quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

o descanso semanal

hoje oferecemos aos leitores deste blog, e, em especial, ao dr. manuel sá marques, este texto de victor de sá sobre o descanso semanal. tem uma particularidade: dois famalicenses estiveram na origem da lei do descanso semanal. é o caso de rosa araújo e de bernardino machado: o primeiro comerciante e presidente da câmara municipal de lisboa, o segundo, já republicano, no apoio ao descanso semanal. selecciono algumas frases do texto de bernardino machado de 1904, precisamente com o título "o descanso semanal", uma ideia defendida nas campanhas eleitorais, relacionando tal ideia com o mito de prometeu, para a perfeição do humano, na unificação entre o espiritual e o corporal. bernardino machado proferiu esta conferência no teatro de santarém, na noite de 17 de julho de 1904, repetindo-a na póvoa de varzim no mesmo ano. encontra-se publicado no tomo I das obras de bernardino machado, com introdução do professor norberto ferreira da cunha, e editado pelo museu bernardino machado em 2011.


 

"Nenhuma causa mais justa do que o descanso semanal. Defendendo-o, as classes laboriosas defendem a sua vida, e não só a vida física, mas também a sua vida espiritual e, sobretudo, a sua vida moral."

"O descanso semanal aproveira não só a saúde do corpo, mas também a do espírito; queremo-lo no interesse do próprio trabalho, para se poder trabalhar mais e melhor. / Não há profissão nenhuma que ponha em jogo, em perfeito equilíbrio, desenvolvendo-as completamente, todas as nossas faculdades; todas as profissões mais ou menos as mutilam. E, se as faculdades feridas de abandono reagem quando pedem pela vida, sempre afinal acabam por se atrofiar."




"Que vida espritual levam as nossas classes trabalhadoras? Hão-de repetir incessantemente o mesmo trabalho, torturando, consumindo, mortificando não só o corpo, mas o espírito também. / É indispensável que o empregado do comércio, como todo o operário, tenha horas e dias feriados, em que possa ir ver o nosso mar, as nossas montanhas, os nossos campos e arvoredos, em que possa pegar num microscópio ou num telescópio para admirar as maravilhas do mundondos infinitamente pequenos ou dos infinitamente grandes, e, sobretudo, em que possa comunicar com as outras almas, frequentando uma aula, assistindo a uma conferência, lendo um livro, visitando os museus, indo a um teatro, a um concerto, etc. / São divertimentos? São exercícios espirituais igualmente necessários a todos."

"E, de todas as faculdades, a que sobretudo é necessário não deixar nunca atrofiar, é a liberdade, esta faculdade soberana que cria as artes, as indústrias e as ciências, isto é, toda a civilização."

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