domingo, 18 de dezembro de 2011

as intelectuais feministas republicanas e os 10 anos do museu bernardino machado



um momento de convívio, dr. sá da costa, a prof.ª zília osório de castro e o prof. fernando machado


Mais do que salientar os nomes das intelectuais feministas republicanas, a Prof. Zília Osória de Castro na conferência que proferiu do ciclo “As Mulheres e a I República” e com o título “As Mulheres Intelectuais na I República”, pretendeu transmitir as ideias que essas mesmas mulheres intelectuais perfilhavam e defendiam. Partindo da noção do que poderá ser o/a intelectual, com a sua significação de capacidade crítica para reflectir a sociedade, não sendo pela ideologia que distinguia o/a intelectual, mas sim pela sua coerência de valores e de princípios e da sua participação em grupos, numa força exclusiva de acção com objectivos comuns, sendo o veículo por excelência de transmissão das suas respectivas ideias a imprensa, a mulher intelectual pretendeu evocar as suas qualidades de ser humano num espírito crítico para uma renovação cultural.

a prof.ª zília osório de castro e o prof. norberto cunha, coordenador científico do museu bernardino machado, na apresentação da conferencista

Desta forma, deparamo-nos com uma dinâmica para a emancipação da mulher, numa tomada de consciência enquanto pessoa, criticando o presente para se projectar no futuro. As ideias de redenção, ou o cânone feminista, eram as seguintes: a lei do divórcio, o problema do sufrágio universal, o trabalho profissional e, concomitantemente, o salário, a educação e a emancipação. A Prof.ª Zília Osória de Castro salientou que as ideias feministas não eram contra o homem, mas contra as ideias da ferocidade masculina. Neste caso, e a propósito da Lei do Divórcio, as feministas intelectuais republicanas pretendiam a dignidade, a felicidade e a liberdade, considerando a mesma Lei como sendo a Lei mais hipócrita da sociedade. Se as feministas estavam divididas quanto à ideia do voto, já não o estavam quanto à educação, na medida em que com a educação não só surgia uma nova sociedade com a participação da mulher, como, igualmente, não podia haver uma verdadeira civilização se as mulheres não fossem educadas.


a prof.ª zília osório de castro num dos momentos sua intervenção

Com a educação, as mulheres dirigiam-se para a sua plena emancipação, estando aqui em causa a sua plena cidadania, cívica e política, e ser feminista era declarar guerra à ignorância. Será no associativismo que a mulher terá o seu papel educativo por excelência, na sua própria promoção, promover-se pelo trabalho, não o doméstico, mas o profissional, aqui se destacando as associações profissionais, e pela instrução. A ideia do associativismo será um dos cânones feministas para enriquecer o próprio movimento. Em suma, a descoberta do papel da mulher na sociedade trouxe-a a República, apesar de tal ideia já se encontrar vinculada no século XIX, tornando-se mais visível com o republicanismo.

o dr. artur sá da costa no gesto simbólico dos 10 anos do museu bernardino machado

UM MUSEU QUE NASCEU ANTES DE O SER

O Dr. Artur Sá da Costa, responsável pela implementação da rede museológica famalicense, no final da sessão da conferência da Prof. Zília Osória de Castro, evocou, num gesto simbólico, o 10.º aniversário do Museu Bernardino Machado, que foi inaugurado em 15 de Dezembro de 2001. Salientando a confluência de vários esforços, evidenciou que o Museu Bernardino Machado “nasceu antes de o ser”, não só pelas actividades que se foram realizando, como igualmente pelas doações do espólio de Bernardino Machado ao município famalicense. Se, neste último caso, focou, pretendendo assim homenagear, os nomes de Júlio Machado Vaz (pai) e o de António Barros Machado (respectivamente, neto e filho de Bernardino Machado), acrescentando o do arq. José Marinho, no caso das actividades, elas contam-se desde 1983.

júlio machado vaz, artur cupertino de miranda e bernardino machado, filho, na homenagem nacional de 1983 a bernardino machado
Assim, desde a Homenagem Nacional a Bernardino Machado (1983), passando pela Mostra Nacional de 1995, com o seminário de 1988 com o tema “Os “Brasileiros” da Emigração” em Setembro (com a coordenação científica do Prof. Jorge Alves) e em Novembro do mesmo ano os I Encontros de Outono intitulados “Bernardino Machado: o homem, o cientista, o político e o pedagogo (já com a coordenação científica do Prof. Norberto Cunha), passando, igualmente, pelas publicações dos livros de Elzira Machado Rosa (“Bernardino Machado, Protagonista da Mudança”, 1991, e “A Educação Feminina na Obra Pedagógica de Bernardino Machado”, 1999), o sonho da concretização do respectivo Museu foi uma realidade.

Aliás, tal como o Dr. Sá da Costa nos diz no seu texto de 1998 “O Museu Bernardino Machado e os “Brasileiros”: “Foi esta realidade bem presente e envolvente que em certa altura nos levou a admitir criar um Museu Municipal em torno da figura do “Brasileiro”. Foi hipótese de estudo que, como todos sabemos, não vincou, prevalecendo, a meu ver, bem, o projecto do Museu Bernardino Machado, o qual se tornou indiscutível após a Mostra Nacional de 1995, organizada com o espólio doado ao município de Famalicão pelos seus familiares.” E, mais à frente, referindo-se ao palacete Barão de Trovisqueira, que este será “o local ideal para este Museu…, não apenas pelo espaço em si, ele próprio um Museu, mas também pela carga simbólica que congrega.” Neste sentido, na exposição “Barão de Trovisqueira: reencontro(”, que marcou o acto inaugural do Museu Bernardino Machado, para além do seu espaço museológico, nomeadamente a exposição permanente dedicada à vida, à obra e ao pensamento do patrono, o mesmo Dr. Sá da Costa no texto “Reencontro(s)”, publicado no catálogo da exposição do Barão, assinala que “as portas do Palacete do Barão de Trovisqueira se abriram para acolher a realeza e a intelectualidade da época” a partir de 1857 2 “hoje franqueiam-se para receber o seu amigo Bernardino Machado com quem privou e se correspondeu”, evocando o “reencontro de amigos, de duas famílias, de dois homens públicos que por caminhos diferentes, com aptidões e perfis pessoais e posições ideológicas diversas, se irmanaram no mesmo ideal do bem comum.”


convívio nos dez anos do museu bernardino machado


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