domingo, 17 de agosto de 2014

A Cruzada das Mulheres Portuguesas e o "Estrela do Minho"

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Para o Dr. Manuel Sá Marques, esta pequena história da Cruzada das Mulheres Portuguesas por Vila Nova de Famalicão no ano de 1916

Apesar de não ser constituído um núcleo, ou uma sub-comissão, como assim pretendia a Secretaria-Geral da Grande Comissão, em V. N. de Famalicão, os famalicenses liam em 26 de Março a seguinte notícia, um tanto ou quanto atabalhoada a nível informativo, a propósito da constituição da Cruzada das Mulheres Portugueses, fundada em 27 de Março de 1916, com o título “Patriotismo Feminino”: “Senhoras da alta-roda, muitas de distintas famílias monárquicas, e a esposa do sr. Presidente da República, constituíram-se em comissões para angariar fundos para a Cruz Vermelha, inscrevendo-se como enfermeiras para tratamento de feridos portugueses. / Nobre exemplo é esse que muito honra as senhoras portuguesas e que desejamos seja fecundo de resultados como lição de patriotismo, nesta hora em que todo o auxílio é necessário à Pátria.” De facto, as senhoras não se constituíram em “comissões”, nem pretenderem angariar fundos para a Cruz Vermelha, mas sim, angariar fundos através da Cruzada das Mulheres Portuguesas para ajudar não só os soldados, como igualmente as famílias. Reunidas no Palácio de Belém, na tarde de 27 de Março, com a presença do Presidente da República, a sessão foi presidida por Elzira Machado e secretariada por Isabel Guerra Junqueiro Mesquita de Carvalho e por madame António Macieira. Segundo o “Diário de Notícias”, a 28 de Março, vários foram os objectivos da Cruzada das Mulheres Portuguesas, nomeadamente a constituição de sub-comissões por todo o país, assim como no Brasil e onde existirem colónias portuguesas; que por intermédio da Câmara Municipal de Lisboa se organizasse a cooperação de todas as câmaras municipais; solicitar ao presidente do ministério uma isenção postal para toda a correspondência e centralizar toda a actividade na assistência, por motivo da guerra. A Cruzada das Mulheres Portuguesas foi assim constituída: Presidente, Elzira Machado; Comissão Central, Joana Gomes Galhardo, Esther Norton de Matos, Maria Luísa Braancamp Freire, Ana de Castro Osório, Teresa Teixeira Queirós, Maria Leonor Correia Barreto, Leonilde Vignaut Gomes, Amélia Leote do Rego, Adelaide Menezes Fernandes Costa, Raquel Freire Oliveira Vicente Ferreira, Maria Oliva Aquiles Gonçalves, Joana de Vasconcelos, Etelvina Pereira de Eça, madame António Macieira, Virgínia Sousa Gaspar, Raquel Simas, madame Alfredo da Cunha, Ema Marques da Costa, Angelina Azevedo Gomes Shirley e madame Santos Lucas. Na Cruzada das Mulheres Portuguesas, as sub-comissões funcionaram com a assistência da Secretaria-Geral da Grande Comissão, sendo responsável madame António Macieira. O que é curioso foi nunca ter aparecido na imprensa famalicense e, em especial, no “Estrela do Minho”, um apelo para a constituição da Cruzada das Mulheres Portugueses em V. N. de Famalicão, tal como aconteceu com a Cruz Vermelha Portuguesa, enquanto que a comissão municipal da Junta Patriótica do Norte, por seu turno, foi constituída logo de imediato. A Cruzada das Mulheres Portuguesas seria notícia por mais duas vezes, nomeadamente em 30 de Abril, a propósito da lotaria patriótica, aprovada pelo parlamento em 27 de Abril, e em 23 de Julho, ainda a propósito da mesma lotaria patriótica, com a indicação dos respectivos prémios. Os famalicenses irão ler em 21 de Maio, na crónica de Manuel Pinto de Sousa “Trabalhar” o seguinte:


As mulheres portuguesas estão dando o nobre exemplo de uma cruzada altamente simpática, da qual resulta benéfico auxílio aos soldados portugueses que sejam feridos em campanha e também de socorro às famílias pobres dos soldados mobilizados. / Por todo o país este apelo do belo sexo despertando a maior simpatia em todas as criaturas, para quem não é indiferente o amor pátrio e com ele o relativo conforto aos que pela pátria vão arriscar a vida. / É consolador para todos nós a propaganda que as senhoras estão fazendo desde as grandes cidades aos mais pequenos povoados, para a obtenção de donativos em dinheiro, roupas e pensos para os nossos soldados em campanha, que podemos ser todos nós, que à Pátria devemos a defesa da sua existência. / Nessa obra eminentemente dignificadora, confunde-se num complexo de bondade fraterna todos os credos políticos, para só existirem portugueses dignos desse nome, na santa confraternização que deve ser o apanágio de todos os corações bem formados, dos filhos de uma pátria que quer viver com honra.

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