quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Encontros de Outono 13 - III



Prof. Miguel Dias Santos
Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra
“Ó Liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome: violência política e contra-revolução na I República”

O Prof. Miguel Dias Santos apresentou a tese da violência dos republicanos sobre os monárquicos, e, ao mesmo tempo, nos processos contra-revolucionários, da violência dos monárquicos contra os republicanos. E se a ameaça contra-revolucionária se manifestou entre o real e a ficção, o papel teórico, e prático, da Revolução Francesa teve o seu momento evidente com os republicanos, perante os imperativos éticos da revolução, só o amor pela Pátria reforça o valor colectivo para o ideal da liberdade. A teoria jacobina francesa vai estar implicada nos primeiros tempos da I República, particularmente nos Batalhões de Voluntários ou nas Milícias Republicanas, grupos com elementos da Carbonárias, organizações dos patriotas portugueses para a defesa dos inimigos, mantendo um papel de vigilância, colaborando com o regime. Desta forma, a violência teve uma certa institucionalização por parte do regime, realizando esses grupos não só a vigilância, como igualmente faziam aprisionamentos de cidadãos, eram encarcerados, muitas vezes sem culpa formada. Tal situação teve eco na imprensa estrangeira, principalmente na inglesa. Na expressão monárquica, surgiu “a crise do medo”, com exílios forçados, numa debandada de famílias aristocratas entre 1911 a 1913. O mesmo iria surgir no papel contra-revolucionário dos monárquicos perante os republicanos, particularmente nos tribunais de excepção. E se com os republicanos, ao nível da imprensa, é feita a censura aos jornais monárquicos, o mesmo se passará com os monárquicos face à imprensa republicana. O Prof. Miguel Dias Santos terminou a sua conferência aludindo o contributo dos monárquicos no seu papel historiográfico, cujos historiadores vão dar origem à historiografia do Estado Novo.


Prof. Paulo Guimarães
Universidade de Évora
“A violência nas relações entre o operariado e o poder político republicano
(1910-1926)”

“A violência como resposta à força”
                                                                                                      Sorel

Para o Prof. Paulo Guimarães, a I República (1910-1926) não foi só o culminar dos processos conflituais complexos enquanto continuidade da Monarquia Constitucional, como teve a emergência de formas de violência de protesto público moderno, a partir de baixo, surgindo enquanto fenómeno social desestabilizador, que só seria resolvido politicamente no Estado Novo. Neste fenómeno social, aparecem não só as suas contrariedades específicas, como disciplina laboral perante a violência patronal, a acção colectiva que será a greve operária, e que vai gerar a violência organizada e espontânea, verbal e física, atentado à propriedade, a sabotagem. Esta violência organizada vai ser importante na estruturação da comunidade como colectivização. Por outro lado, este sentimento de violência resulta da propaganda que constrói as imagens simbólicas dos seus actores e actos. A violência resulta também do sentido de honra, buscando o operário a honra republicana. Por outro lado, a violência exercida pelo Estado surge como monopólio de coacção. A República surge assim não só como repressiva, mas como igualmente como ruptura com o movimento operário, sendo este o inimigo da República, pelos ataques bombistas, as greves, atentados às pessoas e às propriedades. O movimento operário surge assim como inimigo da ordem republicana.
  
Prof. Miguel Nunes Ramalho
Academia Militar e ISCTE/IUL
“A Violência Sidonista”

Defendendo a tese de um complemento, de um continuado do período de 1917 da violência vinda da I República, o Prof. Miguel Nunes Ramalho focou não só a figura emblemática e paradoxal, como igualmente mítica, dando uma resenha biográfica, de Sidónio Pais. Concentrando a violência no seu sentido prático, tal verificou-se com a crise de subsistências, na “Revolta da Batata”, no revestimento de formas de luta pelo movimento sindical em constantes convulsões sociais, principalmente no assalto às padarias. As greves (greve da construção civil, greve do pessoal dos correios, greve dos caixeiros, a greve geral, operários dos tabacos, ferroviários), acentuaram-se cada vez mais, vindo então o apoio de Sidónio dos grupos civis, os quais vinham da “República Velha” para a “República Nova”. Ao lado desta situação social, Sidónio Pais criava então a sua propaganda sidonista, nomeadamente com as suas viagens presidenciais, defendendo o presidencialismo face ao parlamentarismo, à multidisciplinariedade partidária.


Prof. António José Queirós
Centro de Estudos do pensamento Português
Universidade Católica Portuguesa (CEPP-UCO)
“A violência política na década de 20”

Propôs analisar as fases revolucionárias e contra-revolucionárias nos anos de 1920 e de 1921, partindo o Prof. António José Queirós do princípio que as ideias defendidas pelos pais fundadores da República praticamente tinham então desaparecido. Para além da instabilidade política, a sociedade surge contra o Estado e as instituições, surgindo a violência como uma espécie de contra-face (caso do “Grupo dos 13”. Apontando algumas características, caso do aparecimento dos militares que aparece agora com força governamental (caso do exército e da G.N.R.), foca o 21 de maio de 1921 como uma tentativa revolucionária sem vítimas: mais do que uma revolta, foi uma reclamação. Por outro lado, com o 19 de Outubro de 1921, a célebre “Noite Sangrenta”, nas palavras de Raúl Brandão “a noite infame”, o Prof. António José Queirós avançou que se a “República Nova” morreu com o assassinato de Sidónio Pais, o regime republicano terminou moralmente com a “Noite Sangrenta”.


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