quarta-feira, 30 de novembro de 2011

encontros de outono 2011 resumos comunicação v sessão



V SESSÃO



Ferreira do Amaral
Economia e Futuro da Sociedade

O objectivo do conferencista foi o de abordar as tendências gerais da economia e de que a própria economia vai ser levada a uma profunda transformação, assim como a própria crise. Temos quatro tendências que vão transformar a economia. I) globalização, ii) envelhecimento demográfico, iii) stress ambiental e iv) o progresso tecnológico. Na globalização surgiram fenómenos novos para os economistas, e se se toma como ponto de partida a globalização sob o ponto de vista comercial, o comércio mundial encontra-se agora mundializado. O fenómeno é que os importadores e os exportadores da pequena economia aberta acabaram com as mentalidades das grandes economias abertas. Nesta perspectiva, o ocidente está a requalificar a dimensão da economia global. O que não devia ser uma surpresa para os economistas é a globalização financeira, situação que não é nova. Relativamente ao envelhecimento demográfico, não se sabe lidar muito com esta situação. O aumento da esperança de vida e a fraca natalidade, salientando o conferencista os baixos rendimentos, colocam em causa a economia de mercado. Relativamente ao stress ambiental, este aparece num segundo plano relativamente à crise económica. Sempre houve stress ambiental, mas em zonas localizadas do mundo e, por seu turno, as economias mais desenvolvidas promovem a mesma situação. Ora, as pequenas economias não estão de acordo perante a questão da regulação, já que é necessária a ideia de uma regulação porque senão não é possível conter o problema perante as novas estruturas do mercado. Ora, os impactos na globalização nas formas de produzir e na organização das sociedades no seu ponto de vista económico, estas tendências vão desaguar entre a produção e a distribuição dos rendimentos, estando aqui em causa o facto de se encontrar novas formas de relação.

O conferencista salienta que as sociedades estão organizadas de uma forma estranha, em que as pessoas trabalham mais, não produzindo para as necessidades básicas. Para além deste paradoxo, temos um outro: o envelhecimento da população surge como um problema para a segurança social; e depois temos um altíssimo nível de desemprego. A questão é se faz algum sentido falar no envelhecimento perante tal aumento de desemprego. O que se nota é uma desorganização social e institucional que não gera mecanismos socializadores, tendo em conta os jovens desempregados. O que é necessário realizar é um novo equilíbrio entre os mercados e de extra-mercados, não só no Estado, como igualmente nas entidades sem fins lucrativos. Um outro paradoxo no mundo do trabalho, surge com o desenvolvimento tecnológico, estando aqui em causa o aumento do trabalho, e não o seu contrário, deixando-se pouco tempo livre para as pessoas. Ora, a regulação a nível mundial é uma pressão brutal sobre as economias mais ricas e que agora estão num retrocesso pelo facto de existir a mundialização económica. O mercado tem os seus limites, devendo-se regular as distinções existentes. Ao mesmo tempo, o Estado também tem os seus limites, defendendo o conferencista o papel do Estado não na economia, mas conferindo ao próprio Estado o seu papel na sociedade, nomeadamente no estado social. Toda esta situação se reflecte no contexto europeu. O processo de integração europeia foi uma aposta genial na sua fase inicial, na ideia de os países colaborarem em interesses comuns.



A partir dos anos 90, principalmente com a reunificação alemã e o Tratado de Maestrich, a ideia de Europa deslocou-se completamente. Estes dois últimos factores serviram de separação, entrando o processo de unificação europeia em degenerescência, ficando de fora a ideia do reforço comum dos estados, permanecendo agora o domínio de um estado sobre os outros. Criar o euro não foi um erro, o erro foi sim o modo como foi imposto. Nesta altura, Portugal está a aceitar as condições únicas impostas pela moeda única, existindo divergências de interesses e concepções diferentes no processo da unificação europeia. Estamos perante um quadro perante o qual não há solução. A situação da Alemanha é perigosa porque pode ter conflitos graves. O quadro para a Europa é grave se não houver um processo de ajustamento, e se não o tivermos poderemos ter um processo de instabilidade comum. Actualmente, não faz sentido a saída de Portugal, talvez mais tarde, numa situação de estabilidade. Aliás, antes de sermos empurrados, a saída de Portugal é inevitável do euro.


Soromenho-Marques
Que Futuro para o Progresso, que Progresso para o Futuro

“o moinho que se tritura a si mesmo”
Novalis

“Aprendemos a ser cidadãos do mundo, membros da comunidade humana”
F. D. Roosevelt

O que se pretende aqui analisar é a questão por dentro e não por fora perante o tema proposto. Começa precisamente pela ideia “Que Progresso para o Futuro”, analisando-a através de vários pontos. Começa pela tarefa do que somos, estando aqui presente o terreno clássico, caso da moral, da ética, para o ser humano se projectar no futuro. Cita aqui Pico della Mirandela. O segundo momento é aquele em que o progresso se deixou capturar-se pela técnica, estando aqui em causa uma sociedade organizada entre a ciência e a técnica. Foca Francis Bacon. O terceiro ponto é o diálogo entre a virtude e a felicidade, surgindo aqui a problemática da maximização dos bens para o maior número (Bentham). Ao lado desta mortal utilitarista e hedonista, da felicidade do aqui e do agora, o conferencista salienta a ética deontologista kantiana no seu imperativo categórico. O quarto elemento de análise situa-se entre o niilismo e a tecnologia, salientando a inércia da civilização tecnológica, na lógica em que tudo é possível, tudo é permitido. Cita Nietzsche. Segue a sua análise com o niilismo ontológico, que o relaciona com o problema ambiental. Na análise deste primeiro ponto, recordando “Que Progresso para o Futuro”, questiona-se com um “Onde Chegamos?” A uma crise maior do que a de 1929. O que Roosevelt em 1939 afirmou, a saber, que a natureza oferece-nos a abundância, hoje já não tem lógica pensarmos assim, na medida em que a natureza se depara com as suas alterações climáticas. Hoje, o axioma do prometeísmo já não tem razão de ser, citando Marx, para o qual à humanidade só se colocam tarefas perante as quais ela própria esteja em condições de as solucionar, sendo necessário encontrar a lucidez para se entrar em acção. A questão agora a saber é se estamos perante uma tarefa excessiva. Temos de ter um pensamento imaginativo, de engenho para uma nova compreensão do mundo, só que estamos a perder a corrida.
O segundo ponto que o conferencista analisa, seguindo o mesmo processo que o primeiro, é “Que Futuro para o Progresso”. Aqui evoca a necessidade de um contrato social que integre uma consciência dos limites, a organização não do milagre, mas da possibilidade do inédito (aqui estamos entre a ética e a política), a questão se uma geração pode obrigar as seguintes (baseando-se em Jefferson, aqui salientando um paradoxo moral do humano, que não falha para com os seus próprios filhos, mas que falha para com o mundo), a necessidade de começar algo de novo (H. Arandt), cita o princípio de humildade prudente (na medida em que não sabemos tudo, não devemos realizar tudo e só devemos realizar o que nos é possível e devemos escutar os homens do mundo e ouvir as vozes e os saberes), assim como o princípio de cooperação, passando pelo princípio de austeridade voluntária, ou então pelo princípio do regresso à terra pela ciência. No fundo, o que está patente é um domínio de angústia comum da humanidade e as soluções apontadas são as seguintes para a prossecução de políticas públicas para merecermos o futuro: i) republicanismo constitucional, ii) federalismo nas relações internacionais, iii) regulação do mercado global, iv) ciência e tecnologia voltadas para as tarefas de sobrevivência da espécie e da terra, v) economia em simbiose com a natureza, vi) prosperidade em alternativa ao crescimento.




ENCERRAMENTO

Paulo Cunha
Vereador da Cultura e Vice-Presidente da Câmara Municipal de V. N. de Famalicão

Não pretendendo falar da crise, evocou duas ideias principais: a primeira foi a propósito de Bernardino Machado, focando que mais razão têm aqueles que afirmam a sua notoriedade, não pelos cargos que ocupou, ou da sua eloquência, mas pela sua actualidade através da sua obra e do seu pensamento, deixando-nos um enorme legado. Para o Vereador da Cultura famalicense, cabe a nós a tarefa de contornar esta empreitada para melhorarmos os propósitos de Bernardino Machado, para serem partilhados na comunidade.
A segunda ideia que desenvolveu relaciona-se com a temática dos Encontros de Outono de 2011, um tema actual pela dimensão histórica e pelo dilema em que a comunidade se encontra entre o material e o imaterial. Usou a seguinte metáfora: estamos hoje cheios de hardware (material) e temos pouco software (imaterial). Urge trabalharmos para a mudança de paradigma, para a implantação de um novo paradigma para impregnarmos o desenvolvimento do imaterial, de modelar o software. Neste sentido, o Vereador da Cultura termina dizendo que hoje faz sentido a construção personalizada para a felicidade.







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