terça-feira, 3 de janeiro de 2012

miguel de unamuno e o amor de perdição


Miguel de Unamuno, o célebre pensador espanhol e Reitor da Universidade de Salamanca, autor de livros como "A Agonia do Cristianismo" ou "Do Sentimento Trágico da Vida", evocou várias vezes Camilo e a sua obra "Amor de Perdição", principalmente em "Por Terras de Portugal e de Espanha". Nas viagens e nas passagens de férias por Portugal, com Camilo debaixo do braço, salva-se a expressão, foi, talvez, um dos melhores intérpretes da alma portuguesa, através da cultura e da literatura. Por várias vezes nos fala de Camilo; e vem a propósito, já que estamos nos 150 anos da publicação do "Amor de Perdição" salientar a perspectiva de Unamuno, o qual, no texto "A Literatura Portuguesa Contemporânea", ao pretender realçar uma união ibérica espiritual, ou um iberismo cultural, a propósito de uma das obras mais representativas de Camilo. Diz-nos Unamuno: "Ao falar de Camilo Castelo Branco, dizia-me uma vez Guerra Junqueiro que Camilo, aquela alma tormentosa e apaixonada, foi mais espanhol que português, que às vezes há nele o fúnebre quevediano. E a mim, com efeito, surpreende-me como o seu Amor de Perdição não se tornou até agora popular em Espanha - suspeito que terá sido traduzido quando em 1861 se publicou -, pois parece-me a novela de paixão amorosa mais intensa e mais profunda que se escreveu na Península e um dos poucos livros representativos da nossa comum alma ibérica." E já agora, a propósito da edição do "Amor de Perdição", Alexandre Cabral, no seu monumental e mais que famoso "Dicionário" camiliano, no verbete que corresponde ao título do livro, informa-nos que "escrito na Cadeia da Relação do Porto, em 1861, quando Camilo e Ana Plácido aguardavam julgamento, foi editado no princípio do ano imediato pela Livraria Moré, sendo certo, porém, que em 1-1-1862 a Revolução de Setembro (n.º 5897) dá-o como já estando em circulação"; contudo "nesse caso, a edição seria de 1861, ainda que todos os especialistas a considerem de 1862, que é a data impressa no rosto"). Independentemente da questão do ano editorial da célebre novela camiliana, nada melhor do que ler Camilo e interpretá-lo textualmente para novos desvendamentos de mundos literários e criativos. Desta forma, aqui fica um incentivo para ler Camilo em qualquer sítio deste mundo: no texto que dedica a Braga, Miguel de Unamuno, que entretanto já se tinha deliciado a ler A Doida do Candal "do portuguesíssimo romancista Camilo Castelo Branco", informa-nos que continuou a ler Camilo no comboio entre Braga e Porto; e que, na estação de Campanhã, enquanto esperava por um outro que o levaria até Espinho, para conhecer Manuel Laranjeira, conta-nos que "ali, num canto, sob uma luz frouxa, devorava as páginas de A Engeitada! Este Camilo!..." Amanhã se acrescentará algo mais às reticências unamunianas.

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