O convidado de mais uma conferência
do Ciclo dedicado à Maçonaria, António Lopes, enalteceu a atitude cívica destes
encontros, congratulando-se pela sua presença no Museu Bernardino Machado. Para
António Lopes, não há perguntas muito difíceis para a Maçonaria, podendo haver
uma ou outra. Pretendendo transmitir sobre “o que é isto, a Maçonaria”, inicia
por clarificar o auditório que a Maçonaria é um grupo de pessoas, homens e
mulheres, uma organização masculina e feminina, para se discutir e se falar de
tudo. Tem como fim o combater preconceitos para sermos verdadeiramente
livre-pensadores. A Maçonaria, que nasce no século XIX, é fruto de uma mudança
política, cultural e social da Europa, sendo a causa e a consequência dessa
mudança, indo buscar as lendas e os símbolos para os seus rituais à cultura. E
se nasce em Inglaterra em 1717, na Maçonaria tudo se pode discutir, menos
religião e política. Sempre que meteu a política e a religião, a Maçonaria
sempre se deu mal.
António Lopes e Norberto Cunha
Com uma organização rudimentar na sua
fase inicial em Portugal (conhecendo-se, apenas, duas lojas, A Casa Real dos
Lusitanos e os Hereges Mercadores), as reuniões maçónicas iniciais
realizavam-se em casas de particulares, o que tem uma consequência, o facto de
serem itinerantes (constituindo, hoje, uma falha na documentação histórica);
existia, igualmente, uma conflitualidade nas lojas maçónicas, sobre as questões
de ordem ritual e, acima de tudo, a falta de uma estrutura central, apesar da
existência de um Corpo Maçónico, que reunia a direcção das lojas então
existentes em Portugal e as defendiam dos ataques por parte da Inquisição.Com a
criação do Grande Oriente Lusitano (1802), no qual existia tanto o rito
francês, como o inglês, existindo uma Maçonaria portuguesa até às invasões
francesas e uma outra após as mesmas. Para além disto, na estruturação da
Maçonaria no início do século XIX surge um conjunto de repressões perante a
mesma instituição.
Não havendo documentos suficientes que
comprovem a implicação da Maçonaria perante a Revolução Liberal de 1820, e nas
relações do Sinédrio com a Maçonaria, surgindo, ao mesmo tempo, em Portugal a
Carbonária, de tendências francesas, surgiram vários problemas de ordem social
e cultural, e mesmo de mentalidade, perante a Constituição de 1822,
nomeadamente a posição do Cardeal Patriarca de então, para o qual não se podia
reconhecer a igualdade entre os homens, com o argumento de que se a mão tem
cinco dedos todos eles diferentes, logo os homens não podem ser todos iguais. O
que surgiu com a respectiva Constituição de 1822, foram algumas reacções,
nomeadamente, por exemplo, a de Francisco Faria e Maia, para o qual os
intelectuais aliaram-se da realidade, esquecendo a educação para o povo para a
mudança da sociedade. Alias, para o Prof. António Lopes, Portugal andou sempre
ao sabor dos ventos do liberalismo europeu, tendo sido um dos seus combatentes,
de tal realidade, o P. José Agostinho de Macedo, surgindo com o miguelismo duas
correntes: o liberalismo e o absolutismo.
António Lopes, num dos momentos da sua conferência
Do Brasil, após a vinda da corte, a
Maçonaria adoptou o rito escocês, enquanto que da França e da Inglaterra
surgiram novas ideias, vindo, particularmente de França, a Carbonária, conforme
já se disse. Para o Prof. António Lopes, há várias carbonárias consoante as
épocas. Em 1834 há um novo crescendo da Maçonaria, surgindo, ao mesmo tempo,
cisões e divisões internas, devido, precisamente, às várias obediências então
existentes, e mesmo perante o sistema político (existindo então as sociedades
patrióticas, daqui nascendo os partidos políticos), que se começa a organizar
em Portugal por meados do século XIX, com a Regeneração, estando em campo
cabralistas e setembristas.
Uma das diferenças da Maçonaria da de
hoje perante a emergente em meados do século XIX, está na força, na beleza e na
sabedoria com aquilo que se discutia e se falava nas reuniões maçónicas. A
Maçonaria, então, aproxima-se dos grémios e das associações culturais e cívicas
de oitocentos, tendo como obrigação social ensinar a ler e a escrever. Será,
essencialmente, a partir dos anos 70 que a Maçonaria se aproxima do movimento
republicano, juntando então monárquicos e republicanos, ambos estando presentes
nas respectivas associações e nos respectivos grémios. O que une, segundo
António Lopes, esta geração é o altruísmo político em todos os quadrantes para
o bem comum, estando em causa a participação cívica, ficando assim a pessoa
mais completa.
Um aspecto do auditório
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