segunda-feira, 17 de março de 2014

Aires Ornelas, o estratega


O Prof. Jorge Paulo Fernandes, na última conferência, intitulada “As Ideias Colonialistas de Aires de Ornelas”, realizada no dia 14 de Março do corrente ano no Museu Bernardino Machado, iniciou por evidenciar se faria hoje sentido em recuperar as ideias colonialistas de Aires de Ornelas. Figura chave portuguesa nos finais do século XIX e nos princípios do século XX, será com Aires de Ornelas que o império colonial se tornou na chave política portuguesa até 1974. Pertencendo à geração colonialista de 1895, o Prof. Jorge Paulo Fernandes evocou Aires de Ornelas em três perspectivas: o homem, a experiência africana e as ideias colonialistas. Aliás, estas mesmas começaram a ser difundidas pela imprensa, nomeadamente em dois títulos, nomeadamente enquanto director do “Jornal das Colónias” e na “Revista do Exército e da Armada”, fundada por Aires de Ornelas. Numa fase inicial, Ornelas incorporou no movimento, sem sucesso e numa “fantasia sem preocupação”, nas palavras do Prof. Jorge Paulo Fernandes, que pretendia restaurar Portugal através de uma ditadura militar, numa altura em que o rotativismo estava a ser fortemente criticado pelos republicanos. Em 1906, perante a dissidência do Partido Regenerador, Ornelas ficará ao lado de João Franco, será Ministro da Marinha e do Ultramar no governo de 1906 a 1907. Estará, assim, com o príncipe Filipe na viagem a África, indo, logo a seguir à implantação da República, para o exílio, chegando a chefiar a revolta militar de Monsanto em 1919. A questão a saber para o Prof. Jorge Paulo Fernandes é se Aires de Ornelas é um reacionário, tradicionalista ou uma figura do tradicionalismo monárquico. Fiel monárquico, Ornelas nunca nega a ordem pela monarquia constitucional. Será, enquanto conselheiro do Rei D. Manuel em Londres, uma figura de cautela e de moderação, conselhos que incutia no próprio Rei. No seu contacto com África, Ornelas será o que irá definir a estratégia militar em África, numa altura em que o Estado português irá possuir o armamento mais moderno e completo da época. Desta forma, com um investimento em tecnologia militar e médica, melhor preparação técnica, permitiram tais condições uma série de vitórias africanas, novas proezas que farão olhar para África de forma diferente. Defendia Ornelas para África a soberania portuguesa pela soberania das armas, assim como o darwinismo social (isto é, a reacção musculada). Ao mesmo tempo, Ornelas defendia igualmente uma reacção nacionalista africana, reclamando uma política administrativa para as colónias. Defensor de uma descentralização administrativa, projectando a municipalização (ideia que já vinha de Mariano de Carvalho, uma autonomia administrativa realizada pelos portugueses de Moçambique, não da metrópole), na prática tais ideias não tiveram a sua consequência; e se esteve ao lado dos vencedores, acabou, nas palavras do Prof. Jorge Paulo Fernandes, um derrotado: o império pelo qual sonhou, terá ganho na sua importância estratégica, enquanto que as ideias descentralizadoras não tiveram o seu seguimento.





segunda-feira, 10 de março de 2014

Aires Ornelas

O Professor Paulo Jorge Fernandes é o próximo conferencista convidado do VII Ciclo de Conferências, para a realização do terceiro encontro do mesmo, tendo a conferência o título “As Ideias Colonialistas de Aires de Ornelas”. Esta conferência realizar-se-á no Museu Bernardino Machado, em V. N. de Famalicão, no próximo dia 14 de Março do corrente ano, pelas 21h30, sendo a entrada livre e tendo os participantes o respetivo certificado de presença. Professor Auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Paulo Jorge Fernandes tirou o Doutoramento em História Institucional e Política Contemporânea (2007) e o Mestrado em História dos Séculos XIX e XX (1997) na mesma Faculdade onde leciona, tirando, contudo, a licenciatura em História na Universidade Autónoma de Lisboa (1991). Se a área de atividade científica do professor Paulo Jorge Fernandes se focaliza na História dos Séculos XIX e XX, o seu domínio de especialização centraliza-se na História de Portugal (século XIX) e na História Institucional e Política (século XIX), tendo como interesses de investigação as temáticas o “Longo Século XIX”, a História Política (Estado, Elites, Partidos, Eleições e Parlamento), a História da Imprensa e a História Colonial Comparada. Tendo já participado em várias atividades científicas de extensão universitária (como foi o caso de ter sido o curador da exposição “Os Refugiados do Holocausto e Portugal” em 2012 na Fundação Calouste Gulbenkian), tem participado em projetos de investigação e realizado várias conferências quer em Portugal e no estrangeiro. Para além dos livros já publicados, a saber “As Faces de Proteu” (1999), em coautoria “Reis de Portugal: D. Luís I” (2009), “Mouzinho de Albuquerque: um soldado ao serviço do império” (2010) e “Mariano Cirilo de Carvalho” (2010), o Professor Paulo Jorge Fernandes tem colaborado em inúmeras revistas portuguesas e estrangeiras, nomeadamente, a título de exemplo, “Stvdia Historica”, “Metapolitica”, “e-Journal of Portuguese History”, “Tempo”, “Historia y Politica”, “The International Journal of regional and Local Studies”, “Africana Studia” ou na “Revista da História das ideias”. Tem a Menção Honrosa do Prémio Defesa Nacional 2010 com o livro “Mouzinho de Albuquerque”, atribuído pela Comissão Portuguesa de História Militar-Ministério da Defesa Nacional.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco






Texto do Dr. Henrique Barreto Nunes sobre o livro de Amadeu Gonçalves com o título "Cem (e mais alguns) Anos de Livros", a propósito do centenário da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco. A apresentação do livro ocorreu no dia 6 de Dezembro de 2013, na respectiva Biblioteca.


sábado, 1 de março de 2014

Paiva Couceiro, o Nacionalismo-Tradicionalista




Na apresentação do conferencista convidado, o Prof. Miguel Santos, o Prof. Norberto Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado, referiu-se que seria apresentada a “outra faceta de Paiva Couceiro, para além das invasões couceiristas”. De facto, na segunda conferência do Ciclo “Ideias e Práticas do Colonialismo Português”, o Prof. Miguel Santos na conferência com o título “O Pensamento e a Acção Colonial de Paiva Couceiro” apresentou ao auditório do Museu Bernardino Machado uma outra faceta de Paiva Couceiro. Partindo do princípio de que no pensamento colonialista de Paiva Couceiro temos não só o “militar, mas também o pensador”, cujo pensamento não pode ser desligado de outros pensadores. Partindo da análise de obras como “Relatório de Viagem entre Bailundo e as Terras do Mucusso” (1892), passando pelo título “Experiência de Tracção Mecânica na Província de Angola” (1902) até à sua “Profissão de Fé” (1944), o Prof. Miguel Santos pretendeu analisar analisou a “teoria do império” em Paiva Couceiro no âmbito de uma filosofia política, sendo a questão a saber se esta mesma teoria foi inovadora. Ora, se na Europa são as elites que fazem a colonização, em Portugal são os militares que a desenvolvem. Neste âmbito, o Prof. Miguel Santos apresentou três mecanismos, três ideários de colonização para percebermos a contextualização do pensamento de Paiva Couceiro neste âmbito, o colonial: o comercial, a plantação e a ocupação efectiva do território no seu povoamento, para o desenvolvimento da agricultura. Defendendo Paiva Couceiro a autonomia progressiva para as colónias, em particular para Angola, tal desenvolvimento deveria ser feito pelo conhecimento territorial e, paralelamente, não há construção de um território se não houver vias de comunicação. Neste âmbito, Paiva Couceiro pertenceu a uma geração a que os historiadores designaram como a “ocupação cientificizada do espaço”. Desta forma, e tendo como pano de fundo o exemplo do Brasil, Paiva Couceiro acreditava na terceira perspectiva atrás apresentada, através do aculturamento, da misecinização para o aparecimento de novas culturas, sendo este o caminho da desconstrução para a construção da autonomia das colónias, não propriamente a “independência”. Numa perspectiva económica, Paiva Couceiro desenvolveu um modelo específico, denominado pela agricultura, pelo comércio, sendo este só possível com o desenvolvimento das infra-estruturas, apelando a uma “civilização do trabalho”, aqui divergindo do pensamento de Oliveira Martins. Nas palavras de Paiva Couceiro, “o trabalho é o elemento estruturante da soberania para a construção de uma nova identidade”, entrando aqui o papel da instrução, do ensino. Classificando o pensamento colonial de Paiva Couceiro como sendo um “nacionalismo tradicionalista”, o Prof. Miguel Santos, num segundo momento da sua conferência, analisou a seguinte ideia: se há ou não no pensamento de Paiva Couceiro um objectivo colectivo, o qual recorre à tradição historiográfica identitária. Neste pensamento, temos não só uma visão decadentista do mundo moderno, como igualmente o reforço da componente decadentista que põe em causa a qualidade da raça e ameaça o futuro do país. Por outro lado, temos em Paiva Couceiro um certo imperialismo, uma espécie de “Teoria do Império”, sendo esta a oportunidade do surgimento da Pátria, numa concepção historicista. Portugal surge aqui, na busca das qualidades étcnico-rácicas enquanto povo colonizador, com um objectivo colectivo, estando aqui igualmente um pensamento determinista, na busca das qualidades inatas dos portugueses, indo-se até aos lusitanos.
O Prof. Miguel Santos ofereceu ao Museu Bernardino Machado os seguintes títulos: “Imperialismo e Ressurgimento Nacional: o contributo dos monárquicos africanistas” (2003), “Luís de Magalhães, Oliveira Martins e a “Vida Nova” (2003), “O Mito da Atlântida nas Leituras Historiográficas do nacionalismo Monárquico” (2008), “Arlindo Vicente e a Oposição: as eleições presidenciais de 1958” (2009), “A Contra-Revolução na I República: 1910-1919” (2010), “A República e as Letras” (2010) “Presidentes: entre o público e o privado” (2011) e “As Ditaduras na História Política Contemporânea: contributos para um debate” (2011).