Expedicionários Famalicenses
Capitão José Ribeiro Barbosa
(Joane, V. N. de Famalicão,
29/01/1887-Braga, 12/02/1930)
Por Amadeu Gonçalves
Fez os seus estudos no Liceu de Braga, na Universidade de Coimbra e na Escola do Exército. Em 1914 foi cumprir uma missão de serviço na colónia da Guiné, tendo estado dois anos no distrito de Oío. Integrando o Corpo Expedicionário Português, prestou serviço em França, tendo sido mobilizado em 1917. Fez parte dos revolucionários que, sob a orientação do General Gomes da Costa, prepararam o 28 de Maio. Na ditadura militar foi o primeiro Governador Civil do Distrito de Braga (1926-1929).
"Correio do Minho". Braga (13 Fev. 1930)
2.ª Divisão. 4.ª
Brigada de Infantaria. 3.º Batalhão. 3.ª Companhia. Regimento de Infantaria n.º
29. Tenente. Casado com D. Maria da Luz Braga Ramalhete Barbosa. Filho de José
Ribeiro Barbosa e de D. Francisca Ferreira Salgado de faria. Natural da
freguesia de Joane, concelho de V. N. de Famalicão. O parente vivo mais próximo
era sua esposa, residente em Braga. Embarcou em Lisboa em 22 de Abril de 1917.
Desembarcou em Lisboa em Junho de 1919. Pronto da instrução de granadeiro e do
emprego de baioneta em 6 de Junho de 1917. Terminou em 19 do referido mês o
curso da Escola de Metralhadoras Ligeiras. Capitão por Decreto de 29 de
Setembro de 1917. Louvado em 27 de Setembro porque, enquanto desempenhou as
funções de director da escola do Emprego de baioneta, da Brigada, demonstrou
notável zelo, aptidões e competência profissional, conseguindo os melhores
resultados na instrução da sua especialidade. Colocado no Batalhão de
Infantaria n.º 29 em 20 de Outubro. Louvado pela muita competência, zelo e
sangue frio, demonstrado no ataque inimigo de 22 do corrente e pela forma como
dirigiu, na 1.ª linha, os subordinados, dando-lhes belos exemplos e
incutindo-lhes a serenidade de que estava possuído. É colocado como comandante
da 2.ª Companhia do Grupo, em 30 de Dezembro, no qual se apresentou em 19 de
Janeiro de 1918. Licença de campanha por 53 dias, desde 24 de Janeiro. Passou a
comandar o Grupo em 9 de Agosto. Em 1917, como subalterno da 3.ª Companhia de
Infantaria n.º 29, guarnecendo a 1.ª linha, tomou parte na defesa do subsector
de Bentilherie [Fleur Baix] no ataque alemão de 23-24 de Agosto em que o
Batalhão repeliu o inimigo e fez prisioneiros. Tomou parte no combate de 10 de
Novembro no sector Ferme de Bois (Richebourg). Comandando a referida Companhia
na 1.ª linha, dirigiu a defesa do sub-sector de Ferme de Bois II no ataque
alemão de 22 e 23 de Novembro, sendo o inimigo repelido e deixado prisioneiros.
Em 1918, comandando o Grupo da Companhia, tomou parte na Batalha de La Lys em 9
de Abril. Embarcou para Portugal a bordo do transporte inglês “North Western
Miller” em 5 de Junho de 1919. Condecorado com a Medalha Militar de Prata da
Classe de Comportamento exemplar, em 20 de Julho de 1918; Cruz de Guerra de 4.ª
Classe em 18 de Setembro. Por Portaria de 14 de Janeiro de 1919 foi-lhe
conferida a Cruz Vermelha de dedicação; Medalha Comemorativa com a legenda –
França – 1917-1918”.
O
seu louvor e a sua condecoração com a Cruz de Guerra são notícia na imprensa
famalicense da época, nomeadamente na “Gazeta de Famalicão. Com o título
“Oficiais Louvados”, a “Gazeta de Famalicão”, de15 de Dezembro de 1917, informa
a comunidade famalicense do respectivo louvor nos seguintes termos, fazendo
referência também a José Hermínio Barbosa, ambos famalicenses: “Foram louvados
pela sua coragem e valor os bravos oficiais da Infantaria n.º 29, batendo-se em
França em defesa da Pátria, os srs. Capitão José Ribeiro Barbosa… e alferes
José Hermínio Barbosa. / Louvamos os briosos militares que pertencem a um
regimento de guarnição do norte, motivo de mais satisfação ainda para nós.” A
propósito da Cruz de Guerra, tal informação surge na notícia com o título
“Oficial Condecorado”, na “Gazeta de Famalicão”, de 19 de Outubro de 1918: “O
valente capitão sr. José Ribeiro Barbosa, natural da freguesia de Joane e irmão
dos nossos amigos srs. Manuel e Lázaro Barbosa, estimados e importantes
industriais, acaba de ser condecorado com a Cruz de Guerra, pelos seus valiosos
e patrióticos serviços no Front. / Ao
brioso militar, que tem sido louvado por vezes pela sua bravura, os nossos
parabéns.”
Quando
faleceu, em 1930, os jornais regionais “Diário do Minho” e “Correio do Minho”,
assim como o famalicense “Estrela do Minho”, fazem-lhe os seguintes “In
Memorian”:
I
"Correio do Minho". Braga (13 Fev. 1930)
“Capitão José
Ribeiro Barbosa. O seu falecimento”. Diário
do Minho. Braga, Ano 11, n.º 3111 (13 Fev. 1930), p. 1.
Acaba
de surpreender-nos a infausta notícia do falecimento do sr. Capitão José
Ribeiro Barbosa que, pelo espaço de cerca de três anos., exerceu o cargo de
Chefe do Distrito de Braga. / Embora o soubéssemos de há muito gravemente
enfermo, alentava-nos ainda a esperança de que o brioso militar conseguiria
resistir à violência da enfermidade que implacavelmente a caba de vibrar-lhe o
derradeiro golpe. É que, por vezes, entre momentos de alarme e desalento,
chegavam-nos informações de que o bom do Capitão Ribeiro Barbosa experimentava
animadoras melhoras. E a esperança ia renascendo mesmo diante dos pessimistas
que se recusavam a aceitá-la. Infelizmente tiveram razão os pessimistas. A
débil compleição física do ilustre finado não pôde suportar o ataque cerrado
duma complexidade de doenças que não perdoam e que foram adquiridas durante o
seu estágio nos climas rudes de África. / Tendo lúcido conhecimento do seu
estado, o Capitão José Ribeiro Barbosa mandou chamar o sacerdote, preparando-se
cristãmente, para a viagem donde se não volta – a eternidade! Morreu na paz do
Senhor. / Que ele o tenha recebido no seio da sua infinita misericórdia. / O
«Diário do Minho» envia à sua ilustre família as mais sentidas condolências.
Algumas
notas biográficas
O
Capitão José Ribeiro Barbosa nasceu na freguesia de Joane, concelho de
Famalicão, em 29 de Janeiro de 1887, sendo filho do sr. José Ribeiro Barbosa e
de D. Francisca Ribeiro Barbosa. / Em Maio de 1926, o Capitão Barbosa, que
fizera parte do «comité» donde saiu a situação actual, foi nomeado Governador
Civil do Distrito de Braga, mantendo-se nesse cargo durante cerca de três anos.
/ Nesse lapso de tempo serviu a Ditadura com a maior lealdade, tendo dedicado a
Braga e ao seu distrito todo o seu interesse e o melhor da sua actividade. / Os
problemas que respeitavam à região mereceram-lhe, sempre, a maior solicitude e
o mais desvelado carinho. Se não realizou uma obra de vulto, devido, talvez, a
especiais circunstâncias que não favoreciam empreendimentos de folego, temos de
reconhecer que trabalhou, quanto pôde e como pôde, no sentido de resolver, da
melhor forma, os assuntos que se relacionavam com a função que desempenhou. / O
ilustre finado era irmão dos srs. Lázaro e Manuel Barbosa, industriais em
Famalicão, e cunhado dos srs. Engenheiro Cândido Braga Ramalhete, DR. Francisco
Júlio Martins Sequeira, professor do ensino secundário, e Carlos Sousa Gomes. /
Deixa viúva a Exm.ª Senhora D. Maria da Luz Ramalhete Barbosa e filhos menores.
/ O extinto pertencia à arma de infantaria e actualmente estava colocado no
Batalhão de Caçadores 9 e era comissário do Governo junto da Companhia
Hidro-Eléctrica do Varosa. / Prestou, durante anos, serviços no extinto 6.º
batalhão da G. N. R. Tomou parte na Grande Guerra, na África e na França, pelo
que possuía valiosas condecorações, entre as quais a Cruz de Guerra. Era
Oficial da Ordem Militar de Aviz.
O Capitão José Ribeiro Barbosa quando pertencia ao extinto Batalhão n.º 6 da G. N. R.
II
“Capitão José
Ribeiro Barbosa”. In Correio do Minho.
Braga (13 Fev. 1930), p. 1.
A
ciência tinha feito o seu prognóstico e a providência não o quis desmentir. /
Morreu o capitão José Ribeiro Barbosa, ontem, pelas 6 horas da tarde. / Não se
traçam a olhos enxutos estas linhas dolorosas, quando o visado era um homem de
envergadura moral do bom e querido José Barbosa. / Na pujança da vida, com mais
de 40 anos, desaparece um querido amigo, um bom soldado que nos campos da
batalha da África Portuguesa e nas terras de França, soube afirmar mais uma vez
a valentia e a heroicidade deste pequenino povo que durante séculos encheu o mundo
com os seus gloriosos feitos. / No peito, constelado de medalhas com que os
governos português e doutras nações premiaram as suas altíssimas qualidades,
está escrita a sua brilhante história militar. / O 28 de Maio, por consenso
unânime de toda a guarnição desta cidade, entregou-lhe a chefia do distrito e o
que foi a sua acção nesse alto cargo, está bem expresso na simpatia que
adquiriu, inclusive daqueles que mais irredutíveis se mostraram sempre com a
ditadura. / É que o capitão Ribeiro Barbosa, sem se desviar da linha inflexível
da sua missão de representante do Poder ditatorial, era um grande patriota e
republicano de princípios, sabendo harmonizar o seu dever com a justiça e a
bondade. / Na defesa dos interesses dos povos seus administrados, soube, como
poucos, desenvolver uma inteligente e tenacíssima acção, e nos momentos mais
críticos esquecia o seu lugar de destaque e prestígio para se lembrar somente
de que era, acima de tudo, filho deste distrito, a quem ele tanto amava e
queria. / Foi relativamente longa a sua administração distrital e quando
entendeu que era tempo de a abandonar, porque a sua missão estava cumprida, foi
o primeiro a oferecer a sua substituição, embora para procedimento contrário
fosse insistentemente aconselhado. / Braga e todo o distrito muito lhe ficou
devendo e, nesta hora de justiça, seria uma ingratidão inexplicável não o
proclamando como um dos maiores amigos e propugnadores do engrandecimento da
região.
[…]
O
capitão José Ribeiro Barbosa nasceu em 29 de Janeiro de 1887, na freguesia de
Joane, concelho de Famalicão, filho do industrial sr. José Ribeiro Barbosa, já
falecido. / Alistado como voluntário no regimento de Infantaria n.º 8 em 11 de
Agosto de 1907, frequentou a Escola Militar, sendo promovido a alferes em 11 de
Novembro de 1911; a tenente em 1 de Dezembro de 1913 e a capitão em 29 de
Outubro de 1917. / Exerceu uma comissão na província da Guiné desde Janeiro de
1914, regressando em 1916, sendo colocado em infantaria 29, com sede nesta
cidade. / Seguiu depois para França em 22 de Abril de 1917, distinguindo-se
como subalterno da 3.ª Companhia do 29, guarnecendo a 1.ª linha na defesa do
sector em [Boutilier], em vários ataques dos alemães, que o seu batalhão
repeliu e fez prisioneiros, tomando também parte no combate de 10 e 11 de
Novembro de 1917 no sector de Ferme de Bois (Richebourg). / Colocado como
comandante da 2.ª Companhia do Grupo, tomou parte muito notável na Batalha de
La Lys, em 9 de Abril. / De regresso de França, foi colocado em Infantaria 29
donde transitou para a Guarda Nacional Republicana, exercendo oc argo de
ajudante do Batalhão aquartelado nesta cidade, tendo-lhe sido confiada a chefia
do distrito, no movimento de 28 de Maio, cargo que exerceu até 18 de Abril de
1919 com zelo, dedicação e patriotismo. / Foi louvado pelo desempenho das
funções de Director da Escola do emprego da baioneta por demonstrar notável
zelo, aptidão e competência profissional, conseguindo os melhores resultados; pela
muita competência, zelo e sangue frio demonstrado nos vários ataques contra o
inimigo, e pela forma como dirigia na 1.ª linha os seus subordinados,
dando-lhes belos exemplos e incutindo-lhes a serenidade que estava possuído;
por ter dado provas e pela inteligência que sempre revelou no desempenho dos
cargos que exerceu na Grande Guerra. / Era condecorado com a Medalha de Prata
de Comportamento Exemplar; Medalha da «Vitória»; distintivo a que se refere o
Regulamento das Ordens Militares Portuguesas com as cores azul e branca;
Cavaleiro da Ordem de Cristo; Oficial da Ordem Militar de Aviz; Cruz Vermelha
de Dedicação (medalha comemorativa das campanhas do Exército Português, com a
legenda «França»; Medalha de Agradecimento da Cruz Vermelha Portuguesa; Cruz de
Guerra de 4.ª Classe e ainda condecorações dos governos inglês e francês. O
ilustre era presidente da direcção do Clube Bracarense.
III
“Capitão José Ribeiro Barbosa”. In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão,
Ano 35, n.º 1788 (16 Fev. 1930), p. 1.
“Após
prolongado e doloroso sofrimento, faleceu na noite de quarta-feira na sua
residência de Braga, o capitão sr. José Ribeiro Barbosa, antigo Governador
Civil do Distrito e irmão dos considerados industriais desta vila srs. Manuel e
Lázaro Ferreira Barbosa. / O sr. Capitão Ribeiro Barbosa, que frequentou a Escola
Militar, assentou praça voluntariamente no Regimento de Infantaria n.º 8,
havendo exercido uma comissão na Guiné, partindo em 1917 para França, onde se
distinguiu como subalterno da Companhia do regimento de Infantaria n.º 29. /
Tomou parte na Batalha de La Lys em 9 de Abril e possuía várias condecorações
entre as quais a Torre e espada, Cruz de Guerra, medalha da «Vitória» e de
comportamento exemplar, Comenda de Cristo e algumas estrangeiras. / Como chefe
do Distrito, a acção do extinto está por certo ainda – tão pouco tempo é
decorrido sobre a sua gerência – na lembrança de todos. / Sempre solicito na
defesa das justas reclamações do distrito, ele prestou serviços
relevantíssimos, nunca se cansando de percorrer as secretarias do Governo
instando pela satisfação de tudo quanto interessasse aos povos dos vários
concelhos do distrito que para ele apelavam. / Mas como acima dizemos, a sua
obra é de ontem e dela já a Estrela do Minho oportunamente se fez eco dando-lhe
o merecido relevo. / Logo que em Famalicão foi conhecida a triste notícia, as
Associações locais colocaram as suas bandeiras a meia haste, ao mesmo tempo que
as pessoas mais íntimas se dirigiram para Braga apresentar as suas condolências.”
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