sábado, 13 de abril de 2013

Da Gulbenkian aos Bibliomóveis: a Gulbenkian em Famalicão

 
Para o camarada Hilário
 
No âmbito das Comemorações do Centenário da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco, no próximo dia 24 de Abril, esta mesma instituição, quase, quase, quase centenária, vai promover o "Encontro das Bibliotecas Itinerantes" e a Conferência "Da Gulbenkian aos Bibliomóveis". Para mais informação http://www.bibliotecacamilocastelobranco.org/
 
Antiga sede dos Bombeiros Voluntários de Famalicão, na Rua Adriano Pinto Basto, mesmo em frente ao Museu Bernardino Machado, propriedade da Câmara Municipal desde os finais dos anos 50, na qual se inaugurou em 1966 a 114.ª Biblioteca-Fixa da Gulbenkian
BIBLIOTECA MÓVEL DA GULBENKIAN – Papel relevante para os bibliotecários irmãos António e Raúl Sampaio, os quais abriram nos anos 60 e 70 a Biblioteca a todos aqueles que procuravam informar-se e instruir-se. Muitos dos livros do “índex” da censura ali (na então Vila e nas freguesias do Concelho) se podiam obter, graças ao seu empenho e sensibilidade. Foi a seu modo uma verdadeira escola para várias gerações. Era ao antigo Campo da Feira, hoje Praça D. Maria II, que muitos de nós ocorria, quinzenalmente, para aí se abastecer, neste caso, de livros, muitos dos quais, nem na Biblioteca Municipal, nem nas próprias livrarias, conseguíamos obter. Refira-se que só em 1966 se instalou em Famalicão a Biblioteca Fixa da Gulbenkian. (itálico meu).
                                                          Artur Sá da Costa
BIBLIOTECA ITINERANTE n.º 8
Desta Biblioteca Itinerante n.º 8 sabemos que foi inaugurada no início de 1959, cessando a sua actividade em 1983. O abastecimento dos fundos bibliográficos era realizado a partir da sede, dos serviços de leitura da Fundação Calouste Gulbenkian, que centralizava as aquisições para todas as unidades da sua rede. Aliás, não só sabemos quem era o seu responsável, como igualmente se conhece o seu percurso pelo concelho e o seu respectivo horário, vindo a solucionar o problema da leitura domiciliária que a BMCCB não conseguia resolver durante décadas seguidas:
Deu-nos há dias o prazer da sua visita-gentileza que muito nos sensibilizou e agradecemos, o sr. Mário Norton, director da Biblioteca itinerante n.º, da Fundação Gulbenkian, que vem criando muito simpaticamente, o gosto pela leitura, cedendo livros da sua escolhida biblioteca. / Segundo nos informa o sr. Mário Norton, a Fundação Gulbenkian escolheu a nossa terra para aqui fixar a sede daquela biblioteca. / Coube esta honra à nossa terra pelo grande número de leitores, o que prova o gosto pela leitura. / Realmente, Famalicão carecia duma biblioteca digna desse nome, e a iniciativa da Fundação Gulbenkian solucionando este problema, só merece, da nossa parte, todos os louvores. Oxalá, pois, que os famalicenses saibam continuar a corresponder[1].
Ao mesmo tempo, por uma outra notícia, sabemos que esta Biblioteca Itinerante n.º 8 “tem sido bem acolhida com grande simpatia pelo público leitor.[2]” Se esta Biblioteca teve o seu sucesso, permanecendo em V. N. de Famalicão mais de vinte anos, a par da inauguração da Fixa, em 1966, esta durando até 1990, outro tanto não sucedeu com a denominada “Biblioteca Ambulante da Cultura Popular” do Estado Novo, a qual esteve em Famalicão em 1946[3]. Qual a justificação para o sucesso das Bibliotecas Itinerantes, e mais tarde das Fixas, da Fundação Calouste Gulbenkian? Deste serviço, dirigido por Branquinho da Fonseca desde a sua criação (1957-1974), e nomeadamente do seu projecto de leitura, cito Daniel Melo:
O projecto bibliotecário proposto incorporava os princípios básicos da leitura pública moderna (o serviço gratuito para todos, o empréstimo domiciliário e o livre acesso às estantes) e aditava a definir no essencial o serviço bibliotecário do SBI: a tripla finalidade educativa, cultural e recreativa (embora esta última como cedência face à filosofia de um serviço formativo e reflexivo); a aposta numa biblioteca generalista, ou de «cultura geral» (embora atenta a eventuais necessidades particulares mais instantes de cada comunidade, sobretudo escolares); a prescrição de um único depósito e centralizado (apesar das hesitações patentes nas referências a «depósitos regionais»); a ênfase na procura do leitor, donde a generalização da oferta (daí a atenção à itinerância); a preocupação com a satisfação do leitor, exigindo um conhecimento e um atendimento mais cuidadoso (note-se o contraste com a atitude tradicional do bibliotecário português); a salvaguarda da pluralidade da oferta, segundo três segmentos etários distintos (infância, adolescência e maturidade) e prevendo um núcleo básico disciplinar variado, assente na combinação de conteúdos humanistas, artísticos e aplicados (secções de História, Literatura, Belas-Artes, Educação, Biografias, Ciências, Agricultura, Artes e Ofícios); a selecção livresca por um grupo definido vagamente («pessoas cultas e de perfeita idoneidade moral»); a prescrição de uma secção de livros denominada «Biblioteca do Estudante» (para empréstimo de «livros complementares de estudo»); a defesa implícita de uma via de colaboração com o poder municipal na dinamização das bibliotecas itinerantes da FCG e a existência de um serviço de inspecção centralizado. Quanto à modalidade itinerante em concreto, refira-se ainda o período relativamente dilatado de empréstimo livreiro, regularidade e predeterminação do horário e local das visitas e a possibilidade de solicitar livros não presentes no acervo.  
Neste âmbito, vejamos o itinerário, assim como o seu respectivo horário, da Biblioteca Itinerante nº8 pelo concelho de V. N. de Famalicão (que Daniel Melo não assinala, assim como a Biblioteca Fixa, a qual foi instalada num edifício da Câmara Municipal), segundo o “Estrela do Minho” de 12 de Abril de 1959, abrangendo Santo Tirso e Trofa, assim como algumas freguesias do concelho de Guimarães, limítrofes a V. N. de Famalicão.
Horário das visitas e itinerários durante os meses de Abril, Maio e Junho
Famalicão – Todas as Quinta-Feiras cerca das 16 horas.
Santo Tirso – Todas as Sextas-Feiras cerca das 16 horas.
Trofa – Visitas quinzenais a 7 e 21 de Abril, 5 e 19 de maio e 3, 10 e 30 de Junho cerca das 17h30.
Ribeirão – Visitas quinzenais a 15 e 29 de Abril, 5 e 19 de Maio e 3, 10 e 30 de Junho cerca das 17h30.
Riba d`Ave – Visita mensal a 6 de Maio cerca das 16 horas.
Lemenhe e Louro – Visitas mensais a 11 de Abril, 9 de Maio e 6 de Junho cerca das 17 horas em Lemenhe e 18 horas no Louro.
Avidos e Landim – Visitas mensais a 18 de Abril, 16 de Maio e 13 de Junho cerca das 16 horas em Avidos e 17 horas em Landim.
Seide e Lousado – Visitas mensais a 25 de Abril, 23 de Maio e 20 de Junho cerca das 14 horas em Seide e 16 horas em Lousado.
S. Tiago da Cruz, Arnoso e Celeirós – Visitas mensais a 29 de Junho e 26 de Maio e 23 de Junho cerca das 15 horas em Arnoso, 16 horas em Celeirós e 17 horas em S. Tiago da Cruz.
Vermoim, Mogege e Requião – Visitas mensais a 22 de Abril, 20 de Maio e 24 de Junho cerca das 15h30 em Vermoim, 16 em Mogege e 17h30 em Requião.
Bairro, Caniços, Vila das Aves e Rebordões – Visitas mensais a 30 de Maio e 27 de Junho cerca das 13 horas em Bairro, 14 em Caniços, 14h30 em Vila das Aves e 16 em Rebordões.
Aos Domingos
A 12 de Abril, 10 de Maio e 7 de Junho:
Carreira – Cerca das 9 horas.
Delães – 10 horas.
Pevidém – 11 horas.
Campelos – 12 horas.
Pousada de Saramagos – 13 horas.
S. Martinho do Vale – 15 horas.
Vale de S. Cosme – 16 horas.
A 19 de Abril, 24 de Maio e 21 de Junho.
Vairão – Cerca das 9h30.
Malta – 10 horas.
Árvore – 11 horas.
Vilarinho – 12 horas.
Azurara – 15 horas.
Retorta – 15h30.
A 26 de Abril, 24 de Maio e 21 de Junho.
Fornelo – Cerca das 9h30.
Guilhabreu – 10h30.
Mindelo – 11 horas.
Modivas – 12h30.
Vila Chã – 14 horas.
Vilar – 15 horas.
Mosteirô – 17 horas.
A 31 de Maio e a 28 de Junho
Telhado – Cerca das 9 horas.
Santa Maria de Airão – 10 horas.
Airão, Santa Maria – 10h30.
Ronfe – 17 horas.
Brito – 12 horas.
Caldas das Taipas – 14h30.
Mais de um ano depois, podemos ler e apreciar, assim como calcular o movimento dos leitores desta Biblioteca Itinerante, através do seguinte aviso, o qual diz respeito aos livros em atraso:
Porque se encontra já largamente excedido o prazo de empréstimo de livros feito a grande número de leitores pr intermédio da sua Biblioteca Itinerante n.º 8, com sede em Vila Nova de Famalicão, o Serviço de Bibliotecas da Fundação Calouste Gulbenkian solicita a devolução com a possível urgência, dos exemplares referidos, dado que a observância, por parte daqueles leitores, dos prazos mencionados, redonda afinal em seu próprio benefício e é condição fundamental para o bom funcionamento da Biblioteca e consequente finalidade da elevada missão que a informa[4].



[1] “Biblioteca Itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian”. In Jornal de Famalicão. V. N. de Famalicão, Ano 10, n.º 511 (10 Jan. 1959), p. 2.
[2] “Biblioteca «Fundação Calouste Gulbenkian»”. In Notícias de Famalicão.  V. N. de Famalicão, Ano 4, n.º 201 (2 jan. 1959), p. 2.
[3] “Chegou a Famalicão a Biblioteca Ambulante de Cultura Popular que permanecerá ali oito dias”. In Correio do Minho. Braga, Ano 21, n.º 6275 (29 Dez. 1946), p. 1.
Secretariado nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo. A Biblioteca estaciona no Campo Mouzinho, junto à esquina, estando aberta todos os dias das 10 às 13 horas e das 14 às 17 horas, permanecendo nesta Vila até ao dia 5 de Janeiro e partindo depois para Esposende. / Os requisitantes que não possuem Bilhete de Identidade devem apresentar pessoa idónea, uma firma comercial, por exemplo, que os identifique, responsabilizando.se pelo levantamento da obra.
[4] “Biblioteca Itinerante n.º 8. Vila Nova de Famalicão. Empréstimo”. In Estrela da Manhã. V. N. de Famalicão, Ano 1, n.º 47 (26 fev. 1961), p. 2.
 
 
A 114.ª Biblioteca-Fixa da Gulbenkian na Rua Direita, Casa da Cultura, tendo sido inaugurada neste espaço em 1985, estando antes no Parque 1.º de Maio
 


 


 

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