quarta-feira, 27 de agosto de 2014

1917 - A Crise das Subsistências em V. N. de Famalicão


Hemeroteca Digital

O projecto constante das cooperativas de consumo, para defesa dos consumidores mais pobres e a concretização dos celeiros paroquiais, existindo alguns em algumas freguesias do concelho de V. N. de Famalicão, a constituição governamental concelhia das subsistências e de uma comissão de abastecimento local, assim como a criação de mais uma comissão de subsistências em princípios de Setembro, não conseguiram (através da configuração de uma Lei dos Cereais) suster a constante especulação dos preços à volta dos mesmos e, em especial, do milho, com a constante polémica do seu abastecimento e a sua falta, quer na feira e no mercado, originando conflitos sociais durante o ano não só a nível nacional, como também a nível local. Em Março, numa crónica com o título “Abastecimento de Milho”, o cronista do “Estrela do Minho” informa que “sabemos de lavradores que, solicitados para vender milho a alguns pobres, se têm negado a fazê-lo”, caindo na retórica propagandista usual de que a “hora é de sacrifícios para todas as classes.” Em princípios de Abril, anuncia-se que o problema das subsistências “é o assunto máximo que a todo o país preocupa” e que “é a falta de pão” que leva a “tumultos em várias terras pela falta de milho e se assim continua não pode calcular-se onde irá parar o sossego público.” Em Maio os famalicenses tomam conhecimento que chegaram para a freguesia de Calendário “cerca de cinquenta carros de milho”, os quais foram adquiridos em Viana do Castelo pela “junta de paróquia daquele freguesia, para poder atender, ao menos em parte, à enorme falta de milho que ali tem havido.” Depois dos conflitos sociais em Lisboa, relatados e comentados em editorial, noticia-se os do concelho, particularmente em Oliveira Santa Maria e nos da Vila. Veja-se a notícia destes dois acontecimentos, publicada em 3 de Junho:

Segunda-Feira última [28 Maio], veio uma comissão de lavradores, daquela freguesia, queixar-se à administração do concelho de que cerca de 200 indivíduos tinham assaltado a casa do lavrador caseiro Francisco caseiro, agredindo, barbaramente, os donos da casa e roubando todo o milho que havia para consumo e sementes, além de 80 escudos em dinheiro e várias roupas. / Imediatamente, a digna autoridade administrativa tratou de iniciar as suas averiguações e como lhe constasse que os assaltos se iam repetir, seguiu para Riba d`Ave, acompanhado do destacamento da Guarda Republicana, em serviço nesta vila, conseguindo saber o nome dos principais assaltantes e realizando logo a prisão de alguns deles, apesar da atitude hostil do operariado daquela região. / Nessa ocasião requisitou mais forças da Guarda Republicana, que lhe foram fornecidas de Guimarães. / Na Terça-Feira [29 Maio] passada correu na vila o boato de que tinha sido lançado fogo à casa da Lavandeira, pertencente ao proprietário sr. Narciso de Abreu, da freguesia de Oliveira, o que infelizmente mais tarde se confirmou, tendo ardido a casa por completo e perecendo nesse criminoso sinistro 9 cabeças de gado! / Nessa ocasião foram efectuadas mais 3 prisões, sendo arbitrada a cada um dos presos, segundo se diz a fiança de 2000 escudos. / As patrulhas da Guarda Republicana têm percorrido, de noite, todos os lugares da freguesia de Oliveira e limítrofes, estando agora a ordem pública completamente assegurada. / Diz-se que antes do assalto houve uma reunião de operários a que não foram estranhos certos elementos ultra-avançados de fora do concelho, constando também que os operários de Riba d`Ave e fábricas vizinhas, acompanhados de Pevidém, pensavam em vir a esta vila e, pela força, subtrair os preços à acção da justiça. Para obstara isso, chegou ontem aqui uma força militar a qual veio a requisição do digno administrador deste concelho, que tem sido de uma actividade e energia raras, merecendo por isso os aplausos de toda a gente. /Consta-nos também que em Riba d`Ave tem havido sempre milho à venda por preço acessível e que os operários ainda não deixaram de ter trabalho, motivo porque de modo algum se justificam os excessos por eles praticados e que mais lamentáveis seriam se não fossem as prontas e enérgicas providências tomadas pelo sr. dr. Carlos Bacelar, digno administrador do concelho.

Em 10 de Junho noticia-se que “escoltados por uma força militar, partiram Quinta-Feira para Braga, nove indivíduos capturados por causa dos acontecimentos de Oliveira. Estão todos pronunciados pelo crime de roubo e agressão, sendo-lhe admitida fiança. Os presos que são todos tecelões chamam-se José de Oliveira, David Moreira de Carvalho, Manuel Pereira, António Antunes, João Ferreira, Manuel de Almeida, Joaquim António Cardoso e António Luís de Araújo.” Ainda em Junho, noticia-se que o município apreendeu um carro de milho que transitava sem guia de licença, mandando fazer pão para os pobres, comentando-se que “é sabido que nos concelhos do norte deste distrito existe milho em abundância, tendo já vindo bastante para os celeiros paroquiais do Calendário e de Joane e ainda para Riba d`Ave. Para esta vila é que já há tempos não vem nenhum e, por isso, a Câmara poderia ser a reguladora do mercado se tivesse milho em quantidade.” Por outro lado, “se o milho que vem das colónias é insuficiente para as necessidades da capital”, sugere-se adquirir milho em Braga, cidade que terá, nos inícios de Julho, os seus próprios conflitos. Até que em 5 de Agosto informa o “Estrela do Minho” da constituição de uma Comissão Governamental das Subsistências no Concelho e de uma Comissão de Abastecimento Local. A primeira foi representada pelas seguintes personalidades: Delegado do Governo, Adelino Adélio dos Santos; pela Comissão Executiva da Câmara Municipal, Domingos Lopes da Silva; Pela Associação Central de Agricultura, António Joaquim de Sousa Veloso. Por seu turno, a segunda foi constituída da seguinte forma: Pela Câmara Municipal, Francisco Correia de Mesquita Guimarães, Jaime Valongo e Manuel Pinto de Sousa; Pela Associação Comercial e Industrial, Manuel António Bouças Júnior e Augusto Pereira Sampaio; Pelo Sindicato Agrícola, António Joaquim de Sousa Veloso, Duarte Maria Pinheiro de Menezes. Em 9 de Setembro, é noticiada mais uma Comissão de Subsistência, constituída por mesquita Guimarães, Bouças Júnior, Augusto Sampaio, Joaquim de Sousa Veloso e Manuel Pinto de Sousa. Mas quem critica a propaganda do jornal “Estrela do Minho” será a Comissão de Subsistências da Freguesia de Ribeirão, a propósito da distribuição (o que leva a supor a existência de mais comissões espalhadas pelas freguesias do concelho), constituída então por João José da Silva, Manuel Dias da Costa, Manuel Dias de Sá Couto, Manuel Pereira de Araújo, José Dias dos Santos, António Ferreira da Costa, Alberto Ferreira da Cruz Loureiro, Manuel Joaquim Machado e Manuel Maria de Albuquerque Gerard (regedor), cujas reivindicações serão publicadas em 18 de Novembro:

Nós, os membros da Comissão de Subsistências da freguesia de Ribeirão, tendo lido no seu conceituado jornal referências menos verdadeiras e justas sobre o milho que tem transitado para esta freguesia com guias legais, vimos apressadamente pedir a V… o favor de publicar, quanto antes, o respectivo desmentido, por serem inexactas tais informações. / Certa desta gravíssima crise do milho nenhuma freguesia deste concelho terá sido tão duramente experimentada como a nossa! Nem admira, Sr. Director! / Esta freguesia consta já 470 famílias! E pelo exacto arroteamento daquele cereal, apenas tem para a venda 60 carros de milho! Há, portanto, um deficit pavoroso! É necessário importar para aqui fatalmente 430 carros! / É certo que a digna autoridade administrativa, conhecedora dos factos, tem passado algumas guias, mas as quais algumas vezes, infelizmente, não têm sido reconhecidas por alguns dos seus subalternos e populares. E não se diga, Sr. Director, que algum milho de Ribeirão ou que para Ribeirão venha, com guia por nós informada passa para o sul. / E devemos informar, em abono da verdade, que a digna autoridade administrativa deste concelho nenhumas guias tem passado para esta freguesia, sem previamente ouvir esta comissão sobre o assunto.

Das actividades da Comissão de Abastecimento Local, realça-se a realização de um inquérito ao consumo do milho, com a participação dos regedores das freguesias, e a projecção para a formação dos celeiros paroquiais. Após a realização do inquérito, o administrador do concelho proibiu a saída de milho e de centeio para fora do concelho, bem como o trânsito dos mesmos. Em 30 de Setembro noticia-se que a Comissão de Subsistências já conseguiu a implantação de alguns celeiros paroquiais em algumas freguesias; até que, após os conflitos sociais no Porto, receou-se em Dezembro em Famalicão pelo assalto às mercearias da Vila, defendendo-as uma força militar:

Quarta-Feira [12 Dezembro], ao meio da tarde, que é a hora de maior negócio nos estabelecimentos, correu a notícia de que vinha o pessoal das fábricas de tecidos de Riba d`Ave assaltar as mercearias da Vila, proeza a que se associariam os operários das fábricas e oficinas daqui. O facto alarmou toda a gente que estava na feira, que debandou logo, tratando todos os comerciantes de encerrar as portas. / Perdeu-se quase pro co0mpleto o negócio desse mercado. O crime não se efectuou porque os iniciadores dele, dizem-nos, não encontraram o apoio do povo que enchia o campo da feira. / Também parece não restar dúvida de que os assaltos foram premeditados, pois neles se têm falado já há duas semanas – é o exemplo do que aconteceu no Porto – e tanto que já a autoridade administrativa tem a Guarda Republicana de prevenção para evitar os assaltos.


sábado, 23 de agosto de 2014

1915 O Incêndio na Casa de Camilo

A Casa de Camilo antes do incêndio

Há, indiscutivelmente, dois acontecimentos que marcam a comunidade famalicense em 1915: o incêndio na Casa de Camilo em 17 de Março e a eleição presidencial de Bernardino Machado, eleito Presidente da República em 6 de Agosto. Entretanto, os famalicenses tomarão conhecimento dos novos corpos-gerentes da Caixa de Crédito Agrícola, sendo constituídos com as seguintes personalidades: Assembleia-Geral, Presidente, José Elísio Gonçalves Cerejeira; Secretários, Joaquim Moreira Pinto, Elpídio Augusto Ferreira; Direcção, Presidente, António Joaquim de Sousa Veloso; Vice-Presidente, Manuel Alves Correia de Araújo; Tesoureiro, Duarte Maria Pinheiro de Menezes; Secretário, António José Barros de Faria; Vogal, José Correia; Substitutos, João António Lopes, António Gomes da Silva Brandão e Manuel António Joaquim dos Santos; Conselho Fiscal, Francisco Maria de Oliveira e Silva, Francisco Machado da Silva e João Cabral de Araújo Álvares. Lerão as crónicas de Emília de Sousa Costa, o folhetim de Nuno Simões, o texto de Teófilo Braga “Crenças e Tradições. De Maio”, visualizarão uma fotografia da Casa de Camilo, ainda mesmo antes do incêndio, dando destaque à Acácia do Jorge, enquanto o camilianista Jorge de Faria verá o seu texto “Avarentos de Camilo. “O Bento”, da Morgada de Romariz” publicado no jornal famalicense em três partes. Reivindica-se uma escola agrícola para o concelho, o professor António Nogueira crítica a Festa da Árvore, considerando que foi adulterada nos seus princípios educativos, e os famalicenses tomam conhecimento que na Papelaria Minerva se encontram disponíveis os livros de Sousa Costa, “Coração de Mulher”, e o de Antero de Figueiredo, “Doida de Amor”, este último a grande novidade literária do ano, do falecimento de José Robalo Ferreira, que escrevia no “Estrela do Minho” com o pseudónimo José Rouge, e do de Visconde de Gemunde e de que o Salão Olímpia vai ter obras de ampliação para ser adaptado às actividades teatrais. A seguir ao incêndio da Casa de Camilo, a 4 de Julho, a Associação dos Empregados de Comércio organiza a conferência de Paulo Alberto de Azevedo Osório, então Presidente da Federação dos Caixeiros Portugueses (Zona Norte), tomam os famalicenses conhecimento que Álvaro de Castelões toma posse como Director dos Caminhos-de-Ferro-do-Minho-e-Douro, de que o Colégio Almeida Garrett, do Porto, visita a vila e após o almoço no Hotel Central visitaram o Quartel dos Bombeiros Voluntários, a Associação dos Operários, as fábricas J. Carvalho & Irmão e de Domingos Cancela, assim como visitam os estudantes a Tipografia Minerva.
Até que no dia 17 de Março tomam conhecimento do incêndio na Casa de Camilo, ficando a comunidade constrangida, mas com força para a reconstrução da Casa, assim como para a fundação, ideia vinda já do ano transacto, do então designado “Museu Camilo”. Praticamente logo de seguida, republicanos e monárquicos e a sociedade civil, tal como aconteceu com a fundação da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco em 1913, constituíram uma Comissão Promotora de Homenagem Póstuma a Camilo Castelo Branco. Um grupo de admiradores e de amigos de Camilo Castelo Branco, entre os quais Visconde de Pindela (Presidente da Assembleia Primária de Pessoas Gradas), José de Azevedo e Menezes, Nuno Simões (primeiro secretário) e José Robalo (vogal), escrevem uma carta-convite dirigida à comunidade famalicense, assinada pelos três primeiros, a convocá-la para uma reunião que então se realizou a 11 de Abril, pelas 11h00 da manhã, no Salão Olímpia. Desta reunião, saiu a Comissão referida, assim constituída: Presidente, José de Azevedo e Menezes; Secretários, Daniel Augusto dos Santos, Manuel Pinto de Sousa; Tesoureiros, Francisco Correia de Mesquita Guimarães, Francisco Maria de Oliveira e Silva; Notário, Rodrigo Terroso e Escrevente Aires Rodrigues Alves. O “Estrela do Minho” constituiu na época, transcrevendo as notícias, de uma autêntica hemeroteca nacional e internacional à volta do incêndio e da tragédia que aconteceu na Casa de Camilo (Caso de jornais brasileiros, por exemplo, “O Portugal Moderno” e o “Jornal do Comércio”, ambos do Rio de Janeiro, ou entre nós, do “Portugal” (Lisboa), “Prosperidade” (Porto), “Portugal Previdente” (Porto), “O Futuro” (Lisboa), “Fraternidade” (Braga), etc.), e a 21 de Março informa os famalicenses do incêndio da seguinte forma: “Quarta-Feira tivemos a tristeza notícia de ter ficado destruída por um grande incêndio, a Casa de Camilo Castelo Branco, em S. Miguel de Seide. / Os Bombeiros Voluntários embora para lá seguissem logo que avisados pelo pároco de Seide Reverendo Manuel Francisco de Carvalho, que veio de bicicleta, quando lá chegaram já da casa do grande escritor do “Amor de Perdição” apenas restavam as paredes e a chaminé. / O retrato de Camilo e o sofá em que o «grande desventurado» morreu, foram salvos. Era o que dele da casa tinha ficado. / Como se sabe, os livros e outras recordações de Camilo não existiam já no prédio, mas na casa de Silva Pinto, adquirida pelo Visconde de S. Miguel de Seide, filho de Camilo, onde actualmente vivem os netos do grande escritor. / Também a histórica «Acácia do Jorge» e a lápide comemorativa da visita de António Feliciano de Castilho e Tomás Ribeiro a Seide estão intactas, no jardim onde o incomparável romancista mentalizou talvez as suas melhores produções literárias. / A destruição da Casa de Camilo representa uma grande perda, não resta dúvida, mas, para os admiradores do genial escritor, não desapareceu o motivo da sua romagem a S. Miguel de Seide, pois a casa pode facilmente reconstruir-se com a antiga topografia e lá ser colocado o Museu Camiliano, para o qual existem relíquias preciosas. / Não devem, por isso, desaparecer os admiradores do grande mestre da nossa literatura, pois agora, mais do que nunca, devemos todos trabalhar para que se reconstrua a vivenda de Camilo, que está ao lado da Acácia do Jorge por ele plantada, e do mirante do jardim, onde tudo parece recordar-nos ainda a figura do maior romancista português de todos os tempos. “ Este texto termina com a seguinte “Nota Curiosa”, em jeito profético: “ Camilo Castelo Branco nasceu no dia 16 de Março de 1815. / Se fosse vivo tinha completado na passada Terça-Feira 90 anos. Na Quarta-Feira 17 ardeu a sua vivenda de que tanto gostava e onde viveu um quarto de século. A constituição do “Museu Camiliano” ou ainda “Museu Camilo”, como na época assim se designava, será focado na crónica editorial de 28 de Março, sem indicação de autor, com o título “A Casa de Camilo”. Tal como aconteceu com a Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, uma onda de solidariedade cívica e cultural, institucional e de algumas personalidades, começarão a realizar doações para a reconstrução da casa e da constituição do “Museu Camiliano”. Foi o caso de Alberto de Oliveira, então cônsul português no Rio de Janeiro, que remeteu uma letra no valor de 231$34 a José de Azevedo e Menezes; por seu turno, a Câmara Municipal da Póvoa de Varzim doou 50$00, o senado municipal doou a verba de 100$00, a Câmara Municipal de Arcos de Valdevez doou a quantia de 25$00, enquanto que a de Paredes de Coura a quantia de 10$00.



terça-feira, 19 de agosto de 2014

V. N. de Famalicão e a Eleição Presidencial (1915)

Hemeroteca Digital
"Ilustração Portuguesa", n.º 501 (27 Set. 1915)

Para o Dr. Manuel Sá Marques, mais um apontamento histórico por Vila Nova de Famalicão do já ido ano de 1915.

A vida vai decorrendo entre os famalicenses, quando em 28 de Junho tomam contacto com a terceira série do jornal “O Sorriso”, com o subtítulo “quinzenario literario e humorístico”, tendo sido seu director Daniel Correia de Guimarães. Com uma periodicidade quinzenal, “O Sorriso” tinha a sua redacção e administração na Rua Adriano Pinto Basto e era impresso na Tipografia Aliança, de Joaquim José da Rocha, a rival da Minerva. Por seu turno, em Lisboa, Nuno Simões funda e dirige com João de Barros, na qualidade de Director-Gerente da revista, a “A Atlântida” e teve a colaboração, ao longo da sua existência, até 1920, de Bernardino Machado, do próprio Nuno Simões e de Júlio Brandão. De salientar os artigos sobre Camilo Castelo Branco de Jorge de Faria, Nunes de Azevedo e Visconde de Vila-Moura. É ainda neste ano que Nuno Simões publica “Gente Risonha”, Vicente Arnoso “Cantigas, Leva-os o Vento”, o jurista Eduardo Carvalho “Questões e Julgamentos” e Manuel da Silva Mendes, o nosso anarquista-taoísta, “A Pintura Chinesa”. Com a inauguração do balneário do Hospital de S. João de Deus, os famalicenses tomam conhecimento, através do jornal "Estrela do Minho", em 1 de Agosto da eleição presidencial, anunciando que Bernardino Machado e Duarte Leite são as personalidades que podiam a vir a ser eleitas. A 8 de Agosto, tendo lido já a 7 na “Gazeta de Famalicão”, os famalicenses leram que Bernardino Machado foi eleito Presidente da República e a 15 de Agosto saberão que visitará Famalicão. A crónica de Manuel Pinto de Sousa “Trabalhar” começa assim: “Está em Famalicão há alguns dias, o presidente eleito da República, o que nos apraz registar com desvanecimento. / Em Famalicão brincou a sua mocidade” e após considerações profissionais do Presidente eleito, termina dizendo: “Felicitando a nação pela acertada escolha dos seus representantes, Famalicão muito se ufana com orgulho, por ser o berço do sr. Dr. Bernardino Machado.” E na edição do dia 17 de Outubro, os famalicenses poderiam ler o discurso de Bernardino Machado, lido no Congresso da República, na tomada de posse da presidência:

Saudando deste lugar o meu eminente predecessor, dr. Teófilo Braga, que deu logo ao Governo Provisório da República o auspicioso prestígio do seu grande nome mundial, apresento ao soberano Congresso os protestos enternecidos do meu elevadíssimo reconhecimento pela suprema investidura que se dignou outorgar-me, tanto mais honrosa quanto mais grave é o solene momento que atravessamos. Sem embargo das resistentes dificuldades herdadas, muitas das quais dir-se-iam já irredutíveis, íamos afirmando eficazmente a acção salvadora do novo regime, fórmula fiel do nosso progressivo disciplinamento popular, quando sobreveio a formidável guerra actual – em que terçam armas nações amigas, uma delas mesmo nossa inseparável aliada – abrindo perante nós um período mais que difícil, inquietante para a obra de restauração social que iniciámos. Não haverá, contudo, provação que possa abater-nos; ou humilhar-nos, se, com firme hombridade, pusermos abnegadamente, como nos cumpre, o dever colectivo, que é também o interesse comum, da defesa interna da nação acima de todas as nossas disputas e contenções divisórias. Comprovemos bem alto o nosso civismo, para que deste penoso lance de ansiedade e de sacrifícios saiamos moralmente robustecidos para melhor prosseguirmos, sem o mínimo desdoiro, a realização, tão contraminada pela reacionária decadência monárquica, do destino inconfundível que a história traçou ao povo heróico, que, colocado na vanguarda da Europa, teve o arrojo imortal de ir, à sua frente, implantar pelo mundo inteiro a definitiva hegemonia da sua civilização. O acolhimento, de feliz augúrio, dispensado, dentro e fora do país, à eleição presidencial, enchendo-me a mim da mais confortadora gratidão, representa certamente o aplauso geral ao propósito de pacificação política que se viu nela, e, portanto, uma expectativa confiante na inquebrantável solidariedade dos nossos corações patriotas. E essa confiança é um verdadeiro mandato imperativo. Orgulhosos de o merecermos, com o pensamento em todos os nossos concidadãos de aquém e de além-mar, sobretudo naqueles que mais necessitam do carinho e amparo governativo – o povo, a mulher e a criança – conclamemos, com fé ardente, inextinguível, o verbo sagrado que resume esperançosamente os mais nobres anelos da alma nacional.
Viva a República Portuguesa!


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A Cruz Vermelha em V. N. de Famalicão (1916)


Fonte:
www.ordens.presidencia.pt
O Presidente da República Bernardino Machado na Câmara Municipal de Lisboa, no seu segundo mandato (1925-1926), coloca a insignia de Grande-Oficial de Cristo na bandeira da Sociedade Portuguesa da Cruz Vermelha, nas comemorações do 9 de Abril (Fonte, "Diário de Notícias")

Para o Dr. Manuel Sá Marques, mais uma crónica destes tempos conturbados

Aquilo que poderia a segunda festa cívica de solidariedade em V. N. de Famalicão, em tempos de guerra, cuja receita seria em favor da Cruz Vermelha, tal não aconteceu. Houve pelo menos duas tentativas. O primeiro apelo surgiu em 30 de Abril e os famalicenses poderiam ler na seguinte crónica intitulada “Pela Patria” que “agora que por todo o lado se promovem subscrições e festas para o fim humanitário da Cruz Vermelha obter os recursos exigidos pela sua missão de altruísmo”, o autor da crónica, sem identificação, diz que “Famalicão não deve esquecer-se de seguir esse nobre exemplo de patriotismo. / Porque não se processam recursos para um festival no Olímpia, cujo produto reverteria para os feridos em campanha?” No mesmo dia, Manuel Pinto de Sousa, na sua crónica “Trabalhar” faz o mesmo apelo, pedindo “às damas de Famalicão” toda a cooperação para a Cruz Vermelha. Por seu turno, na crónica de 14 de Maio, com o título “Cruz Vermelha”, os famalicenses também vão ler o convite que o “Estrela do Minho” lhe dirige – “criando aqui uma sucursal da Cruz Vermelha, para a qual se promovam também auxílios”. Em 21 de Maio, a comunidade famalicense toma conhecimento que o novo presidente da assembleia-geral da Cruz Vermelha em Portugal é o general Joaquim José Machado, antigo governador de Moçambique e que em 4 de Junho saberá que o secretário da Cruz Vermelha esteve em Famalicão, mais propriamente na Tipografia Minerva, para a publicação de uma monografia, com muitas gravuras elucidativas, para os curativos a fazer aos feridos da guerra, uam espécie de manual de primeiros socorros. A primeira tentativa para a realização de uma festa no Olímpia para angariação de fundos para a Cruz Vermelha, sabem-no os famalicenses em 28 de Maio nos seguintes termos: “Por iniciativa de um grupo de gentis senhoras de Famalicão, está organizando uma comissão da qual fazem parte cavalheiros da maior respeitabilidade da nossa terra, que projecta organizar um espectáculo no Salão Olímpia – generosamente cedido pelo seu proprietário, sem remuneração alguma e cujo produto é destinado à Cruz Vermelha Portuguesa.” Entre os ensaios que entretanto se iam realizando, constando do programa coros de música e uma comédia, tudo executado por senhoras, passando pela criação de uma delegação em Barcelos e pela actividade organizativa e preparação das ambulâncias, os famalicenses sabem (em 18 de Junho) que, entretanto, já tinha partido para Moçambique “o pessoal sanitário para um hospital em Porto Amélia”, até que, em 23 de Julho, tomam conhecimento que o espectáculo já não se realizaria. A explicação é dada nos seguintes termos: “Dificuldades várias fizeram frustrar tão simpática iniciativa, para a qual aquelas senhoras se esforçaram com amor por levar a bom termo tão generoso empreendimento.” A segunda tentativa para uma festa de solidariedade cívica para a Cruz Vermelha em Famalicão, tomam conhecimento os famalicenses em 22 de Outubro com a seguinte notícia, anunciando a fundação da delegação: “Iniciaram-se os ensaios para o espectáculo que proximamente vai realizar-se no Salão Olímpia, em favor da Cruz vermelha, cuja delegação na nossa terra vai ser inaugurada dentro de poucos dias. / Sabemos que o nosso orfeão oferece o mais entusiástico auxílio para este espectáculo, cujo produto, no momento em que atravessamos não pode ter mais belo e oportuno destino.” Se a festa não se vai realizar, desconhecendo-se os motivos, a constituição e a fundação de uma comissão municipal da Cruz Vermelha vai concretizar-se informalmente neste ano. Em 3 de Setembro, no seu editorial, o “Estrela do Minho” dá a conhecer aos famalicenses a criação da futura delegação da Cruz Vermelha em Famalicão, enaltecendo os fins altruístas da mesma instituição. A sessão preparatória realizou-se no salão nobre da Câmara Municipal em 19 de Novembro e a 26 de Novembro, em notícia publicada em 3 de Dezembro, os famalicenses ficam a saber que nessa sessão, presidida por Sousa Fernandes (secretariado por Delfim de Carvalho e António Dias Costa), este afirmou que “expôs à assistência qual o fim altruísta e humanitário da obra admirável da Cruz Vermelha, do socorro bendito que ela vai levar aos feridos da guerra, como ainda em qualquer calamidade pública, em tempo de paz. E de como Famalicão se dignifica secundando a sua obra benéfica toda abnegação e em benefício dos que do auxílio colectivo necessitam.” Os famalicenses ficaram também a saber que se lavrou em acta os trabalhos da sessão, a qual foi assinada por todos os assistentes, tendo sido enviada à sede da Sociedade da Cruz Vermelha, para que esta instituição desse a sua aprovação para a instalação de uma delegação em V. N. de Famalicão. Tal aconteceu em 1917. De salientar, é o facto das receitas do livro de Matias Lima “Pela Pátria”, que o próprio autor então disponibilizou , custando na época 200 réis, e podia ser encontrado na Livraria Lello & Irmão, no Porto, assim como em Famalicão na Casa Gaspar Pinto, terem sido doadas para a Cruz Vermelha Portuguesa.


domingo, 17 de agosto de 2014

A Cruzada das Mulheres Portuguesas e o "Estrela do Minho"

http://manuel-bernardinomachado.blogspot.pt/

Para o Dr. Manuel Sá Marques, esta pequena história da Cruzada das Mulheres Portuguesas por Vila Nova de Famalicão no ano de 1916

Apesar de não ser constituído um núcleo, ou uma sub-comissão, como assim pretendia a Secretaria-Geral da Grande Comissão, em V. N. de Famalicão, os famalicenses liam em 26 de Março a seguinte notícia, um tanto ou quanto atabalhoada a nível informativo, a propósito da constituição da Cruzada das Mulheres Portugueses, fundada em 27 de Março de 1916, com o título “Patriotismo Feminino”: “Senhoras da alta-roda, muitas de distintas famílias monárquicas, e a esposa do sr. Presidente da República, constituíram-se em comissões para angariar fundos para a Cruz Vermelha, inscrevendo-se como enfermeiras para tratamento de feridos portugueses. / Nobre exemplo é esse que muito honra as senhoras portuguesas e que desejamos seja fecundo de resultados como lição de patriotismo, nesta hora em que todo o auxílio é necessário à Pátria.” De facto, as senhoras não se constituíram em “comissões”, nem pretenderem angariar fundos para a Cruz Vermelha, mas sim, angariar fundos através da Cruzada das Mulheres Portuguesas para ajudar não só os soldados, como igualmente as famílias. Reunidas no Palácio de Belém, na tarde de 27 de Março, com a presença do Presidente da República, a sessão foi presidida por Elzira Machado e secretariada por Isabel Guerra Junqueiro Mesquita de Carvalho e por madame António Macieira. Segundo o “Diário de Notícias”, a 28 de Março, vários foram os objectivos da Cruzada das Mulheres Portuguesas, nomeadamente a constituição de sub-comissões por todo o país, assim como no Brasil e onde existirem colónias portuguesas; que por intermédio da Câmara Municipal de Lisboa se organizasse a cooperação de todas as câmaras municipais; solicitar ao presidente do ministério uma isenção postal para toda a correspondência e centralizar toda a actividade na assistência, por motivo da guerra. A Cruzada das Mulheres Portuguesas foi assim constituída: Presidente, Elzira Machado; Comissão Central, Joana Gomes Galhardo, Esther Norton de Matos, Maria Luísa Braancamp Freire, Ana de Castro Osório, Teresa Teixeira Queirós, Maria Leonor Correia Barreto, Leonilde Vignaut Gomes, Amélia Leote do Rego, Adelaide Menezes Fernandes Costa, Raquel Freire Oliveira Vicente Ferreira, Maria Oliva Aquiles Gonçalves, Joana de Vasconcelos, Etelvina Pereira de Eça, madame António Macieira, Virgínia Sousa Gaspar, Raquel Simas, madame Alfredo da Cunha, Ema Marques da Costa, Angelina Azevedo Gomes Shirley e madame Santos Lucas. Na Cruzada das Mulheres Portuguesas, as sub-comissões funcionaram com a assistência da Secretaria-Geral da Grande Comissão, sendo responsável madame António Macieira. O que é curioso foi nunca ter aparecido na imprensa famalicense e, em especial, no “Estrela do Minho”, um apelo para a constituição da Cruzada das Mulheres Portugueses em V. N. de Famalicão, tal como aconteceu com a Cruz Vermelha Portuguesa, enquanto que a comissão municipal da Junta Patriótica do Norte, por seu turno, foi constituída logo de imediato. A Cruzada das Mulheres Portuguesas seria notícia por mais duas vezes, nomeadamente em 30 de Abril, a propósito da lotaria patriótica, aprovada pelo parlamento em 27 de Abril, e em 23 de Julho, ainda a propósito da mesma lotaria patriótica, com a indicação dos respectivos prémios. Os famalicenses irão ler em 21 de Maio, na crónica de Manuel Pinto de Sousa “Trabalhar” o seguinte:


As mulheres portuguesas estão dando o nobre exemplo de uma cruzada altamente simpática, da qual resulta benéfico auxílio aos soldados portugueses que sejam feridos em campanha e também de socorro às famílias pobres dos soldados mobilizados. / Por todo o país este apelo do belo sexo despertando a maior simpatia em todas as criaturas, para quem não é indiferente o amor pátrio e com ele o relativo conforto aos que pela pátria vão arriscar a vida. / É consolador para todos nós a propaganda que as senhoras estão fazendo desde as grandes cidades aos mais pequenos povoados, para a obtenção de donativos em dinheiro, roupas e pensos para os nossos soldados em campanha, que podemos ser todos nós, que à Pátria devemos a defesa da sua existência. / Nessa obra eminentemente dignificadora, confunde-se num complexo de bondade fraterna todos os credos políticos, para só existirem portugueses dignos desse nome, na santa confraternização que deve ser o apanágio de todos os corações bem formados, dos filhos de uma pátria que quer viver com honra.

sábado, 16 de agosto de 2014

Junta Patriótica do Norte em Famalicão


Formada logo a seguir no Porto à declaração de guerra, tendo como fim a propaganda patriótica, a qual teve como objectivo a mobilização, a Junta Patriótica do Norte realizou em V. N. de Famalicão no dia 26 de Março, segundo o título do “Estrela do Minho”, uma “Conferencia Patriotica”, às 15h00, no Salão Olímpia, com a presença de José Maria de Oliveira, Mário de Vasconcelos e Sá, Ribeiro Braga e o académico Alexandre Córdova. Ao mesmo tempo, e no mesmo dia, a Junta Patriótica do Norte fazia várias conferências em algumas vilas e cidades do norte do país, nomeadamente Ovar, Penafiel, Amarante, Ermesinde, Valadares, Paços de Ferreira, Santo Tirso, entre outras, tendo realizado já algumas no Porto. Os famalicenses liam que “como sempre a nobre cidade do Porto, logo em seguida à declaração de guerra da Alemanha a Portugal e por iniciativa dos seus homens mais eminentes, resolveu promover conferências patrióticas em todo o norte do país.” Mais à frente: “Dá-nos a Junta Patriótica do Norte um belo acto de civismo, de amor pátrio, que deve ser secundado com núcleos em todas as vilas e cidades, pois trata-se da defesa e da honra da Pátria comum ameaçadas.” Faz-se um apelo à participação dos famalicenses, os quais conhecem a comissão nomeada para receber a delegação da Junta Patriótica do Norte, constituída por Carlos Filipe Pereira Bacelar, administrador do concelho; Zeferino Bernardes Pereira, presidente da câmara; José de Azevedo e Menezes, Daniel Augusto dos Santos, Álvaro Mendes Côrte-Real e Ernesto Lopes Guimarães. Um dos propósitos do editorial a que tenho feito referência, a constituição, do dia 26 de Março, de uma sucursal da Junta Patriótica do Norte em V. N. de Famalicão, teve a sua efectivação no mesmo dia. De facto, a Comissão Municipal de V. N. de Famalicão da Junta Patriótica do Norte ficaria assim constituída: Duarte Vasco de Magalhães Aguiar, Delfim de Carvalho, Ernesto Lopes, Jaime Valongo, Álvaro Côrte-Real e Alfredo Costa. O que se passou nesse dia, sabemos pelo editorial de 2 de Abril, estando o Salão Olímpia “com uma enorme concorrência de pessoas de todas as classes sociais”, começando a sessão pelas 15h00 da tarde, conforme o programado. Abriu a sessão Carlos Bacelar, propondo para a presidência da mesa José de Azevedo e Menezes, que proferiu as seguintes palavras: “muito reconhecido, agradecer a prova de consideração que a assembleia lhe deu, escolhendo-o para aquele lugar. Saúda os oradores que se inscreveram, louva a missão altamente patriótica que se impuseram e termina da seguinte maneira: «desde a beligerância entre Portugal e a Alemanha é um facto, todos os partidos políticos se devem unir, abatendo bandeiras partidárias e erguendo bem alto a bandeira da pátria, que deve pairar acima de todas as outras.» Dos discursos seguintes, os famalicense leram os seguintes resumos: “O sr. dr. José Maria de Oliveira, falando em seguida, mostra a urgente necessidade da nossa preparação militar. Refere-se ao auxílio que Portugal tem prestado à nossa aliada, a Inglaterra, cedendo-lhe armas e munições. Diz que o bondoso povo do Minho há-de saber mostrar que ama a sua Pátria, e diz finalmente que, para completa união sagrada, se devem respeitar as suas crenças religiosas. / O sr. dr. Mário de Vasconcelos e Sá alude à crise das subsistências e afirma que a Junta Patriótica do Norte trabalha para que dentro em breve haja milho necessário para consumo do povo. / Entra depois no assunto da beligerância luso-germânica, que tratou brilhantemente. / O sr. Alexandre de Córdova fala em nome da Academia do Porto, recebendo no final do seu discurso fartos aplausos. / Por último, falou o sr. dr. Domingos Ribeiro Braga, professor do Liceu Alexandre Herculano, do Porto. / Foi um belo discurso de que não podemos dar uma pálida ideia. O orador, muitas vezes interrompido com ruidosas salvas de palmas, falou com grande erudição e entusiasmo.” O “Estrela do Minho” publicaria quatro manifestos da Junta Patriótica do Norte, intitulado “Ao Povo Portuguez”, respectivamente em 21 de Maio, em 4 de Junho, em 24 de Junho e, finalmente, em 2 de Julho.


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

"O Cigarro do Soldado" 1915



Com a actuação e a visita do Orfeão Povoense, em 15 de Abril, a comunidade famalicense vai unir-se na primeira festa cívica e cultural de benemerência para os soldados portugueses em África, na qual então participaram os alunos das escolas oficiais de Famalicão, com um Orfeão Infantil, sob a direcção de Adolfo Lima e com três comédias: “A Sementeira”, “A Primavera” e “A Desfolhada”. A 28 de Março os famalicenses leram a seguinte notícia no jornal "Estrela do Minho": “Estão adiantados os trabalhos para a realização desta festa que deve causar entusiasmo, não só pelo fim altruísta a que se destina, mas também porque o programa é quase todo desempenhado por crianças. / Haverá números cantados pelos mesmos minúsculos actores e ainda outros números de sensação que oportunamente serão anunciados.” Com este programa a causar expectativa, os famalicenses saberão que a Banda dos Bombeiros Voluntários irá participar no acontecimento e que as receitas do sarau cultural e artístico que metade será entregue “ao Grupo Patriótico de Senhoras Lisbonenses” e a outra “à subscrição aberta em favor do Cigarro do Soldado”. O altruísmo dos famalicenses e como decorreu a mesma festa, sabem-no em 23 de Maio, numa notícia transcrita da “Ilustração Nacional”, do Porto, nos seguintes termos: “Foi uma festa brilhantíssima ultimamente realizada no Salão Olímpia de Vila Nova de Famalicão e cujo produto se destina aos nossos soldados em África. / A Comissão composta por distintíssimos cavalheiros daquela Vila cujos retratos damos, viu coroada do mais completo êxito os seus esforços. / O orador da festa foi o sr. Amadeu Mesquita, que falou com subido entusiasmo sobre o valor dos nossos soldados em heroísmo da raça portuguesa. / O orfeão infantil houve-se à maravilha, sob a direcção habilíssima do sr. Adolfo Lima. / Brilhantes foram também os trechos que a ilustre pianista e professora sr.ª D. Ester Brandão executou com notável mestria e sentimento, uma vez mais confirmando os seus méritos, ainda há pouco tão aplaudidos num concerto notável, realizado naquela Vila. Uma linda festa, enfim, a cuja intenção a “Ilustração Nacional” presta a sua homenagem.” Regista-se que a referida comissão de cavalheiros era constituída por Francisco Maria de Oliveira e Silva, José Robalo Ferreira, Adolfo Lima, Alípio Augusto Guimarães e Amadeu Mesquita.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

7 Agosto 1914

Para o Dr. Manuel Sá Marques, com o meu abraço de fraterna amizade, sempre saudoso!



"O Congresso ouviu a declaração do chefe do Governo e concedeu-lhe, com o aplauso de Afonso Costa, o apoio sem reservas de Brito Camacho e a advertência fiscalizadora de António José de Almeida, os «plenos poderes» por ele solicitados (ou a «arma terrível da ditadura», como disse Machado Santos) para apoiar a Inglaterra, em tudo o que fosse necessário, no conflito; no mesmo dia, Bernardino Machado convocou também o Senado, onde fez o mesmo pedido e teve o apoio unânime quer dos senadores da esquerda (Estêvão de Vasconcelos, quer dos senadores das direitas republicanas (Miranda do Vale, Feio Terenas) e dos independentes (Pedro Martins)" (Norberto Ferreira da Cunha)

 Sr. Presidente: a nossa vida nacional é, pelas suas condições geográficas e tradicionais, intensamente internacionalista. Daí a repercussão que todo o abalo lá de fora produz sempre entre nós. Mas, felizmente, graças à prodigiosa laboriosidade da nossa gente e à proba administração republicana, que tem sabido valorizá-la, essa repercussão no domínio económico e financeiro não nos perturba, porque possuímos recursos próprios bastantes para nos tranquilizarmos. E se, em todas as horas graves da nossa história, foi o povo quem imperterritamente assegurou a honra e o prestígio da Pátria, mais do que nunca devemos confiar nele, quando é ele mesmo que, sem embargo de ninguém, governa a nação. (Apoiados calorosos e repetidos).
Sr. Presidente: logo após a proclamação da República, todas as nações se apressaram a afirmar-nos a sua amizade, e uma delas, a Inglaterra, a sua aliança. (Novos apoiados). Por nossa parte, temos feito incessantemente tudo, para corresponder a essa amizade, que deveras prezamos, sem nenhum esquecimento, porém, dos deveres de aliança que livremente contraímos (apoiados calorosos), e a que em circunstâncias alguma faltaríamos. (Muitos apoiados). Tal é a política internacional de concórdia e de dignidade, que este Governo timbra em continuar, certo do que assim solidariza indissoluvelmente os votos do venerando Chefe do Estado, com o sentimento colectivo do Congresso e do povo português. (Muitos e repetido. apoiados)