sábado, 29 de novembro de 2014

1914 Naulila




A 9 de Agosto de 1914, no jornal “Estrela do Minho”, os famalicenses poderiam ler no editorial “Portugal e a Guerra”, qual a posição portuguesa perante o conflito, se era neutro ou não. Portugal neutral? Enquanto que em Setembro e Novembro já temos, respectivamente, a primeira e a segunda expedição africana, em Outubro uma divisão portuguesa “parte para o teatro da guerra”, segundo leram os famalicenses em 18 do mesmo mês. A notícia continua nos seguintes termos: “Soldados nossos vão combater ao lado dos ingleses, nação nossa aliada, cumprindo assim, honradamente, o nosso tratado de aliança…” Por seu turno, a primeira expedição militar para Angola e Moçambique, segundo notícia de 13 de Setembro, comandada por Alves Roçadas e Massano de Amorim e a segunda expedição, em notícia de 8 de Novembro, desta vez para o teatro de operações angolanas, será constituída essencialmente por marinheiros da Armada. Mas o acontecimento do final do ano, por terras de África, mais propriamente em Naulila, será relatado de uma forma praticamente indiferente, sem se referir à localidade. Veja-se a notícia de 29 de Novembro: “Não são conhecidos ainda os detalhes do conflito entre alemães e os nossos soldados na fronteira de Angola. Sabe-se, porém, o bastante, para ficarmos percebendo que eles entraram em território português, desrespeitando a nossa soberania. Parece ter havido combate entre soldados dos dois países e que houve mortos dos dois lados. / São, portanto, inimigos nossos também, os alemães, pois que nos hostilizaram antes ainda de nos considerarmos beligerantes na guerra ao lado da Inglaterra nossa aliada.”







Hemeroteca Digital
"Ilustração Portuguesa", n.º 448 (21 Set. 1914)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

1914 - V. N. de Famalicão: sociedade e cultura


Logo no início do ano novo, a comunidade famalicense, sabendo-o já por antecedentes notícias, vai assistir a 7 de Janeiro ao filme, sensação da época, “Quo Vadis?”, o qual foi então exibido no Salão Olímpia, numa Quarta-Feira. Houve quatro sessões nesse mesmo dia: a primeira, realizou-se às duas horas da tarde; a segunda, às quatro e meia; a terceira, às oito da noite, e a quarta às dez e meia. O preço dos bilhetes da sessão das oito horas foi o seguinte: Balcão, 40 centavos; Cadeiras, 30 centavos e Geral, 20 centavos. Por seu turno, nas outras sessões, para o Balcão 30 centavos, Cadeiras, 25 centavos e geral, 15 centavos. As quatro sessões realizaram-se numa Quarta-Feira e, segundo o “Estrela do Minho” de 4 de Janeiro, foi “devido ao elevadíssimo custo do filme” que “a empresa não pode exibir ao Domingo, como era seu desejo.” Foi um sucesso! Também logo no início do ano, a já mais do que afamada Associação dos Empregados de Comércio, com sede na Rua Adriano Pinto Basto, elegia os seus novos corpos-gerentes, ficando na presidência da Assembleia-Geral Delfim Joaquim da Silva e para a presidência da Direcção Jaime Mesquita. Nestes corpos-gerentes, entre outros, encontram-se personalidades que irão fazer história no futuro de Vila Nova, principalmente no Estado Novo, caso de Álvaro Marques, que veio a ser Presidente da Câmara Municipal, sendo nomeado na associação focada como segundo secretário. Ainda em fins de Janeiro, o Sindicato Agrícola promoveu a conferência de Bento Carqueja no Salão Olímpia, discursando sobre o crédito agrícola, numa sessão presidida por José de Azevedo e Menezes, estando presentes Duarte Maria Pacheco Menezes, Presidente da Assembleia-Geral do Sindicato Agrícola, e Delfim de Carvalho. Este último, no final da sessão, anuncia que o Sindicato Agrícola vai organizar a Exposição Regional de Famalicão, mais propriamente, A Exposição Agrícola, Industrial e Pecuária, a qual se realizou entre 27 a 30 de Setembro, sendo incluída no programa das Festas de Setembro. A Comissão Executiva da Exposição foi constituída pelos seguintes cavalheiros: Presidente, José de Azevedo e Menezes; Secretário, Jaime Valongo; Tesoureiro, Francisco de Correia Mesquita Guimarães; Director da Secção Agrícola, Delfim de Carvalho; Director da Secção de Pecuária, Duarte de Menezes; Director da Secção Industrial; Alfredo Costa; Presidente do Sindicato Agrícola, António Joaquim de Sousa Veloso; Presidente da Associação Comercial e Industrial, Amadeu Pereira. Outras personalidades estiveram ligadas a esta Comissão, nomeadamente: Jaime Mesquita, Francisco M. de Oliveira e Silva, Nuno Simões, Adelino Santos, Luís Cunha, Manuel A. Bouças Júnior, António Maria Pereira e João Cabral de Araújo Álvares. Os prémios foram constituídos em dinheiro e em objectos de arte, sendo o júri composto por agrónomos e veterinários vindos de fora.

No primeiro trimestre do ano, a Tipografia Minerva abriu as portas da sua “Papelaria” e em Landim, no início de Julho, nas propriedades de António Joaquim de Sousa Veloso, realizou-se um torneio de tiro aos pombos, o mesmo sucedendo, no fim do mesmo mês, na “Festa do Club dos Caçadores”. A Tuna da Associação dos Empregados do Comércio têm novo regente, Armindo Costa, Nuno Simões alarga as subscrições para o busto de Camilo de Diogo de Macedo, e em inícios de Outubro a Tebaida de Seide recebe a visita de Eugénio de Castro, Visconde de Villa-Moura e Mário Beirão. Fizeram as honras famalicenses José de Azevedo e Menezes e Nuno Simões e de Barcelos António Ferraz. No almoço que José de Azevedo e Menezes ofereceu na sua Casa do Vinhal, esteve também presente Júlio Brandão. A deslocação a Seide destes ilustres visitantes foi para projectarem o “Museu Camilo”. Em Setembro e Outubro, o Salão Olympia exibirá filmes sobre a guerra, tendo “o nosso público ocasião de apreciar várias cenas da maior guerra que tem havido em todos os tempos.” Entretanto, os monárquicos, os conservadores e alguns dissidentes republicanos, mais da Comissão Municipal do Partido Republicano Evolucionista, fundavam, com Joaquim José da Rocha à frente o jornal “A Gazeta de Famalicão”.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

XVII ENCONTROS DE OUTONO 14`



Numa iniciativa da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão através do Museu Bernardino Machado, aproximam-se os XVII Encontros de Outono de 2014, os quais se irão realizar uma vez mais na Casa das Artes, nos próximos dias 28 e 29 de Novembro. Com a temática “Colonialismo, Guerra Colonial e Descolonização”, destacam-se, entre outros, a presença, nestes XVII Encontros de Outono, do General Pezarat Correia, Aniceto Afonso ou a de Cândida Proença. Reveja-se as variadas temáticas históricas já abordadas nos outros Encontros de Outono: “Violência e Poder Político” (2013), “A Agricultura Portuguesa” (2012), “A Política dos Melhoramentos Materiais” (2011), “A I República nos Municípios Portugueses” (2010), “As Eleições: da I República ao fim do Estado Novo” (2009), “A Guerra e a Paz entre as Nações” (2008), “As Faces de Eva” (2007), “Exílio e Exilados Políticos (1926-1974)” (2006), “Pedagogia e Educação em Portugal” (2005), “Europa: globalização e multiculturalismo” (2004), “A Igreja e o Estado em Portugal” (2003), “Memória, História, Património” (2001), “Intelectuais e Autarcas” (2000), “25 Anos do 25 de Abril: da revolução ao 25 de Novembro – as mudanças” (1999), “Bernardino Machado: o Homem, o Cientista, o Político e o Pedagogo” (1998) e, finalmente, “Os “Brasileiros” da Emigração” (1998). As colónias foram sempre um tema caro a Bernardino Machado, especialmente no seu segundo exílio e no seu combate pleno à ditadura do Estado Novo, ou então a Salazar, como exemplifico nestes seus três títulos.





segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Bernardino Machado, Raúl Brandão, Ferreira Martins...



Para o Dr. Manuel Sá Marques, com o meu abraço de fraterna amizade, sempre


MACHADO, Bernardino
[Carta], La Guardia, 1933 Ago. 17, [a] Afonso Costa, [Paris]. Bernardino Machado. [4 f., 7 p.].

Dos vários assuntos que Bernardino Machado transmite a Afonso Costa nesta carta, destacam-se os seguintes, nomeadamante a referência à publicação de dois livros sobre a participação de Portugal na I Grande Guerra: tece considerações sobre a situação dos emigrados políticos portugueses em Espanha e das relações governamentais entre Espanha e Portugal, sobre a realidade política portuguesa e das relações entre os militares portugueses e os políticos republicanos. Informa Afonso Costa que Ribeiro de Carvalho esteve em Vigo. Comenta o livro do General Ferreira Martins "Portugal na Grande Guerra", acentuando as calúnias que em Portugal se tem feito contra os republicanos, como é o caso do livro de António Cabral. Comenta a publicação do livro de Raúl Brandão "Vale de Josafat: Memórias III" e diz que "é um salseiro de falsidades". Comenta as propostas de Afonso Costa para a reforma constitucional









 




sábado, 8 de novembro de 2014

As Festas Comemorativas da I Grande Guerra em V. N. de Famalicão

António Joaquim Pinto da Silva – Imagens de Famalicão Antigo, 1990



Com o Armistício assinado em 11 de Novembro de 1918 e o Tratado de Paz em 28 de Junho de 1919, os países beligerantes da I Grande Guerra ficaram com um enorme vazio ontológico. No caso de Portugal, a I República tentou criar, no pós-guerra, um ritualismo simbólico e cívico para a conciliação de uma identidade colectiva, criando, ao mesmo tempo, espaços públicos de memória entre os Monumentos aos Mortos da Grande Guerra e a inscrição toponímica do 9 de Abril (em V. N. de Famalicão aconteceu em plena ditadura militar, no ano de 1927). Se esta busca ritual e cívica não deu para a I República a sua reestruturação ideológica, estamos perante uma questão que não cabe aqui ser tratada perante o fim deste trabalho, assim como a problemática à volta dos monumentos na sua configuração estética. Se as comemorações do 9 de Abril suplantaram as do Armistício, estas nunca se verificando em V. N. de Famalicão, senão esporadicamente. Iniciadas em Portugal em 1919, ano em que o “Estrela do Minho” publica o texto de Matos Sequeira a propósito da “acção heróica do capitão Braz de Oliveira á frente de uma bateria portugueza”, na Batalha de La Lys, pelo meio, em V. N. de Famalicão, ressalva-se a Festa da Paz e a consagração aos Soldados Desconhecidos, cujas comemorações foram as primeiras do 9 de Abril em terras de Vila Nova, comemorando o 14 de Julho de 1919, dia que seria feriado nacional; e na notícia de 13 de Julho, informa-se que a “Câmara concedeu uma verba para as festas e amanhã em Famalicão haverá o ruído esfusiante da música e da dinamite estalando nos ares”, lembrando o cronista que se não deve esquecer o “Bodo aos Pobres”. Veja-se como decorreram as respectivas Festas da Paz em V. N. de Famalicão: “Famalicão festejou ruidosamente o 14 de Julho corrente, Segunda-Feira, solenizando a assinatura da Paz. / Todas as corporações embandeiraram assim, como muitas casas particulares, destacando-se um grande troféu com a bandeira francesa e das nações aliadas, com que o sr. Rodrigo Carvalho engalanou a sua casa, como já o tinha feito no dia da Assinatura da Paz. / Uma música percorreu as ruas da Vila, sendo a cerimónia mais útil e comovedora a do Bodo aos pobres, que receberam 400 broas de pão. / À noite, ostentava-se na Praça da República finamente iluminada à electricidade, sendo de lindo efeito a fachada da Câmara Municipal, ás árvores do jardim com lâmpadas coloridas e a fonte luminosa. Tocou também a música, o que foi notório para toda a população ali ir gozar algumas horas bem passadas, para o que a noite de calor muito se prestou. / Foi uma festa animada e linda.”
Não se comemorando ainda o 9 de Abril em V. N. de Famalicão em 1920, com uma chamada de atenção do republicano famalicense Manuel Pinto de Sousa na sua crónica de sempre intitulada “Trabalhar” de 11 de Abril (veja-se o discurso tipicamente ideológico e telúrico: “Passou anteontem o 9 de Abril comemorativo do feito heróico dos nossos soldados na grande guerra, que deve ser sempre recordado pelos portugueses com páginas de ouro das mais belas da história pátria”), será na festa da raça de 10 de Junho que o município famalicense apresentará o projecto para a edificação do padrão comemorativo e memorial dos combatentes famalicenses na I Grande Guerra. Em 1921, aqui sim, o 9 de Abril será comemorado pela primeira vez na comunidade famalicense perante as homenagens tumulares aos soldados desconhecidos. Será Bernardino Machado, na presidência do seu ministério, que realizará o projecto-lei de Março que projectará as comemorações aos soldados desconhecidos, no qual se diz que “é autorizado o governo a trasladar para o Panteon da Batalha os cadáveres de dois soldados desconhecidos, mortos em combate, um em África e outro em Flandres”, considerando o mesmo que o dia 9 de Abril de 1921 seja feriado nacional. Neste âmbito, o “Estrela do Minho” apresenta de antemão o programa das comemorações em V. N. de Famalicão, convidando o município “todos os antigos vereadores, associações locais, pessoas gradas, o povo, enfim, solenizando assim a homenagem prestada aos soldados desconhecidos mortos na grande guerra”, convidando também “as mães dos soldados do concelho, que na guerra morreram.” Salienta-se aqui, nesta notícia, a estranha e a enigmática projecção da inauguração do Monumento aos Mortos da Grande Guerra em V. N. de Famalicão, a qual não se concretizou, a ser então edificado na Praça da República! Mas no dia 9 de Abril de 1921, para além da sessão solene nos Paços do Concelho de V. N. de Famalicão, o município famalicense fez-se representar no cortejo da Batalha com Júlio de Araújo, Horácio de Azevedo e Adelino Sousa, assim como a Associação dos Empregados no Comércio, que esteve presente com o seu estandarte, representado por Angelino Mesquita, Joaquim Portela, Fernando Folhadela Marques, Alberto de Sousa Araújo e Flávio Marques. Paralelamente, a Escola Primária Superior associou-se aos festejos municipais e “as associações locais tiveram todas hasteadas as suas bandeiras, além da Câmara e Hospital da Misericórdia.” Mas veja-se o acontecimento nos Paços do Concelho (com a enigmática insistência da inauguração do Monumento, agora, segundo o cronista, na Praça da Mota, à qual, imagine-se, “assistiu muito povo, tocando durante a acção, a música dos Bombeiros Voluntários”, para além da missa promovida por Monsenhor Torres Carneiro na Igreja Matriz, assistindo “elevado número de eclesiásticos e muitos fiéis”, tendo sido “chocante o «momento de silêncio», anunciado pelo repicar dos sinos”), edificando a ideologia unificadora republicana.
A comunidade famalicense volta a comemorar o 9 de Abril em 1922 e veja-se este estranho e paradoxal texto minimalista à volta da Batalha de La Lys, entre a tragédia e a heroicidade: “Passa hoje o aniversário da Batalha do Lis, em que o nosso exército, embora vencido pelo número esmagadoramente superior, deu provas eloquentes de valentia do soldado português de todos os tempos.” Na mesma data publica o “Estrela do Minho” o telegrama do Governador Civil de Braga enviado à administração do concelho para a realização das comemorações em V. N. de Famalicão: “Exmo ministro do interior encarrega-me de comunicar a V. Ex.ª procurar conseguir dois minutos de silêncio, glorificando o magnífico esforço da República intervindo militarmente na Grande Guerra, às 17 horas precisas do dia 9 do corrente, seguidos de todas as  manifestações festivas que for possível organizar.” Por seu turno, a 16 de Abril, noticia-se que “Famalicão comemorou também a data para nós gloriosa da Batalha do Lis, embandeirando a Câmara e Associações, sendo observados rigorosamente os dois minutos de silêncio, momento deveras impressionante, no seu significado de respeito e de saudade pelos que defendendo a Pátria, morreram gloriosamente por ela.” No mesmo ano, o “Estrela do Minho”, em 7 de Maio, publica o “Edital” da Comissão Executiva da Câmara Municipal para a adjudicação da construção do Monumento. Ficando a obra a cargo da Empresa de Mármores do Porto, Ld.ª, os famalicenses ficam a saber quem é o escultor do Monumento em Outubro, nomeadamente Luís Esteves de Carvalho, do Porto, o qual, na sua estada no Brasil, realizou “trabalhos de alto valor artístico”, a saber, as esculturas do Barão do Rio Branco e da Princesa Augusta Vitória.
O ano de 1923 ficará marcado a nível nacional, assim como em V. N. de Famalicão, pela proposta da Comissão Central dos Padrões da Grande Guerra, a qual foi a realização de palestras nos estabelecimentos escolares, sendo a temática o 9 de Abril. Em 1 de Abril, o “Estrela do Minho” noticia que a Câmara se comprometeu a inaugurar em Famalicão “o padrão dos mortos na guerra”, o qual será edificado na Praça do Conde de S. Cosme do Vale, questionando-se se “será realmente nesse dia tirado o taipal no monumento”, para a 8 de Abril comentar que serão “inaugurados muitos padrões comemorativos.” Contudo, as seguintes notícias leva-nos à conclusão de que o monumento ainda não deveria estar pronto nesta altura, até porque em 8 de Julho comunica-se que “já chegaram as pedras para o monumento”, sugerindo-se que na sua inauguração estivesse presente o Presidente da República, estando prevista a sua visita à Casa de Camilo; e em 2 de Setembro informa-se a comunidade famalicense que “está a chegar o resto do material”, encontrando-se em Famalicão “quatro artistas enviados pela casa a quem o monumento foi adjudicado.” Ainda em Setembro notifica-se a característica estética, referindo-se a “um dos mais formosos padrões comemorativos” e em Outubro dir-se-á que “o monumento está concluído e o seu belo conjunto artístico muito honra os seus executores”, para acrescentar o cronista que é uma “bela obra de arte, uma das melhores que conhecemos, superior até às que para o mesmo fim se levantaram em algumas cidades”, faltando a “beleza do conjunto, o ajardinamento da Praça Conde S. Cosme do Vale” para que “seja feito com arte e bom gosto”. Será em Novembro que se começa a exigir ao município famalicense a inauguração do Monumento, levando a supor que por esta altura já se encontraria pronto. Os desejos dos famalicenses serão concretizados em 9 de Abril de 1924. Anunciando a 9, a 16 e a 30 de Março o programa provisório da inauguração do respectivo Monumento, nesta última data projectando que “não faltarão contingentes dos regimentos de Braga; as mães e viúvas dos soldados do nosso concelho que na guerra morreram; as crianças escolares de todas as freguesias, devidamente ensaiadas para cantarem o hino da Pátria ao desfilarem ante o monumento da Praça Conde S. Cosme do Vale. / Também não deve faltar o convite aos soldados do concelho que estiveram na guerra, para comparecerem ao cortejo, com as suas fardas de campanha. / A sessão solene, no salão nobre dos Paços do Concelho, há-de ter o significado compatível com a data que se soleniza”, solicitando-se que “as paredes das casas da praça sejam lavadas, branqueadas.” A 6 de Abril, o “Estrela do Minho” publica o seguinte programa: “Pela manhã, alvorada com bombas e uma banda de música, ao mesmo tempo que outras músicas tocarão pelas ruas da vila, durante o dia. / Às 9 horas, recepção na estação do caminho-de-ferro do Ex.mo Ministro do Comércio [Nuno Simões], ilustre filho desta terra, que, a convite da Câmara Municipal, vem expressamente de Lisboa tomar parte nesta grandiosa consagração. / Às 14 horas haverá sessão solene no Salão Nobre da Câmara Municipal, sendo oradores, além do Sr. presidente da Câmara, o Sr. Desembargador Eduardo Carvalho, José de Azevedo e Menezes, dr. Delfim de Carvalho, Sousa Fernandes, António José Nogueira e Abade da Carreira. / Em seguida, organizar-se-á o cortejo, em direcção ao Monumento, composto de um contingente de Infantaria n.º 8, com a respectiva bandeira e com a música deste regimento, mães e esposas dos soldados do concelho que morreram na guerra, alunos das escolas, Associação dos Bombeiros Voluntários, convidados, etc., inaugurando-se em seguida o Monumento, onde usará da palavra o você-presidente da comissão executiva. / Às 17 horas terão início os 2 minutos de silêncio que serão anunciados por três tiros de dinamite.”








quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Afonso Costa e Raúl Brandão


Para o Dr. Manuel Sá Marques, com o meu abraço de amizade sempre




Carta de Afonso Costa a Bernardino Machado de Paris, com a data de 2 de Julho de 1933. O autor informa Bernardino Machado que cada vez menos existem em Paris exilados políticos portugueses e a assistência aos que existem é praticamente nula. Comenta de Raúl Brandão, questionando a atitude da "Seara Nova", a propósito da publicação do livro "Vale de Josafat" o seguinte: "Então esse escritor também atira pedras, lá do túmulo, aos republicanos?" Dá os parabéns a Bernardino Machado pela formatura em Direito do neto Bernardino Machado Vaz.





MBM

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Afonso Costa e Aquilino Ribeiro



Indiscutivelmente, para o Dr. Manuel Sá Marques, com o meu abraço fraternal de amizade e sempre saudosa


Carta de Afonso Costa a Bernardino Machado, de Paris, com a data de 15 de Agosto de 1934. Afonso Costa, que lamenta as perseguições que têm sido feitas aos netos de Bernardino Machado, tece comentários sobre o que tem acontecido ao seu filho em Portugal, o qual preparava então a tese de doutoramento "Regime dos Mandatos Perante os Princípios do Direito Público". Para além de tecer comentários sobre alguns exilados políticos, informa a Bernardino Machado que Marcelino Domingo lhe vai enviar o seu livro "La Experiencia del Poder", com prefácio de Afonso Costa. Informa também que recebeu o livro "É a Guerra", de Aquilino Ribeiro, ao qual tece duras críticas, juntando a dedicatória do livro e o agradecimento que lhe enviou. Diz Afonso Costa a propósito do livro "É a Guerra": "Recebi o livro "É a Guerra", oferecido pelo Aquilino. Como pode ele publicar tão triste comprovativo documento da sua péssima orientação política e da sua falta de respeito pelo nosso maior esforço de independência e de [valia]? Até o Chagas sai engrandecido dos ataques com que o Aquilino o procura ferir, visto filiá-lo sempre na campanha do Chagas pela nossa participação na Guerra! Enfim, lembrei-me a agradecer ao Aquilino a oferta do livro, sem comentários... lembrei-me que é casado com a sua filha e pai dos seus netinhos." Na cópia que faz da transcrição do agradecimento, assim como da dedicatória de Aquilino Ribeiro, diz ainda Afonso Costa: "Sei de fonte limpa que nem o Camacho gostou do livro! Achou-o, neste momento, uma má acção."





MBM










segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Livros e Bibliotecas

Para a Dr.ª Manuela Barreto Nunes


O painel de azulejos de Fernando Lanhas, o sol com os seus raios solares, à entrada da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco (doravante BMCCB), leva-me ao texto mítico de Umberto Eco “A Biblioteca”, quando aqui nos fala do livre-acesso à leitura, na ideia da Biblioteca como uma aventura. Cito:
Ora, o que é que há de importante no problema do acesso às estantes? É que um dos mal-entendidos que dominam a noção de biblioteca é o facto de se pensar que se vai à biblioteca pedir um livro cujo título se conhece. Na verdade, acontece muitas vezes ir-se à biblioteca porque se quer um livro cujo título se conhece, mas a principal função da biblioteca é de descobrir livros de cuja existência não se suspeitava e que, todavia, se revelam extremamente importante para nós. É certo que essa descoberta pode ter lugar desfolhando o catálogo, mas não há nada mais revelador e apaixonante do que explorar as estantes que reúnem possivelmente todos os livros sobre um determinado tema – coisa que, entretanto, não se poderia descobrir no catálogo por autores – e encontrar ao lado do livro, que não se tenha ido procurar, um outro livro, mas que se revela fundamental[1].
O livre-acesso, assim estipulado por Eco, representa, efectivamente, o painel de azulejos de Lanhas: a Biblioteca como um ponto do universo, melhor, o círculo do universo não fechado mas aberto, ou na imagem de Jorge Luís Borges, um ponto do universo que se desdobra num horizonte de esperança e de fraternidade, numa diversidade única e irrepetível, eis os raios solares. Nesta perspectiva, quando Borges nos diz em “A Biblioteca de Babel” que a Biblioteca é um modelo do universo é porque, efectivamente, este paradigma, a do saber na sua plurabilidade humanista, representa e tipifica o humano, naquilo que tem de melhor e do pior. Nada mais. Eco, aqui, equivocou-se, pretendendo transformar o infinito dos hexágonos borgianos à medida do homem: a Biblioteca, enquanto universo, na imagem borgiana, é já o protótipo do humano, à sua imagem e semelhança. Desta forma, o que o painel de azulejos de Lanhas nos representa e nos diz é que a Biblioteca nos aparece como o sol, enquanto círculo do universo e de luz, o círculo da luz, e, por outro lado, na linguagem de Heidegger da “Carta Sobre o Humanismo”[2], a Biblioteca surge-nos, para ainda percebermos melhor a ideia de Lanhas, como uma “clareira do ser” e só esta “clareira do ser” é «mundo»; e se a Biblioteca surge como a representatividade da linguagem humana, a Biblioteca é a “casa do ser”, que se ramifica e se projecta no mais variado dos caminhos, os raios solares.
Citando novamente Heidegger, o “mundo é a clareira do ser na qual o homem penetrou a partir da condição do ser-projectado de sua essência”; e se somos ser-sendo em projecção inquietante, e sempre em busca de respostas, a Biblioteca, como sol, enquanto casa do ser no mundo como universo, é já o mundo, o mundo do ser que será aquilo que é o mesmo em nós, oferecendo respostas pelos raios solares, que são os livros que transportam a linguagem entre a ficção e a realidade. Por isso, a Biblioteca é o pior e o melhor do humano.
O que Eco não referiu foi algumas perspectivas borgianas, ou alguns axiomas: a Biblioteca existe abeterno e a natureza informe e crítica de quase todos os livros, por muito diferentes que sejam, contêm elementos iguais. Dos exageros e dos absurdos, Borges enumera-os como de superstições: quando se proclamou que a Biblioteca abrangia todos os livros, a primeira impressão foi a de uma “extravagância felicidade”; depois, a certeza de que, em alguma prateleira de algum hexágono, continha a Biblioteca livros preciosos e de que tais livros preciosos eram inacessíveis, essa era uma ideia intolerável. Uma outra superstição diz respeito a que alguns bibliotecários, suponho, acreditavam que a prioridade era encontrar as obras inúteis, esquecendo-se que cada exemplar é único e insubstituível (talvez para serem eliminados). Uma outra superstição diz respeito à ideia do “Homem Livro”, isto é, em alguma estante deve existir um livro que seja a chave e o resumo perfeito de todos os outros, abdicando-se assim a humanidade ao discurso da pluralidade crítica[3].
Por experiência própria, diga-se, já em plena democracia, numa ou noutra Biblioteca, apareciam-me ainda nos catálogos algumas fichas que no canto superior direito tinham a notação “reservados”; por outro lado, em plena época do Estado Novo, com a sua censura e o traço azul, no regulamento da BMCCB, de 1961, podemos ler que determinados livros só poderiam ser lidos com autorização escrita do Presidente da Câmara e do Vereador da Cultura. Outros tempos em que a ideologia suplantava o acesso à leitura e à informação, lembrando-me, por exemplo, do livro de Ray Bradbury “Fahreneit 451”[4], cuja sociedade queimava os livros para a sua protecção, projectando-se aqui os fascismos europeus (e outros ismos afins).
Tudo isto para dizer que só assim, na dimensão do humano, com todas as suas paradoxalidades, na pretensa busca da fraternidade humana (talvez seja este o elo de ligação ao painel de escultura de madeira de Paulo Neves) se pode compreender o painel de azulejos de Lanhas: a Biblioteca que surge como um sol que se ramifica com os seus raios e os livros que se ramificam em leitura, para descobrir o mundo em nós; e para este sol que se ramifica em clareira de raios de esperança, esse círculo sempre aberto, há uma história.
Conforme nos diz António Joaquim Pinto da Silva: “Qualquer instituição tem a sua história. Mais ou menos feliz, mais ou menos consequente e produtiva, ela sempre existe, como resultado da vontade dos homens e do peso que geralmente se chama “a força das circunstâncias.” Possivelmente, e numa conjectura pessoal histórica, se não fosse o incêndio dos Paços do Concelho, a BMCCB ficaria, na palavra de Aquilino Ribeiro, na sua “incúria” infinita, irremediavelmente perdida no edifício da Praça 9 de Abril; e depois, com o novo espaço físico inaugurado em 1961, na cave dos Paços do Concelho, outras situações foram aparecendo, como, por exemplo, o fim da leitura domiciliária, a falta de recursos humanos qualificados e a imagem de uma Biblioteca enquanto protótipo ideológico.
Continuando com Pinto da Silva: “A Biblioteca Municipal de V. N. de Famalicão tem, também, a sua história. Não evidentemente que ela seja feliz, consequente ou produtiva. Para nosso mal tem sido o contrário de tudo isso. Mas, como se verá, nem sempre foi assim. Tempo houve, em que um grupo de amigos, e conhecidos, comandados pela vontade superior de Sousa Fernandes, o fundador da Biblioteca, sonharam e começaram alguma coisa de novo.[5]
O final, apesar da “incúria” que foi de décadas, foi feliz, tendo sido necessário que Portugal entrasse em outras andanças que o destino tece, em democracia, para o sonho se tornar uma realidade; e como em quase todos os finais felizes, não havendo nem espaço nem tempo, e ficamos em suspensão, onde o mundo que existe é um mundo sonhado, tal como aquela imagem de Afonso Cruz dos monges bibliofitas e da sua Biblioteca:
… os monges bibliofitas, uma ordem com raízes nas três religiões monoteístas, que haviam construído uma enorme biblioteca, com todos os clássicos do mundo (conhecidos e desconhecidos, perdidos, queimados e aclamados) numa escarpa rochosa, completamente lisa. Os monges viviam, sem nunca pisarem o chão, naquela imensa prateleira que se estendia até às nuvens e deslocavam-se através de um sistema de cestos e roldanas. Dormiam nos varandins das prateleiras, alimentando-se de pássaros que caçavam com a ajuda de armadilhas e do produto de pequenas hortas suspensas. Galib al-Wadi, no entanto, garante que parte da sua subsistência se devia também a dádivas do povo, de pessoas que viviam no solo, mesmo por debaixo das imensas prateleiras onde os monges bibliofitas habitavam. Fílon de Alexandria dizia que a Torá é um ser vivo, e Orígenes era da mesma opinião (de principiis, iv, 2, 4): o sentido literal é o corpo e o sentido oculto é a alma. Os monges bibliofitas, por sua vez, consideravam todos os livros como seres viventes, tal como a própria biblioteca. Os livros têm uma das características fundamentais dos seres vivos: reproduzem-se (como qualquer bibliófilo sabe), com pudor mas sem contenção, quando não estamos a olhar para eles. Precisam de ser alimentandos pela leitura ou acabarão por morrer inanes. Os monges também classificavam os livros por sexos, e a biblioteca era dividida em duas partes: a parte macho e a parte fêmea[6].

Amadeu Gonçalves - Cem (e mais alguns) Anos de Livros, 2013



[1] Umberto Eco – A Biblioteca. 2.ª ed. Trad. Maria Luísa Rodrigues de Freitas. Lisboa: Difel, 1991, pp. 28-29.
[2] Martin Heidegger – Carta Sobre o Humanismo. Trad. Pinharanda Gomes; Pref. António José Brandão. Lisboa: Guimarães Editores, 1987.
[3] Jorge Luís Borges – A Biblioteca de Babel, in “Ficções” [Obras Completas – I]. Trad. José Colaço Barreiros. Lisboa: Círculo de Leitores, 1998, pp. 483-489.
[4] Ray Bradbury – Fahrenheit 451. Trad. Mário Henrique Leiria. Lisboa: Público Comunicação Social, 2003.
[5] Boletim Informativo Biblioteca Municipal de V. N. de Famalicão, n.º 1, Jul. 1984.
[6] Afonso Cruz – Enciclopédia da Estória Universal: recolha de Alexandria. Carnaxide: Editora Objectiva, 2012, pp. 92-93.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Os Famalicenses e a I Grande Guerra: memorial famalicense


AOS HERÓIS SILENCIOSOS













 “… talvez faltem, ainda hoje, as análises dos sentimentos das pessoas, combatentes ou não-combatentes, das ideias dos grupos e colectividades, das famílias, das aldeias, dos povos.”

Aniceto Afonso, Carlos de Matos Gomes, Portugal e a Grande Guerra: 1914.1918, 2013







Numa altura em que se comemora um pouco por todo o país o início da I Grande Guerra Mundial, cujas comemorações se alongarão até 2018, com “Os Dias da Memória” na Assembleia da República, convém recordar um pouco como foi essa mobilização sentida em V. N. de Famalicão. Será no governo de Bernardino Machado em 7 de Agosto de 1914, numa reunião extraordinária do Congresso e convocada por decreto de 4 de Agosto, que Portugal intervém militarmente, colocando-se ao lado da Inglaterra, o mesmo será dizer ao lado dos Aliados. A mesma confirmação irá surgir numa outra reunião extraordinária, esta autorizada por decreto de 17 de Novembro, na sessão do dia 23 do mesmo mês: e se a problemática relativamente a Portugal, que se coloca num plano de neutralidade ou não, o que é certo é que logo desde o primeiro momento Portugal intervém militarmente, não só com uma mobilização em Outubro de 1914 para França, como igualmente com duas expedições africanas. A mobilização geral, digamos assim, concretiza-se em 1917, a partir do momento em que Portugal declara guerra à Alemanha em 10 de Março, tendo este último país feito o mesmo a Portugal no dia anterior, estando em causa a problemática dos navios alemães. Será neste contexto histórico-militar e, num primeiro momento, radicalizando-se o teatro das operações em África, que muitos famalicenses serão mobilizados e, num segundo momento, para França. Se até ao momento, se conseguiu o levantamento de mais de duas centenas de militares famalicenses que estiveram presentes no teatro das operações africanas e europeias (Manuel Pinto de Sousa, na sua afamada crónica “Trabalhar” no jornal famalicense “Estrela do Minho” ora aponta quatro ou oito centenas!), para além de uma reconstrução de um memorial famalicense, assim resgatando esses heróis silenciosos, o que convém perceber, precisamente, é a razão da duração de uma guerra desgastante e, por outro lado, como a comunidade famalicense na época, entre 1914 a 1918, viveu essas quase quatro décadas. Se não é este o meu propósito nestas breves linhas (ficando para um trabalho que será publicado brevemente e que terá o título “A I Grande Guerra no olhar do “Estrela do Minho” e V. N. de Famalicão nesse tempo – o monumento”), o que me interessa aqui focar é a mobilização que se realizou no concelho de Vila Nova de Famalicão. De facto, perante a segunda mobilização, os famalicenses tomam conhecimento que muitos rapazes conterrâneos incorporaram-se em vários regimentos, partindo em 17 de Abril para a frente ocidental. Famalicão despediu-se. Num texto “Os Nossos Soldados”, num apelo para a união e a despedida (tendo sido provavelmente um acontecimento invulgar), diz-nos o seguinte (publicado em 15 de Abril no jornal “Estrela do Minho”): “Partem depois de amanhã bastantes rapazes da nossa terra, para incorporar-se nos seus regimentos, a fim de seguirem para França, no cumprimento do seu dever de soldados. Vão unir-se aos seus camaradas que já se estão batendo nos campos de batalha, e, como eles, hão-de saber honrar as tradições heróicas do exército português. Famalicão deve ir à despedida dos seus conterrâneos, encorajá-los na hora em que se despedem dos seus lares, das suas mães, quantos deixando as suas noivas, todos os afectos mais queridos da sua alma. Estua no coração desses rapazes o generoso sangue dos seus avós, a sua lendária bravura, que não conhece o temor em frente do inimigo. Sempre assim fomos. / Mas o leão das batalhas possui ao mesmo tempo, no remanso da paz, um coração cheio de sensibilidade e para que ele não fraqueje na hora da partida, é necessário que, junto ao abraço de despedida, lhes lembremos que desde esta hora eles estão já defendendo a pátria, que neles confia os seus destinos e que, embora longe, eles vão servi-la honrando-a, para amanhã a ela honrando-a, para amanhã a ela regressarem vitoriosos, aureolados pela satisfação de um grande dever cumprido, pela gratidão imorredoura dos seus concidadãos, que hão-de recebê-los em jubiloso triunfo.” Por seu turno, em 22 de Abril, no mesmo jornal, e falando mais uma vez nos mobilizados famalicenses, publica a seguinte local: “A fim de se incorporarem no seu Batalhão de Infantaria n.º 8, que ontem seguiu para Lisboa, foram do nosso concelho muitos soldados para França, sendo alguns da Vila. Todos eles se apresentam satisfeitos e embora o momento de separação de suas famílias lhe seja doloroso, os nossos rapazes hão-de distinguir-se nos campos de batalha, na defesa da Pátria que a todos nos viu nascer e à qual – temos essa fé – a maior parte breve há-de voltar, pois o inimigo já se retira e não tardará a pedir a paz.” Um texto que então fazia eco da propaganda, para sossego dos espíritos. Desta mobilização, e até ao momento, o levantamento realizado, mais de duas centenas de militares, entre soldados, cabos, sargentos e oficiais, os famalicenses foram mobilizados para as seguintes unidades militares, de norte a sul do país: Batalhão de Lanceiros, Batalhão de Morteiros, Batalhão de Sapadores C./Ferro, Batalhão de Telegrafistas de Campanha, Companhia de Telegrafistas de Praça, Escola de Equitação, 8.º Grupo de Metralhadoras, 1.ª Companhia de Reformados, Regimento de Artilharia n.º 5, n.º 7, Regimento de Obuses de Campanha, Regimento de Artilharia de Montanha, Regimento de Cavalaria n.º 2, n.º 3, n.º 5, n.º 9, n.º 11, Regimento de Infantaria n.º 3, n.º 5, n.º 6, n.º 8, n.º 9, n.º 17, n.º 18, n.º 20, n.º 21, n.º 23, n.º 28, n.º 29, n.º 31, Regimento de Sapadores Mineiros, 2.ª Companhia de Reformados, Terceiro Grupo de Administração Militar, Terceiro Grupo de Companhias de Saúde e Terceiro Grupo de Metralhadoras. A homenagem aos heróis silenciosos famalicenses será feita, precisamente em 9 de Abril de 1924, cujo monumento aqui reproduzimos, com a seguinte significação: entre a simbologia cívica, profana e religiosa, o Monumento aos Mortos da Grande Guerra (que se encontrava coberto com “a bandeira verde-rubro da República, foi descerrado pelo sr. Ministro do Comércio, ante a apresentação de armas dos soldados, o som guerreiro da «Portuguesa» e de vivas calorosos à Pátria, ao exército e à República”, segundo a reportagem publicada no “Estrela do Minho” em 13 de Abril) tem a encimá-lo a Cruz de Cristo (na significação do sofrimento terreno e da garantia salvífica eterna), seguida da esfera armilar e pelo escudo, pelo anjo da vitória (para G. K. Chesterton, em “Ortodoxia”, “os Anjos voam porque se encaram a si próprios com ligeireza […] Recordem-se os anjos de Fra Angelico, que parecem quase borboletas”, dando “a impressão de estarem a preparar-se para levantar voo, para flutuar nos céus.”) e, finalmente, a representação imagética do leão, entre a força e a nobreza em serenidade. Não sabendo de antemão os critérios que o município adoptou para a inscrição e a selecção dos trinta e sete combatentes, foram seleccionados trinta e dois de França e apenas cinco de África. 




quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Bernardino Machado em Verdun


Para o Dr. Manuel Sá Marques, esta fantástica fotografia de Benoliel, com Bernardino Machado a contemplar Verdun, e o relato de Augusto Soares sobre a estadia






terça-feira, 14 de outubro de 2014

1917 O Mapa da Viagem Presidencial

Para o Dr. Manuel Sá Marques, o mapa da viagem presidencial de Bernardino Machado em 1917, ao "front" ocidental, com o meu abraço de fraterna amizade e sempre saudosa














domingo, 5 de outubro de 2014

RAIAS POÉTICAS III



Denominadas ”Afluentes Ibero-Afro-Americanos de Arte e Pensamento”, as “Raias Poéticas”, que tem a curadoria do famalicense Luís Serguilha, criador da estética do Laharsismo, poeta, ensaísta e crítico contemporâneo, suportam a cultura sem fronteiras, entre a tradição e a modernidade, no caso paradigmático de Vila Nova de Famalicão. Se as “Raias Poéticas” têm como objectivo principal a projecção de Vila Nova de Famalicão como rota do pensamento e da arte ibero-afro-americanas, numa perspectiva arqueológica da cultura famalicense (exceptuando a lusofonia, agora em realidade sintomática), as relações culturais ibero e americanas foram já uma realidade. Se em finais do século XIX e nos princípios do século XX a revista cultural e literária famalicense “Nova Alvorada”, para além dos propósitos republicanos, projectou o nome de Vila Nova de Famalicão na vizinha Espanha, assim como na Europa, em particular com a Itália, nas relações culturais, o “Soneto Neo-Latino”, com o sub-título “florilégio  de sonetos inéditos das línguas latinas e suas afins”, marcará, indiscutivelmente, com a Europa (Bélgica, Espanha, França, Itália, Portugal e a Roménia) e com alguns países americanos (caso da Argentina, do México e do Brasil), a relação cultural linguística e poética entre a Europa e o continente sul-americano, estando Vila Nova de Famalicão nessa projecção. Mais recentemente entre nós, com a “Portuguesia” (2010 e 2011), sendo então curadores Wilmar Silva e Luís Serguilha, este último desde 2012 que arranca com as “Raias Poéticas” para uma reflexão do mundo contemporâneo entre três realidades culturais completamente díspares entre si, mas que se complementam num único discurso: a aproximação cultural.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

E Viva a República!!!


E viva a República!!! 
Para o Dr. Manuel Sá Marques, com o meu abraço de fraterna amizade, sempre saudosa