quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

camilo e o mosteiro de tibães

para a cândida, assim, amorosamente, para recordar a nossa visita a tibães


Sala do Capítulo


Várias são as referências de Camilo ao Mosteiro de Tibães, relativamente às transformações da sociedade e aos conflitos mentais que surgem das mesmas, para além das constantes referências a padres e a frades. É o caso de um texto intitulado "Notícia dos Primeiros Galopins Eleitorais em Portugal". O texto assim começa: "Os primeiros galopins eleitorais em Portugal foram frades. / No exercício de eleger gerais, provinciais, priores, abades, definidores e mais membros da governança monacal, nasceu o galopim tonsurado. / As pugnas mais renhidas e escandalosas passaram entre os filhos do patriarca de S. Bento. Aquele silencioso e solitário Mosteiro de Tibães, em cujos sonoros claustros o leitor já ouviu talvez o reboar de seus passos toando nas abóbadas profundas, ali, de três em três anos, nos séculos XVII e XVIII, rara eleição correu pacífica, na vasta casa capitular. Ora digladiavam-se internamente os frades em dois bandos, ora congregavam-se compactos a rebater as influências externas da corporação. Em Tibães se elegiam o geral, os dons abades e todas as prelazias de cada mosteiro. Naquele seminário de ociosos cevados, como vara de cerdos do Empíreo, nasceram, medraram e procriaram os galopins eleitorais. / Em alguns anos, o dia 2 de Maio, na casa capitular de Tibães, era uma bengalé de demónios, um pandemonium muito mais sacrílego do que aí, em nossos dias, se vê nos templos, quando sucede o cidadão eleitor ser esmurraçado, isto é, violentado no seu espírito liberal e no seu nariz, ao mesmo passo, ou com o mesmo murro. / Os galopins monásticos de Tibães davam mais que entender e vigiar aos secretários de Estado, logo que o mosteiro se afortelezava transcando as portarias." E Camilo termina, após a descrição desses "Galopins Eleitorais" dialécticos, "que saudades eu tenho dos frades, quando os vejo justificados pelos sandeus que lhes herdaram todas as manhas, sem a mínima das virtudes!" Numa viagem entre a literatura e a história, para uma compreensão maior da problemática política então existente na eleição dos abades, nada como ler o texto de Geraldo Coelho Dias, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com o título "O Capítulo Geral de Tibães. A Alternativa dos DD. Abades Gerais. Os "Galopins Eleitorais" de Camilo Castelo Branco", texto integrado na obra "Em Torno dos Espaços Religiosos - monásticos e escolásticos" (Porto, 2005)

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