domingo, 22 de julho de 2012

P. Benjamim Salgado e Camilo Castelo Branco




A Fundação Cupertino de Miranda publicou recentemente a 2.ª edição deste livro do P. Benjamim Salgado, "Camilo em Datas, Factos e Comentários", que teve recepção no "Diário de Notícias", de 21 de Janeiro de 1973 (ver mais abaixo). Homem forte do Estado Novo no concelho de Vila Nova de Famalicão e no distrito de Braga, a autarquia famalicense tem valorizado a sua acção na cultura. Da "Nota Breve" de Pedro Álvares Ribeiro, Presidente do Conselho da Administração da Fundação Cupertino de Miranda, para além da relação desta instituição com Vila Nova de Famalicão no plano da cultura, realçam-se as palavras de memória relativamente ao Dr. Manuel Simões, que a Fundação e Vila Nova de Famalicão tanto deve! Por seu turno, o prefácio desta 2.ª edição, de Aníbal Pinto de Castro, alia a cultura e o homem de fé, que foi o P. Benjamim Salgado, para além do político. Esta segunda edição não reproduz o desenho de Amândio Silva do P. Benjamim Salgado, que aqui se coloca. A capa de Amândio Silva, assim como o desenho do P. Benjamim Salgado, da primeira edição, poderiam ter sido reproduzidos num fac-simile, tal como a Fundação realiza exemplarmente com Mário Cesariny.





"Com um capa do pintor Amândio Silva, que nos dá uma visão dramática e serena do autor de «A Brasileira de Prazins», publicou a Fundação Cupertino de Miranda, de Vila Nova de Famalicão, o volume «Camilo em Datas, Factos e Comentários», obra de muito valimento, assinada pelo rev. padre Benjamim Salgado, director da Casa-Museu de Camilo (S. Miguel de Seide), do «Boletim da Casa de Camilo» e, mais recentemente, da Biblioteca da Fundação Cupertino de Miranda. / O volume em referência, com as suas 150 páginas, é constituído por uma primeira parte («Datas e Factos»), abrangendo a lista dos acontecimentos ligados, por ordem cronológica, à vida doe scritor; relação de todas as suas obras, feita também por ordem cronológica e com novas ordenações, de acordo com os géneros literários a que pertencem, os próprios textos literários (poesias, traduções, ficção, jornalismo, ensaios, críticos, etc.). Obras inéditas, obras que mudaram de nome, obras projectadas mas não publicadas, encerrem este primeiro capítulo,a  que se segue um outro, de «Comentários». Neste são encarados problemas genealógicos: transcritos textos autobiográficos, referentes aos casamentos, às polémicas literárias, à tragédia da cegueira e da loucura dos filhos, à glorificação e, por fim, excertos de críticas, consagrando-o, feitas por grandes nomes das letras portuguesas, brasileiras e espanholas e outros que, não o sendo, igualmente o admiram. / Numerosos documentos relativos ao nascimento, morte, baptismo, matriculas, casamentos, etc., aqui são transcritos, tornando este livro extremamente útil a quem pretenda, rapidamente, obeter uma resposta sintética às perguntas sobre a vida e a obra do grande escritor. / Mas, além desta importante contribuição, o rev. padre Benjamim Salgado dá ainda, na obra, reprodução de alguns dos melhores retratos de Camilo, em desenho, pintura e escultura, assinados por Dórdio Gomes, J. Correia, Júlio Resende, Bordalo Pinheiro, Amândio Silva, Cristiano de Carvalho, Abel Salazar, teixeira Lopes (um magnífico esboceto agora fundido em bronze e que figura na Fundação Cupertino de Miranda), Raúl Xavier, Diogo de Macedo, Barata Feio, Maria Irene Vilar e, por fim, José Rodrigues que apresenta dois impressionantes desenhos (dobrado já o escritor perante o fantasma da morte). / Eis, pois, um volume bem escrito, bem pensado e bem sentido por um camilianista apaixonado, que presta a Camilo, mais do que uma homenagem, ums erviço a favor dos seus admiradores."

sábado, 21 de julho de 2012

José Hermano Saraiva e Vila Nova de Famalicão


Esta é a minha homenagem a um historiador polémico e à sua participação cívico-política (Ministro da Educação em 1969, encontrando-se ligado às famosas greves académicas), e à sua relação com Vila Nova de Famalicão. Quando em 2005 o escutei no Congresso Famalicão Com História, realizado no Auditório do Centro de Estudos Camilianos, em S. Miguel de Seide (no qual participei com a comunicação "Literatura & Imprensa: do local ao global") numa comunicação sobre Famalicão, revelou não só o seu poder comunicativo, assim como igualmente um outro lado, o seu requintado humor, suspendendo o auditório, o qual, no final, lhe conferiu uma fantástica ovação. Uma outra sua participação com Famalicão relaciona-se com estes "Dramas de Camilo", gravado por terras camilianas para o programa "A Alma e a Gente" e transmitido na RTP em 5 de Abril de 2003. Contudo, a sua primeira vinda a Vila Nova de Famalicão, e numa viagem temporal-histórica, remonta-se ao ano de 1969, numa altura em que conferiu a Secção de Vila Nova de Famalicão do Liceu Nacional de Braga (isto em Agosto), bandeira do deputado Dr. Luís Folhadela de Oliveira, visitando Famalicão em Outubro. O Presidente da Câmara Municipal de então, Dias Costa, vai-lhe conferir o título de "Cidadão de Honra Famalicense".


segunda-feira, 16 de julho de 2012

os fundamentos filosóficos do maçonismo moderno

Palavras-Chave:
Iluminismo. Humanidade. Homem. Livre-Pensamento. Libre-Discussão. Deísmo. Teísmo. Mecanicismo. Soberania. Tolerância Civil. Secularização. Cosmopolitismo. Pluralismo. Filantropia. beneficiência.
Coloco aqui a capa de alguns dos livros, da minha biblioteca, da garagem-filosófica, citados pelo Professor Fernando Catroga
Conferência gravada.



Prof. Norberto Cunha, Coordenador Científico do Museu Bernardino Machado
Apresentação do Conferencista

Com a conferência de hoje do Professor Fernando Catroga, que vai falar-nos sobre os fundamentos filosóficos da maçonaria, do maçonismo, fechamos a primeira parte do ciclo de conferências sobre a Maçonaria, que vai ser retomado em Setembro. Só queria dizer algumas palavras sobre o Prof. Fernando Catroga, não muitas. Só queriam que soubessem que o Prof. Fernando Catroga é uma das referências da nossa cultura portuguesa contemporânea pela sua originalidade, escreveu imensas obras, imensos trabalhos, desde Voltaire à secularização, o republicanismo, sobre a historiografia, a teoria da história. São trabalhos que valem a pena ler e revisitar, não só pela frescura intelectual, até pelo prazer de o lermos, porque quando o lemos temos sempre algumas perplexidades, são trabalhos que suscitam problemas, interrogações, e, por isso, tornam-se particularmente interessantes. Penso que isso se deve a uma matriz filosófica da sua escrita; e entre todos os livros que escreveu, trouxe este, que se chama “Entre Deuses e Césares: secularização, laicidade e religião civil”. É um livro interessantíssimo, do melhor que se publicou neste país nos últimos anos, e tudo o que o Prof. Fernando Catroga escreve deve-se ao seu pensamento original e ter uma visão muito sui géneris, muito própria deste país e da nossa cultura. Por isso, é um privilégio para este Museu, e para esta autarquia, tê-lo entre nós, nunca se escusando aos nossos convites.


Professor Fernando Catroga
É com muito gosto que mais uma vez aqui estou, nesta casa, é uma colaboração que já tem anos, e queria felicitar o Museu pelas suas múltiplas iniciativas e por ter trazido este tema, mas a mais sabendo que não foi a reboque da repentina actualidade que ele ganhou entre nós, já que já estava planificado. Às vezes são as coisas que vêm ter connosco, embora seja muito difícil convencer os outros de que foi o cruzamento das linhas do acaso.
Com o convite do Prof. Norberto Cunha, percebi a razão do mesmo, devido aos meus trabalhos sobre a Maçonaria, que ultiumamente não me tenho dedicado muito. Não sou maçon, julgo que é importante dizer isso. Digo isto, e não tendo nada contra a Maçonaria, para sabermos o lugar de onde falo e para também justificar a perspectiva que aqui vou privilegiar. É uma perspectiva que, talvez a expressão mais correcta, seja o conceito externalista, mesmo quando possa convocar afirmações, ou documentos, em que esta dimensão externa se repercute no interior da Maçonaria, particularmente, e, precisando um pouco melhor, no maçonismo, sem entrar numa querela que me parece que faz muitas consfuões a presuntismos ou a anti-presuntismos, saber quem é que está primeiro, isto é, se foi a maçonaria que produziu as coisas, ou se havia conjunturas que devem ser mobilizadas para explicar como é que a configuração de uma nova sociabilidade, a partir de um certo momento, vai perfilhar princípios, ideias e valores, que vai organizar-se como uma sociedade ritual, e que vai estar, de facto, num dos grandes momentos que nós podemos chamar de os momentos inaugurais da modernidade ocidental.


Não vou falar da Maçonaria portuguesa, não vou falar dos ritos maçónicos (sou um leigo nesta questão), não vou falar também das origens míticas da Maçonaria; e, por isso, falo da Maçonaria moderna, precisamente com esta ideia: a transmutação, que na linguagem da evolução neste tipo de organizações se costumam designar, e já ouviram falar noutras conferências, da passagem de uma Maçonaria operativa para uma Maçonaria especulativa. Sendo especulativa, é preciso saber o que é que eles entendiam por isso, sobre o que é que especulavam e quais eram os seus fundamentos e quais as finalidades dessa especulação e qual era a novidade quando confrontada com as chamadas dimensões corporativas de organização das profissões, como a dos pedreiros, que trabalhavam a pedra propriamente dita, e que vão agora decidir incorporar mais como metáfora numa nova Maçonaria, no que diz respeito à sua origem social, recrutamento, até aos dias de hoje. Assim, vou falar essencialmente desta Maçonaria especulativa, que vai ter o nome de franco-maçonaria. Ao contrário do que se pensa, não é porque ela vem de França, é, pelo contrário, o termo, a definição da palavra que parece designar uma espécie de assunção metafórica da Maçonaria operativa, no sentido de que dentro das lojas o homem, quando é iniciado, é como a pedra bruta, que precisa de ser trabalhada, de ser lapidada, e agora, neste novo horizonte, pressupondo a ideia de que deve ser uma espécie de ascensão, a caminho do auto-aperfeiçoamento, à luz dos princípios que remetem, quer queiramos quer não, para um fundo filosófico.
Não venho aqui defender que a Maçonaria é uma filosofia, mas há definições, até estatuárias dos grandes orientes, que defendem a Maçonaria, principalmente no século XIX, como uma associação filosófica, filantrópica, uma associação que visa, em última análise, o aperfeiçoamento dos seus membros, com o motor do aperfeiçoamento de uma outra identidade que é típica da conjuntura em que emergiu a Maçonaria especulativa, e que, de facto, está bem longe da dimensão das chamadas maçonarias operativas, cuja identidade chama-se “Humanidade”. Chama-se “Humanidade” ou chama-se “Homem”, definido numa perspectiva e há luz de uma certa dinâmica que, em última análise, para que possamos fazer depois o lançamento daqueles conceitos, fazer uma espécie de gramática de conceitos, que acabam por ser fundacionais dum percurso que não sendo uma filosofia, encitam a filosofar, e que está centrado em algumas ideias e alguns valores que, afinal, os fundadores acabam por bebê-los nos grandes movimentos de transformação mental que a Europa sofreu, particularmente a partir das guerras religiosas, da guerra dos 30 anos, enfim, todo o séculoXVII e o século XVIII, o impacto de novas filosofias, quer de carácter empirista, quer de carácter racionalista, na sua conjugação, o impacto da revolução científica moderna, particularmente com Newton, e, no fundo, a emergência de novos conceitos sobre o fundamento da política, do conceito de soberania, e a emergência também, de novas atitudes em relação ou as relações entre a sociedade política e o religioso, que vai colocar na ordem do dia, por exemplo, a ideia da tolerância, a tolerância civil. isto para dizer que este trabalho de esculpir a matéria a partir da pedra bruta e que vai carpintar, do ponto de vista metafórico, a Maçonaria especulativa, pressupõe quanto a mim fundamentos exteriores à própria Maçonaria, para que nós depois possamos também perceber, por exemplo, o próprio texto fundacional desta Maçonaria especulativa. Refiro-me às Constituições de Andersen, de 1723, que irei aqui ler duas ou três partes, e que irei comentar talvez de uma forma heterodoxa, que julgo que é uma das matrizes dessa modernidade que vem de Locke e dos seus discípulos, a questão e o exercício do livre-pensamento, conceito que vai, aliás, depois influenciar toda a Maçonaria.


Esta mutação, ou esta emergência de uma Maçonaria especulativa, está muito ligada à cultura britânica. Para alguns terá começado na Escócia, mas é evidente que é, sobretudo, em Inglaterra, e dentro da Inglaterra em Londres, que ela vai, de certo modo, instituir-se com a Loja de referência das chamadas maçonarias regulares, caso da Grande Loja de Londres (1717) e que depois, de facto, vai crescer: em 1725 já tinha 23 lojas e, em 1733, contava já com 126 lojas. E vai ter duas figuras preponderantes, que eram duas figuras religiosas, protestantes, um James Andersen, e que em colaboração com um inglês, filho de perseguidos religiosos franceses, que vão dar feição original, digamos, constitucional, a esta Maçonaria especulativa. Este descendente de filhos franceses que não é muito falado, Désaguliers, amigo de Newton, ele próprio um grande cientista, membro da Sociedade Real, onde se reuniam os grandes sábios, ligado á física experimental, e, simultaneamente, teólogo e um grande apologeta da nova ordem, de tal modo que a propagação da Maçonaria em outras regiões da Europa se deve ao seu activismo. Podemos dizer que foram estes os dois pais fundadores da Maçonaria especulativa, que tem, de facto, como pátria, a Inglaterra. É daí que ela depois se vai irradiar numa longa história, que vai ter as suas heterodoxias, que vai ter as suas divisões, mas que vai passar por Hamburgo (1727), Madrid (1728) – estou a falar das primeiras lojas –, Gibraltar (1729), Paris (1732) e Lisboa. Continua-se a discutir se a primeira loja constituída por britânicos é de 1727, mas pelo menos há alguma notícia dessa loja, segundo o registo da Inquisição, como sendo a Loja dos Hereges Mercadores, e que depois se regularizou, segundo notícia na Grande Loja de Londres, estando ligada muito esta às comunidades estrangeiras, sobretudo ligadas ao comércio, e que vão, enfim, dar origens a lojas como O Grande oriente Lusitano, a qual, com alguma estabilidade, e com o impacto dos oficiais britânicos nas guerras, nos finais do século XVIII e depois nas invasões napoleónicas, que essa Maçonaria se consolida em Portugal e que cada vez mais incorpora portugueses, ou então surgem por iniciativa de portugueses, sendo lojas estritamente nacionais. O impulso britânico marcou muito esta génese por razões que se prendem essencialmente com o desenvolvimento de um pensamento de carácter científico-experimental muito forte e que vai culminar com a nova visão do universo, chamada a visão mecanicista do universo, que é dada pela nova descoberta de Newton. Newton era um crente que tinha grandes dúvidas, por exemplo, do conceito da Santíssima Trindade, e esta ideia, que foi muito cultivada e que esteve muito subjacente ao pensamento europeu, sobretudo com o impacto das guerras religiosas, a maior de todas a Guerra dos Trinta Anos, mas depois também a guerra civil na Inglaterra entre os Tudors e a Casa de Hannover, as emigrações para a América, os grandes debates sobre a possibilidade uma paz civil e quais são os limites que se devem pôr ao religioso para que o político possa garantir a prossecução do bem-comum, sobretudo, quando se convocava Deus, um Deus que era um Deus teísta, isto é, um Deus antropormófico, um Deus do Cristianismo, um Deus interventivo, mas que com as várias leituras que começaram a ser feitas, e com os cismos do próprio Cristianismo, aquilo que deveria ser o fundamento da verdade, Deus uno e indivisível, passou a ser motivo de discórdia e a impossibilidade da paz civil nas comunidades politicamente organizadas. E, por isso, o debate sobre a tolerância, a partir de determinado momento, a tolerância que era em alguns teólogos uma tolerância religiosa, afinal, as religiões do livro deveriam tolerar-se umas às outras. Ora, o que acontece de novo, nesta contenda, que vai levar à emergência de uma série de ensaios marcantes, ainda hoje no pensamento ocidental, é a conotação que é dada à tolerância, e que tem a sua melhor expressão num refugiado, naquilo que era a pátria de todos os heterodoxos deste período, fossem católicos, huguenotes, anglicanos, na Holanda. É precisamente na Holanda que, estou a referir-me a Locke, que as suas célebres “Cartas sobre a Tolerância” devem ser lidas e articuladas com os seus ensaios políticos e com a sua teoria do conhecimento, de carácter empirista, interessando-nos aqui o uso do conceito da tolerância, para questão a tolerância civil, e que, de certo modo, vinculando algo que depois Voltaire, no seu ensaio sobre a Tolerância, uns anos depois, vai retomar, e que é, afinal, a necessidade de uma reorganização do político e do espiritual, de maneira a que a sociedade política possa ser garante da paz civil e, para isso, era preciso que o religioso refluísse para a esfera do privado, ou para a esfera do direito associativo para prática da crença, em suma, encontramos em Locke, pela primeira vez, e de uma maneira sistematizada, a defesa da necessidade da separação da Igreja do Estado.


Em termos conceptuais, dizemos que isso é uma conjuntura onde se assiste ao fenómeno da secularização: vamos assistir à secularização da natureza, isto é, cada vez mais se reivindica a autonomia do entendimento humano, porque se acredita na autossuficiência da razão, ou que se acredita pela combinatória entre a razão e o mundo dos sentidos, o mundo da experiência, o homem consegue perceber a legalidade, as leis do próprio universo, esta crença de que o homem pode, no fundo, chegar às leis científicas, pode ter um saber totalmente seu sobre a natureza, a expressão é de Francis Bacon no seu “Organon”, tendo esta conjuntura, como pano de fundo, uma mudança nas elites intelectuais e muitos deles ligados à prática científica, aquilo que nós na linguagem técnica chamámos de Deísmo. O que é o Deísmo? O conceito de Deísmo é um conceito que tem a ver com o significado de religião natural. A crença de que o homem se basta a si próprio, é porque o homem é um ser naturalmente religioso e polissémico, é o modo como ele manifesta essa sua necessidade, embora se aceitasse que o Cristianismo tinha sido ou seria a forma superior de expressar essa necessidade, isso significa que o Cristianismo não poderia ser o exclusivo do monopólio da verdade. Mais: o seu estatuto, o Cristianismo como religião revelada, mas revelada por Deus a homens que por sua vez escreveram a revelação, o próprio livro deveria ser objecto científico. A natureza é um livro que está escrito em linguagem matemática, diz-nos Galileu; mas esta conjuntura também vai dizer algo, e que começa com Espinosa: os próprios livros religiosos, afinal, são históricos, na medida em que foram feitos pelos homens e, portanto, é necessária a historicidade, a través de um método histórico-filológico; e tudo isto conjugado com outros factores, ficava bem, sobretudo no pensamento anglo-saxónico, com repercussões imediatas em França, com fundo de Deísmo, não do Teísmo, porque o Deus criador do Teísmo é o Deus-pessoa, o Deus do Deísmo é mais um Deus-geómetra, é o Supremo Arquitecto do Universo, é o Deus que é logos, razão, e se é razão criou o homem à sua imagem e semelhança, e logo o homem também é à sua maneira Deus na terra, e a razão do homem consegue compreender a racionalidade que Deus inevitavelmente tinha que inscrever na ordem das coisas, como é o caso do princípio da razão suficiente de Leibniz, não só das coisas, mas da própria história. Há uma razão na História que a razão do homem pode compreender. E pergunta-se: e Deus não intervém na natureza, no terreno da história? Sim, o Deus da crença popular, o Deus das religiões, o Deus do Teísmo ainda acredita nisso. Só que o Deus do Deísmo é um Deus criador do universo, do homem, mas é um Deus indiferente em relação ao universo e ao homem, como quem diz, é o Deus que escreveu uma ordem das coisas, o homem à sua imagem e semelhança e, portanto, o homem tem em si a capacidade para compreender as coisas, porque elas têm uma lógica, elas têm uma racionalidade, sendo necessária a sua compreensão. E quando se pergunta que Deus é este, sem dúvida que, aparentemente, vê-se o Deus da religião do livro, mas já não é o Deus das igrejas, é o Deus que aceitou a sua transcendência e a sua indiferença ao mundo, é um Deus, de certo modo, da religião natural, que diz os modos diferentes de celebrar o sagrado. Em última análise, exprime-se este princípio unitário que está para além das religiões feitas propriamente ditas e que são da ordem da natureza. Deísmo, mecanicismo e outros conceitos, são chaves para que nós possamos entender o documento fundador da Maçonaria especulativa.

Aliás, as Constituições de Andersen, já o dissemos, foi um produto de conjunto, entre Andersen e Désaguilers, imbuídas de Deísmo e que as maçonarias irregulares que depois irão aparecer irão constituí-las como documentos de referência. O que vou tentar fazer agora é uma análise internalista e vou procurar fazer um exercício hermenêutico daquilo que está dito, o seu significado, mas o seu significado epocal, sem cair em anacronismos. O que é que verdadeiramente queremos dizer quando esta Constituição foi escrita? Diz ela: “Um maçon é obrigado pela sua condição a obedecer à lei moral; e se compreender correctamente a arte, nunca será uma teu estúpido, nem um libertino irreligioso”. Mas, embora nos tempos antigos, os maçons fossem obrigados em cada país, a serem da religião desse país, ou nação qualquer que ela fosse, julga-se agora mais adequado obriga-los apenas àquela religião na  qual todos os homens concordam, deixando a cada um as suas convicções próprias, isto é, a sempre homens bons e leais, honrados e honestos, quaisquer que sejam as denominações ou crenças que os possam distinguir. Por consequência, a Maçonaria converte-se no centro de união e no meio de conciliar uma amizade verdadeira em pessoas que podiam permanecer sempre distanciadas. O que é que aqui se vê? Uma referência ao horizonte das guerras religiosas, uma referência muito clara a um velho princípio que vem já da Idade Média e que depois teve várias traduções: a sua dimensão teológica, fora da igreja não há salvação e na sua dedução teológica política, a cada reino a sua religião: “Os súbditos têm que ter a religião do Rei”, ou ainda algo que ficou consagrado no Tratado de Vestefália, quando houve grandes movimentos de populações de maneira a procurar uma teórica homogeneidade entre as religiões e o político, e que os franceses foram os paladinos desta consignação na fórmula “Une Foi, Un Roi, Une Loi”. Bem, para não falarmos dos países do sul da Europa, onde o olho da Inquisição funcionava; e, por isso, esta Maçonaria especulativa, ela quer ser um lugar de pluralismo religioso, mas demarca-se simultaneamente do “ateu estúpido” ou do “libertino irreligioso” (e isto vai colocar a questão, tempos depois, se os ateus ou não devem ser incluídos na Maçonaria). É que a virtude da literatura sobre a tolerância do século XVII e mesmo no século XVIII, tem uma abertura tal de tolerância civil em relação às religiões, sendo uma tolerância que pressupõe um intolerante, ou uma intolerância fundamental (Locke), enquanto que um outro, perseguido e que estava em Amsterdão, Pierre Bell, vai contestar, dizendo, o ateu deve ser tolerante em relação ao ateu, assim como em relação aos católicos, aos papistas, porque obedecem ao Papa, logo não têm autodeterminação, e o ateu deve ser intolerante porque o ateu não acredita na essência de Deus e na imortalidade da alma, não pode dar garantias pelo fundamento da responsabilidade ética para sua própria acção; e porquê? Porque não tem medo do juízo final. Por isso, esta referências ao “ateu estúpido” relaciona-se muito com aquilo que vão ser  as premissas desta Maçonaria especulativa, sob o ponto de vista metafísico. Primeiro: a evocação do Supremo Arquitecto do Universo, um Deeus que é um Deus de todas as religiões, a exclusão dos ateus, precisamente porque o ateu não se sabia comportar, obedecer à lei moral porque não tinha mediação do juízo final para as suas acções. De qualquer modo, Já nesta conjuntura, Pierre Bell é o primeiro a dizer “sim”, já que o ateu pode ser eticamente tão responsável como o crente, porque “conheço ateus que só fazem o bem e conheço crentes que só fazem o mal”. Esta ideia de que o caminhar para uma sociedade que, em última análise, o princípio de homogeneidade do religioso com o político, que era uma condição metafísica que vinha da Idade Média, segundo a qual se acreditava que uma sociedade religiosamente pluralista iria prejudicar aqueles crentes na ressurreição final dos corpos, dessa dimensão colectivista; e, por isso, a ideia da homogeneidade do político e do religioso tinha justificação teológica e que ela se vai traduzir de facto nestes princípios e que é uma das bases das guerras religiosas no século XVIII.
Vejamos outro passo das Constituições de Andersen: “Um pedreiro é um súbdito tranquilo do poder civil, onde quer que resida o trabalho, e nunca deve promiscuir-se em planos e conspirações contra a paz e o bem-estar da Nação, nem contrapor-se indevidamente para com os magistrados inferiores. Porque, como a Maçonaria tem sempre sido prejudicada pela guerra, a infusão de sangue e a desordem, assim os antigos reis e princípios dispuseram a encorajar os artífices por causa da sua tranquilidade e lealdade, por meio das quais respondiam na prática às cabilações dos adversários e concorriam para a honra da fraternidade, sempre florescente em tempo de paz.”


Esta ideia de que nas lojas não se deve discutir política, mas sim discutir princípios que ajudem a elevação espiritual dos seus membros, isto está, de facto, na letra e no espírito nas Constituições de Andersen. Em suma, a Maçonaria especulativa, uma das faces daquele grande movimento da história das ideias que designamos por Iluminismo, estando em causa uma visão antropocêntrica do mundo, uma visão onde o teocêntrico, mesmo que esteja pressuposto, fica cada vez mais distante como critério invocar das acções práticas, ou mesmo do pensamento. Aliás, quando Kant responde á pergunta o que é o Iluminismo, responde que á a passagem da menoridade para a maioridade do homem, isto é, quando o homem faz um bom uso da sua razão, não obedecendo a algo que seja exterior aos imperativos da sua racionalidade, estando aqui o problema de uma moral autónoma, que se demarca de uma moral heterónoma, estando esta sujeita ao sujeito da autoridade. Por outro lado, a ideia de que a livre discussão pautada por critérios racionais traz a luz, ilumina.  Insto inscreve-se na velha tradição do pensamento ocidental da metáfora da luz, que a Maçonaria vai incorporar precisamente agora com estas mediações, mas também vai incorporar uma outra faceta, que é a ritualística, a ideia de que uma sociedade iniciática que acaba por reproduzir não só a metáfora da morte e da ressurreição, mas, no fundo, toda uma velha tradição da cultura ocidental, que talvez a alegoria da caverna de Platão seja o exemplo mais típico da escuridão, havendo a necessidade de fazer uma ascese, uma ascese por degraus, para que cada vez mais, através da luz, o homem se transformando a si próprio, transforma o mundo que o rodeia. Assim, a Maçonaria, do ponto de vista aos condicionamentos, toca, no conjunto daquelas correntes defensoras de uma visão mais antropocêntrica do mundo, crendo, não numa independência do homem em relação a Deus, porque não se trata ainda nem sequer de um quadro agnóstico, muito menos ateu, mas na ideia de que o homem através da capacidade do entendimento, na linguagem anglo-saxónica, através da razão, desde que não esteja coacto, isto é, que deixe que o pensamento seja livre, ele consegue verdades demonstradas pela ciência, consegue verdades deduzidas, através da racionalidade, e, portanto, consegue criar conhecimentos e são conhecimentos que podem ser postos ao serviço do aperfeiçoamento do próprio homem. Há quase uma dimensão mística na Maçonaria e ela vai nascer sob o impacto das ciências experimentais e, de qualquer modo, os seus fundadores vão produzir mecanismos mais ligados à reinvenção do passado que parece que vão entrar em contradição com a componente iluminista, projectando a ideia de pensadores-livres, estando patente aquilo a que nós podemos chamar de cultura liberal. A questão dos valores, como a do livre-exame e outros valores que vão estar consignados na cultura iluminista, e, também em alguns maçons de matriz anglo-saxónica, nos Estados Unidos, com a emergência das declarações, nomeadamente na Virgínia, dos direitos do homem, onde nós vamos encontrar consignados esta visão antropomórfica, baseada numa ideia de que há uma natureza humana que só por si é o paradigma mais unificante de que o próprio Deus das religiões propriamente ditas, porque este Deus tinha dado origem a guerras, e acreditava-se que como a natureza humana, a partir da inferência daquilo que lhe é natural, que lhe é essencial, como fonte inspiradora dos direitos positivos, das normas de uma moral autónoma, talvez a paz entre os homens fosse mais possível de garantir do que, afinal pela garantia que era da pelo peso dominante do religioso em relação ao político. E é por isso que a Maçonaria vai ser sensível a algo que surge nesta época, muito ligado ao princípio da tolerância, numa visão optimista sobre o homem, na capacidade do próprio homem ir-se aperfeiçoando, na metáfora do trabalho do pedreiro, e a ideia de que há uma natureza humana, havendo um desfasamento entre aquilo que é da ordem da natureza humana, com os seus aprioris definitivos, sendo colocada como fonte de inspiração das próprias constituições, mas ela própria como acção do homem, porque afinal o homem pode fazer-se a si mesmo, no sentido de que quanto mais ele se realizar historicamente daquilo que é da sua natureza, quanto mais ele conseguir racionalizar a ordem social, a ordem política, etc., mais humano se pode concretizar. Este optimismo antropológico vai ser expresso, por exemplo, numa espécie de utopia, uma utopia humanitarista, que se traduz, por exemplo, no projecto da paz perpétua, na possibilidade de um dia o homem conseguir controlar propriamente o seu destino, a guerra, mesmo existindo o conflito, ela era arbitrária (Abade Saint-Pierre), sobretudo Kant, fazem disto, afinal, a inscrição de uma visão optimista do homem, que tem como raiz o seu antropocentrismo, expressando um dos valores muito fortes da Maçonaria, que é a sua dimensão ao serviço da humanidade, e é preciso aqui dizer que a humanidade, esta expressão a “Humanidade” na cultura ocidental só passou a ser substantivo abstracto praticamente no século XVIII. É claro que se pode dizer que os históricos já falavam de uma espécie da identidade da natureza humana, ou que o Cristianismo, ao contrário do Judaísmo, já quis ser uma religião universal, só que o que agora se diz é que o homem é um ser auto-suficiente, filho de um Deus que já não intervém, órfão, não o traz pela mão. O homem é que é o responsável pelo seu próprio destino e, portanto, a aventura humana que tem o concreto, o particular, ao contrário do que se pensa, o Iluminismo não defendeu a homogeneidade, vai defender uma humanidade como uma espécie de identidade autossuficiente que tem como situações em espaços e tempos concretos, mas que se vai realizando em devir, a ideia de progresso, e da perfectibilidade humana. A plena realização só se pode dar em que a parte seja inserida num todo; e, por isso, o século XVIII, o maçonismo vai ser muito claro, vai ter uma palavra-chave, o cosmopolitismo, diferente dos nossos dias. Termo que começa a aparecer para no fundo dizer que os pressupostos do optimismo do homem se realizem no particular, a uma escala universal, que deve caminhar para a construção de um plano da cosmópolis e daí o sonho de uma república universal. Ora, as maçonarias não vão querer ter nacionalistas, defende a sua dimensão cosmopolita. Por outro lado, pergunta-se, como é que estes valores se irão concretizar, e que, em última análise, poderiam funcionar como uma espécie de guia, de uma agenda de especulação filosófica, inerente a uma sociedade de pensadores; mas a Maçonaria não quis ser, nem quer ser, uma sociedade de pensadores. Pelo contrário, foi uma associação que nasceu para transformar os seus membros de modo a que estes pudessem transformar o seu próprio meio, em termos que fossem alternativos àquilo que para eles era um fracasso da apologética das religiões e, em particular, o Cristianismo. E, por isso, nós hoje lemos praticamente nas Constituições do Oriente também a definição de que a Maçonaria é uma associação filantrópica e quando se diz isto, é porque ela é filantrópica (nos primórdios o que existia era a caridade, não havia sociedade de socorros-mútuo), e é indiscutível que a comunidade maçónica nasce para uma auto-protecção dos seus membros, e, portanto, muitas vezes confunde-se esse conceito exterior à própria Maçonaria, aparecendo com ênfase, aplicando-se também em ralação ao mundo exterior. Porquê? Porque a filantropia significa a amizade desinteressada pela espécie humana em toda a sua extensão.



É precisamente no século XVIII que a palavra filantropia aparece e é divulgada. Um outro termo que tem ênfase nesta conjuntura, é o termo beneficência, precisamente porque é um termo que se contrapõe ao termo caridade, prova de que estávamos suficientemente numa sociedade secularizada em relação aos próprios valores, porque beneficência é fazer o bem, e a palavra foi inventada pelo primeiro grande teórico da paz perpétua, Abade de Saint-Pierre. Mal de nós sabíamos o futuro deste conceito, que depois vai ser aplicado a sociedades que surgem para esses propósitos. No fundo, é esta a gramática dos conceitos fundamentais, que influenciariam a Maçonaria, e incorporados no próprio texto da Maçonaria, mas que esta Maçonaria especulativa, na sua fase inaugural, vai dar a sua elaboração própria e, mais, vai enquadrá-la numa dimensão ritualística onde há um outro tipo de cultura que parece que está em contradição com esta, tendo sido Désaguliers que incorporou essa faceta, com a Cabala. Não há, aliás, um Iluminismo puro, existe sempre uma dimensão sombra e de mistério, e para muitos historiadores, este tipo de Maçonaria, ainda antes de ser politizada no Século XIX e no século XX, os seus sucessos devesse ao facto de ter incorporado nos seus debates nas suas sessões, nos seus pressupostos de carácter, chamemos assim, mais iluministas, esta dimensão ritualística-simbólica. Aqui está o seu segredo, porque há o cultivo de algo oculto, e sendo misterioso acaba por ser atractivo. E daí esta pergunta muito polémica: em última análise, não será a Maçonaria uam religião? Aqui sigo um autor meu preferido, George Gustorf, que responde que sim. Mas que religião é essa? No fundo, pressupõe um Deus que é indiferente, frio, um Deus geómetra, é arquitecto, que planifica. Assim Deus terá feito o mundo. Mas a Maçonaria diz-nos que a razão não é auto-suficiente, só o é numa certa perspectiva, e ela precisa do símbolo, do rito, ela precisa da sensibilidade, da liturgia. E terá sido esta mistura, que no fundo é uma religião que não é uma religião, é uma religião que possibilita a coexistência e a coabitação de todas as religiões, excluíam os ateus, incluindo os católicos. A Maçonaria, aparecendo como uma sociedade de espiritualização dos seus membros, recoberta pelo seu secretismo, quando muito uma sociedade discreta, e, com esta dimensão, contra algumas das suas premissas possivelmente intelectualistas, a Maçonaria tinha o que as religiões não tinham, a crença da existência de uma divindade, como através dos seus graus e dos seus ritos, possibilitava uma carreira aberta, uma espécie de sacerdócio democrático em termos de loja, que de certo modo  funcionava como embrião das sociedades em via de democratização, porque a discussão era livre, fomentava-se a argumentação, a  retórica e, por outro lado, também, através dos empenhamentos do estudo, dos rituais, todos podiam ascender a todos os lugares, inclusive a lugares supremos. É neste sentido que há algo de religioso, uma religião secularizada, um sagrado não clerical, diz-nos Gusdorf, um sacerdócio secularizado.
Em suma, independentemente das histórias da Maçonaria, a história da Maçonaria também é a história das suas dissidências, das suas heterodoxias, das suas ligações ao mundo profano, os seus compromissos, do seu não comprimento dos seus próprios princípios, mas também dos seus próprios cumprimentos. Acasalando as matrizes fundamentais da modernidade, à volta dos conceitos fundamentais, deísmo, visão mecanicista do mundo, a edificação da humanidade, cosmopolitismo, filantropia, o antropocentrismo, beneficência, julgo que são valores chaves para explicar o maçonismo.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

bernardino machado e a olaria



Decorreu no Museu Bernardino Machado, em parceria com a Fundação Castro Alves, no dia 12 de Julho do corrente ano, de manhã, o atelier denominado “Olaria e Cerâmica para Miúdos e Graúdos”. Inserido nas actividades pedagógicas do Museu Bernardino Machado para o ano lectivo de 2011-2012, o atelier consistiu na pintura e na manufactura do popular “jogo do galo” com peças alusivas a Bernardino Machado, nomeadamente, o bigode, a bengala, a cartola, um livro e a sua caricatura. O atelier teve a orientação de uma monitora da Fundação Castro Alves.



terça-feira, 10 de julho de 2012

cruz malpique na imprensa famalicense


Para o Prof. Paulo Ferreira da Cunha


- Chávenas de café quase amargo. Pedantismo, inteligência que congemina, não que realiza. Os que chegam e os que passam. Monarquias-Repúblicas. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 336 (28 Ago. 1966), pp. 1-2.
- Chávenas de café quase amargo. Diário. Créus e incréus. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 337 (4 Set. 1966), p. 3.
- Chávenas de café quase amargo. Correspondência de Flaubert. Homem universal. Ponto de confluência. No signo da frustração. Companhia solitária e solidão acompanhada. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 338 (11 Set. 1966), pp. 1-2.
- Chávenas de café quase amargo. Homens e bichos. Compensação. Pensar, sentir, agir. O homem do balandrau. No signo do querer. Pensar profundo. O fontanário e a disciplina. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 339 (18 Set. 1966), pp. 1, 3.
- Chávenas de café quase amargo. Fecha os olhos e verás. Diz-me o que fazes... Pensamentos euclidianos e pensamentos sinuosos. Erudição e cultura. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 341 (2 Out. 1966), pp. 1-2.
- Chávenas de café quase amargo. Amigos e inimigos. Génio e laboratório. Nulidades insupríveis. Perfeição. Rugas na memória. O anão sobre os ombros do gigante. Chicaneiros e sofistas. Mulheres de letras. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 342 (9 Out. 1966), p. 5.
- Chávenas de café quase amargo. O viático da boa leitura. Natura e cultura. Cultura e civilização. Animal e homem. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 344 (23 Out. 1966), p. 3.
- Chávenas de café quase amargo. Civilização descontínua? Que o discordar seja um caminho para progredir. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 346 (6 Nov. 1966), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. Tratar a Deus por Tu. Nobreza. Perucas a mais e cabeça a menos. Entre oficiais do mesmo ofício. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 351 (11 Dez. 1966), p. 3.
- Chávenas de café quase amargo. A Princesa Ratazzi. Mortos vivos e vivos mortos. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 353 (25 Dez. 1966), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. Mais devagar. Jovens e velhos. Não forcemos o amadurecimento. Crisóstomo das arábias. Poeta na vida, maneira de o ser nos versos. Conversa narcotizante. Confissões integrais? Estrela da Manhã. Ano 7, nº 355 (8 Jan. 1967), p. 3.
- Chávenas de café quase amargo. Zoocentrismo. «Verdades» e verdade. «Cherchez l`argent”. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 356 (15 Jan. 1967), pp. 1-2.
- Chávenas de café quase amargo. Génio e talento. Língua e oração. Duas equações. Biblioteca e seus leitores. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 357 (22 Jan. 1967), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. No signo da imprimissão. Além do português básico. Santidade. Escritor livre. Batalha do pão, batalha da alma. Prémios literários. Vocação. Escrever e dizer. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 359 (5 Fev. 1967), pp. 1, 5.
- Chávenas de café quase amargo. A cabra que era corpo. Em louvor da palavra. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 360 (12 Fev. 1967), p. 4.
- Chávenas de café quase amargo. A máquina e o homem. Da esperança à realidade. Arte e liberdade. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 361 (19 Fev. 1967), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. Inteligência e não. No signo das verdades. No mundo dos escritores. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 362 (26 Fev. 1967), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. E a todos o vento levou... Da vida e da morte. Temperamento e personalidade. A prova do pudim. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 363 (5 Mar. 1967), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. Castração pelo medo. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 364 (12 Mar. 1967), pp. 1, 5.
- Chávenas de café quase amargo. No signo do artifício. No signo da metafísica. Nós e a circunstância. Luz e sombra no homem. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 365 (19 Mar. 1967), pp. 1, 4.
- Chávenas de café quase amargo. Não consintas. Política do pão e política do pau. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 367 (2 Abr. 1967), pp. 1, 5.
- Chávenas de café quase amargo. Carácter. Estrela da Manhã. Ano 8, nº 369 (16 Abr. 1967, p. 5.
- Chávenas de café quase amargo. Príncipes sem vintém e milhões sem princesia nenhuma. Elogio do pêlo de arame. Mandar e obedecer. Quem souber, levante o dedo. Estrela da Manhã. Ano 8, nº 371 (29 Abr. 1967), p. 5.
- Chávenas de café quase amargo. Macrohistória e microhistória. Estrela da Manhã. Ano 8, nº 375 (28 Maio 1967), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. O colarinho engomado de Chopin. Chopin tuberculoso. Sonhos na gaveta e sonhos na vida. Estrela da Manhã. Ano 8, nº 384 (30 Jul. 1967), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. Disparidades e coincidências. Por que choras se... O homem perante a adversidade. Magistério-ouriço. «Dout-facias». A realeza ou é demófila ou tem seus dias contados. Estrela da Manhã. Ano 8, nº 390 (10 Set. 1967), p. 5.
- Chávenas de café quase amargo. Inteligência e obra de arte. Livros e seus autores. Erudição de ficheiro. Primado da consciência. Estrela da Manhã. Ano 8, nº 400 18 Nov. 1967), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. Crítica em Portugal. Estrela da Manhã. Ano 9, nº 471 (5 Abr. 1969), p. 1.
- Chávenas de café quase amargo. Essência e existência. Actividade lúdica. Governar. Alexandre Dumas e... doutras. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 472 (12 Abr. 1969), pp. 1-2.
- Chávenas de café quase amargo. A revolução impossível. Interesses da comunidade, eis o grande paradigma. No signo do orgulho. Disciplina escolar. Maiorias e minorias. Verdade e mentira. Romantismo e naturalismo. Paisagem. Ideal. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 473 (19 Abr. 1969), pp. 1-2.
- Chávenas de café quase amargo. «Un soufle, m`agite, rien ne m`ébranie». O sermão das lágrimas. Poeta na clave do soluço. Teologia e lágrimas. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 474 (26 Abr. 1969), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. Ódio dos medíocres. Perguntas inocentes. Diálogo do mercado. De escalha-pessegueiro. Mal vai aos professores. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 475 (3 Maio 1969), pp. 1, 3.
- Chávenas de café quase amargo. A boa memória. Aprender. Sivis pacem. A receita da ignorância. A suavidade dos fortes e a arrogância dos fracos. Dúvida. Recordar. Piloto e remador. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 476 (10 Maio 1969), p. 3.
- Chávenas de café quase amargo. A superstição da letra e da forma. Osmose entre o corpo e o espírito. Literatura e vida, vida e literatura. Onde está a beleza: dentro ou fora de nós? Imaginação e experiência. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 478 (24 Maio 1969), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. No signo de Pascal e de Descartes. Sabemos o que é o belo, mas se nos perguntam... . O homem no rio das gerações. Se alguém... . Estrela da Manhã. Ano 10, nº 480 (7 Jun. 1969), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. A farda faz o ministro. Arte e moral. A verdade e só a verdade. Hipertrofia do eu. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 481 (14 Jun. 1969), p. 5.
- Chávenas de café quase amargo. Ideias e e ideais. Verdades científicas e outras verdades. Experiência livresca e experiência vital. Língua sujeita a plebiscito permanente. Liberdade. No signo da uniformidade. A arte não é cópia. O prelúdio da obra. Hipótese e experiência. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 485 (12 Ju. 1969), p. 3.
- Chávenas de café quase amargo. Fatalidade da crítica subjectiva. Fundo e forma da poesia. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 486 (19 Jul. 1969), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. Função do historiador. De «humanus» a «humanior». Contra a aritmética das negativas. Testamento quase incrível. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 491 (23 Ago. 1969), p. 6.
- Chávenas de café quase amargo. Violência é uma coisa, energia é outra. Simples troca de letras. O moleiro cabeçudo – honra lhe seja! Estrela da Manhã. Ano 10, nº 492 (30 Ago. 1969), p. 5.
- Chávenas de café quase amargo. Trabalho, trabalho. O Sr. «Farinha»... . Livra! Filosofia. Importa ver o passado de lá para cá. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 494 (13 Set. 1969), pp. 1, 5.
- Chávenas de café quase amargo. Ne varietur. Os grandes poetas. Muita parra e pouca uva. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 501 (1 Nov. 1969), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. Civilização. Docendo, discendo, é de temer o homem de um só livro. Napoleão, força da natureza. O vívio do trabalho. Vida é filosofia, filosofia e vida. Certo estilo. Certo emigrante. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 504 (22 Nov. 1969), pp. 2, 5.
- Chávenas de café quase amargo. Certos críticos, certos escritores. No signo dos bugalhos. Viver por viver. Todos para mim, eu para ninguém. Estrela da Manhã. Ano 10: 506 (6 Dez. 1969) 3.
- Chávenas de café quase amargo. Os Josués da gramática. «Il faut o ser être soi». História patrioteira. O dinheiro e o diabo. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 513 (31 Jan. 1970), p. 2.
- Chávenas de café quase amargo. Elogio da nitidez. Magistério. Autores e leitores. Ensinar e des-ensinar. Magistério ruidoso. Na hora da largada. No signo das grandes velocidades. Não fazemos duas vezes a mesma viagem. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 515 (14 Fev. 1970), pp. 1, 5.
- Chávenas de café quase amargo. Os portugueses precisam de viajar. Cicerones bem informados. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 520 (21 Mar. 1970), p. 3.
- Chávenas de café quase amargo. Pedestrianismo. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 521 (28 Mar. 1970), p. 5.
- Chávenas de café quase amargo. História e vida. Aventura e rotina. Literatice e literatolice. Leitura de ontem e de hoje. Estrela da Manhã. Ano 11, nº 556 (28 Nov. 1970), pp. 2, 7.
- Chávenas de café quase amargo. Língua sempre em devir. Estrela da Manhã. Ano 11, nº 599 (19 Dez. 1970), pp. 1, 5.
- Filosofia de rato na biblioteca. Estrela da Manhã. Ano 6, nº 314 (27 Mar. 1966), pp. 1-2.
- Filosofia de rato na biblioteca. Estrela da Manhã. Ano 6, nº 315 (3 Abr. 1966), pp. 1-2.
- Filosofia de rato de biblioteca. Estrela da Manhã. Ano 6, nº 316 (10 Abr. 1966), pp. 1, 5.
- Filosofia de rato da biblioteca. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 317 (17 Abr. 1966), pp. 1, 3.
- Filosofia de rato da biblioteca. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 318 (24 Abr. 1966), pp. 1-2.
- Filosofia de rato da biblioteca. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 319 (1 Maio 1966), pp. 1-2.
- Filosofia de rato da biblioteca. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 321 (15 Maio 1966), p. 3.
- Filosofia de rato da biblioteca. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 325 (12 Jun. 1966), p. 3.
- Filosofia de rato da biblioteca. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 327 (26 Jun. 1966), pp. 1, 4.
- Filosofia de rato da biblioteca. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 328 (3 Jul. 1966), p. 2.
- Filosofia de rato da biblioteca. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 330 (11 Jul. 1966), pp. 1, 3.
- Filosofia de rato da biblioteca. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 332 (31 Jul. 1966), p. 3.
- Filosofia de rato da biblioteca. Estrela da Manhã. Ano 7, nº 333 (7 Ago. 1966), pp. 1, 3.
- Júlio Brandão: o poeta e o contista. Estrela da Manhã. Ano 10, nº 489 (9 Ago. 1969), pp. 1-2.
- A obra literária de José Trêpa, em redor do aforismo “A arte é, não serve”, de Casais Monteiro. Estrela da Manhã. Ano 12, nº 605 (6 Nov. 1971), pp. 1-2.
- A obra literária de José Trêpa: veia satírica. Estrela da Manhã. Ano 12, nº 610 (11 Dez. 1971), pp. 1, 3.
- A obra literária de José Trêpa: o seu ex-líbris. Estrela da Manhã. Ano 12, nº 613 (31 Dez. 1971), pp. 1, 3.
- Memórias de um homem sem memória. Jornal de Famalicão, Ano 25, nº 1354 (8 Mar. 1975), pp. 1, 4.
- Memórias de um homem sem memória. Jornal de Famalicão, Ano 25, nº 1355 (15 Mar. 1975), pp. 1, 5.
- Memórias de um homem sem memória. Jornal de Famalicão, Ano 26, nº 1357 (29 Mar. 1976), p. 3.
- Memórias de um homem sem memória. Jornal de Famalicão, Ano 26, nº 1358 (5 Abr, 1975), p. 3.
- Memórias de um homem sem memória. Jornal de Famalicão, Ano 26, nº 1359 (12 Abr. 1975), p. 3.
- Memórias de um homem sem memória. Jornal de Famalicão, Ano 26, nº 1361 (26 Abr. 1975), p. 6.
- Memórias de um homem sem memória. Jornal de Famalicão, Ano 26, nº 1363 (10 Maio 1975), p. 3.

o prof. fernando catroga no museu bernardino machado


O próximo convidado do Museu Bernardino Machado para o V Ciclo de Conferências dedicado à temática “A Maçonaria em Portugal” é o professor Fernando Catroga com a intervenção “Os Fundamentos Filosóficos do Maçonismo Moderno”, no próximo dia 13 de Julho, pelas 21h30, com a entrada livre.
Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (Instituto de História e Teoria das Ideias), o Prof. Fernando Catroga para além das suas funções universitárias, acções científicas e actividade docente, tem realizado centenas de conferências em Portugal, Espanha, França, ex-URSS, Alemanha, Brasil, E. U. A e Bélgica. Com áreas de interesses que vai desde a História Cultural, passando pela História da Cultura em Portugal (Séculos XIX-XX), História da Cultura Europeia, História das Ideias Políticas, Teorias da Nação e do nacionalismo, Teorias da História ou pela Historiografia, tem colaboração dispersa em algumas revistas, nomeadamente “Revista de História das Ideias”, em algumas obras colectivas, caso da “História de Portugal”, dirigida por José Mattoso, com os textos “As Maçonarias Liberais e a Política”, “Romantismo, Literatura e História”, “Nacionalistas e Iberistas”, “Os Caminhos Polémicos da geração Nova”, “Morte Romântica e Religiosidade Cívica” e “Cientismo Político e Anticlericalismo”. Tem obras publicadas como “A Formação do Movimento Republicano: 1870-1883” (1982), “A Militância Laica e a Descristianização da Morte em Portugal: 1865-1911” (1988), “O Republicanismo em Portugal: da formação ao 5 de Outubro de 1910” (1991, 2000)”, “O Céu da memória: cemitério romântico e culto cívico dos mortos” (1999), “Antero de Quental: história, socialismo e política” (2001), “Memória, História e Historiografia” (2001), “Caminhos do Fim da História” (2003), “Entre Deuses e Césares: secularização, laicidade e religião civil” (2006) e, mais recentemente, “Ensaio Republicano” (2001).
Recorde-se que o Prof. Fernando Catroga já esteve presente no Museu Bernardino Machado no IV Ciclo de Conferências, cuja temática era “As Mulheres e a I República” (2011), com a conferência inaugural “As Mulheres e a República”. As conferências deste V Ciclo são acreditadas pelo Conselho Científico da Formação Contínua de Professores, para os professores da disciplina de História, Filosofia e Sociologia. Aos presentes será entregue um certificado.

sábado, 7 de julho de 2012

bernardino machado e "o primeiro de janeiro"

para o dr. manuel sá marques, a minha prenda de aniversário, com um grande abraço saudoso e de fraterna amizade





A 23 de Abril de 1925, o jornal portuense "O Primeiro de Janeiro" noticia nos seguintes termos a colaboração de Bernardino Machado nas suas páginas nos seguintes termos: "Começa hoje a hinrar nas colunas de «O Primeiro de Janeiro» com a sua colaboração, que esperamos seja tão assídua como é brilhante, o nosso respeitável amigo e eminente estadista sr. Doutor Bernardino Machado. / Inteligência vivíssima, servida por fulgurantes talentos e pela mais sólida e vasta ilustração; alma sensível a todos os entusiasmos honestos, vibrante de mocidade, de bondade, de cordealidade; homem de letras, homem de Estado, possuindo a mais brilhante folha de serviços à República, à Pátria, à Humanidade; cidadão, chefe de família de raras virtudes que o tornam em verdadeiro modelar, o sr. Doutor Bernardino Machado ocupa um lugar primacial na vida portuguesa e é sempre lido e ouvido com a mais justa, respeitosa e comovida estima. / «O Primeiro de Janeiro» saúda o eminente estadista e venerando republicano e rejubila pela honra de o ter no número dos seus colaboradores." Para além de Bernardino Machado, vários famalicenses colaboraram no jornal portuense, nomeadamente o seu velho amigo Júlio Brandão, poeta e publicista, o qual manteve no mesmo jornal uma colaboração de mais vinte anos. A carta de Bernardino Machado (do espólio Museu Bernardino Machado, de Vila Nova de Famalicão), de Paredes de Coura, evidencia essa mesma colaboração, como igualmente será através de Júlio Brandão que Aquilino Ribeiro irá colaborar no mesmo jornal portuense. Bernardino Machado escreveu os seguintes artigos: "O Inquilinato: casas económicas" (23 Abr. 1925); "As Revoltas e as Facções" (entre 26 de Maio a 17 de Junho de 1925), "Militarismo" (13 Set. 1925) e, sem título, mas que o chamamos assim "A Polémica ou Política?" (3 Ago. 1926), evidenciando a pragmaticidade e a coerência de um dos republicanos portugueses mais influentes.


mistificações à volta da maçonaria e a I república


O Prof. António Ventura e o Prof. Norberto Cunha


O Prof. António Ventura
A propósito do Centenário da República e da sua implantação em Portugal e do tema que relaciona a Maçonaria e a I República, o Professor António Ventura iniciou a sua conferência, subordinada à Maçonaria na I República e no Estado Novo, criticando a publicação de algumas obras relacionadas com o tema, na medida em que algumas são especulativas, outras fantásticas e raras abordam a mesma relação.
Tomando como princípio comum que uma coisa são as instituições, outra coisa são as pessoas, a Maçonaria, em si, antes da República, não teve nada a ver com o 31 de Janeiro: aliás, a Maçonaria foi alheia ao movimento, caso da Maçonaria portuense e do próprio Grande Oriente Lusitano Unido, que o condenou, na medida em que a Maçonaria não combate as instituições. É o que Bernardino Machado, quando toma posse do cargo de Grão-Mestre, ainda longe o ideário republicano, defende no discurso da tomada de posse. Com as suas cisões próprias, até à Revolução do 5 de Outubro, o Prof. António Ventura evidenciou que não há um texto da maçonaria a apelar à revolução! O que existe é que há maçons na revolução republicana, isto é que é diferente! Mesmo no I Governo Provisório, poucos são os maçons que estão no Governo, como é o caso de Bernardino Machado, Afonso Costa e de António José de Almeida. O que o prof. António Ventura defende é que não há maçons com responsabilidades, o que existe são maçons, e muitos, que são iniciados, reincidentes ou alguns irradiados. É o caso da Comissão de Resistência, que tinha o mero papel de ouvir as lojas e de apoiar os maçons perseguidos. Por seu turno, a Maçonaria já teve um papel decisivo da missão da França em Inglaterra (1908). Desta forma, e em larga medida, a República é o triunfo da Maçonaria, até porque o triunfo da Revolução vai ser não só o triunfo da própria Maçonaria, como o desenvolvimento da mesma em Portugal. Os maçons vão ocupar cargos importantes, funda-se novas lojas e triângulos um pouco por todo o País, surgindo algo novo:  o aparecimento público da Maçonaria.
Com mais uma cisão da Maçonaria em 1914, estando em causa a problemática “ou uma federação de lojas ou de ritos”, surgindo então o Grémio Luso-Escocês, Sebastião de Magalhães Lima vai ter um papel preponderante para a união da instituição. E se no 28 de Maio não há propriamente uma condenação há Maçonaria, o que só acontecerá em 1935, nesta fase importante será também o papel de Oliveira Camões, o qual defende que não é propriamente em regimes de liberdade que os maçons fazem falta, mas sim em regimes ditatoriais. Para o Prof. António Ventura, a Maçonaria não está habituada à clandestinidade. E mesmo perante o 28 de Maio, o Grande Oriente Lusitano Unido não o condena. Se temos antigos maçons com a  ditadura e o Estado Novo, maçons no Tarrafal, existe igualmente figuras de destaque no Estado Novo que nunca esquecerão o seu passado de maçons.


Uma vez mais, o Prof. António Ventura

UM aspecto do auditório no Museu Bernardino Machado

sexta-feira, 6 de julho de 2012

histórias de pindela, famalicão



À ESQUINA DO CAETANO[1]

O Condeixa, apesar deste tempo invernoso, veio até à minha esquina no desejo de esclarecer a confusão do novo simpático vizinho da «Esquina do Mesquita».
Em boa hora o Ego Sum abriu a sua caixa de recordações, para nos falar dos homens do passado, naquele poder descritivo e elegante com que o sabe fazer. Servido por uma memória pouco vulgar, poderia, do outro lado da rua, notar as deficiências deste, quando o nevoeiro do tempo já passado nos não deixe ver tão claramente como desejávamos.
 – Lembro-me bem do barbeiro Braga, diz-me o Condeixa.
Olha, na Rua de Santo António, haviam nesse tempo, e todas do mesmo lado, quatro barbearias: a do Braga, a do Machado, do Toca e a do Barãozinho. O Ego Sum já disse onde se situavam as do Braga e do machado, mas eu digo-te onde ficavam as outras: a do Barãozinho onde está hoje mais ou menos o café garantia e a do Toca, na casa que foi do Seara Toucinheiro, em frente do prédio da família Costa Júnior e que, nesse tempo, era pertença do Nunes Barateiro.
Ficava, como te disse, quase no fundo da rua, ou pelo menos, mais próxima da Praça da Mota, que das nossas esquinas
O Braga foi o barbeiro de todos aqueles Homens que ele aponta, mas quando morreu, parte dos seus fregueses foram para o Toca e, entre outros, o Visconde de Pindela.
Em determinados dias ia ao Solar daquele fidalgo e quantas vi o cocheiro da Casa de Pindela, com a sua libré verde, à porta da barbearia, dar ordens ao mestre João e levá-lo naquela charrett tão pequena, como o pequeno garrano que a puxava!...
Duma vez, passou-se um facto que bem define a forma de ser daquele barbeiro, que no Inverno se cobria até aos pés, com um varino negro.
Lembras-te do mordomo de Pindela? O Mota, um homem alto, forte, de grandes suíças brancas, bem tratadas, impecavelmente asseado, muito cortês…
Sempre que o Toca ia a Pindela, era sempre com ele que primeiramente se avistava e era sempre ele, que findo o serviço, dava ao mestre João, um copo e um cá te espero.
Um dia, depois do seu trabalho concluído, o Visconde de Pindela, disse-lhe como sempre:
 – Agora. Sr. João, vá almoçar.
O nosso João, acompanhado pelo Mota, encaminhou-se para uma das dependências do Solar, onde já lá estava o costumado cá te espero e o respectivo copo que começou a saborear.
Mas, contra o costume, o Visconde passa e vê que o almoço do João, se resume áquilo…
 – Então o sr. João não almoça? – pergunta o Visconde.
E ante a atrapalhação do Mota que ia começar as suas primeiras desculpas, o nosso João responde-lhe:
 – Hoje, não me apetece, Sr. Visconde, muito obrigado a Vossa Excelência.
O mordomo de Pindela nunca esqueceu a lição. Na verdade, o João Toca, era um homem que encobria, sobre aquele ar simples e humilde, sentimentos de dignidade pouco vulgares…
Afinal, continua o Condeixa, quis desfazer uma confusão e pus-me para aqui a palrar… Desculpem-me…
E lá se foi sob a chuva impiedosa que cai e tudo alaga…
















[1] Nihill – “À Esquina do Caetano”. In Estrela da Manhã. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 105 (8 Abr. 1962), pp. 1-2.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

histórias de rorigo, calendário, famalicão



À ESQUINA DO MESQUITA[1]
Do outro lado desta esquina, Nihil fez desfilar perante nós a figura simpática do «Toca», com o seu violão, o seu varino, a sua filosofia e a sua honestidade.
Que bem que me lembro dele e que bem que Nihil o pintou!
Mas há uma passagem que me faz um pouco de confusão. É quando nos diz – que tinha a sua barbearia ao fundo da Rua de Santo António e afirma que era barbeiro dos nobres…
É que se a memória me não atraiçoa, quem tinha a barbearia quase ao fundo da Rua de Santo António, por baixo da casa onde primeiro morou o chauffeur Carvalho e fazia a barba ao barão de Joane, ao Cristina de Cabeçudos, ao Dr. Moreira Pinto, ao Meneses do Vinhal e ao Visconde de Pindela era o Braguinha, que era também o barbeiro do professor e solicitador António Dias Costa, do João Constantino e do Correia Júnior.
Não se recordam do António Braga?
Era pai daquele rapaz muito pálido que em Quarta-Feira de trevas, silencioso e grave, cadenciados os passos e metido na sua opa roxa, percorria as ruas da vila agitando a pesada matraca que enchia a moçaria de medo e de respeito!
E passada a Quarta-Feira de Trevas, lá o víamos outra vez na Quinta-Feira de Endoenças!
Mas não o confundamos com o filho do machado barbeiro que, meia dúzia de metros abaixo, tinha o seu estabelecimento no rés-do-chão do prédio do solicitador Lino Guimarães e que veio a suceder, no uso das matracas, ao filho do Braga, de cuja alcunha, um pouco esquisita, todos se recordarão certamente…
Olhar vítreo, andar de sonâmbulo, só a sua figura infundia medo quando ao entardecer fazia matraquear aquele instrumento pesado – uma tábua com grossas argolas de ferro! – chamando as almas aos Templos para ali viverem a tragédia do Gólgota!
Pelo menos  quem fazia a barba ao barão de Joane e se deslocava a Rorigo três vezes por semana era o Braguinha, pois algumas vezes lhe fomos abrir o portão e o guardamos, criançola de oito anos, das sanhas do Dragão e do Belagre, dois corpulentos cães S. Bernardo – que o terceiro, o Sultão, era já velhinho e inofensivo… que no pomar-jardim guardavam o velho solar e o grande aviário bem povoado das mais exóticas espécies!
Aqueles dois enormes cães nunca gostaram do Braga nem do Cristino que sempre que tocavam à campainha aguardavam a escolta do Jerónimo, da Josefa, ou da Balbina.
Eram para mim dois lindos… cavalos de estimação, tantas vezes os montei sob a vigilância paternal do Barão de Joane, que ria perdidamente!
E tinham também simpatia pela Teresa tola que sempre que tinha fone subia a Rorigo e ali conservava semanas a fio para depois desertar e só voltar a aparecer quando as roupas estavam reduzidas a tiras e a fome e apertava de novo!
Por isso lhe chamavam a Teresa do Barão!
Cuidava dos cavalos, auxiliando o Sr. João, seu velho e bonacheirão tratador e cocheiro; cuidava no quinteiro dos perus, dos patos, dos galináceos de todas as espécies, e de entre estes, imponentes faisões, galinhas da Índia e pavões, e falava com todos os bichos que a conheciam à distância e fazia tudo quanto queria do Dragão e do Belagre!
Lembro-me que quando o «Sultão» morreu – o Sultão era um enorme alão, todo branco – o Sr. Barão recolheu-se e não saiu ao jardim durante uns dias…
O Barão de Joane, quando Provedor do nosso Hospital, que visitava todos os dias, mas sempre a horas diferentes, sofreu grandes desgostos!
Bondoso em extremo, afligia-se quando a falta de camas e de meios não permitia o internamento de um doente, pois naquele tempo o Hospital era como uma ante-câmara da morte, para onde só iam moribundos!...
E dizia-se: «está muito malzinho… até já foi para o Hospital»…
E ele queria que fosse uma casa de cura e, portanto, de vivos!
Com os preparativos para a República, o barão de Joane preocupava-se com o «mano» – nunca o ouvi referir-se de outro modo ao Dr. Bernardino Luís Machado Guimarães! – e dizia para a Balbina e para a sua afilhada Josefa: «Não sei em que aventuras se anda a meter o «mano»…
Finamente educado, esperto e diplomata, António Machado Guimarães convivia afabilissimamente com regeneradores, progressistas e franquistas, sem que nenhum dos respectivos influentes lograsse atraí-lo para a sua órbita!
Nem eles, os políticos da terra, nem o Professor da Universidade seu «mano», por quem tinha, de resto, a mais profunda admiração!
Mas esta alusão ao Barão de Joane sugere-me a invocação da insinuante e veneranda figura do «mano», que ficará para a próxima semana.


a seu tempo se falará destas crónicas, de josé casimiro da silva,  o qual, com a "esquina do mesquita" e a "esquina do caetano", descreveu, através dos seus alter-egos condeixa e lourenço e dos pseudónimos nihill e ego sum, uma memória e mentalidade social e cultural de vila nova de famalicão dos tempos da I república.
 







[1] Ego Sum – “À Esquina do Mesquita”. In Estrela da Manhã. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 104 (1 Abr. 1962), pp. 1-2.