quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Macau, Camilo e Silva Mendes


Hoje tive a grata satisfação de receber mais umas ofertas macaenses de Rogério Beltrão Coelho, entre as quais estes três tomos "De Longe à China", numa viagem por Macau entre a literatura e a história. Já aqui tinha feito referência de que não conhecíamos estes volumes. Hoje, folheei, com grato prazer, estes e outros títulos que me chegaram, e desconhecia o texto de Camilo Castelo Branco que se chama "Madame de Paiva". Publicado pelo Instituto Cultural de Macau  no já ido ano de 1988, e com a coordenação de Carlos Pinto Soares e de Orlando Neves, dizem os respectivos coordenadores de Camilo perante Macau que "Camilo não escreveu sobre Macau, nem talvez a região lhe tenha, alguma vez, despertado qualquer interesse [...] Mas, um dia, ele escreveu uma crónica (género em que atingiu um dos pontos altos da sua escrita) em que abordava uma personagem nascida em Macau e caracteriza como tal." Mais do que crónica, estamos perante um daqueles contos de Camilo que tem a sua mestria de narrador inconfundível e único. Da personagem macaense´, o perfil é o seguinte: "Paiva Araújo nascera em Macau e era filho único de um negociante rico, ali falecido por 1824. Quando o pai morreu, Paiva Araújo estava em Paris num colégio. A viúva veio para a Europa e, para residir, escolheu o Porto, onde não conhecia alguém. Mandou edificar uma casa perto da Alameda da Aguardente, mobilou-a com muito gosto e selecta riqueza de baixelas de ouro e prata, jarrões japoneses e porcelanas antigas. Fechou-se com o seu misterioso luxo de fada, sozinha, quase desconhecida de nome e de pessoa. Chamavam-lhe a Macaense." (II, 537) Depois, para além dos texto do Conde de Arnoso - "Em Macau" - e de António da Silva Rego - "O Estabelecimento de Macau" - surge-nos igualmente no mesmo tomo os dois de Manuel da Silva Mendes, a saber, "O Ensino da Língua Portuguesa em Macau" e a "A Cidade de Macau", publciado no "Jornal de Macau" em 1929; e de Macau diz-nos Mendes que "hoje, não é uma cidade portuguesa nem é uma cidade chinesa." É um texto belíssimo.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Da pedagogia bernardiniana


Saber é poder; e quem não sabe não pode coisa nenhuma, mas ninguém sabe se não for livre.
          Bernardino Machado
RESUMO
Com mais de meia centena de pessoas, decorreu no Museu Bernardino Machado, dia 15 de Fevereiro, pelas 21h30, a conferência do Prof. Norberto Cunha intitulada “Bernardino Machado Pedagogo”. Apresentado pelo Dr. Artur Sá da Costa, em representação do município famalicense, e coordenador da Rede Museológica de Vila Nova de Famalicão, o Prof. Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado, tomou inicialmente em consideração a imagem de Bernardino Machado como político em detrimento do pedagogo, para analisar a razão de Bernardino se ter interessado pela política e as relações desta com a instrução e a educação, assim analisando os objectivos bernadinianos, o homem e o cidadão. Aqui evidenciou a moral kantiana, numaa ligação entre a instrução, o ensino e a política. Num terceiro momento, o prof. Norberto Cunha focou o modelo de ensino de Bernardino machado para a prossecução dos seus objectivos e a alternativa de ensino, baseado entre a teoria e a prática, para num quarto momento salientar quem é que devia ter a seu cargo o papel da instrução, a saber, o Estado Pedagogo.



I
A História tem uma coisa muito curiosa, segundo Aguiar e Silva, que nos diz que a História é dos vencedores, quem faz a História são os vencedores e não os vencidos e o que a História trouxe até nós foi um Bernardino Machado político, desvalorizando, diria subalternizando, aquele que o próprio Claparéde considerava, no final do século XIX, como um dos maiores pedagogos da Península Ibérica; e Oliveira Marques diz exactamente isso: se alguma coisa tornou conhecido Bernardino machado no último quartel do século XIX, foram exactamente as suas ideias pedagógicas, ideias sobre a educação e a instrução. Digo que é pena que ainda não se tenha escrito aquilo que se poderia escrever sobre os aspectos de Bernardino que o tornam mais original e mais interessante. E, portanto, estamos perante um caso muito curioso, já que conhecemos um Bernardino político em detrimento de um Bernardino pedagogo, que já lá vai!
Começando pela politização, dizia-nos, aliás, Bernardino que nestas coisas era uma espécie de cristão-novo na República. Como sabem, tinha sido monárquico e nestas coisas, quando se operam estas mudanças, ainda que aceitáveis, nunca são absolutamente aceites. Brito Camacho, numa altura e numa atitude muito pouco cortês, dizia a Bernardino que ele foi muito lento para o liberalismo; e ficando indignado, Bernardino respondeu-lhe para ter cuidado, porque se o senhor andar tão depressa, qualquer dia vem por aí uma ditadura e o senhor vai com ela! Curiosamente, nós sabemos que depois do 28 de Maio, com o Estado Novo, Brito Camacho nunca mais se meteu na política, ao contrário de Bernardino Machado, que embora tenha vindo lentamente para a República, Bernardino foi sempre um liberal, dizia que a Monarquia deveria tornar-se progressivamente liberal e quando foi para a República não fez mais do que continuar na mesma, só que com outro nome. A verdade é que Bernardino Machado, e mesmo durante o Estado Novo, foi sempre coerente com as suas ideias liberais, que, aliás, o levaram ao exílio em 1927. Por curiosidade, em 1911, estas ideias liberais que muitas vezes deixava Bernardino Machado só, não só para com os seus adversários. Camachistas e almedistas, como com os próprios democráticos de Afonso Costa; e dizia Bernardino: só, mas com ideias próprias!






Isto a propósito de Bernardino Machado acabar por ser um homem que mesmo politicamente, embora desempenhando funções notáveis, é assim conhecido, até aí não foi um político que tivesse tido um reconhecimento amplo pelos seus pares. Quando foram as comemorações da República, Bernardino Machado não esteve no topo das comemorações, andando sempre periférico; e nós aqui demos a importância que lhe é devida, porque foi um homem extremamente coerente e equilibrado. As comemorações do 5 de Outubro não lhe deram, portanto, uma certa projecção que deram a outros que estão longe de terem a sua obra doutrinal (nem António José José de Almeida, nem Brito Camacho ou Afonso Costa), até porque Bernardino tem um pensamento e uma obra estruturada, uma obra puroza, onde os conceitos são muito plásticos e de uma enorme coerência. É esta coerência que é o aspecto mais atractivo em Bernardino. Aliás, ele dizia, que um dos grandes problemas do seu tempo era o ensino não proporcionar aos alunos princípios estáveis, de tal forma que a certa altura os alunos já fizessem o bem e o mal indiferentemente e só há estabilidade de princípios se efectivamente as pessoas articulassem a teoria e a prática. Deparava-se com um ensino meramente verbalista, quimérico, como ele dizia, às sombras de Platão, não estamos a falar de ideias, estamos a falar de sombras, estamos no mundo intermédio, num purgatório e Bernardino era da ideia que devíamos procurar uma aprendizagem que desse estabilidade e nada melhor do que a estabilidade do que aliar sempre a teoria e a prática, aqui sim, aliar o ensino e o trabalho. É essa estabilidade de ideias que lhe dava aquela energia e aquela tenacidade que nós conhecemos, embora sempre dissesse que nestas coisas dos princípios, nunca as considerando do ponto de vista dogmático, os princípios para Bernardino serviam para nós agirmos e depois em função dos efeitos corrigem-se ou não.
Em Bernardino Machado não há só um idealismo da instrução, há também as próprias virtualidades da instrução. As escolas não se devem substituir à vida, não devemos fazer das escolas um mundo em ponto pequeno porque senão, nesse caso, não temos homens, nem cidadãos, temos, como dizia Bernardino, “homúnculos”! O que importa são escolas da vida, e o que cada um mostrar o que vale não é propriamente na escola, é fora dela, sendo importante extrair as condições para toda a gente para a sua frequência. A escola não é aquilo que vai medir o que cada um é, se é melhor ou não do que o outro, porque alguns podem ir à escola em detrimento de outros e isto seria um facto de desigualdade social. A escola só por si não é um benefício. É necessário por a escola no seu lugar, dar-lhes limites. Uma outra ideia de Bernardino está no saber, o qual está ao serviço do aperfeiçoamento moral, o saber é apenas uma muleta para nós nos tornarmos melhores, não é para sabermos mais coisas.





II

Podemos interrogar porque é que Bernardino Machado sendo assim um pedagogo tão vocacionado para a educação, para a instrução, porque é que se interessou pela política e o que é que a política tinha a ver com a instrução a que ele estava ligado.
Achava Bernardino, e nisso tinha alguma razão, que os estados mais liberais eram efectivamente os estados mais progressivos (caso da Inglaterra. A Suíça, os Estados Unidos, a França, a Bélgica, cujos sistemas de ensino, aliás, conhecia muito bem) e essas liberdades que esses países usufruíam contribuíam para o ensino que a aprofundasse, incluindo esse ensino liberal que também fomentava esse próprio liberalismo político. Ora, os objectivos de educação de Bernardino machado eram fundamentalmente dois: o homem e o cidadão. O cidadão, porque efectivamente nenhum de nós pode declinar com as suas obrigações (sociais, cívicas, políticas) e o homem, porque o ensino dá a todos nós determinadas competências e também forma, ajuda a formar, a aperfeiçoar essa dimensão moral que é inerente a todos os seres humanos. Mas toda esta instrução, que tem por objecto o homem e o cidadão, toda ela deve estar ligada à moral, a moral é o ponto final deste percurso. Toda esta formação, quer de competências, quer cívica, quer política, deve estar orientada no sentido da moral. Mas que moral? Não é uma moral utilitarista, nem uma moral darwinista, é a moral kantiana e, em última instância, naquilo que ele tem de melhor, cristalizado no imperativo categórico, isto é, procede de tal maneira que a tua norma se possa arvorar a uma norma que todos partilhem, uma norma universal, ou em termos cristãos, não faças aos outros aquilo que podem fazer a ti. Esta é a moral que deve estar no fim das nossas competências profissionais, através da instrução, e um fim também da nossa formação cívica que é na liberdade, liberdade que por sua vez é também a condição de possibilidade dessa mesma moral, havendo aqui uma certa circularidade, acabando por ser um princípio incondicionado. Bernardino Machado acentua a sua concepção da instrução e da educação, sendo a primeira de ordem maquinal e voluntária, sendo a educação o governo da vontade, interessando-lhe esta última, e acha, portanto que a verdadeira instrução implica a liberdade e havendo liberdade isso conduz irremediavelmente a uma verdadeira instrução, à verdadeira educação. Só nesta perspectiva da moral kantiana é que isto é aceitável; e daí ter feito uma ligação, sempre, entre a instrução, o ensino e a política, porque achava se na política se acha a moral e se a moral tem  como matriz a liberdade, só o ensino, que a promove, que fomente a liberdade, e a liberdade, desde a mais tenra idade, desde a infância, só o ensino que fomenta a liberdade é capaz de fazer um país livre e verdadeiramente liberal, falando aqui do liberalismo kantiano, não do liberalismo individualista, mas um liberalismo matizador para os desígnios dos interesses gerais e particulares, É isto que leva Bernardino Machado à política, para reformar a educação, o ensino, para que as crianças venham a ser realmente liberais “tout court” e amanhã homens e cidadãos de corpo inteiro. Nesta perspectiva, o poder que nós podemos usar, o poder auto-formativo é um poder que resulta do saber operatório.





III

Podemos perguntar qual é o modelo de ensino apropriado à prossecução destes objectivos, para uma instrução, para uma formação laboral, para a formação profissional e para a formação cívica.
Se na época de Bernardino machado havia dois modelos, o modelo transformista e o modelo determinista-individualista, Bernardino Machado não aceita uma concepção, como ele diz, atomista da moral, ou melhor, do ensino, cada um contra todos e todos contra um, e esta moral anti-social, como ele diz, uma moral de egoísmo, uma moral que põe o indivíduo refém das necessidades, é óbvio que ninguém aprende com os desastres, bastando aqueles que se faz na aprendizagem, não partilhando da moral hobbsiana.
Ora, no modelo transformista o que diz este modelo é que efectivamente tudo o que nós possamos aprender não é assim tanto quanto isso, já que estamos marcados pela hereditariedade e o que nós podemos mudar são algumas variáveis do meio, minimizar as desvantagens, maximizar as vantagens, ou inibir os nossos comportamentos hereditários mais funestos e maximizar o que havia de vantajoso (uma ideia mais de Lamarck do que de Darwin, tendo o primeiro mais influência nos país do Sul da Europa que o segundo). É evidente que isso implicava uma série de coisas que Bernardino Machado não estava de acordo, tais como os castigos e prémios, etc. Por seu turno, o modelo determinista-individualista, que vai ter mais tarde uma fundamentação científica no darwinismo, para o qual não há propriamente um determinismo hereditário perante as condutas, nem sequer o meio influencia, não sendo determinante, sendo determinante a nossa vontade, é a luta pela nossa existência, isto é, o critério de perfectibilidade que está em causa. Para Bernardino Machado, estes homens são adversos ao ensino. O sistema das necessidades é o que nos faz, nos aperfeiçoa e do ponto de vista histórico, para Bernardino a evolução da humanidade tem sido da guerra para a paz, a luta do diluísmo tem passado para o altruísmo, para a solidariedade, isto é, não quer dizer que luta pela existência não aconteça, mas o homens para salvaguardarem a sua espécie não é aniquilando-se reciprocamente, isso é um aspecto, digamos assim, que nós não podemos aceitar no darwinismo quando aplicamos á sociedade. Mas o homem enquanto ser social é um ser moral e nessa medida ajuda-se o próximo, procura a sociabilidade, procura a solidariedade com os outros e só assim é que se perpetua.


Ora, qual a alternativa que Bernardino Machado propõe? Se amoral hobbsiana não serve para uma sociedade melhor, qual é a alternativa? A alternativa que liderava nas escolas do seu tempo não era a alternativa para os objectivos que então preconizava; e quando pensa numa outra escola, aparece pela primeira vez um antropologia (que nem em Sérgio se encontra!) física e até uma certa concepção de natureza. Tudo o que Bernardino Machado vai pensar para o ensino primário, para o intermédio entre o primário e o secundário, para o profssional e o superior, está condicionado por uma certa concepção de natureza e uma certa concepção de indução psicogenética da criança. Por isso é que Claparéde lhe prestou atenção e que depois será desenvolvido, mais tarde, por Jean Piaget, estando patente em Bernardino a ideia da génese das operações senso-motrizes, as operações concretas e as operações formais, cujas noções poderão ser encontradas na obra “Notas Dum Pai”. Antes de Bernardino, havia uma concepção de natureza física e humana e a criança. Bernardino não é um materialista, é um dualista que admite a existência do psíquico e do físico, sendo contudo tais categorias ininteligíveis, isto é, em si nós não podemos reduzi-las de uma maneira discursiva, sendo muito úteis se fazermos de conta que sabemos o que elas são, pelos efeitos benéficos que elas podem proporcionar às pessoas para atingirem a cidadania e o tal aperfeiçoamento moral. Se bem que Bernardino nos diga que nenhum de nós, e está de acordo com os homens do seu tempo, consegue saber o que é a natureza em si mesma, a natureza é algo que nos aparece, é movimento, é mecânica, sendo o movimento inerente à natureza; e quem diz a natureza física, também diz à natureza humana, nós também somos movimento, temos movimentos naturais mecânicos, e temos movimentos psíquicos, estando estes inquinados numa variável que nós não conseguimos entender, que é a tal espontaneidade  que ele diz que é a liberdade não consciente. Inerente ao homem, o homem é um ser naturalmente espontâneo, activo, isso está de acordo com Pestallozzi, eis um princípio da educação que deve ser activa; e as percepções da realidade, a qual não a conhecemos são construções e são com estas construções que fazemos as imagens, as ideias, estruturas que representam a realidade, não a realidade em si, mas como nós a fazemos. Mas a confusão da realidade quando se traduz em ideias, a tal espontaneidade que vinha da etapa sensório-motriz, vai progredindo para se tornar já , a nível das ideias, aquilo que nós chamamos a liberdade, e é esta que vai interessar na instrução.



IV

Quem é que devia ter a seu cargo esta instrução para a liberdade? Era o Estado? O Estado docente? O Estado pedagogo? Ou devia-se dar plenamente liberdade às pessoas de levarem a cabo esse desideratum?
Bernardino Machado não é contra o facto de haver um ensino privado, pelo contrário, se for um ensino privado qualificado e certificado. Era a favor. Já não é a favor da liberdade de ensino ilimitada e absoluta, porque então pode-se dizer que havia liberdade para o mal e não para o bem, já que a instrução era uma liberdade para o bem, sendo necessário que haja pessoas qualificadas para o fazerem e isso nada melhor que o Estado pedagogo; e nesta correlação entre o ensino privado e o Estado pedagogo, o ensino privado deve submeter-se às regras delimitadas pelo Estado pedagogo. A instrução para o bem, para além das finalidades, que pode ser a cada um de nós, às comunidades, deve ter finalidades mais vastas, finalidades nacionais e quem as pode definir e apenas o Estado, que define os desígnios últimos da educação, não são os privados. Nesse ensino público, Bernardino Machado privilegia o trabalho experimental, a observação e a indução perante o ensino verbalista, mnemónico e escolástico, porque este não nos dá uma efectivação da realidade. O ensino que Bernardino Machado preconiza é aquele que associe a teoria à prática, sendo o aluno o centro da aprendizagem e o professor a exemplaridade moral, um exemplar vivo da realidade, o aluno tem de olhar para o professor e ver nele um homem de bem e um cidadão, e o professor deve entrar na lógica do aluno, partilhar e acamaradar, mediante um ensino experimental e instrumental prático.
Termina a conferência evidenciando três etapas no pensamento pedagógico de Bernardino Machado: a etapa do cientista, na qual fazia a apologia do cientismo, sendo os professores os sacerdotes da religião da humanidade e os alunos os seus noviços (fase que depressa passou), passar numa segunda etapa contestar o ensino universitário, na medida em que se o estado do País chegou ao estado a que chegou na Monarquia, tal deve-se precisamente ao estado do ensino. Finalmente, a terceira etapa, evidencia Bernardino o papel do aluno nas universidades, os quais deveriam tomar nas suas mãos o ensino superior, a fazerem-se a si próprios, a reconverterem e a metamorfosear os próprios professores. Para Bernardino, é nos alunos que está a chave de uma universidade emancipatória e concomitantemente de um governo para a liberdade que o leva em 1907 a solidariamente a demitir-se da universidade quando os alunos são punidos pelo governo.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

I República - Baixo Alentejo



Encontra-se patente no Museu Bernardino Machado, de Vila Nova de Famalicão, até 5 de Maio de 2013, a exposição documental “A Primeira República no Baixo Alentejo”. Organizada pela Câmara Municipal de Almodôvar, a referida exposição teve a colaboração do Arquivo Distrital de Beja e o apoio da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República. Segundo os organizadores, Ana Catarina Pinto, a exposição “A Primeira República no Baixo Alentejo” pretende contar “a história do período segundo três níveis de abordagem articulada entre si. Um de âmbito nacional, enquadrador, enquanto os dois restantes circunscritos no distrito de Beja e ao concelho de Almodôvar, adquirem um carácter mais ilustrativo. Dada a característica generalista da exposição, a qual, em última análise, se propõe contar dezasseis anos de história de Portugal (1910-1926), houve a preocupação de construir uma narrativa onde as imagens não fossem unicamente meros elementos ilustrativos dum corpo de texto, antes o aumentando em informação e sentido numa relação simultaneamente complementar e autónoma.” Neste sentido, esta exposição documental, agora presente no Museu Bernardino Machado, “A primeira República no Baixo Alentejo”, que foi inaugurada no dia 24 de Novembro de 2010, e, Almodôvar, com o objectivo de assinalar os 100 anos da República, encontra-se dividida em quatro temáticas, a saber: i) O Fim da Monarquia e a Afirmação do Republicanismo, ii) A República, do 5 de Outubro à Grande Guerra, iii) Grande Guerra e Sidonismo e, finalmente, iv) O Pós-Guerra: uma nova República. A entrada é livre.




domingo, 17 de fevereiro de 2013

Leituras Famalicenses (1913-1921) Top 20

 
 
 
 
Fundada no âmbito das comemorações do III Aniversário da Implantação da República em Portugal, em 5 de Outubro de 1913, a Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco teve, segundo o Livro de Registo das Saídas entre 1913 a 1921, como primeiro leitor Alfredo Costa, Vereador e também um dos doadores, que requisitou o livro de Henrik Sienkiewicz "Sem Dogma". Entre 1913 a 1921 podemos evocar o top 20 dos livros mais lidos pelos leitores famalicenses, os mais requisitados para empréstimo domiciliário. Ei-los: Enrique Perez Escrich - "A Formosura da Alma" (44 vezes que saíu), "Os Fidalgos da Casa Mourisca", de Júlio Dinis (37), "Rocambole", de Ponson du Terrail (37), "Marquês de Pombal", de António Campos Júnior (25), "A Mártir", de Adolphe d`Ennery (26), "As Pupilas do Senhor Reitor", de Júlio Dinis (25), "A Morgadinha dos Canaviais", de Júlio Dinis (22), "Serões da Província", de Júlio Dinis (21), "As Farpas" de Ramalho Ortigão (20), de Eça de Queirós "Os Maias" (19), de Alexandre Dumas "O Conde de Monte Cristo" (18), de Júlio Dinis "Uma Família Inglesa" (18), de Camilo Castelo Branco "Amor de Perdição" (17), de Gervásio Lobato "Os Mistérios do Porto" (17), "O Monge de Cister" de Alexandre Herculano (17), de Camilo Castelo Branco "A Mulher Fatal" (15), de V. Hugo "Os Miseráveis" (15), de António Campos Júnior "A Ala dos Namorados" (15), de Camilo Castelo Branco "A Bruxa de Monte Córdova" (14) e, finalmente, "A Velhice do Padre Eterno" de Guerra Junqueiro (14). De salientar são as saídas dos livros de Júlio Dinis e de Camilo Castelo Branco, do escritor Enrique Perez Escrich em vez de Blasco Ibañez e, por seu turno, na época, os leitores famalicenses gostavam mais de ficção do que propriamente de poesia ou de ensaio e, para além dos dois títulos que se salientam neste top 20, apreciavam os livros de António Campos Júnior.
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Macau e V. N. de Famalicão

 
"Encontrar terra portuguesa, a mais de 3.600 léguas de distância da nossa querida pátria, é tamanha ventura, que os cinco dias que estivemos em Macau contarão na nossa vida como para o caminhante no deserto contam as horas de descanso passadas à sombra benfazeja das palmeiras dum oásis."
 
Conde de Arnoso
 
 



O Catálogo que aqui apresento com o título "Macau: 4 séculos de Portugal na China" diz respeito a uma exposição bibliográfica que esteve patente na Figueira da Foz em Setembro de 1996 integrada na "Quinzena de Macau na Figueira da Foz". Mais nos diz a introdução deste respectivo catálogo que as espécies bibliográficas pertencem às colecções da Biblioteca Central de Macau, Arquivo Histórico de Macau e de Cecília Jorge e de Rogério Beltrão Coelho. Fiquei satisfeitíssímo por ver Manuel da Silva Mendes, cujas edições, uma ou outra, desconhecia, mas cujos textos conheço noutras edições, caso de "O Ensino da Língua Portuguesa em Macau" (texto que o Prof. António Aresta compilou no livro "A Instrução Pública em Macau" e que me ofereceu, assim como "Sobre Filosofia"), e a edição de "Macau: impressões e recordações" (texto antologiado em 1998 na "Antologia dos Autores Famalicenses"). Mais satisfeito fiquei ainda com a indicação de Bernardo Pindela/Conde Arnoso com o seu livro "Jornadas Pelo Mundo" (este comprado em alfarrabista), mas não conhecendo a antologia de 1988 "De Longe à China: Macau na historiografia e na literatura portuguesas". Não ficando por aqui, lá estavam as obras do P. da Silva Rego relacionadas com Macau, não querendo deixar de referir o título "Macau entre duas crises", oferta à minha pessoa, como entre tantos outros títulos, de um sobrinho-neto do referido historiador português. De salientar, é a naturalidade destas três personalidades, todas elas relacionadas com Vila Nova de Famalicão. Um apontamento com um abraço de amizade fraterna para Rogério Beltrão Coelho.



terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Júlio Brandão, Aquilino Ribeiro e Bernardino Machado

 
 
"está resolvido que Aquilino Ribeiro escreva dois artigos mensais, a 100 escudos cada um"
Júlio Brandão a Bernardino Machado
 


 








Para o Dr. Manuel Sá Marques, com o meu abraço de fraterna amizade e sempre saudosa

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Américo da Silva Castro (1889-?), um republicano famalicense


 
De Américo da Silva Castro, já Bernardino Machado, num discurso no Porto, na inauguração do Montepio da Classe Comercial da mesma cidade, se refere a Castro nos seguintes termos: "esperançoso e simpático aluno da Faculdade de direito da nossa Universidade" (Bernardino Machado, Obras: Política - I, "A Reforma", p. 414)Natural de Santo Tirso, formado em Direito pela Universidade de Coimbra em 1908, abriu banca de advogado no Porto. Fixou residência em Vila Nova de Famalicão desde Dezembro de 1943, exercendo o cargo de Conservador do Registo Civil, trabalhando em advocacia. No Porto, enquanto estudante liceal, fundou, com outros, a União Académica.
 
 

Dos livros que publicou, dos quais só conheço "Últimos Anos da Monarquia", com dedicatória a Sousa Fernandes, "Amostras sem Valor", com dedicatória a Nuno Simões e "Vita", publicou ainda "Os Meus Pensamentos", "Tristezas", "Marília", "Na Hora Derradeira" e "O Egoísmo, base da sociedade". No Porto, foi vereador da Câmara Municipal, Conservador do Registo Civil no 2.º Bairro, Administrador do Concelho em Matosinhos, Presidente do Tribunal dos Árbitros Avindores, Presidente da Comissão Administrativa dos Bens da Igreja, Director do Instituto Industrial do Porto, Conservador do Registo Civil em Espinho, entre outros cargos. Foi deputado em 1921 pelo círculo de Santo Tirso e, em 1922, pelo Porto nas listas do Partido Democrático. Em 1907 escreveu no jornal "O Porvir" várias crónicas intituladas "Palavras Vermelhas".



 
Nos seus setenta anos, o "Estrela do Minho", possivelmente num texto de José Casimiro da Silva, traça~lhe o seguinte perfil: "Festeja hoje o seu 70.º aniversário natalício o nosso prezado amigo sr. dr. Américo de Castro que, por tal modo e em obediência à lei, deixou o cargo onde tantos anos se insinuou, de conservador do registo civil. / Atingido pelo limite de idade, pare que os seus 70 anos capricharam em apresentá-lo na plenitude de todo o seu vigor físico e mental, o que prova, mais uma vez, que muitos velhos (perante a lei do calendário, souberam imunizar-se contra a decrepitude - e o dr. Américo de Castro é disso exemplo flagrante - e muitos novos envelheceram precocemente. / De resto, no seu "Vita" e nas "Poucas Palavras" que precedem a biografia daquele conhecidíssimo fidalgo das bandas do Douro que dava pelo nome de Francisco Meneses de Atouguia Pousada de Albergaria, ele o diz: «Orgulhosamente afirmo que ainda não me sinto à margem. Os que me lerem, dirão, porém, se sou um velho a escrever, se sou ainda um cérebro que não apodreceu e pensa. / Há novos velhos, há velhos novos e há ainda velhos velhos. / A que categoria pertenço? Os outros o dirão. Seja qual for a sua crítica, eu sei o que sou. Conheço-me bem.» E porque assim é, se nos causa desgosto o afastamento do dr. Américo de Castro, da conservatória do registo civil de Famalicão, não podemos, pelo outro, deixar de exteriorizar a nossa satisfação pela viveza de espírito e pela rigidez física com que o faz. / Dura lex, sem lex."
 
 
 
Das aventuras republicanas no Porto, ainda jovem estudante do liceu D. Manuel, no livro "ùltimos Anos da Monarquia", refere-se a elas nos seguintes termos, no capítulo "Vida Académica no Porto", com referências a Santos Silva ou a Manuel de Laranjeira, entre outros: "Em 1898 eu frequentava no porto um dos primeiros anos do Liceu da Rua de S. Bento da Vitória, mais tarde batizado com o nome de «Liceu D. Manuel II» e hoje crismado em «Liceu Rodrigues de Freitas. / Os estudantes portuenses dessa época impunhams-se por uma élite de rapazes de talento. / As ideias  republicanas estavam disseminadas na academia, de que então faziam parte os Drs. Manuel de Oliveira, falecido há pouco, João de Oliveira Monteiro, Santos Silva, Júlio Abeilard Teixeira, Pádua Correia, Bartolomeu Severino, Manuel Laranjeira e muitos outros que nunca arrepiaram caminho, por mais difícil que se lhes apresentasse a arrancada, e que pela vida fora tem sempre mostrando uma só fé e uma só crença nos destinos de Portugal. / Os estudantes de então faziam política e blague, riam e cantavam, mas lutando sempre pela libertação de uma pátria que, amarguradamente viam a caminhar para o abismo, empurrada por aqueles que se diziam seus salvadores. / A nós estudantes, interessavam-nos os problemas político, económico e religioso. / Não era rao, no café Central, então frequentado quase exclusivamente pela academia, haver essa discussão entre os rapazes de cérebros sacudidos de pó e teias de aranha e aquele que, sobretudo o Colégio do Espírito Santo, de Braga, exportava para os nossos institutos superiores de ensino."
 
PROJECTO EM CURSO
"Dicionário de Escritores Famalicenses"

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Bernardino Machado Pedagogo


Numa organização da Câmara Municipal em colaboração com o Museu Bernardino Machado, vai realizar-se no próximo dia 15 de Fevereiro, pelas 21h30, no referido Museu, a segunda conferência do ciclo “Pedagogos e Pedagogia em Portugal”. Desta vez, o convidado é o professor Norberto Amadeu Ferreira Gonçalves da Cunha, professor catedrático aposentado da Universidade do Minho e coordenador científico do Museu Bernardino Machado, que irá proferir a conferência “Bernardino Machado Pedagogo”. Para além da entrega do certificado de presença, e a entrada livre, o Ciclo de Conferências aguarda acreditação pelo Centro de Formação Científica para os professores das disciplinas de História, Filosofia e Sociologia.
 O Prof. Norberto Cunha doutorou-se em 1990 pela Universidade do Minho com a dissertação “Génese e Evolução do ideário de Abel Salazar” e foi Professor Catedrático do Departamento de Filosofia e Cultura do Instituto de Letras e Ciências Humanas da mesma Universidade, desde 1998 até 2006, ano em que se aposentou. Presidiu, durante vários anos, ao Centro de Estudos Lusíadas da Universidade do Minho, organizando, no âmbito das suas actividades, dezenas de conferências e vários colóquios internacionais. Foi, igualmente, durante vários anos, Presidente do Conselho de Cursos do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho e Director do Departamento de Filosofia e Cultura do mesmo Instituto, encontrou-se à Fundação Lloyd Braga, tendo sido seu vogal e membro da Comissão Instaladora da Casa-Museu de Monção, da Universidade do Minho. Membro dos conselhos científicos de várias revistas nacionais e dos órgãos de várias instituições académicas, ao longo da sua carreira leccionou as disciplinas de Lógica e Epistemologia do Conhecimento Social e Mentalidades e Cultura Portuguesa, dirigiu mestrados, assim como os leccionando, dentro e fora da Universidade do Minho, em Portugal e no Estrangeiro, tal como em Cursos de Verão, sobre “ Temas de Filosofia Portuguesa Contemporânea” , sobre “ O Ensaio em Portugal no século XX” e sobre “ A Ideia da Europa em Portugal (desde a Ilustração ao Estado Novo)” . No mestrado de História das Instituições e Cultura Moderna e Contemporânea, do Departamento de História da Universidade do Minho, leccionou, durante vários anos, a disciplina de Cultura e Mentalidades no Portugal Contemporâneo assim como leccionou, também durante vários anos (1991-1992 até 2002/2003); e no mestrado em História e Filosofia da Educação da mesma Universidade, também durante seis anos, a disciplina de “Pensamento Educacional Português”. Foi orientador de dezenas de teses de mestrado (especialmente sobre educadores portugueses) e várias teses de doutoramento, tendo sido arguente de umas e outras em Universidades portuguesas. Tem participado em vários projectos de investigação, realizou conferências em diversos Congressos e Colóquios nacionais e estrangeiros e fez parte de júris de vários prémios de História Contemporânea. As suas publicações têm como objectivo fundamental, a compreensão de Portugal e dos portugueses a partir das Luzes e da modernidade, através da chamada “ história intelectual” – tendo como ponto de partida os paradigmas científicos-naturais – numa perspectiva metodológica de convergência entre a história das ideias e a história e a sociologia das ciências. Tem seis livros publicados, proferiu mais de duas centenas de conferências no país e no estrangeiro e publicou mais de uma centena de artigos em revistas da especialidade. Os seus trabalhos publicados têm, como referente: (a) a Ilustração em Portugal, com especial ênfase nos chamados “estrangeirados” (como Verney, Cunha Brochado, José Anastácio da Cunha, Martinho de Mendonça e Ribeiro Sanches) e na Academia Real de História Portuguesa; (b) a Filosofia em Portugal e a Cultura portuguesa – da “ Geração de 70” à crise da II Guerra Mundial – com especial incidência nos “ intelectuais” e no “ensaísmo” português, na ideologia e política republicanas, na “ Renascença Portuguesa”, no tradicionalismo integralista, nos seareiros e no neopositivismo lógico; (c) a ideologia do Estado Novo e seus próceres; (d) a recepção da Ideia da Europa em Portugal; (e) a representação da Galiza na historiografia portuguesa; (f) o republicanismo português (1903-1918); (g) e Bernardino Machado (obra pedagógica e politica). Actualmente, tem prestado especial atenção, sobretudo, aos paradigmas e “dispositivos” intelectuais pró-naturalistas de longa duração na Cultura Portuguesa (das Luzes ao século XX), à teoria da história (relações entre ensaísmo e modalidades actuais da escrita actual da História; e o papel da metáfora na História), à problemática do tempo e à publicação das “ Obras” de Bernardino Machado.