousa fernandes na biblioteca municipal

charles dickens

em ano de centenários, nomeadamente os 150 anos do "amor de perdição" de camilo castelo branco, assim como "os miseráveis", de victor hugo, o tricentenário de rousseau, e o bi-centenário de charles dickens, deixo aqui o registo de um livro da minha adolescência, deste último escritor.