terça-feira, 19 de agosto de 2014

V. N. de Famalicão e a Eleição Presidencial (1915)

Hemeroteca Digital
"Ilustração Portuguesa", n.º 501 (27 Set. 1915)

Para o Dr. Manuel Sá Marques, mais um apontamento histórico por Vila Nova de Famalicão do já ido ano de 1915.

A vida vai decorrendo entre os famalicenses, quando em 28 de Junho tomam contacto com a terceira série do jornal “O Sorriso”, com o subtítulo “quinzenario literario e humorístico”, tendo sido seu director Daniel Correia de Guimarães. Com uma periodicidade quinzenal, “O Sorriso” tinha a sua redacção e administração na Rua Adriano Pinto Basto e era impresso na Tipografia Aliança, de Joaquim José da Rocha, a rival da Minerva. Por seu turno, em Lisboa, Nuno Simões funda e dirige com João de Barros, na qualidade de Director-Gerente da revista, a “A Atlântida” e teve a colaboração, ao longo da sua existência, até 1920, de Bernardino Machado, do próprio Nuno Simões e de Júlio Brandão. De salientar os artigos sobre Camilo Castelo Branco de Jorge de Faria, Nunes de Azevedo e Visconde de Vila-Moura. É ainda neste ano que Nuno Simões publica “Gente Risonha”, Vicente Arnoso “Cantigas, Leva-os o Vento”, o jurista Eduardo Carvalho “Questões e Julgamentos” e Manuel da Silva Mendes, o nosso anarquista-taoísta, “A Pintura Chinesa”. Com a inauguração do balneário do Hospital de S. João de Deus, os famalicenses tomam conhecimento, através do jornal "Estrela do Minho", em 1 de Agosto da eleição presidencial, anunciando que Bernardino Machado e Duarte Leite são as personalidades que podiam a vir a ser eleitas. A 8 de Agosto, tendo lido já a 7 na “Gazeta de Famalicão”, os famalicenses leram que Bernardino Machado foi eleito Presidente da República e a 15 de Agosto saberão que visitará Famalicão. A crónica de Manuel Pinto de Sousa “Trabalhar” começa assim: “Está em Famalicão há alguns dias, o presidente eleito da República, o que nos apraz registar com desvanecimento. / Em Famalicão brincou a sua mocidade” e após considerações profissionais do Presidente eleito, termina dizendo: “Felicitando a nação pela acertada escolha dos seus representantes, Famalicão muito se ufana com orgulho, por ser o berço do sr. Dr. Bernardino Machado.” E na edição do dia 17 de Outubro, os famalicenses poderiam ler o discurso de Bernardino Machado, lido no Congresso da República, na tomada de posse da presidência:

Saudando deste lugar o meu eminente predecessor, dr. Teófilo Braga, que deu logo ao Governo Provisório da República o auspicioso prestígio do seu grande nome mundial, apresento ao soberano Congresso os protestos enternecidos do meu elevadíssimo reconhecimento pela suprema investidura que se dignou outorgar-me, tanto mais honrosa quanto mais grave é o solene momento que atravessamos. Sem embargo das resistentes dificuldades herdadas, muitas das quais dir-se-iam já irredutíveis, íamos afirmando eficazmente a acção salvadora do novo regime, fórmula fiel do nosso progressivo disciplinamento popular, quando sobreveio a formidável guerra actual – em que terçam armas nações amigas, uma delas mesmo nossa inseparável aliada – abrindo perante nós um período mais que difícil, inquietante para a obra de restauração social que iniciámos. Não haverá, contudo, provação que possa abater-nos; ou humilhar-nos, se, com firme hombridade, pusermos abnegadamente, como nos cumpre, o dever colectivo, que é também o interesse comum, da defesa interna da nação acima de todas as nossas disputas e contenções divisórias. Comprovemos bem alto o nosso civismo, para que deste penoso lance de ansiedade e de sacrifícios saiamos moralmente robustecidos para melhor prosseguirmos, sem o mínimo desdoiro, a realização, tão contraminada pela reacionária decadência monárquica, do destino inconfundível que a história traçou ao povo heróico, que, colocado na vanguarda da Europa, teve o arrojo imortal de ir, à sua frente, implantar pelo mundo inteiro a definitiva hegemonia da sua civilização. O acolhimento, de feliz augúrio, dispensado, dentro e fora do país, à eleição presidencial, enchendo-me a mim da mais confortadora gratidão, representa certamente o aplauso geral ao propósito de pacificação política que se viu nela, e, portanto, uma expectativa confiante na inquebrantável solidariedade dos nossos corações patriotas. E essa confiança é um verdadeiro mandato imperativo. Orgulhosos de o merecermos, com o pensamento em todos os nossos concidadãos de aquém e de além-mar, sobretudo naqueles que mais necessitam do carinho e amparo governativo – o povo, a mulher e a criança – conclamemos, com fé ardente, inextinguível, o verbo sagrado que resume esperançosamente os mais nobres anelos da alma nacional.
Viva a República Portuguesa!


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