O
filme que no dia 30 de Novembro os famalicenses vão poder ver, “The Kid”, numa
produção do Cine-Clube de Joane e da Casa das Artes, e com a música de
“Bueno.Sair.Es”, é um momento histórico. Momento histórico não só por “The Kid”
pertencer à filmografia de Chaplin, como também pelo facto de o mesmo filme ter
sido apresentado aos famalicenses no Salão Olympia (o qual foi inaugurado em 23
de Novembro de 1913) no dia 2 de Março de 1924, com o título “O Pobre Miudinho”
ou ainda “O Garoto de Charlot”. A aventura cinematográfica em V. N. de
Famalicão começou em 1908, quando Duarte Aguiar & Guedes, patrões da
Confeitaria com o mesmo nome, resolveram inaugurar no velho barracão do Campo
da Feira em 28 de Maio de 1908 o “Cynematographo Pathé”. Segundo a imprensa da
época, o “Pathé” teve várias inaugurações, sendo a oficial em 18 de Junho de
1908, com o filme “A Vida de Cristo”, entre outros. Na parte final da sua
existência, o “Pathé” teria a explorá-lo a Empresa Quintela (Maio 1910) E
António Augusto da Silva (Junho 1910), mas sem êxito. Os cinéfalos famalicenses
ficariam sem ver as “projecções luminosas” apenas durante alguns meses, até
porque em 24 de Novembro de 1910 seria inaugurado o “Anymatographo Avenida”, de
Artur Garcia de Carvalho e António Dias Costa, no edifício da “Typographia
Mynerva”, numa sala com capacidade para mil espectadores. Estes mesmos
cavalheiros seriam os patrões do “Olympia”, o qual já funcionava em finais de
Julho e princípios de Agosto de 1913, para em 23 de Novembro se efectivar a sua
inauguração. Álvaro Carneiro Bezerra aparece como proprietário em 1916, tendo
como sócio, segundo informação da imprensa famalicense da época, Luís Terroso,
surgindo em Maio de 1919 a explorá-lo a Empresa Cine Doret, retomando novamente
Bezerra a exploração económica do “Olympia” em finais do mesmo ano. Por seu
turno, em Maio de 1935, o “Olympia” terá um novo proprietário, Manuel Caetano
da Silva, ficando até ao final do ano, solicitando ainda a Armindo Pereira
sociedade para a exploração cinematográfica. Será só em Outubro de 1936, não
havendo cinema desde Janeiro, que V. N. de Famalicão terá de novo projecções
cinematográficas, quando, uma vez mais, Álvaro Carneiro Bezerra e Vasco Simões
ficarão com o Olympia até Abril de 1962. Inaugurando o sonoro em Janeiro de
1931, o “Olympia” teve a sua concorrência: a primeira, foi a do Cine-Teatro
Pathé-Baby (1925-1927), da Associação Vinte Amigos Flor de Famalicão (Senra,
Calendário) e a segunda com a inauguração do Teatro Narciso Ferreira (Riba de
Ave), em 1943. Paralelamente, e timidamente, para além da época normal da
actividade cinematográfica, a época de Inverno, foram surgindo as primeiras
projecções fílmicas na época de Verão ao ar livre: em 1935, pelo Grupo de
Amigos dos Bombeiros Voluntários, no Campo da Feira; em 1936, pelo mesmo Grupo,
na Avenida da República (Parque de Diversões) e em 1937 também tivemos de novo
cinema ao ar livre na esplanada do Barreiro. Sem polémica, o “Olympia” fecharia
as suas portas, para logo de seguida, com pompa e circunstância, ser inaugurado
o Cine-Teatro Augusto Correia. Mas isso é outra história, assim como é outra
história o inventário, e o seu estudo, dos filmes que o “Salão Olympia” passou
ao longo dos seus cem anos de existência, o comportamento do público, entre
outros acidentes de percurso.
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