domingo, 12 de fevereiro de 2012

"o sorriso", um suplemento literário da república


Possivelmente o único suplemento literário da República, "O Sorriso", com apenas seis números, marcou a diferença na imprensa famalicense no campo literário logo no início da implantação da República em Portugal. Teve como director literário António Fontes, que esteve, segundo o jornal que publicou este mesmo suplemento literário, o "Novidades de Famalicão", no "arrolamento dos bens da igreja", representando "o seu chefe sr. António Augusto de Oliveira", segundo a notícia publicada em 29 de Julho de 1911. Não deixa de ser curioso que quem esteve nesta actividade foi não só o administrador do Concelho de então, Rocha Carvalho, como o futuro bibliotecário da Biblioteca Municipal, Henrique Garcia, que era ajudante de conservador. O jornal "Novidades de Famalicão", que apareceu em 27 de Julho de 1910, terminando a sua publicação em 27 de Julho de 1912, e que tinha como sub-título "Periodico Regenerador", demonstra bem a instabilidade política dos conservadores monárquicos famalicenses: se no n.º 14 (3 de Fevereiro de 1910) surgem, ao lado do director Manuel José Rodrigues, o nome do editor, Daniel Correia, assim como o do proprietário, nomeadamente Luís da Silva Carneiro; e a partir do n.º 20 (de 22 de Dezembro de 1910), Daniel Correia surge já como editor e administrador, enquanto Luís da Silva Carneiro será o director e o proprietário do jornal. Contudo, como dizia, o suplemento "O Sorriso", com seis números publicados entre 26 de Janeiro de 1911 até 11 de Março do mesmo ano, marcou a diferença, na imprensa periódica famalicense, na medida em que é um dos únicos suplementos literários dedicado à cultura e à literatura no tempo da República em Famalicão. É um exemplo concreto daquilo a que designo de "Literatura Local ao Global" (ver, por exemplo, o meu estudo "Literatura & Imprensa: do local ao global", in Boletim Cultural, V. N. de Famalicão, n.º 2, 3.ª série (206), pp. 121-152), de influência essencialmente francófona, com textos de escritores portugueses e franceses. Segundo a notícia publicada em 19 de Janeiro de 1911, podemos ler o seguinte e as intenções do "Novidades de Famalicão" a propósito da criação do suplemento literário: "No próximo número do nosso semanário iniciaremos uma secção exclusivamente literária, dedicada às damas, em que publicaremos trechos escolhidos dos nossos melhores autores, pérolas literárias traduzidas dos mais notáveis escritores estrangeiros e originais de diversos amigos nossos, que nos prometem a sua colaboração. / Assim iremos procurando melhorar, tanto quanto possível, o nosso jornal." Dos textos dos escritores portugueses, deparamo-nos com Júlio Dinis, Bocage, Antero de Quental, Bulhão Pato, Nicolau Tolentino, Augusto Gil, Gonçalves Crespo, António de Azevedo Castelo Branco, João da Câmara, entre outros, e um brasileiro, Coelho Neto, e dos estrangeiros com Alexandre Dumas, Moliére, Marivaux, as ditas "pérolas", etc.


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