domingo, 10 de fevereiro de 2013

Américo da Silva Castro (1889-?), um republicano famalicense


 
De Américo da Silva Castro, já Bernardino Machado, num discurso no Porto, na inauguração do Montepio da Classe Comercial da mesma cidade, se refere a Castro nos seguintes termos: "esperançoso e simpático aluno da Faculdade de direito da nossa Universidade" (Bernardino Machado, Obras: Política - I, "A Reforma", p. 414)Natural de Santo Tirso, formado em Direito pela Universidade de Coimbra em 1908, abriu banca de advogado no Porto. Fixou residência em Vila Nova de Famalicão desde Dezembro de 1943, exercendo o cargo de Conservador do Registo Civil, trabalhando em advocacia. No Porto, enquanto estudante liceal, fundou, com outros, a União Académica.
 
 

Dos livros que publicou, dos quais só conheço "Últimos Anos da Monarquia", com dedicatória a Sousa Fernandes, "Amostras sem Valor", com dedicatória a Nuno Simões e "Vita", publicou ainda "Os Meus Pensamentos", "Tristezas", "Marília", "Na Hora Derradeira" e "O Egoísmo, base da sociedade". No Porto, foi vereador da Câmara Municipal, Conservador do Registo Civil no 2.º Bairro, Administrador do Concelho em Matosinhos, Presidente do Tribunal dos Árbitros Avindores, Presidente da Comissão Administrativa dos Bens da Igreja, Director do Instituto Industrial do Porto, Conservador do Registo Civil em Espinho, entre outros cargos. Foi deputado em 1921 pelo círculo de Santo Tirso e, em 1922, pelo Porto nas listas do Partido Democrático. Em 1907 escreveu no jornal "O Porvir" várias crónicas intituladas "Palavras Vermelhas".



 
Nos seus setenta anos, o "Estrela do Minho", possivelmente num texto de José Casimiro da Silva, traça~lhe o seguinte perfil: "Festeja hoje o seu 70.º aniversário natalício o nosso prezado amigo sr. dr. Américo de Castro que, por tal modo e em obediência à lei, deixou o cargo onde tantos anos se insinuou, de conservador do registo civil. / Atingido pelo limite de idade, pare que os seus 70 anos capricharam em apresentá-lo na plenitude de todo o seu vigor físico e mental, o que prova, mais uma vez, que muitos velhos (perante a lei do calendário, souberam imunizar-se contra a decrepitude - e o dr. Américo de Castro é disso exemplo flagrante - e muitos novos envelheceram precocemente. / De resto, no seu "Vita" e nas "Poucas Palavras" que precedem a biografia daquele conhecidíssimo fidalgo das bandas do Douro que dava pelo nome de Francisco Meneses de Atouguia Pousada de Albergaria, ele o diz: «Orgulhosamente afirmo que ainda não me sinto à margem. Os que me lerem, dirão, porém, se sou um velho a escrever, se sou ainda um cérebro que não apodreceu e pensa. / Há novos velhos, há velhos novos e há ainda velhos velhos. / A que categoria pertenço? Os outros o dirão. Seja qual for a sua crítica, eu sei o que sou. Conheço-me bem.» E porque assim é, se nos causa desgosto o afastamento do dr. Américo de Castro, da conservatória do registo civil de Famalicão, não podemos, pelo outro, deixar de exteriorizar a nossa satisfação pela viveza de espírito e pela rigidez física com que o faz. / Dura lex, sem lex."
 
 
 
Das aventuras republicanas no Porto, ainda jovem estudante do liceu D. Manuel, no livro "ùltimos Anos da Monarquia", refere-se a elas nos seguintes termos, no capítulo "Vida Académica no Porto", com referências a Santos Silva ou a Manuel de Laranjeira, entre outros: "Em 1898 eu frequentava no porto um dos primeiros anos do Liceu da Rua de S. Bento da Vitória, mais tarde batizado com o nome de «Liceu D. Manuel II» e hoje crismado em «Liceu Rodrigues de Freitas. / Os estudantes portuenses dessa época impunhams-se por uma élite de rapazes de talento. / As ideias  republicanas estavam disseminadas na academia, de que então faziam parte os Drs. Manuel de Oliveira, falecido há pouco, João de Oliveira Monteiro, Santos Silva, Júlio Abeilard Teixeira, Pádua Correia, Bartolomeu Severino, Manuel Laranjeira e muitos outros que nunca arrepiaram caminho, por mais difícil que se lhes apresentasse a arrancada, e que pela vida fora tem sempre mostrando uma só fé e uma só crença nos destinos de Portugal. / Os estudantes de então faziam política e blague, riam e cantavam, mas lutando sempre pela libertação de uma pátria que, amarguradamente viam a caminhar para o abismo, empurrada por aqueles que se diziam seus salvadores. / A nós estudantes, interessavam-nos os problemas político, económico e religioso. / Não era rao, no café Central, então frequentado quase exclusivamente pela academia, haver essa discussão entre os rapazes de cérebros sacudidos de pó e teias de aranha e aquele que, sobretudo o Colégio do Espírito Santo, de Braga, exportava para os nossos institutos superiores de ensino."
 
PROJECTO EM CURSO
"Dicionário de Escritores Famalicenses"

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