sábado, 29 de novembro de 2014

1914 Naulila




A 9 de Agosto de 1914, no jornal “Estrela do Minho”, os famalicenses poderiam ler no editorial “Portugal e a Guerra”, qual a posição portuguesa perante o conflito, se era neutro ou não. Portugal neutral? Enquanto que em Setembro e Novembro já temos, respectivamente, a primeira e a segunda expedição africana, em Outubro uma divisão portuguesa “parte para o teatro da guerra”, segundo leram os famalicenses em 18 do mesmo mês. A notícia continua nos seguintes termos: “Soldados nossos vão combater ao lado dos ingleses, nação nossa aliada, cumprindo assim, honradamente, o nosso tratado de aliança…” Por seu turno, a primeira expedição militar para Angola e Moçambique, segundo notícia de 13 de Setembro, comandada por Alves Roçadas e Massano de Amorim e a segunda expedição, em notícia de 8 de Novembro, desta vez para o teatro de operações angolanas, será constituída essencialmente por marinheiros da Armada. Mas o acontecimento do final do ano, por terras de África, mais propriamente em Naulila, será relatado de uma forma praticamente indiferente, sem se referir à localidade. Veja-se a notícia de 29 de Novembro: “Não são conhecidos ainda os detalhes do conflito entre alemães e os nossos soldados na fronteira de Angola. Sabe-se, porém, o bastante, para ficarmos percebendo que eles entraram em território português, desrespeitando a nossa soberania. Parece ter havido combate entre soldados dos dois países e que houve mortos dos dois lados. / São, portanto, inimigos nossos também, os alemães, pois que nos hostilizaram antes ainda de nos considerarmos beligerantes na guerra ao lado da Inglaterra nossa aliada.”







Hemeroteca Digital
"Ilustração Portuguesa", n.º 448 (21 Set. 1914)

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

1914 - V. N. de Famalicão: sociedade e cultura


Logo no início do ano novo, a comunidade famalicense, sabendo-o já por antecedentes notícias, vai assistir a 7 de Janeiro ao filme, sensação da época, “Quo Vadis?”, o qual foi então exibido no Salão Olímpia, numa Quarta-Feira. Houve quatro sessões nesse mesmo dia: a primeira, realizou-se às duas horas da tarde; a segunda, às quatro e meia; a terceira, às oito da noite, e a quarta às dez e meia. O preço dos bilhetes da sessão das oito horas foi o seguinte: Balcão, 40 centavos; Cadeiras, 30 centavos e Geral, 20 centavos. Por seu turno, nas outras sessões, para o Balcão 30 centavos, Cadeiras, 25 centavos e geral, 15 centavos. As quatro sessões realizaram-se numa Quarta-Feira e, segundo o “Estrela do Minho” de 4 de Janeiro, foi “devido ao elevadíssimo custo do filme” que “a empresa não pode exibir ao Domingo, como era seu desejo.” Foi um sucesso! Também logo no início do ano, a já mais do que afamada Associação dos Empregados de Comércio, com sede na Rua Adriano Pinto Basto, elegia os seus novos corpos-gerentes, ficando na presidência da Assembleia-Geral Delfim Joaquim da Silva e para a presidência da Direcção Jaime Mesquita. Nestes corpos-gerentes, entre outros, encontram-se personalidades que irão fazer história no futuro de Vila Nova, principalmente no Estado Novo, caso de Álvaro Marques, que veio a ser Presidente da Câmara Municipal, sendo nomeado na associação focada como segundo secretário. Ainda em fins de Janeiro, o Sindicato Agrícola promoveu a conferência de Bento Carqueja no Salão Olímpia, discursando sobre o crédito agrícola, numa sessão presidida por José de Azevedo e Menezes, estando presentes Duarte Maria Pacheco Menezes, Presidente da Assembleia-Geral do Sindicato Agrícola, e Delfim de Carvalho. Este último, no final da sessão, anuncia que o Sindicato Agrícola vai organizar a Exposição Regional de Famalicão, mais propriamente, A Exposição Agrícola, Industrial e Pecuária, a qual se realizou entre 27 a 30 de Setembro, sendo incluída no programa das Festas de Setembro. A Comissão Executiva da Exposição foi constituída pelos seguintes cavalheiros: Presidente, José de Azevedo e Menezes; Secretário, Jaime Valongo; Tesoureiro, Francisco de Correia Mesquita Guimarães; Director da Secção Agrícola, Delfim de Carvalho; Director da Secção de Pecuária, Duarte de Menezes; Director da Secção Industrial; Alfredo Costa; Presidente do Sindicato Agrícola, António Joaquim de Sousa Veloso; Presidente da Associação Comercial e Industrial, Amadeu Pereira. Outras personalidades estiveram ligadas a esta Comissão, nomeadamente: Jaime Mesquita, Francisco M. de Oliveira e Silva, Nuno Simões, Adelino Santos, Luís Cunha, Manuel A. Bouças Júnior, António Maria Pereira e João Cabral de Araújo Álvares. Os prémios foram constituídos em dinheiro e em objectos de arte, sendo o júri composto por agrónomos e veterinários vindos de fora.

No primeiro trimestre do ano, a Tipografia Minerva abriu as portas da sua “Papelaria” e em Landim, no início de Julho, nas propriedades de António Joaquim de Sousa Veloso, realizou-se um torneio de tiro aos pombos, o mesmo sucedendo, no fim do mesmo mês, na “Festa do Club dos Caçadores”. A Tuna da Associação dos Empregados do Comércio têm novo regente, Armindo Costa, Nuno Simões alarga as subscrições para o busto de Camilo de Diogo de Macedo, e em inícios de Outubro a Tebaida de Seide recebe a visita de Eugénio de Castro, Visconde de Villa-Moura e Mário Beirão. Fizeram as honras famalicenses José de Azevedo e Menezes e Nuno Simões e de Barcelos António Ferraz. No almoço que José de Azevedo e Menezes ofereceu na sua Casa do Vinhal, esteve também presente Júlio Brandão. A deslocação a Seide destes ilustres visitantes foi para projectarem o “Museu Camilo”. Em Setembro e Outubro, o Salão Olympia exibirá filmes sobre a guerra, tendo “o nosso público ocasião de apreciar várias cenas da maior guerra que tem havido em todos os tempos.” Entretanto, os monárquicos, os conservadores e alguns dissidentes republicanos, mais da Comissão Municipal do Partido Republicano Evolucionista, fundavam, com Joaquim José da Rocha à frente o jornal “A Gazeta de Famalicão”.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

XVII ENCONTROS DE OUTONO 14`



Numa iniciativa da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão através do Museu Bernardino Machado, aproximam-se os XVII Encontros de Outono de 2014, os quais se irão realizar uma vez mais na Casa das Artes, nos próximos dias 28 e 29 de Novembro. Com a temática “Colonialismo, Guerra Colonial e Descolonização”, destacam-se, entre outros, a presença, nestes XVII Encontros de Outono, do General Pezarat Correia, Aniceto Afonso ou a de Cândida Proença. Reveja-se as variadas temáticas históricas já abordadas nos outros Encontros de Outono: “Violência e Poder Político” (2013), “A Agricultura Portuguesa” (2012), “A Política dos Melhoramentos Materiais” (2011), “A I República nos Municípios Portugueses” (2010), “As Eleições: da I República ao fim do Estado Novo” (2009), “A Guerra e a Paz entre as Nações” (2008), “As Faces de Eva” (2007), “Exílio e Exilados Políticos (1926-1974)” (2006), “Pedagogia e Educação em Portugal” (2005), “Europa: globalização e multiculturalismo” (2004), “A Igreja e o Estado em Portugal” (2003), “Memória, História, Património” (2001), “Intelectuais e Autarcas” (2000), “25 Anos do 25 de Abril: da revolução ao 25 de Novembro – as mudanças” (1999), “Bernardino Machado: o Homem, o Cientista, o Político e o Pedagogo” (1998) e, finalmente, “Os “Brasileiros” da Emigração” (1998). As colónias foram sempre um tema caro a Bernardino Machado, especialmente no seu segundo exílio e no seu combate pleno à ditadura do Estado Novo, ou então a Salazar, como exemplifico nestes seus três títulos.





segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Bernardino Machado, Raúl Brandão, Ferreira Martins...



Para o Dr. Manuel Sá Marques, com o meu abraço de fraterna amizade, sempre


MACHADO, Bernardino
[Carta], La Guardia, 1933 Ago. 17, [a] Afonso Costa, [Paris]. Bernardino Machado. [4 f., 7 p.].

Dos vários assuntos que Bernardino Machado transmite a Afonso Costa nesta carta, destacam-se os seguintes, nomeadamante a referência à publicação de dois livros sobre a participação de Portugal na I Grande Guerra: tece considerações sobre a situação dos emigrados políticos portugueses em Espanha e das relações governamentais entre Espanha e Portugal, sobre a realidade política portuguesa e das relações entre os militares portugueses e os políticos republicanos. Informa Afonso Costa que Ribeiro de Carvalho esteve em Vigo. Comenta o livro do General Ferreira Martins "Portugal na Grande Guerra", acentuando as calúnias que em Portugal se tem feito contra os republicanos, como é o caso do livro de António Cabral. Comenta a publicação do livro de Raúl Brandão "Vale de Josafat: Memórias III" e diz que "é um salseiro de falsidades". Comenta as propostas de Afonso Costa para a reforma constitucional









 




sábado, 8 de novembro de 2014

As Festas Comemorativas da I Grande Guerra em V. N. de Famalicão

António Joaquim Pinto da Silva – Imagens de Famalicão Antigo, 1990



Com o Armistício assinado em 11 de Novembro de 1918 e o Tratado de Paz em 28 de Junho de 1919, os países beligerantes da I Grande Guerra ficaram com um enorme vazio ontológico. No caso de Portugal, a I República tentou criar, no pós-guerra, um ritualismo simbólico e cívico para a conciliação de uma identidade colectiva, criando, ao mesmo tempo, espaços públicos de memória entre os Monumentos aos Mortos da Grande Guerra e a inscrição toponímica do 9 de Abril (em V. N. de Famalicão aconteceu em plena ditadura militar, no ano de 1927). Se esta busca ritual e cívica não deu para a I República a sua reestruturação ideológica, estamos perante uma questão que não cabe aqui ser tratada perante o fim deste trabalho, assim como a problemática à volta dos monumentos na sua configuração estética. Se as comemorações do 9 de Abril suplantaram as do Armistício, estas nunca se verificando em V. N. de Famalicão, senão esporadicamente. Iniciadas em Portugal em 1919, ano em que o “Estrela do Minho” publica o texto de Matos Sequeira a propósito da “acção heróica do capitão Braz de Oliveira á frente de uma bateria portugueza”, na Batalha de La Lys, pelo meio, em V. N. de Famalicão, ressalva-se a Festa da Paz e a consagração aos Soldados Desconhecidos, cujas comemorações foram as primeiras do 9 de Abril em terras de Vila Nova, comemorando o 14 de Julho de 1919, dia que seria feriado nacional; e na notícia de 13 de Julho, informa-se que a “Câmara concedeu uma verba para as festas e amanhã em Famalicão haverá o ruído esfusiante da música e da dinamite estalando nos ares”, lembrando o cronista que se não deve esquecer o “Bodo aos Pobres”. Veja-se como decorreram as respectivas Festas da Paz em V. N. de Famalicão: “Famalicão festejou ruidosamente o 14 de Julho corrente, Segunda-Feira, solenizando a assinatura da Paz. / Todas as corporações embandeiraram assim, como muitas casas particulares, destacando-se um grande troféu com a bandeira francesa e das nações aliadas, com que o sr. Rodrigo Carvalho engalanou a sua casa, como já o tinha feito no dia da Assinatura da Paz. / Uma música percorreu as ruas da Vila, sendo a cerimónia mais útil e comovedora a do Bodo aos pobres, que receberam 400 broas de pão. / À noite, ostentava-se na Praça da República finamente iluminada à electricidade, sendo de lindo efeito a fachada da Câmara Municipal, ás árvores do jardim com lâmpadas coloridas e a fonte luminosa. Tocou também a música, o que foi notório para toda a população ali ir gozar algumas horas bem passadas, para o que a noite de calor muito se prestou. / Foi uma festa animada e linda.”
Não se comemorando ainda o 9 de Abril em V. N. de Famalicão em 1920, com uma chamada de atenção do republicano famalicense Manuel Pinto de Sousa na sua crónica de sempre intitulada “Trabalhar” de 11 de Abril (veja-se o discurso tipicamente ideológico e telúrico: “Passou anteontem o 9 de Abril comemorativo do feito heróico dos nossos soldados na grande guerra, que deve ser sempre recordado pelos portugueses com páginas de ouro das mais belas da história pátria”), será na festa da raça de 10 de Junho que o município famalicense apresentará o projecto para a edificação do padrão comemorativo e memorial dos combatentes famalicenses na I Grande Guerra. Em 1921, aqui sim, o 9 de Abril será comemorado pela primeira vez na comunidade famalicense perante as homenagens tumulares aos soldados desconhecidos. Será Bernardino Machado, na presidência do seu ministério, que realizará o projecto-lei de Março que projectará as comemorações aos soldados desconhecidos, no qual se diz que “é autorizado o governo a trasladar para o Panteon da Batalha os cadáveres de dois soldados desconhecidos, mortos em combate, um em África e outro em Flandres”, considerando o mesmo que o dia 9 de Abril de 1921 seja feriado nacional. Neste âmbito, o “Estrela do Minho” apresenta de antemão o programa das comemorações em V. N. de Famalicão, convidando o município “todos os antigos vereadores, associações locais, pessoas gradas, o povo, enfim, solenizando assim a homenagem prestada aos soldados desconhecidos mortos na grande guerra”, convidando também “as mães dos soldados do concelho, que na guerra morreram.” Salienta-se aqui, nesta notícia, a estranha e a enigmática projecção da inauguração do Monumento aos Mortos da Grande Guerra em V. N. de Famalicão, a qual não se concretizou, a ser então edificado na Praça da República! Mas no dia 9 de Abril de 1921, para além da sessão solene nos Paços do Concelho de V. N. de Famalicão, o município famalicense fez-se representar no cortejo da Batalha com Júlio de Araújo, Horácio de Azevedo e Adelino Sousa, assim como a Associação dos Empregados no Comércio, que esteve presente com o seu estandarte, representado por Angelino Mesquita, Joaquim Portela, Fernando Folhadela Marques, Alberto de Sousa Araújo e Flávio Marques. Paralelamente, a Escola Primária Superior associou-se aos festejos municipais e “as associações locais tiveram todas hasteadas as suas bandeiras, além da Câmara e Hospital da Misericórdia.” Mas veja-se o acontecimento nos Paços do Concelho (com a enigmática insistência da inauguração do Monumento, agora, segundo o cronista, na Praça da Mota, à qual, imagine-se, “assistiu muito povo, tocando durante a acção, a música dos Bombeiros Voluntários”, para além da missa promovida por Monsenhor Torres Carneiro na Igreja Matriz, assistindo “elevado número de eclesiásticos e muitos fiéis”, tendo sido “chocante o «momento de silêncio», anunciado pelo repicar dos sinos”), edificando a ideologia unificadora republicana.
A comunidade famalicense volta a comemorar o 9 de Abril em 1922 e veja-se este estranho e paradoxal texto minimalista à volta da Batalha de La Lys, entre a tragédia e a heroicidade: “Passa hoje o aniversário da Batalha do Lis, em que o nosso exército, embora vencido pelo número esmagadoramente superior, deu provas eloquentes de valentia do soldado português de todos os tempos.” Na mesma data publica o “Estrela do Minho” o telegrama do Governador Civil de Braga enviado à administração do concelho para a realização das comemorações em V. N. de Famalicão: “Exmo ministro do interior encarrega-me de comunicar a V. Ex.ª procurar conseguir dois minutos de silêncio, glorificando o magnífico esforço da República intervindo militarmente na Grande Guerra, às 17 horas precisas do dia 9 do corrente, seguidos de todas as  manifestações festivas que for possível organizar.” Por seu turno, a 16 de Abril, noticia-se que “Famalicão comemorou também a data para nós gloriosa da Batalha do Lis, embandeirando a Câmara e Associações, sendo observados rigorosamente os dois minutos de silêncio, momento deveras impressionante, no seu significado de respeito e de saudade pelos que defendendo a Pátria, morreram gloriosamente por ela.” No mesmo ano, o “Estrela do Minho”, em 7 de Maio, publica o “Edital” da Comissão Executiva da Câmara Municipal para a adjudicação da construção do Monumento. Ficando a obra a cargo da Empresa de Mármores do Porto, Ld.ª, os famalicenses ficam a saber quem é o escultor do Monumento em Outubro, nomeadamente Luís Esteves de Carvalho, do Porto, o qual, na sua estada no Brasil, realizou “trabalhos de alto valor artístico”, a saber, as esculturas do Barão do Rio Branco e da Princesa Augusta Vitória.
O ano de 1923 ficará marcado a nível nacional, assim como em V. N. de Famalicão, pela proposta da Comissão Central dos Padrões da Grande Guerra, a qual foi a realização de palestras nos estabelecimentos escolares, sendo a temática o 9 de Abril. Em 1 de Abril, o “Estrela do Minho” noticia que a Câmara se comprometeu a inaugurar em Famalicão “o padrão dos mortos na guerra”, o qual será edificado na Praça do Conde de S. Cosme do Vale, questionando-se se “será realmente nesse dia tirado o taipal no monumento”, para a 8 de Abril comentar que serão “inaugurados muitos padrões comemorativos.” Contudo, as seguintes notícias leva-nos à conclusão de que o monumento ainda não deveria estar pronto nesta altura, até porque em 8 de Julho comunica-se que “já chegaram as pedras para o monumento”, sugerindo-se que na sua inauguração estivesse presente o Presidente da República, estando prevista a sua visita à Casa de Camilo; e em 2 de Setembro informa-se a comunidade famalicense que “está a chegar o resto do material”, encontrando-se em Famalicão “quatro artistas enviados pela casa a quem o monumento foi adjudicado.” Ainda em Setembro notifica-se a característica estética, referindo-se a “um dos mais formosos padrões comemorativos” e em Outubro dir-se-á que “o monumento está concluído e o seu belo conjunto artístico muito honra os seus executores”, para acrescentar o cronista que é uma “bela obra de arte, uma das melhores que conhecemos, superior até às que para o mesmo fim se levantaram em algumas cidades”, faltando a “beleza do conjunto, o ajardinamento da Praça Conde S. Cosme do Vale” para que “seja feito com arte e bom gosto”. Será em Novembro que se começa a exigir ao município famalicense a inauguração do Monumento, levando a supor que por esta altura já se encontraria pronto. Os desejos dos famalicenses serão concretizados em 9 de Abril de 1924. Anunciando a 9, a 16 e a 30 de Março o programa provisório da inauguração do respectivo Monumento, nesta última data projectando que “não faltarão contingentes dos regimentos de Braga; as mães e viúvas dos soldados do nosso concelho que na guerra morreram; as crianças escolares de todas as freguesias, devidamente ensaiadas para cantarem o hino da Pátria ao desfilarem ante o monumento da Praça Conde S. Cosme do Vale. / Também não deve faltar o convite aos soldados do concelho que estiveram na guerra, para comparecerem ao cortejo, com as suas fardas de campanha. / A sessão solene, no salão nobre dos Paços do Concelho, há-de ter o significado compatível com a data que se soleniza”, solicitando-se que “as paredes das casas da praça sejam lavadas, branqueadas.” A 6 de Abril, o “Estrela do Minho” publica o seguinte programa: “Pela manhã, alvorada com bombas e uma banda de música, ao mesmo tempo que outras músicas tocarão pelas ruas da vila, durante o dia. / Às 9 horas, recepção na estação do caminho-de-ferro do Ex.mo Ministro do Comércio [Nuno Simões], ilustre filho desta terra, que, a convite da Câmara Municipal, vem expressamente de Lisboa tomar parte nesta grandiosa consagração. / Às 14 horas haverá sessão solene no Salão Nobre da Câmara Municipal, sendo oradores, além do Sr. presidente da Câmara, o Sr. Desembargador Eduardo Carvalho, José de Azevedo e Menezes, dr. Delfim de Carvalho, Sousa Fernandes, António José Nogueira e Abade da Carreira. / Em seguida, organizar-se-á o cortejo, em direcção ao Monumento, composto de um contingente de Infantaria n.º 8, com a respectiva bandeira e com a música deste regimento, mães e esposas dos soldados do concelho que morreram na guerra, alunos das escolas, Associação dos Bombeiros Voluntários, convidados, etc., inaugurando-se em seguida o Monumento, onde usará da palavra o você-presidente da comissão executiva. / Às 17 horas terão início os 2 minutos de silêncio que serão anunciados por três tiros de dinamite.”








quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Afonso Costa e Raúl Brandão


Para o Dr. Manuel Sá Marques, com o meu abraço de amizade sempre




Carta de Afonso Costa a Bernardino Machado de Paris, com a data de 2 de Julho de 1933. O autor informa Bernardino Machado que cada vez menos existem em Paris exilados políticos portugueses e a assistência aos que existem é praticamente nula. Comenta de Raúl Brandão, questionando a atitude da "Seara Nova", a propósito da publicação do livro "Vale de Josafat" o seguinte: "Então esse escritor também atira pedras, lá do túmulo, aos republicanos?" Dá os parabéns a Bernardino Machado pela formatura em Direito do neto Bernardino Machado Vaz.





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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Afonso Costa e Aquilino Ribeiro



Indiscutivelmente, para o Dr. Manuel Sá Marques, com o meu abraço fraternal de amizade e sempre saudosa


Carta de Afonso Costa a Bernardino Machado, de Paris, com a data de 15 de Agosto de 1934. Afonso Costa, que lamenta as perseguições que têm sido feitas aos netos de Bernardino Machado, tece comentários sobre o que tem acontecido ao seu filho em Portugal, o qual preparava então a tese de doutoramento "Regime dos Mandatos Perante os Princípios do Direito Público". Para além de tecer comentários sobre alguns exilados políticos, informa a Bernardino Machado que Marcelino Domingo lhe vai enviar o seu livro "La Experiencia del Poder", com prefácio de Afonso Costa. Informa também que recebeu o livro "É a Guerra", de Aquilino Ribeiro, ao qual tece duras críticas, juntando a dedicatória do livro e o agradecimento que lhe enviou. Diz Afonso Costa a propósito do livro "É a Guerra": "Recebi o livro "É a Guerra", oferecido pelo Aquilino. Como pode ele publicar tão triste comprovativo documento da sua péssima orientação política e da sua falta de respeito pelo nosso maior esforço de independência e de [valia]? Até o Chagas sai engrandecido dos ataques com que o Aquilino o procura ferir, visto filiá-lo sempre na campanha do Chagas pela nossa participação na Guerra! Enfim, lembrei-me a agradecer ao Aquilino a oferta do livro, sem comentários... lembrei-me que é casado com a sua filha e pai dos seus netinhos." Na cópia que faz da transcrição do agradecimento, assim como da dedicatória de Aquilino Ribeiro, diz ainda Afonso Costa: "Sei de fonte limpa que nem o Camacho gostou do livro! Achou-o, neste momento, uma má acção."





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