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Para o Dr. Manuel Sá Marques, esta pequena história da Cruzada das Mulheres Portuguesas por Vila Nova de Famalicão no ano de 1916
Apesar
de não ser constituído um núcleo, ou uma sub-comissão, como assim pretendia a
Secretaria-Geral da Grande Comissão, em V. N. de Famalicão, os famalicenses
liam em 26 de Março a seguinte notícia, um tanto ou quanto atabalhoada a nível
informativo, a propósito da constituição da Cruzada das Mulheres Portugueses,
fundada em 27 de Março de 1916, com o título “Patriotismo Feminino”: “Senhoras
da alta-roda, muitas de distintas famílias monárquicas, e a esposa do sr.
Presidente da República, constituíram-se em comissões para angariar fundos para
a Cruz Vermelha, inscrevendo-se como enfermeiras para tratamento de feridos
portugueses. / Nobre exemplo é esse que muito honra as senhoras portuguesas e
que desejamos seja fecundo de resultados como lição de patriotismo, nesta hora
em que todo o auxílio é necessário à Pátria.” De facto, as senhoras não se
constituíram em “comissões”, nem pretenderem angariar fundos para a Cruz
Vermelha, mas sim, angariar fundos através da Cruzada das Mulheres Portuguesas
para ajudar não só os soldados, como igualmente as famílias. Reunidas no
Palácio de Belém, na tarde de 27 de Março, com a presença do Presidente da
República, a sessão foi presidida por Elzira Machado e secretariada por Isabel
Guerra Junqueiro Mesquita de Carvalho e por madame António Macieira. Segundo o
“Diário de Notícias”, a 28 de Março, vários foram os objectivos da Cruzada das
Mulheres Portuguesas, nomeadamente a constituição de sub-comissões por todo o
país, assim como no Brasil e onde existirem colónias portuguesas; que por
intermédio da Câmara Municipal de Lisboa se organizasse a cooperação de todas
as câmaras municipais; solicitar ao presidente do ministério uma isenção postal
para toda a correspondência e centralizar toda a actividade na assistência, por
motivo da guerra. A Cruzada das Mulheres Portuguesas foi assim constituída:
Presidente, Elzira Machado; Comissão Central, Joana Gomes Galhardo, Esther
Norton de Matos, Maria Luísa Braancamp Freire, Ana de Castro Osório, Teresa
Teixeira Queirós, Maria Leonor Correia Barreto, Leonilde Vignaut Gomes, Amélia
Leote do Rego, Adelaide Menezes Fernandes Costa, Raquel Freire Oliveira Vicente
Ferreira, Maria Oliva Aquiles Gonçalves, Joana de Vasconcelos, Etelvina Pereira
de Eça, madame António Macieira, Virgínia Sousa Gaspar, Raquel Simas, madame
Alfredo da Cunha, Ema Marques da Costa, Angelina Azevedo Gomes Shirley e madame
Santos Lucas. Na Cruzada das Mulheres Portuguesas, as sub-comissões funcionaram
com a assistência da Secretaria-Geral da Grande Comissão, sendo responsável
madame António Macieira. O que é curioso foi nunca ter aparecido na imprensa
famalicense e, em especial, no “Estrela do Minho”, um apelo para a constituição
da Cruzada das Mulheres Portugueses em V. N. de Famalicão, tal como aconteceu
com a Cruz Vermelha Portuguesa, enquanto que a comissão municipal da Junta
Patriótica do Norte, por seu turno, foi constituída logo de imediato. A Cruzada das
Mulheres Portuguesas seria notícia por mais duas vezes, nomeadamente em 30 de
Abril, a propósito da lotaria patriótica, aprovada pelo parlamento em 27 de
Abril, e em 23 de Julho, ainda a propósito da mesma lotaria patriótica, com a
indicação dos respectivos prémios. Os famalicenses irão ler em 21 de Maio, na
crónica de Manuel Pinto de Sousa “Trabalhar” o seguinte:
As
mulheres portuguesas estão dando o nobre exemplo de uma cruzada altamente
simpática, da qual resulta benéfico auxílio aos soldados portugueses que sejam
feridos em campanha e também de socorro às famílias pobres dos soldados
mobilizados. / Por todo o país este apelo do belo sexo despertando a maior
simpatia em todas as criaturas, para quem não é indiferente o amor pátrio e com
ele o relativo conforto aos que pela pátria vão arriscar a vida. / É consolador
para todos nós a propaganda que as senhoras estão fazendo desde as grandes
cidades aos mais pequenos povoados, para a obtenção de donativos em dinheiro,
roupas e pensos para os nossos soldados em campanha, que podemos ser todos nós,
que à Pátria devemos a defesa da sua existência. / Nessa obra eminentemente
dignificadora, confunde-se num complexo de bondade fraterna todos os credos
políticos, para só existirem portugueses dignos desse nome, na santa
confraternização que deve ser o apanágio de todos os corações bem formados, dos
filhos de uma pátria que quer viver com honra.
Abraços apertados de gratidão!
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