sábado, 7 de outubro de 2017

As "Portas da História"


AS “PORTAS DA HISTÓRIA”
OS CAMINHOS DA NOVA HISTORIOGRAFIA






É tempo de rasgar horizontes. Fernando Rosas, na última lição que proferiu na Universidade Nova de Lisboa (“História e Memória: “Última Lição” de Fernando Rosas”. Lisboa: Tintas-da-China, 2016), convoca-nos a uma reflexão sobre o papel da Memória na História. Alerta-nos para três paradigmas problemáticos e desconfiguradores da memória historiográfica nesta sociedade neo-liberal conservadora. A primeira desconfiguração da Memória é a desmemória, cujo processo que encarna o pensamento conservador contemporâneo na sua reivindicação ideológica. Este primeiro paradigma da desconfiguração da memória constrói-se de “silêncios” e de “omissões”, baseado num “amoralismo intelectual” e de ignorância sitémica., existindo assim há volta da memória um silêncio organizado nas instituições na efectivação da História. O segundo paradigma da desvirtualização da Memória é a convocação da memória como “farsa”, isto ´r, a teatralização da memória no espaço público. Mais do que uma espécie de “literatura de cordel”, protagonizada, em parte, pelos meios de comunicação social, , existem fenómenos culturais cuja projecção pública desvirtuam o seu real significado, porque depois não aplicados. Finalmente, o terceiro paradigma da desvirtualização da Memória, o “revisionismo historiográfico”, o qual “opina muito”, mas “investiga pouco”, tendo como consequência inevitável a manipulação da própria Memória, ficando suspenso o discurso crítico historiográfico. Destes três paradigmas da desvirtualização da Memória para a efectivação de um discurso historiográfico crítico, vários são os exemplos que poderia citar (e não é preciso ir muito longe, dentro de portas também os temos): pelo que se tem feito em volta de algumas personalidades, com excepções há regra; na falta de um discurso historiográfico crítico, muitas vezes incoerente, tipo corta e cola; no caso de algumas instituições deixarem passar em branco praticamente as comemorações centenárias; por um discurso historiográfico de ignorância histórica, elaborado em algumas circunstâncias via Dr. Google, com indicações bibliográficas incoerentes, o que daqui se supõe a falta de honestidade intelectual e pelos plágios constantes.

Vêm estas reflexões a propósito da publicação dos dois volumes das “Portas da História”, as quais foram apresentadas no Dia do Município de V. N. de Famalicão. Projecto editorial do Presidente do Município famalicense na última vereação, Dr. Paulo Cunha (recentemente eleito nas eleições autárquicas do dia 1 de Outubro), teve a virtualidade de trazer para a Praça Pública não só as comemorações do Dia do Município, na sua segunda efectivação, como igualmente as “Portas da História”, as quais significam a maturidade historiográfica (o mesmo acontecendo em 2005 com a “História de Famalicão”). Se ambas as histórias, conforme o afirmou Artur Sá da Costa na apresentação das “Portas da História”, se complementam, mais do que um discurso ideológico, elas são a reivindicação de uma identidade historiográfica multidisciplinar, manifestando-se contra aqueles que ainda possam acreditar que Famalicão é uma “Terra sem História”, esta mitificação desconfiguradora da memória que tem os seus perigos. Sim, é tempo de rasgar horizontes nas instituições culturais famalicenses (colocando aqui um papel primordial na rede de Museus), com projectos mais ambiciosos entre o local numa glocalização (a exemplo, com o Eixo Atlântico). Mais do que apresentar projectos públicos como dados adquiridos (a tal teatralização da Memória) é tempo de rasgar horizontes para uma identificação do território famalicense além fronteiras.



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