Hemeroteca Digital
"Ilustração Portuguesa", n.º 501 (27 Set. 1915)
Para o Dr. Manuel Sá Marques, mais um apontamento histórico por Vila Nova de Famalicão do já ido ano de 1915.
A
vida vai decorrendo entre os famalicenses, quando em 28 de Junho tomam contacto
com a terceira série do jornal “O Sorriso”, com o subtítulo “quinzenario
literario e humorístico”, tendo sido seu director Daniel Correia de Guimarães.
Com uma periodicidade quinzenal, “O Sorriso” tinha a sua redacção e
administração na Rua Adriano Pinto Basto e era impresso na Tipografia Aliança,
de Joaquim José da Rocha, a rival da Minerva. Por seu turno, em Lisboa, Nuno
Simões funda e dirige com João de Barros, na qualidade de Director-Gerente da
revista, a “A Atlântida” e teve a colaboração, ao longo da sua existência, até
1920, de Bernardino Machado, do próprio Nuno Simões e de Júlio Brandão. De
salientar os artigos sobre Camilo Castelo Branco de Jorge de Faria, Nunes de
Azevedo e Visconde de Vila-Moura. É ainda neste ano que Nuno Simões publica
“Gente Risonha”, Vicente Arnoso “Cantigas, Leva-os o Vento”, o jurista Eduardo
Carvalho “Questões e Julgamentos” e Manuel da Silva Mendes, o nosso
anarquista-taoísta, “A Pintura Chinesa”. Com a inauguração do balneário do
Hospital de S. João de Deus, os famalicenses tomam conhecimento, através do jornal "Estrela do Minho", em 1 de Agosto
da eleição presidencial, anunciando que Bernardino Machado e Duarte Leite são
as personalidades que podiam a vir a ser eleitas. A 8 de Agosto, tendo lido já
a 7 na “Gazeta de Famalicão”, os famalicenses leram que Bernardino Machado foi
eleito Presidente da República e a 15 de Agosto saberão que visitará Famalicão.
A crónica de Manuel Pinto de Sousa “Trabalhar” começa assim: “Está em Famalicão
há alguns dias, o presidente eleito da República, o que nos apraz registar com
desvanecimento. / Em Famalicão brincou a sua mocidade” e após considerações profissionais
do Presidente eleito, termina dizendo: “Felicitando a nação pela acertada
escolha dos seus representantes, Famalicão muito se ufana com orgulho, por ser
o berço do sr. Dr. Bernardino Machado.” E na edição do dia 17 de Outubro, os
famalicenses poderiam ler o discurso de Bernardino Machado, lido no Congresso
da República, na tomada de posse da presidência:
Saudando
deste lugar o meu eminente predecessor, dr. Teófilo Braga, que deu logo ao
Governo Provisório da República o auspicioso prestígio do seu grande nome
mundial, apresento ao soberano Congresso os protestos enternecidos do meu
elevadíssimo reconhecimento pela suprema investidura que se dignou outorgar-me,
tanto mais honrosa quanto mais grave é o solene momento que atravessamos. Sem
embargo das resistentes dificuldades herdadas, muitas das quais dir-se-iam já
irredutíveis, íamos afirmando eficazmente a acção salvadora do novo regime,
fórmula fiel do nosso progressivo disciplinamento popular, quando sobreveio a
formidável guerra actual – em que terçam armas nações amigas, uma delas mesmo
nossa inseparável aliada – abrindo perante nós um período mais que difícil,
inquietante para a obra de restauração social que iniciámos. Não haverá,
contudo, provação que possa abater-nos; ou humilhar-nos, se, com firme
hombridade, pusermos abnegadamente, como nos cumpre, o dever colectivo, que é
também o interesse comum, da defesa interna da nação acima de todas as nossas
disputas e contenções divisórias. Comprovemos bem alto o nosso civismo, para
que deste penoso lance de ansiedade e de sacrifícios saiamos moralmente
robustecidos para melhor prosseguirmos, sem o mínimo desdoiro, a realização,
tão contraminada pela reacionária decadência monárquica, do destino
inconfundível que a história traçou ao povo heróico, que, colocado na vanguarda
da Europa, teve o arrojo imortal de ir, à sua frente, implantar pelo mundo
inteiro a definitiva hegemonia da sua civilização. O acolhimento, de feliz
augúrio, dispensado, dentro e fora do país, à eleição presidencial, enchendo-me
a mim da mais confortadora gratidão, representa certamente o aplauso geral ao
propósito de pacificação política que se viu nela, e, portanto, uma expectativa
confiante na inquebrantável solidariedade dos nossos corações patriotas. E essa
confiança é um verdadeiro mandato imperativo. Orgulhosos de o merecermos, com o
pensamento em todos os nossos concidadãos de aquém e de além-mar, sobretudo
naqueles que mais necessitam do carinho e amparo governativo – o povo, a mulher
e a criança – conclamemos, com fé ardente, inextinguível, o verbo sagrado que
resume esperançosamente os mais nobres anelos da alma nacional.
Viva
a República Portuguesa!
Sem comentários:
Enviar um comentário