sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A Imprensa e a I República em V. N. de Famalicão




Para as comemorações do 105.º Aniversário da Implantação da República em Portugal, a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão  organiza a exposição “A Imprensa e a I República em V. N. de Famalicão”, dando, assim, um contributo para a valorização e a projecção da História Local. Desta forma, pretendendo dar a conhecer a Comissão Municipal do Partido Republicano Português desde os seus tempos de propaganda até ao poder, a exposição “A Imprensa e a I República em V. N. de Famalicão” pretende também demonstrar as dificuldades pelas quais os republicanos famalicenses passaram até ao 28 de Maio de 1926.
 Numa primeira abordagem, o que convém questionar é se, de facto, o republicanismo em V. N. de Famalicão através da imprensa, na divulgação do seu ideário, teve o seu efeito prático. Na realidade, num primeiro momento, quando Sousa Fernandes em 1909, na inauguração do Centro Republicano Dr. Bernardino Machado, salienta a importância dos centros republicanos como meio de propaganda e de instrução, foca, enquanto instrumentos para tal fim, o jornal, o livro e a conferência. Contudo, pretende-se aqui enunciar cinco áreas concretas à volta da imprensa famalicense, entre o período histórico da última década da monarquia e os anos da I República, a saber: os periódicos republicanos, os periódicos de transição, os periódicos informativos e noticiosos, os periódicos literários e humorísticos e os periódicos associativos. Se no caso dos periódicos republicanos a caminhada teve início de forma simplista com “A Egualdade” (1885), o ideário republicano justifica-se com a “Nova Alvorada” (1891-1903) perante as comemorações das figuras gradas da cultura nacional e internacional (e mesmo locais) e o jornal “O Porvir” (1895-1897, 1906-1907 e 1910-1914), num combate anti-jesuítico e catolicista. Desta forma, primeira conclusão que se pode retirar é da aposta, numa primeira fase, por parte dos republicanos famalicenses, no discurso cultural, face ao discurso político, este já acentuado, numa segunda fase, com “O Porvir”. Face à irregularidade deste jornal, os republicanos evolucionistas de V. N. de Famalicão publicariam o “Desafronta”, com Francisco Maria de Oliveira e Silva, um dissidente da Comissão Municipal do Partido Republicano Português, e, só muito mais tarde, nos anos 20, iria surgir “O Clarão” (1920-1921), o porta-voz do operariado do concelho famalicense, e o semanário republicano “O Democrata” (1922-1923), ambos tendo na frente a figura de António Gonçalves Branco (1891-1972). Como se vê, tal como a nível nacional, as cisões partidárias do Partido Republicano Português tiveram não só influência na constituição de novas comissões municipais, como igualmente na formação dos seus órgãos de imprensa, caso dos evolucionistas e dos radicais. Estes, em 1925, constituíam não só a Comissão Municipal do Partido Republicano Radical, como igualmente o seu órgão de propaganda com o título “O Minhoto”. Por seu turno, e nos periódicos de transição, e já na I República, há, indiscutivelmente um nome que convém reter, o de Joaquim José da Rocha (1874-1930), tipógrafo e o patrão da Tipografia Aliança. De facto, e face à imprensa republicana, desde 1899 que o Partido Regenerador contou com três títulos, tendo sido o de maior longevidade “O Regenerador” (1899-1910), já se realçando no jornal então fundado por Monsenhor Santos Viegas, Joaquim José da Rocha, director e proprietário. Já na parte final da monarquia, os regeneradores famalicenses publicavam mais dois títulos efémeros, nomeadamente o “Notícias de Famalicão” (1910), sendo director Guilherme da Costa e Sá e na administração encontrámos o nome de António Maria Pereira (1878-1953), franquista em 1907, então jovem professor, e o “Novidades de Famalicão” (1910-1912), tendo como director e redactor principal Manuel José Rodrigues, incorporando-se mais tarde, na I República, na comissão municipal do Partido Republicano Liberal. Por outro lado, por parte do Partido Progressista, a comunidade famalicense deparava-se com o jornal “O Famelicense” (1908-1914), destacando-se o nome de José Maria da Graça S. de Sousa Júnior.
Se, em parte, os republicanos famalicenses contavam com o “Estrela do Minho” (1895-1969) de Manuel Pinto de Sousa, o fundador da Tipografia Minerva, como seu editor, proprietário e director, dando uma marca pessoal de político republicano laico e de independência e estando presente do princípio ao fim nas comissões republicanas-democráticas famalicenses, os monárquicos e os conservadores, assim como alguns dissidentes republicanos, particularmente oriundos dos evolucionistas, tiveram em V. N. de Famalicão o seu porta-voz incontestável, Joaquim José da Rocha. Para além de ter sido proprietário do semanário independente “Aptas” (1910), ao lado de Elpídio Brandão Peixoto (director e editor), o mesmo sucedendo com “A Paz” (1910-1911), surge em 1912 com a “Tribuna”, aqui já como editor e proprietário, secundado agora por Abílio Pereira de Araújo como director. Perante a efemeridade destes três títulos, será com a “Gazeta de Famalicão” (1914-1919), denominando-se “semanario monárquico”, e com “A Paz” (1919-1930), designando-se como “semanario conservador independente”, estes dois últimos títulos de maior longevidade, que Joaquim José da Rocha, de uma forma ou de outra, elabora não só o seu percurso ideológico, como igualmente o dos monárquicos e dos conservadores famalicenses, alcançando o seu apogeu com o pimentismo, na vitória das eleições municipais de 1917, no sidonismo e na monarquia do norte, numa constante reivindicação aos valores de uma “pátria” já ida e em constante remodelação.
Ao lado destes periódicos informativos e noticiosos, dos republicanos e de transição, a imprensa em V. N. de Famalicão toma um outro rumo, nomeadamente o literário e o humorístico, sem esquecer, como é óbvio, a cultura sempre presente nas páginas do “Estrela do Minho”, pontificando Camilo Castelo Branco e a Casa de Seide. No primeiro caso, conta-se nos seus corpos directivos e redactoriais personalidades conservadoras, oriundas do monarquismo franquista e de regeneradores, ao lado de uma nova geração que então começava a dar os seus primeiros passos nas lides jornalísticas. Neste último caso, temos o quinzenário humorístico, literário e noticioso “O Sonho” (1915-1916), estando aqui como editor Alexandrino Costa e na direcção o então ainda jovem republicano Alberto Veloso de Araújo, “O Pandilha” (1913-1914) e as três séries de “O Sorriso” (1909, 1912 e 1915), pontificando nomes como Daniel Correia Guimarães, António Maria Pereira, Joaquim Fortunato de Almeida, Alfredo Saraiva Sampaio e o de Francisco Mesquita de Araújo; e se já o “Novidades de Famalicão” em 1911 publica “O Sorriso” em seis números, uma página literária dedicada às damas famalicenses, sendo responsável A. Fontes, tais jornais, diga-se, sem excepção, radicalizam-se numa estética naturalista.
Surgem-nos, finalmente, os periódicos associativos, destacando-se indiscutivelmente “A Lavoura do Minho” (1912-1925), órgão de imprensa da Associação de Agricultura Famalicense, esta criada em 1912 e transformada em Sindicato Agrícola em 1913. No âmbito da ideologia republicana para a defesa e a divulgação da agricultura, destacaram-se nomes como os de Duarte Maria Menezes, Joaquim Moreira Pinto e Guilherme da Costa e Sá (integrou a equipa do jornal regenerador “Novidades de Famalicão”) e, no fim deste jornal, surgiria em Landim “O Guia do Agricultor” (1925-1935), com nomes como os de Abílio Gomes da Costa, Augusto Padrão e António Cândido de Sousa, conservadores.
Com a criação do Orfeão Famalicense (1916), surgiria o título “O Orfeonista” (1916-1917), com nomes como Alexandrino Costa e Mário Lima na administração, redactor-chefe Alberto Veloso de Araújo e tinha uma direcção de propaganda: ao lado dos já nomeados, acrescenta-se os de António Maria Pereira e Carlos Alberto Oliveira.
Paralelamente, o Grupo Desportivo Famalicense, que nascia no ano de 1922, fundava no mesmo ano “Vida e Sport”, sendo seu proprietário e editor Uriel Dias Marques.
Concluindo, se num primeiro momento o ideário republicano se impôs na comunidade famalicense através da imprensa, particularmente pela cultura, num segundo momento é clarividente a projecção conservadora e monárquica, que suplantará a imprensa republicana. Indiscutivelmente, que as consequências serão desastrosas.









sábado, 8 de agosto de 2015

O Centenário da Eleição Presidencial - Bernardino Machado (1915-1917)



Inaugurada a 7 de Agosto, encontra-se no Museu Bernardino Machado (V. N. de Famalicão) a exposição com o título “Bernardino Machado: Centenário da Primeira Presidência”, aberta ao público até ao próximo dia 21 de Setembro de 2015. Eleito a 6 de Agosto de 1915, verificando-se a tomada de posse a 5 de Outubro do mesmo ano, no âmbito do V Aniversário da Implantação da República em Portugal, a exposição “Bernardino Machado: Centenário da Primeira Presidência” é composta por recortes de imprensa, bilhetes-postais, fotografias e de manuscritos de Bernardino Machado. Esta documentação, do espólio particular de Bernardino Machado, à guarda do Museu e do Município de V. N. de Famalicão, compreende a eleição e o acto presidencial, a tomada de posse, as actividades oficiais, as problemáticas da censura à imprensa e a pena de morte, a viagem presidencial, o sidonismo e a nova situação política nacional, a partida de Bernardino Machado para o I Exílio na Estação da Trindade e, finalmente, a referência à discussão no Congresso da República a propósito da renúncia presidencial. Se, num primeiro plano, entre o acto eleitoral e a tomada de posse, numa viagem temporal e numa conjugação estética entre a fotografia e os recortes de imprensa, o viajante à exposição irá encontrar jornais de âmbito local, nacional e internacional, de vários quadrantes políticos; num segundo plano, por seu turno, surge igualmente uma viagem perante as actividades oficiais de Bernardino Machado, enquanto Presidente da República. Nestes casos, temos jornais como “O Povo” (Abrantes), “A Evolução” (Vila Real), “O Liberal” (Castelo Branco), “A Voz da Justiça” (Figueira da Foz), “Estrela do Minho” (V. N. de Famalicão), “República”, “Gazeta da Tarde, “A Época”, “A Folha de Lisboa”, “A Ilustração Portuguesa”, “O Século”, “O Radical”, “A Luta”, entre outros. Num plano internacional, o viajante encontra periódicos como “La Razón”, “Jornal do Brasil”, “The Times”, “O País”, “El Diário”, “El Tiempo”, “El Liberal”, “Ecos do Sul”, “Le Matín”, “Jornal do Recife”, “The African World”, “El Nuevo Diário, “O Imparcial”, “Nuevo Mundo”, abarcando praticamente todos os continentes. Das actividades oficiais de Bernardino Machado destacam-se, poderiam ser outras, a sua presença no lançamento da primeira pedra ao Monumento do Marquês de Pombal; a visita à exposição pedagógica da Escola Oficina n.º 1; à exposição bibliográfica na Biblioteca da Academia das Ciências; à exposição de roupas e agasalhos organizada pelo jornal “O Século”, para serem enviadas aos soldados portugueses; na presença do acto oficial da primeira pedra do Casino do Estoril; a visita à exposição de Sousa Pinto, assim como à de Higino Mendonça, no Salão da Ilustração Portuguesa; a visita à Direcção-Geral dos Trabalhos Geodésicos e Topográficos; à 13.ª exposição da Sociedade Nacional de Belas-Artes; à exposição de frutas de Moreira da Silva & Filhos, no Salão da “Ilustração Portuguesa”; no lançamento da primeira pedra, em Cascais, do regimento de Infantaria 19; a presença no Quartel dos Marinheiros, na cerimónia do juramento da Bandeira, perante 400 voluntários da Armada; a visita à Fábrica de Pólvora, em Chelas, ou a sua presença no acto fundacional da Cruzada das Mulheres Portuguesas, no Palácio de Belém, em 27 de Março de 1916, tendo sido eleita presidente por unanimidade Elzira Dantas Machado, segundo o recorte do “Diário de Notícias”, de 28 de Março do mesmo ano. Uma carta de Bernardino Machado para Afonso Costa, a propósito da aquisição dos navios alemães (com a data de 7 de Março de 1916), entre outros documentos manuscritos e dactilografados (estes com correcções), com referência à censura da imprensa e à pena de morte (temas fracturantes da presidência bernardiniana, assim como situações de crise político-social), assim como folhas volantes e recortes de imprensa, serão outros momentos que o viajante da exposição poderá apreciar e reviver numa documentação única e original.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A Imprensa Famalicense e a Eleição Presidencial de Bernardino Machado em 6 de Agosto de 1915


Para o Dr. Manuel Sá Marques, esta reportagem da imprensa famalicense quando o avô foi eleito Presidente da República, em 6 de Agosto de 1915.

I

 “Eleição Presidencial”. In Estrela do Minho. Ano 19, n.º 1035 (1 Ago. 1915), p. 2.
Dentre os nomes dos candidatos à Presidência da República, cuja eleição se realizará em sessão conjunta do Congresso no dia 6 do próximo mês de Agosto, de novo se citava ontem com bastante insistência o do sr. Duarte Leite, actual embaixador de Portugal no Rio de Janeiro.


Não pode prever-se, é claro, o resultado da eleição presidencial, que bem pode dar-nos uma surpresa, à última hora; mas pelo que é lógico supor-se, são os nomes do dr. Bernardino Machado e Duarte Leite os que até agora se presume com maiores probabilidades de serem eleitos.

II
·         “Novo Presidente”. In Gazeta de Famalicão. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 54 (7 Ago. 1915), p. 1.

Está eleito o novo Chefe de Estado Entre todos os que se propunham ao sufrágio, venceu o sr. dr. Bernardino Machado, que já vinha fazendo tirocínio para o lugar desde os tempos da monarquia.
Para nós, a quem o facto nada interessa, pouco importa que tivesse saído eleito Pedro ou Paulo, Sancho ou Martinho, e nem sequer registaríamos o resultado se o caso se nos não prestasse a maravilha para sobre ele bordarmos ligeiras considerações.
Não iremos na corrente dos que despejam sobre o novo Presidente toda a casta de insultos, vendo na sua escolha um perigo para a Pátria, como se o Chefe do Estado, que preside mas não governa, pudesse influir ou modificar a situação política, concorrer para que a República, arrepiando caminho, deixasse o beco sem saída em que se meteu, para entrar na estrada larga do Direito e da Justiça de que se desviou logo ao nascer, como criança que, perdida num deserto, se vê cercada de feras que acabam por a devorar. O povo, numa daquelas sentenças que a lição dos tempos lhe ensinou, costuma dizer, como máxima infalível, que quem torto nasce tal e mal se endireita.
Não salientaremos também a incoerenciados que, não gostando do sr. dr. Bernardino, ajudaram, no entanto, a elegê-lo com o seu voto, só porque essa era a vontade do sr. Afonso Costa, tornado cacique político numa eleição que afinal já nasce com os mesmos defeitos que têm desmoralizado o sistema constitucional, que seria realmente o melhor se os homens o não estragassem. Quando o exemplo vem assim do alto, aparecendo vontades que se impõem, opiniões que se fazem respeitar e homens que para não desobedeceram às ordens dos chefes, para cumprirem os desejos ou os caprichos dos seus senhores, calcam os ditames da sua consciência e vão votar no candidato que mais prejudicial acham aos interesses da nação; quando para a eleição do Chefe de Estado, em que só têm voto os grandes da política, se procede desta maneira, nós queremos que nos digam que juízo podem fazer de tudo isto os pequenos, os que, pelas suas condições de vida ou pela sua pouca cultura não podem ou não sabem afirmar a sua opinião, e se eles amanhã não têm razão para se deixarem ir com quem mais lhes der ou prometer.
E nós podíamos perguntar aqui ao senador local, sr. Sousa Fernandes, se o homem  que agora ajudou com o seu voto a elevar à suprema magistratura do país, não será o mesmo que há um ano, o máximo, o fez quebrar a perna, com que vinha defendendo a República para se refugiar ferido e amuado na qua quinta de Mões.
Mas o resultado da eleição, bom ou mau – os republicanos que o digam – não nos interessa, como não interessa ao país.
Quando muito, pode ser uma festa de família, se não for antes um motivo de novas cisões, de mais lutas, talvez de novas revoluções.
Para os interesses da Pátria, para a paz interna, para a consolidação da República, tanto vale a cordialidade do sr. dr. Bernardino, como valeria o génio de Guerra Junqueiro, a diplomacia de Duarte Leite, a aristocracia de Braamcamp ou a democracia de Correia Barreto.
Se levar até ao fim o seu mandato, não lhe sucedendo como ao sr. Arriaga que o não pode concluir, ao abandonar o lugar, há-de reparar que deixa tudo como dantes, ou mais baralhado do que antes, em política, como em finanças, em ordem como em administração.
Ora, sendo assim, como é, traduzindo a eleição a vontade do país, mas os desejos do sr. Afonso Costa, e não podendo o Chefe de Estado influir na vida política e financeira do país, sempre queríamos que nos dissessem onde está a vantagem de termos um Presidente em vez de um Rei. As desvantagens há-de mostrá-las esta eleição.

III

·         “Presidente da República”. In Estrela do Minho. Ano 19, n.º 1036 (8 Ago. 1915), p. 1.             
Acaba de ser eleito presidente da República Portuguesa o sr. Dr. Bernardino Luís Machado Guimarães, egrégio professor, que à causa da República prestou o mais inteligente esforço.
É o eminente estadista quase nosso conterrâneo, pois em casa de seus pais aqui residiu e passou o melhor tempo da sua mocidade. Por isso Famalicão se orgulha desvanecidamente por ver um seu filho ilustre ascender às culminâncias de primeiro magistrado da nação.
Saudamos o grande cidadão português a quem nos quatro anos futuros estão confiados os destinos da pátria.
Mas não pode negar-se que o país tem disso enormemente prejudicado com as incursões realistas, pelas intentonas, e ainda pelas dissidências deploráveis entre os próprios republicanos.
Por isso nestes cinco anos tem estado entravado o programa da República.
Agora é indispensável que a lição dos factos passados traga a todos os espíritos intuitos de política serena para tratarmos todos do rejuvenescimento do país pelo trabalho.
Tem sido de sobressalto e de incertezas os cinco anos decorridos das instituições republicanas. Explica-se, é certo, o facto. Seria óptimo, que após o advento da República, todos os portugueses esquecessem divergências e se dessem as mãos para a obra pacificadora, iniciando esta […] as grandes reformas económicas que as necessidades da nação reclamam. Todas as revoluções deixam, por muito tempo ainda, os rastos dos dissídios políticos que provocavam o choque revolucionário.
Ao Dr. Bernardino Machado está destinada a honrosa mas difícil missão de pacificar a família portuguesa.
Se o eminente cidadão o não conseguir, conhecidos os seus grandes recursos conciliatórios e diplomáticos, a ninguém, por certo, será dado o prazer de prestar à família portuguesa o mais alto benefício que na hora histórica que atravessamos é lícito ambicionar.
Exigem-no o progresso e felicidade da nação e também o prestígio e consolidação da República.

IV

 “Dr. Bernardino Machado”. In Estrela do Minho. Ano 19, n.º 1037 (15 Ago. 1915), p. 1.
É esperado na sua casa desta vila, em Rorigo, o ilustre Presidente da República eleito sr. dr. Bernardino Machado.
Famalicão orgulha-se com a presença do seu iminente conterrâneo, que em Outubro vai tomar o honroso lugar de Chefe da Nação Portuguesa.
No estrangeiro, como em todo o país a eleição do novo Presidente da República tem disso recebida com agrado.
Segundo consta, no dia em que o sr. dr. Bernardino Machado tomar posse do cargo do Presidente da República, o que será feito com toda a solenidade, no dia 5 de Outubro, haverá parada militar, um grande jantar no palácio de Belém, para o qual será convidado o corpo diplomático, um grande bodo a todas as crianças pobres protegidas pelas juntas de paróquia, e uma tourada nocturna. 

V

   “Dr. Bernardino Machado”. In Estrela do Minho. Ano 19, n.º 1038 (22 Ago. 1915), p. 1.
Honra Famalicão com a sua presença, há alguns dias, o nosso ilustre conterrâneo e prestigioso presidente da República eleito, Sr. Dr. Bernardino Machado.
Tem vindo cumprimentado grande número de pessoas de Lisboa, que andam em excursão pelo Minho, outras do Porto, Braga e de Barcelos.
O sr. Marquês de Palamares, presidente da «Institucion Libre de Enseñanza», escreveu de Santander ao sr. dr. Bernardino Machado, em nome da mesma corporação, uma carta de calorosas felicitações pela sua eleição à presidência da República. Nessa carta lê-se o seguinte:
«Ao felicitar v. ex.ª, felicitamos também o país irmão que soube, em ocasião tão crítica, eleger para o representar quem, como v. ex.ª, reúne as maiores qualidades. Para nós, alunos da «Institucion», recordando sempre e em todos os momentos o nosso amado mestre D. Francisco Giner, a eleição de v. ex.ª para a direcção moral desse país a que ele tanto queria, traz-nos inúmeras recordações e faz-nos pensar no imenso prazer que ele teria sentido ao conhecer este facto.»
O sr. dr. Bernardino Machado também recebeu um telegrama de felicitações do sr dr. Ferreira Botelho, director e proprietário do «Jornal do Comércio» do Rio de Janeiro.

VI



  “Trabalhar… Dr. Bernardino Machado”. In Estrela do Minho. Ano 19, n.º 1038 (27 Ago. 1915), p. 1.
Está em Famalicão há alguns dias, o presidente eleito da República Portuguesa, o que nos apraz registar com desvanecimento.
Em Famalicão brincou a sua mocidade o professor eminente da Universidade de Coimbra, em cuja cátedra conquistou a admiração de nacionais e estrangeiros.
Deputado e ministro da monarquia, o Dr. Bernardino Machado descrente por essa instituição do levantamento do povo português, abraçou o partido republicano, do qual foi um dos apóstolos mais inteligentes e entusiastas, constituindo decisivamente para a implantação da República em 1910.
Fez parte do governo provisório, por ser um dos republicanos mais queridos do povo e todos conhecem a forma inteligente e patriótica como o grande estadista soube fazer reconhecer e respeitar pelas grandes nações a nascente República Portuguesa.
Foi o primeiro embaixador de Portugal na grande nação irmã do outro lado do Atlântico, O Brasil, por ser a mais autêntica figura para o entendimento entre os dois povos da mesma raça.
Quando os partidos, em acesa luta, menos se entendiam, foi o Dr. Bernardino Machado chamado a Lisboa para tomar conta do poder, conseguindo acalmar os dissídios políticos que tanto estavam prejudicando a nação.
Finalmente, na eleição presidencial deste mês, quase por unanimidade de votos é o Sr. Dr. Bernardino Machado eleito Presidente da República, o primeiro magistrado da nação portuguesa.
Felicitando a nação pela acertada escolha dos seus representantes, Famalicão muito se ufana com orgulho, por ser o berço do Sr. Dr. Bernardino Machado.

VII

  “Dr. Bernardino Machado”. In Estrela do Minho. Ano 19, n.º 1039 (29 Ago. 1915), p. 1.
O sr. dr Bernardino Machado, presidente eleito da República, recebeu de sir Artur Hardinge, antigo ministro de Inglaterra em Lisboa e actualmente embaixador em Madrid, a seguinte carta:
«É com uma viva satisfação que recebi a notícia da eleição de v. ex.ª à presidência da República, e peço-lhe que aceite por esta ocasião as minhas cordeais felicitações. Conservarei sempre a mais grata lembrança do acolhimento que v. ex.ª me dispensou logo após a minha chegada como ministro a Lisboa, e das horas tão agradáveis e cheias de interesse que tive o prazer de passar no seio da sua família. Desejo de todo o coração que o belo país onde v. ex.ª acaba de ser chamado a desempenhar a suprema magistratura, e do qual trouxe para sempre uma indelével recordação, goze dias felizes e prósperos e que as relações que há tantos séculos o unem ao meu se vejam cada vez mais estreitas e solidárias.»
O sr. Dr. Bernardino Machado tem continuado a receber felicitações das câmaras municipais de todo o país, tanto do continente como das colónias, além de muitas cartas do estrangeiro.

VIII
·    
 “Presidente da República”. In Estrela do Minho. Ano 19, n.º 1041 (12 Set. 1915), p. 1.
Dizem os jornais que as Câmara Municipais de muitos concelhos do país tencionam ir a Lisboa assistir à posse do eminente estadista eleito para a suprema magistratura do país. / Tudo merece o grande cidadão; e sendo Famalicão a sua terra, a nossa Câmara não deixará também de prestar esta homenagem ao sr. dr. Bernardino Machado, cujas altas qualidades muito honram a nossa terra, onde o iminente cidadão passou o melhor tempo da sua mocidade.

IX

·          “Normalidade”. In Gazeta de Famalicão. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 62 (2 Out. 1915), p. 1.
Com a subida do sr. dr. Bernardino Machado à presidência da República, parece que tudo se prepara para entrar na normalidade.
O sr. Machado dos Santos regressou do exílio, e o sr. Pimenta de Castro e os seus colegas de ministério preparam-se também, segundo os jornais para entrarem na metrópole.
É uma espécie de amnistia, como aquela que o sr. dr. Bernardino deu aos presos políticos no princípio do governo da cordialidade.
Simplesmente pode suceder como da outra vez: entradas de cordeiro e saídas de… leão.
Vamos a ver. Só o tempo saberá mostrar-nos se o sr. dr. Bernardino será sempre… Bernardino…


X

·         Maria Feyo  – “O Sr. Dr. Bernardino Machado”. In Estrela do Minho. Ano 21, n.º 1044 (3 Out. 1915), p. 1.
Dentro em dois dias, vai assumir o melindroso cargo de chefe do Estado o sr. dr. Bernardino Machado. E ser chefe duma Nação, é o mesmo que investir-se das graves responsabilidades de chefe de uma família numerosa, com todos os deveres de zelar pelas garantias do seu bem-estar moral e material. Não apreciarei o sr. dr. Bernardino Machado através da política. Sou uma revoltada contra todos os efeitos dessa praga desordeira das sociedades. Se em tese concordo que ela é um meio próprio ao funcionamento da constituição social das sociedades de hoje, na prática observo e deploro a sua acção destruidora, armada de mentira e adulação, aviltando caracteres, degradando consciências e incensando ídolos que muitas vezes são os Judas da Pátria e as sanguessugas do povo. É pois somente como chefe de família que me referirei ao futuro chefe da Nação, porque é essa a feição mais simpática e que mais admiro no sr. dr. Bernardino Machado. Muitas vezes tenho tido ocasião de me enternecer diante do espectáculo, que às horas da refeição frugal e precipitada que sua Ex.ª tomava quando Presidente do Conselho, toda a família o rodeava numa efusão de sugestiva ternura. As filhas do sr. dr. Bernardino Machado, que uma graciosidade modesta e simples reveste de atraente e especial encanto, abraçavam e beijavam à porfia, numa tocante expressão de amor, o Pai que, a seu turno, distribuía carícias e carinhosas palavras a esse bando alegre que representa a gentileza da mocidade em flor. Era então que, liberto do contacto dissolvente das paixões políticas, sobressaía a nobre feição do patriarca, e que entre o bafejo imaculado da candura, da bondade e da graça espontânea e juvenil a sua figura de ancião, viril e insinuante, incarnava a mais bela expressão da vida que se condensa no santo e puro amor da família.
Michelet dizia que todos os estadistas, ou dirigentes de uma Nação, deviam ter uma família bem organizada e onde reinasse a paz e a alegria, a delicadeza de sentimentos que exercesse o seu influxo retemperante e suave no carácter do homem em contacto com as asperezas rudes e violentas dos combates políticos.
[…]
A família é afinal o reflexo da sociedade. Mas para que ela seja o que deve ser, é preciso que a mulher seja na família o que tem sido a Esposa do sr. dr. Bernardino Machado. Respeitada e amada como senhora de pensamento e acção, ela tem sido a direcção da casa administrada com o tino e a energia que dispensam seu marido de agravar as fadigas políticas com outros encargos domésticos. Estas circunstâncias deve prender a atenção do chefe de Estado para o grave problema da reabilitação feminina. Napoleão 1.º afirmava que os males da França provinham da falta de educação da mulher, ocasionando a falta de boas mães. Mas não pode haver boas mães enquanto não se pense a sério no papel importante que a mulher tem de exercer na sociedade e se lhe reconheçam e respeitem as qualidades de valor, que não se revelam porque uma desumana repressão a converte em revoltada. Que o chefe do Estado assim o compreenda. E que na atmosfera doce e criadora do amor de família, o seu espírito se ilumine de generosos reflexos para ser dentro de uma obra de concórdia, de bondade e de progresso. Um bom chefe de Estado como tem sido bom chefe de família.

XI

·         “Retalhos. O mais ilustre filho de Famalicão”. In Gazeta de Famalicão. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 64 (16 Out. 1915), p. 1.

Era assim que a Câmara chamava ao sr. dr. Bernardino Machado, nos convites que fez distribuir para a manifestação de Segunda-Feira.
Quanto a ilustre, que não é propriamente a mesma coisa que ilustrado, não foi ainda resolvido aquele problema que «A Nação» propôs sobre a linhagem de S. Ex.ª nem nos parece que um regime democrático deva preocupar-se com o sangue azul dos seus chefes; quanto a ser filho desta terra, lembrámos à Câmara que S. Ex.ª é tanto nosso conterrâneo como o seu presidente, pois segundo documentos autênticos que os próprios jornais republicanos têm trasladado, o chefe de Estado de Portugal nasceu no Rio de janeiro em 28 de Março de 1851 e, quando foi aluno da Universidade de Coimbra, ainda S. Ex.ª se considerava carioca, tendo nessa qualidade, assinado uma mensagem de congratulação que os estudantes brasileiros entregaram ao monarca do seu país, quando D. Pedro II visitou Coimbra. A não ser que a Câmara queira concluir como a “Estrela do Minho” que S. Ex.ª é nosso conterrâneo porque passou a sua mocidade em Famalicão!
De maneira que o director da “Estrela”, que veio também em rapaz para Famalicão, deixou por esse facto de ser natural de Vilar de Maçada, para passar a ser nosso conterrâneo também!
E ele fala como se realmente o fosse… Ele e o sr. Presidente da Câmara…

XII

·         “Chronicas Sem Arte”. In Gazeta de Famalicão. V. N. de Famalicão, Ano 2, n.º 64 (16 Out. 1915), p. 1.

Tivemos aqui há dias o sr. Presidente da República. Achamos bem que o primeiro passeio dado por S. Ex.ª, depois da sua ascensão aos pináculos presidenciais, fosse a esta terra impropriamente chamada sua, onde tem certamente enraizadas recordações, e saudades dos tempos idos e de pessoas queridas. Não sabemos se Famalicão viu nessa visita uma honra por aí além e se, na pessoa do sr. Bernardino Machado, via ou vê o Messias desejado, capaz de pacificar a família portuguesa, tão dividida, chamando-a à vida operosa e sadia de outrora interessando todos os cidadãos na resolução dos magnes problemas sociais e económicos que nos assoberbam e avassalam.
Não sabemos…
Não vimos, é certo, como outrora, um certo calor de entusiasmo nas manifestações e uma espontaneidade vibrante na expansão do sentimento popular. Pareceu-nos tudo aquilo nimiamente oficial, demasiadamente protocolar, sem alma, sem uma centelha daquela alegria minhota, tão vibrátil, tão ruidosa, tão portuguesa!
Não queremos tirar ilações desta frieza, nem concluir deste quase indiferentismo das massas…
Até a música, de ordinário tão sugestiva, nos quis parecer monótona, sem expressão, como que contrafeita, associando-se a uma festa em que falava a mais essencial condição para o ser, na verdadeira acepção do termo – o entusiasmo popular.
Demo-nos a prescrutar as razões do caso.
Não é o sr. Bernardino Machado a encarnação da cordialidade, a quinta-essência da amabilidade, da doçura, da mais encantadora simplicidade, quase a roçar pela ingenuidade infantil?
Não será S. Ex.ª uma alma cândida de pomba, sem ódios, sem malquerenças, sem pelos no coração?
Merece reparos a sua persistência, a sua quase obsessão, para chegar às eminências da cumeada política e social?
Porque não tem sido alvo de fervorosas e nativas alegrias populares, tanto da nossa gente, tanto da nossa raça, porquê?
Porque, entre o próprio elemento oficial, obrigatório, tem havido, por toda a parte, retraimentos, que são outros tantos protestos, outras tantas picadas na natural vaidade e orgulho do homem, elevado a tais grandezas?
Se os defeitos próprios lhe não alienam simpatias, evidentemente, sem torcer a lógica, alienam-lhas, os que o cercam, os que o inspiram, os que o elegeram, como instrumento das suas ambições, como garantia da sua impunidade, como escudo protector das suas pretensões de mando…
De sorte que é legítimo concluir que a antipatia e frieza com que tem sido recebido o novo Presidente, são um reflexo das antipatias e friezas inspiradas pelos homens que o empoleiraram na estofada cadeira presidencial, que, muitas vezes, lhe parecerá eriçada de espinhos…
Pelo que nos diz respeito, restringindo ao nosso pequeno meio estas considerações, ainda encontramos um motivo, a mais, para tal frieza.
Quando um amigo nosso, um cavalheiro geralmente estimado, um negociante honrado, um filho de Famalicão, se encontra preso como conspirador, simplesmente porque não sacrifica ao seu ideal o comodismo egoísta de tantos, que rastejam no sabujismo das adulações mais abjectas, havíamos nós de associar-nos a festas em honra daqueles que o perseguem, que o vexam, que o prejudicam nos seus interesses, e ainda mais nos seus carinhos, nos seus afectos de pai amantíssimo?
Lamentamos apenas que esse movimento de solidariedade na dor e na perseguição não fosse mais geral, não fosse absoluto.
Nem podemos perceber com os que associassem a tais festas colectividades de que aquele perseguido faz parte, como membro prestante, como auxiliar valioso!
Sinais dos tempos!













quarta-feira, 3 de junho de 2015

"Recortes da I Grande Guerra"



A exposição “Recortes da I Grande Guerra”, organizada pelo Museu Bernardino Machado de V. N. de Famalicão (cuja inauguração será no próximo dia 5 de Junho pelas 21h30) é constituída por fotografias, documentos, entrevistas, recortes de imprensa, manuscritos e textos dactilografados, bilhetes e cartões-postais, percorrendo a dimensão cívica e pública de Bernardino Machado enquanto Chefe de dois Governos (1914) e como Presidente da República (1915-1917). Pretende-se com a exposição “Recortes da I Grande Guerra” uma dinâmica original, isto é, mais do que mostrar e patentear documentos já conhecidos, relativamente à exposição organizada em 2009 “Bernardino Machado e a I Grande Guerra” (exceptuando um caso ou outro, como é com Verdun, na sua imagem simbólica e com documentação nova), perfilhou-se expor documentos originais do arquivo pessoal de Bernardino Machado, o qual tem sido doado ao Museu que tem o seu nome e ao Município de V. N. de Famalicão por alguns descendentes.
Desta forma, o primeiro quadro da exposição “Recortes da I Grande Guerra” abrange os governos de Bernardino Machado, realçando-se as sessões parlamentares de 7 de Agosto e de 23 de Novembro de 1914, nas quais se tomaram então as medidas necessárias para a intervenção de Portugal na I Grande Guerra ao lado dos Aliados, passando pelas polémicas institucionais (caso do telegrama de João Chagas, enquanto Ministro da Legação de Portugal em Paris), destacando-se igualmente o discurso manuscrito de Bernardino Machado na partida da primeira expedição para África. Por seu turno, enquanto que o segundo quadro faz referência ao Pimentismo (aqui se destacando indiscutivelmente os manuscritos inéditos de Bernardino Machado sobre Pimenta de Castro e a Revolução de 14 de Maio de 1915 (publicados agora na “Obra Política”, T. V), o terceiro quadro abarca documentação referente à actividade presidencial, destacando-se aqui a actividade diplomática com a imprensa estrangeira, principalmente França e Inglaterra. Neste caso, realça-se a publicação do jornal inglês “The Times” e a sua “History and Encyclopaedia of the War”, de Outubro de 1916, cujo número é dedicado na íntegra a Portugal, com a fotografia de Bernardino Machado na capa. O destaque vai também para os discursos manuscritos de Bernardino Machado referente às “Colónias” e a um outro com o título “Pátria e Exército”; as fotografias referentes ao Governo da União Sagrada, assim como a Sessão Extraordinária do Governo da República, na qual se declara guerra à Alemanha, em 10 de Março de 1916. Indiscutivelmente, que o quarto quadro surge na sequência do último, já que diz respeito à viagem presidencial de Bernardino Machado: Espanha, França, Bélgica e Inglaterra e recebido pelas mais altas individualidades. O destaque aqui vai para a reportagem fotográfica do fotógrafo presidencial Joseph Benoliel, assim como a reportagem jornalística do repórter presidencial Almada Negreiros, ou o documento oficial do Rei Jorge V a conceder a Bernardino Machado a “Grand Cross (Civil Division) of the Older the Bath”. Paralelamente, o quarto quadro será composto por fotografias aliadas à guerra, tais como a destruição de Ypres em vista área, por exemplo, ou dos soldados portugueses em exercícios, de instituições jornalísticas e oficiais como, por exemplo, Alfieri Picture Service, The Central Press Photos ou Topical Agency Press. Realça-se a curiosíssima e raríssima colecção de cartões-postais  de uma colecção editada pela empresa de Barcelona Chocolates Jame Box, com referências ilustrativas às expedições africanas, do ilustrador Chantecler. O sexto quadro, referente ao I Exílio de Bernardino Machado (1917-1919), é composto particularmente pelos seus manifestos contra o sidonismo, apresentando-se os manuscritos, os textos dactilografados e o caso exemplar das provas tipográficas “Aus Alliés”. Finalmente, enquanto que no sétimo quadro se fará referência ao Tratado de Paz, no oitavo, por seu turno, faz-se referência ao C. E. P., à imagem dos soldados portugueses no estrangeiro, às instituições de solidariedade social (caso da Cruzada das Mulheres Portuguesas), os momentos de propaganda, o regresso, o “Livro Branco” ou a problemática da pena da morte. Estes dois últimos quadros terão documentos, recortes de imprensa e monografias (por exemplo, as provas tipográficas que Ana de Castro Osório então enviou a Bernardino Machado, Presidente da República, para o Governo subsidiar a publicação do livro “Em Tempo de Guerra: aos homens e às mulheres do meu país”, 1917).

domingo, 3 de maio de 2015

O Nascimento do Futebol em V. N. de Famalicão


Clube de Caçadores
Primeiro campo de Futebol em V. N. de Famalicão
Sport Club de Caçadores de Famalicão

Se por prática poderemos entender qualquer actividade coerente e complexa da actividade humana cooperativa e estabelecida socialmente, o aparecimento do futebol e a sua respectiva organização institucional surgiram, efectivamente, em V. N. de Famalicão no já ano ido de 1916, propondo, nestas breves linhas, uma análise até 1926. Ora, se o aparecimento do futebol, assim como outras práticas desportivas, correspondem ao ideal republicano do desenvolvimento físico, outra prática teve a sua consistência no que diz respeito aos exercícios militares, no seu sentido pedagógico, em termos de preparação física e moral, então organizados pelo professor António Maria Pereira, na escola oficial da vila. Assim sendo, as primeiras notícias que aparecem sobre a prática do futebol em Famalicão é uma com o título “Foot-Ball”, de 30 de Janeiro de 1916 no “Estrela do Minho”: “Tem-se verificado muito esta diversão desportiva em Famalicão, onde todos os dias grande número de rapazes com ele se divertem. Até os pequenos nas ruas, a cada canto fazem imitações, brincando com este jogo, tão útil ao desenvolvimento físico.” Será neste ano, assim se presume, que nasce o Sport Club Caçadores, realizando-se a 2 de Junho, no Stand, uma festa desportiva promovida pelo mesmo clube. A comissão da respectiva festa foi a seguinte (partindo do princípio que poderiam ser os corpos-gerentes directivos): Horácio Garcia, Vladimiro Fernandes, Artur Areias, Álvaro Marques, Artur Macedo e António Areias. De realçar, o programa, o qual foi constituído em duas partes: corrida de 100 metros, lançamento de pesos, salto em comprimento, saltos em altura e corrida de resistência. A segunda parte foi, então, constituída pelo “match de foot-ball” entre o Foot-Ball Club de Braga e o Sport Club de Caçadores de Famalicão. Em 6 de Maio do mesmo ano, “A Gazeta de Famalicão” anuncia a existência de mais dois clubes: União Foot-Ball Famelicense (“que debuta no Campo do Tribunal”) e o Grupo Foot-Ball Portuguez, o qual não tinha ainda local para a prática desportiva.

Em 15 de Fevereiro de 1917, o “Estrela do Minho” noticia o aparecimento de mais um clube, o Sport Grupo Famalicense, pretendendo desenvolver o “Foot-Ball”, o ciclismo e o pedestrianismo. Se esta última actividade será novidade, outro tanto não será o ciclismo, já que existia em Famalicão organizado em 1912 com o Grupo Ciclista Famalicense, tendo sido, por outro aldo, fomentado pelo Ginásio Velo Club em finais do século XIX e na primeira década do século XX, participando nas Festas Antoninas. Conforme com a actividade das instituições, tal como foi com a Comissão Promotora da Venda da Flor, na angariação de fundos para os famalicenses, a comunidade assistia, por exemplo, a um “match de box”, na festa desportiva realizada em Junho de 1917. Do então Sport Club Famalicense conhece-se a seguinte direcção: João Dias, Manuel da C. Arantes, António A. de Pinho, Arlindo Guimarães e Rafael Cardoso da Cunha. Neste mesmo ano, os famalicenses conheceriam a nova direcção do Sport Club Caçadores, constituída por Arnaldo Folhadela Guimarães, Vladimiro Fernandes, Artur Folhadela de Macedo, José Alves de Carvalho e “Captain Geral” Artur Pinto Areias. A partir daqui , a prática institucional futebolística seria uma realidade em Famalicão, aparecendo em 1921 o Famalicão Sport Club; em 1922, o Grupo Desportivo Famalicense (constituindo no mesmo ano o Grupo Desportivo Infantil Famalicense) e em 1923 o Bairrista Sport (Campo da Berberia). O Futebol Clube de Famalicão ainda estava longe.

Amadeu Gonçalves

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

"Os Democratas de Braga"


"Os Democratas de Braga"

Amadeu Gonçalves



Para o Dr. Artur Sá da Costa
exemplo de cidadania e de coerência
com o meu abraço de amizade fraterna



“As memórias políticas aqui reunidas são as da desta geração que assiste à entronização de Salazar e á consolidação do Estado Novo, que enfrenta de cara destapada o ditador, rejeita e combate o regime, marcando uma fronteira de liberdade, defendida por uma trincheira de resistência e de oposição à barbárie totalitária.”

Artur Sá da Costa

Só a liberdade é a paz… Se amo a liberdade com tanto fervor, é mesmo, sobretudo, por ser ela a única força de ordem e de paz, a única força verdadeiramente fraternizadora.”

Bernardino Machado

O próximo dia 7 de Fevereiro de 2015 ficará para a História de Vila Nova de Famalicão: no Museu Bernardino Machado vai ser apresentado, por José Manuel Tengarrinha, o livro “os Democratas de Braga” (Edições Húmus), organizado por Artur Sá da Costa, Henrique Barreto Nunes e José Viriato Capela. A escolha do local para a apresentação do livro não poderia ter sido o melhor, já que Bernardino Machado representa essa luta simbólica e real contra a ditadura, melhor, contra as ditaduras: na grata expressão de Amadeu Carvalho Homem, Bernardino Machado é o inimigo público n.º 1 das ditaduras em Portugal, combatendo João Franco, Pimenta de Castro, Sidónio Pais e Oliveira Salazar. Dividido em “Testemunhos”, “Memórias Recuperadas” e em “Evocações”, o livro “Os Democratas de Braga” retrata a actividade da oposição democrática ao Estado Novo, entre a política e a cultura, representando, precisamente, essa trajectória bernardiniana. Com dez colaboradores de Vila Nova de Famalicão (Salvador Coutinho, Manuel Gouveia Ferreira, Joaquim Loureiro, Margarida Malvar, macedo varela, Armando bacelar, António Pinheiro Braga, Guilherme Branco, Manuel Cunha e Lino Lima) e com textos de outros colaboradores que abarcam outros concelhos (Fafe, Braga, Barcelos, Vieira do Minho, Terras do Bouro e Guimarães), o livro “Os Democratas de Braga” contém uma visão multidisciplinar, entre socialistas, comunistas e católicos, das actividades da oposição democrática perante o Estado Novo no Minho, dando novos contributos históricos para a investigação e a historiografia contemporânea. Conforme nos diz Artur Sá da Costa na sua introdução histórico e pedagógica numa contextualização da obra: “Desenganem-se aqueles que julgam que este conjunto de memórias e testemunhos políticos pouco acrescentem de novo […] ao debate e à análise histórico/político da ação das oposições no distrito de Braga.” De facto, se não há história sem memória, também não haverá história se não houver novos dados documentais e historiográficos para uma investigação multidisciplinar e da própria História. Neste âmbito, Vila Nova de Famalicão tem sido exemplar (assim como outros municípios também o têm sido, conforme nos exemplifica Henrique Barreto Nunes no seu estudo bibliográfico sobre a oposição democrática no distrito de Braga) na preservação e na investigação, assim como na divulgação dos vários espólios (entre a política, a cultura e a actividade sindical) existentes na Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, no Museu Bernardino Machado e no Arquivo Municipal, dando origem a novos estudos. Os organizadores e os colaboradores do livro “Os Democratas de Braga” representam aquela ideia Bernardiniana de Liberdade e de Cidadania: “Sem cidadãos livres não há liberdades públicas.”


sábado, 10 de janeiro de 2015

A Imprensa e o "Verão Quente" em V. N. de Famalicão I

A IMPRENSA E O "VERÃO QUENTE" EM V. N. DE FAMALICÃO
AGOSTO DE 1975
Investigação, Notas, Compilação

Amadeu Gonçalves



Numa altura em que se desenrolava o famoso PREC (Processo Revolucionário em Curso), este teria o seu apogeu no famoso "Verão Quente" de Agosto de 1975, entre os extremismos da direita e da esquerda, verificando-se mesmo antes. Se os acontecimentos então passados em V. N. de Famalicão ficaram para a história, numa altura em que se comemoram os quarenta anos do "Verão Quente", o que convém reter, à luz dos recentes acontecimentos com o "Habdo", apesar da realidade política, social, cultural e económica  ser completamente diferente, é uma reflexão sobre os dogmatismos e as intolerâncias, numa sociedade ocidental cada vez mais paradoxal. Exceptuando num jornal ou noutro, caso do portuense "O Primeiro de Janeiro", as reportagens jornalísticas e a imprensa da época, mais do que perante os factos e os acontecimentos, reflectiram esses mesmos dogmatismos intolerantes. Efectivando até agora o levantamento pela imprensa nacional, regional e local sobre os acontecimentos então verificados em V. N. de Famalicão, começo pela reportagem do jornal "Avante". 



A ESCALADA TERRORISTA DAS FORÇAS DA REACÇÃO[1]

A reacção fascista está desencadeando, por todo o País, uma onda de violência sem precedentes. Juntamente com a realização de atentados, assaltos e destruições de sedes de forças políticas progressistas, espancamentos e perseguições, ataques às autarquias democráticas e a comissões de moradores, a reacção conspira na sombra, preparando um novo 11 de Março. Esta é a conjura actual da reacção, para liquidar as liberdades democráticas e instaurar uma nova ditadura.
Os terroristas atacam de preferência o Partido Comunista Português, mas a sua intenção é atacar todos quanto defendam a liberdade e a democracia. Pretendem impedir o exercício das liberdades sindicais, como ficou demonstrado com o seu ataque à reunião dos sindicatos têxteis, em Ofir. Pretendem impedir a libertação dos trabalhadores da exploração do grande capital, como tentaram fazer na Têxtil Manuel Gonçalves. Pretendem impedir a criação e a luta das comissões de moradores, como ficou bem claro em Matosinhos. Pretendem acabar com as autarquias, como tentaram fazer em Matosinhos, Gaia e Gondomar. Pretendem desviar os pequenos comerciantes da luta contra os grandes monopólios do comércio, como aconteceu designadamente em Famalicão, onde procuraram atraí-los a uma manifestação reaccionária. Pretendem impedir a aplicação da lei do arrendamento rural, que beneficiará centenas de milhares de pequenos camponeses.



[1] “A escalada terrorista das forças da reacção. Assaltos, incêndios, agressões, saques revelam a verdadeira face fascista do ataque da reacção”. In Avante. Lisboa, 7.ª série, Ano 45, n.º 71 (7 Ago. 1975), p. 7.





Em vários pontos do País são cercadas, apedrejadas, destruídas ou incendiadas sedes do PCP, do MDP/CDE e de outras organizações progressistas. Militantes comunistas, homens e mulheres democratas, são ameaçados, espancados, anavalhados, feridos ou perseguidos. Em todo o País alimenta-se uma histeria insultuosa e vil contra o Partido Comunista e contra os mais destacados dirigentes revolucionários portugueses. Ainda anteontem, na Póvoa de Varzim, quando camaradas nossos procediam à colagem de cartazes, foram ameaçados por elementos afectos ao PPD que depois se entregaram à destruição dos cartazes.

Famalicão: vinte e duas horas de cerco ao CT do PC

Na sequência das actividades terroristas que têm vindo a desenrolar-se por todo o norte, em Famalicão, a reacção mostrou mais uma vez a sua criminosa violência.
O rastilho foi uma manifestação de apoio ao grande patrão da têxtil e conspirador contra-revolucionário Manuel Gonçalves, pedindo o seu regresso, rejeitando a Comissão Administrativa nomeada pelo Governo. Desta manifestação partiu-se para a tentativa da destruição de sedes de partidos progressistas. A sede do MDP/CDE foi devassada e destruídos todos os seus haveres. Dirigiram-se depois para a sede do nosso Partido para fazer o mesmo.
Havia palavras de ordem tais como vamos queimar isto e morte aos comunistas.
Até cerca da meia-noite tentaram mobilizar todas as suas forças, não conquistando a adesão da massa da população de Famalicão.
Os apedrejamentos sucederam-se.
Pouco depois da meia-noite lançaram-se ao assalto pelas traseiras do prédio. Usando do seu inalienável direito de defender as suas vidas e a sua casa, os militantes comunistas dispararam tiros de caçadeira, ferindo dois dos fascistas assaltantes e fazendo gorar o assalto.
Durante toda a noite os bandoleiros puderam, livre e impunemente, manter o cerco. Tocaram os sinos a rebate mas não tiveram os resultados que contavam: prosseguiram isolados da população.
No Sábado de manhã, com a situação inalterável, surgiram, percorrendo as aldeias próximas, carros que gritavam a palavra de ordem morte aos comunistas. É de frisar que toda esta acção foi realizada impunemente, com toda a liberdade. Mas também não tiveram êxito!
Procuram então mobilizar fascistas de localidades mais longínquas como Porto e V. N. de Gaia.
A ira fascista continuava no exterior do Centro de Trabalho a berrar «morte aos comunistas», «Otelo para o Campo Pequeno», «Abaixo o MFA», insultos vários a Vasco Gonçalves, sendo mesmo queimada uma bandeira do MFA, à frente dos próprios soldados, que entretanto tinham acorrido ao local.
No interior do Centro de Trabalho os militantes do Partido Comunista Português continuaram a demonstrar a mais firme decisão de impedirem que os fascistas ali entrassem.
Cerca das 12 horas, chegaram mais tropas que actuaram no sentido de afastar os manifestantes por sítios não distantes das instalações. São disparados pelas Forças Armadas alguns tiros para o ar.
Pelas 17 e 15, três capitães das Forças Armadas dirigiram-se aos militantes comunistas que se encontravam cercados no Centro de Trabalho por grupos fascistas e entregaram-lhes a seguinte nota:
«Considerando-se que se impõe prioritariamente a salvaguarda de vidas humanas e face à ordem telefónica recebida do Quartel-General da Região Militar do Norte, ordena-se, em nome do mesmo, que os militantes do PCP retidos por uma manifestação dentro da sua sede em Vila Nova de Famalicão a abandonem.»
Face a esta ordem, os militantes do PCP entregaram aos oficiais das Forças Armadas a seguinte declaração:
«Em nome do partido Comunista Português protestamos energicamente contra a ordem de evacuação do nosso Centro de Trabalho em Vila Nova de Famalicão, ordem que só aceitamos para não entrar em confronto com as Forças Armadas.»
Entretanto, começaram imediatamente a correr boatos reaccionários segundo os quais os comunistas teriam sido presos e no Centro de Trabalho encontradas espingardas G3 e granadas.
Foram 22 longas horas de cerco. Nestas 22 horas em que se mantiveram firmes sob a ameaça de assalto iminente e no momento em que tiveram de sacrificar a sua casa para evitar confrontos com as Forças Armadas em nome dos interesse supremos da revolução, os militantes comunistas de Famalicão mostraram possuir a coragem, a firmeza de princípios e a disciplina que são timbres dos comunistas.





Graves incidentes se sucederam

No entanto, após a saída dos militantes comunistas e ocupação do Centro de Trabalho pelas Forças Armadas, sucederam-se acontecimentos de extrema gravidade: o saque do Centro de Trabalho.
À noite verifica-se uma autêntica caça aos comunistas e democratas.
Com o agudizar da situação em frente do Centro de Trabalho, acossados pelos fascistas, as forças do exército disparam rajadas de metralhadora para o ar. Disto resultaram três feridos e um morto.
Os acontecimentos do dia 1 e 2 de Agosto em Famalicão são um aviso para todos os democratas e antifascistas, para todo o nosso Povo, refere um comunicado da Direcção da Organização Regional do Norte do Partido Comunista Português. Eles mostraram com clareza que se está preparando no nosso país uma perigosa conjura fascista que visa afogar num banho de sangue as liberdades e conquistas da revolução. Os acontecimentos mostram também com clareza quem está por detrás do terrorismo e da conspiração reaccionária – são os grandes capitalistas como Manuel Gonçalves, os bandos hediondos dos seus homens-de-mão, é a mais negra reacção fascista.
E a terminar este comunicado distribuído na madrugada do dia 3, a DORN frisa:
A Direcção da Organização Regional do Norte do Partido Comunista Português, advertindo uma vez mais as autoridades responsáveis de que não é com hesitações que se combate o terrorismo e a conspiração fascista, reclama um profundo e rápido inquérito aos acontecimentos de Famalicão, e o justo castigo de todos os responsáveis.
A Direcção da Organização Regional do Norte do Partido Comunista Português apela para todo o Povo, para todas as forças democráticas e revolucionárias, para que unam os seus esforços para erguer uma forte barreira à violência terrorista e à conspiração reaccionária.
A reacção fascista será esmagada! A Revolução triunfará! A aliança Povo-MFA é uma força indestrutível.
Mas a actuação destes energúmenos não fica por aqui. Em nome das liberdades e do povo, com ódio incontido assaltaram e saquearam a casa de homens que o povo de Famalicão sabe que são pessoas sérias e honestas que sempre defenderam os interessas da classe trabalhadora.
A raiva com que os fascistas assaltaram e saquearam os escritórios dos advogados Lino Lima e Salvador Coutinho, e do consultório do dentista Miguel Cruz, as agressões contra militantes comunistas, os insultos e as pressões a militares, depois de verem goradas as suas tentativas de assalto ao Centro de Trabalho do PCP em Vila Nova de Famalicão, mostram bem que tipo de liberdade estes reaccionários pretendem.
Analisando estes acontecimentos, a Comissão Concelhia de Famalicão do PCP termina um comunicado distribuído na segunda-feira e dirigido ao povo de Famalicão e do distrito de Braga, dizendo:
Homens e mulheres, jovens do nosso distrito: está nas vossas mãos evitar o regresso à tenebrosa ditadura fascista de que o povo de Famalicão nestes últimos dias testemunhou as bárbaras intenções!
Não aos actos de vandalismo fascista, não ao terrorismo reaccionário, exigimos uma muralha de aço em defesa das liberdades e conquistas alcançadas!

Destruído um café

Mas em Famalicão a violência não terminou com os assaltos aos escritórios dos dois advogados e ao consultório de um dentista. Na noite de segunda-feira, prosseguindo a onda de assaltos e saques a instalações de pessoas tidas como afectas ao nosso Partido, um grupo de indivíduos, e que segundo se afirma não pertencem à vila, assaltaram perto da meia-noite o café Arcádia, mais conhecido pelo «333», na Rua José Azevedo e que já se encontrava fechado.
No interior do estabelecimento, os assaltantes entregaram-se à destruição de todo o recheio. Nada escapou à fúria dos assaltantes: mobiliário, louças, garrafas, portas, tudo ficou destruído. Após terem lançado fogo aos destroços, os assaltantes puseram-se em fuga.
Entretanto, na tarde de terça-feira, e aproveitando o funeral das duas vítimas ocorridas durante a tentativa de assalto ao Centro de Trabalho do nosso Partido, os reaccionários conseguiram desta feita entrar nas instalações do Centro, destruindo então tudo.
Propositadamente, o percurso do funeral foi desviado de molde que o cortejo passasse em frente do nosso Centro de Trabalho, onde entretanto estavam de vigia forças do regimento de Cavalaria 6, do Porto, que tinham substituído os militares do Regimento de Infantaria 8, que desde o início tinham guardado as instalações. Perante a confusão, elementos da multidão conseguiram forçar a entrada das instalações, dedicando-se depois à sua fúria destruidora.