Para o Dr. Manuel Sá Marques, com o meu abraço de amizade fraterna, sempre.
1891
“Acta
da eleição dos delegados da Faculdade de Filosofia ao Colégio Especial para a
Eleição de Pares do Reino pelos Estabelecimentos Científicos. / No primeiro dia
do mês de Abril de mil novecentos e noventa, às dez horas da manhã, em uma das
escolas do Paço das Escolas da Universidade de Coimbra, reuniu-se em sessão
extraordinária o Conselho da Faculdade de Filosofia, sob a presidência do Exmo
Conselheiro Reitor, lente de Prima, Decano e Director da Faculdade de
Filosofia, Doutor António dos Santos Viegas, e sendo presentes os vogais
Doutores Júlio Augusto Henriques, António José Gonçalves Guimarães, António de
Meireles Guedes Pereira Coutinho Garrido, Francisco José de Sousa Gomes e
Henrique Teixeira Bastos. O Presidente declarou que o objectivo único desta sessão
extraordinária era proceder-se à eleição dos Delegados ao Colégio Especial que
há-de eleger os Pares do Reino pelos estabelecimentos científicos, na forma
prescrita pela carta de lei de vinte e quatro de Julho de mil oitocentos
oitenta e cinco, e conforme os decretos de vinte de Fevereiro do corrente ano.
Passou-se imediatamente ao acto eleitoral, começando por organizar-se a mesa
que ficou composta do seguinte modo: Presidente – doutor António dos Santos
Viegas. Escrutinadores: doutor Júlio Augusto Henriques, doutor António de
Meireles Guedes Pereira Coutinho Garrido. Secretários: doutor Francisco José de
Sousa Gomes e doutor Henrique Teixeira Bastos. E, procedendo-se logo à eleição
por escrutínio secreto, votavam por ordem de antiguidade, os vogais presentes;
e, tendo-se esperado meia hora, e não aparecendo ninguém mais, a votar,
abriu-se a urna, e verificou-se que tinham entrado nela seis listas, número
geral ao dos votantes. E, procedendo-se em seguida ao apuramento dos votos,
encontrou-se o seguinte resultado. Para delegados efectivos obtiveram: doutor
Bernardino Luís Machado Guimarães, seis votos; doutor Francisco José de Sousa
Gomes, cinco votos; doutor Júlio Augusto Henriques, um voto. Para delegado
científico obtiveram: doutor António José Gonçalves Guimarães, cinco votos;
doutor António de Meireles Guedes Pereira Coutinho Garrido, cinco votos; doutor
Henrique Teixeira Bastos, dois votos. / Ficaram, portanto, eleitos, por terem
obtido maioria de votos; Delegado Efectivo: doutor Bernardino Luís Machado
Guimarães, e doutor Francisco José de Sousa Gomes e Delegado Científico, doutor
António José Gonçalves Guimarães e doutor António de Meireles Guedes Pereira
Coutinho garrido. E a estes Delegados efectivos e suplentes assim eleitos, a
Faculdade de Filosofia outorga os poderes necessários para que, reunidos aos
outros membros do Colégio Especial, procedeu-se à eleição de cinco Pares do
Reino pelos estabelecimentos científicos, na forma da citada Carta de Lei de
vinte e quatro de Julho de mil oitocentos oitenta e cinco.”
UNIVERSIDADE
DE COIMBRA - Acta,
Coimbra, 1891 Abr. 1. [4 fls.].
·
Em 16 de Julho, realiza o “Discurso”
sobre o ensino no Parlamento; por seu turno, na Câmara dos Pares discursa sobre
“O Ensino Primário Antes de 1892”.
·
Em Novembro, escreve o artigo para “O
Século” intitulado “Instrução Secundária”
·
É nomeado Sócio-Correspondente da
Academia de Ciência de Lisboa (Classe de Ciências Morais, Políticas e
Belas-Letras).
·
É
nomeado Presidente da Direcção do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa.
Segundo o jornal “Novidades”, de 20 de Janeiro de 1892, promoveu obras no
edifício, as quais ficaram apropriadas às necessidades do ensino, ampliando a
Biblioteca e a secção de Física.
·
A pedido do Ministro das Obras Públicas,
João Franco Castelo Branco, elabora um plano de reforma das escolas e
institutos industriais e comerciais.
·
É eleito Sócio Benemérito da Associação
Industrial Portuguesa.
·
A Faculdade de Medicina presta um voto
de louvor a Bernardino Machado pela sua acção em prol do novo Hospital de
Coimbra.
·
É nomeada a Comissão, presidida por
Bernardino Machado, para proceder a um inquérito às escolas do ensino elementar
e complementar de Lisboa. O “Relatório” é apresentado em 30 de Março de 1892.
·
“Instrucção Publica”.
1892
·
“Em
data de anteontem, participam de Madrid: O dr. Bernardino Machado expôs nas
salas do «Ateneu» os trabalhos portugueses enviados ao Congresso pedagógico. Há
grande afluência de visitantes, os quais são unânimes em elogiar esses
trabalhos, que honram sobremaneira Portugal. / As memórias manuscritas e
impressas e outros livros de instrução são lidos com curiosidade.”
Congresso
Pedagógico [material gráfico]. In O
Valenciano (3 Nov. 1892). [1 recorte de imprensa].
“Dizem-nos
de Madrid, e os jornais confirmam-no, que têm causado verdadeiro e merecido
sucesso os quadros fotográficos das diferentes escolas e estabelecimentos
científicos, literários e artísticos de Lisboa e que o distinto e conhecido
artista Augusto Bobone enviou ao congresso pedagógico, juntamente com os
estudos e relatórios do dr. Bernardino Machado, 15 trabalhos extraordinários e
que vão ser expostos em Lisboa, findo que seja aquele certame. / Os quadros em
exposição no Museu pedagógico, daquela capital, têm merecido gerais palavras de
louvor.”
“Portugal
e Madrid” [material gráfico]. In Novidades.
Lisboa (10 Nov. 1892). [1 recorte de imprensa].
·
Em Janeiro é nomeado Vogal do Conselho
Superior de Instrução Pública.
·
Preside ao I Congresso dos Professores
Primários realizado em Lisboa entre os dias 16 a 21 de Maio, proferindo a
conferência “O Ensino Primário em 1892”.
·
É nomeado Sócio-Correspondente, na
sessão de 25 de Outubro, da Sociedade Geográfica de Madrid.
·
Na Academia de Estudos Livres profere a
conferência sobre a “Necessidade do Desenvolvimento da Instrução”.
·
“A
Conservação do Ministerio da Instrucção Publica”.
·
“Introducção à Pedagogia”. Conferência
no Congresso Pedagógico (Madrid). Este texto será publicado no “Boletín de la
Institución Libre de Enseñaza”, no n.º 376, de 15 de Outubro. É eleito
Vice-Presidente do Congresso, pronunciando o discurso de abertura e de
encerramento
1893
·
Em 15 de Janeiro, D. Afonso III concede
a Bernardino Machado a Real e Americana Ordem de Isabel A Católica, que premeia
a lealdade a Espanha e os méritos dos cidadãos espanhóis e estrangeiros.
·
“A
Crise Politica e Financeira e o Ensino”.
Discurso
proferido na discussão da Resposta ao Discurso da Coroa em 1 de Fevereiro de
1893.
·
Em 8 de Março, a Sociedade Geográfica de
Madrid (Espanha) nomeia Bernardino Machado cavaleiro com o Grau da Cruz da Real
ordem de Isabel A Católica.
“Por
último fala o sr. dr. Bernardino Machado, o devotado propagandista da instrução
pública, um verdadeiro apóstolo. O seu discurso, verdadeiramente notável,
prende a atenção geral, pelas ideias e pela linguagem. / Declara-se em oposição
ao governo, combatendo a extinção do ministério de instrução pública.”
“Discurso”
[material gráfico]. In Diário Ilustrado.
Lisboa (1 Fev. 1893). [1 recorte de imprensa].
·
É
nomeado Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros das Obras
Públicas, Comércio e Indústria, em Fevereiro, no Governo de Hintze Ribeiro
(Partido Regenerador).
·
Em
5 de Maio, nomeia Alice Pestana para estudar no estrangeiro os estabelecimentos
de ensino profissional do sexo feminino.
·
Em
18 de Maio cria a Escola Industrial da Figueira da Foz.
“Mais
ninguém havia inscrito e o debate ia encerrar-se quando pediu a palavra o sr.
dr. Bernardino Machado, que, com muita simpleza, mas não menos elegância e
vigor, pronunciou um belo discurso de oposição ao governo. / Reconheceu sempre
no sr. Dias Ferreira, diz o orador, os melhores dotes, mas nunca lhe pode
encontrar o dote de salvador, e quando o viu subir ao poder receou o que depois
veio a condenar-se, isto é, que o sr. Dias Ferreira, à falta de relações
políticas, quisesse fazer política pessoal, a pior de todas. Fê-la
efectivamente, e tanto pior para S. Ex.ª e para o país. Assim inspirado, a
política do governo foi péssima. Por isso a combate declaradamente. Simulando
economias, o governo desorganizou a instrução, começando por acabar com o
respectivo ministério, para terminar acabando com aulas indispensáveis,
resultando de tal proceder a anarquia do ensino, cujos efeitos hoje são maus e
as consequências futuras ainda serão piores. / Extinguiu o sr. Dias Ferreira
cadeiras que eram precisas, aulas de português e de francês, e levou a barbárie
a despovoar as aulas primárias, criando, para compensar, uma cadeira de latim
em Amarante! / O digno par falou até dar a hora, cponluindo por acentuar, em
resposta a uma frase do sr. presidente do conselho, que não será preciso talvez
uma moção das câmaras para o governo cair, pois que a situação é insustentável.”
[“Oposição
ao Governo”]. [material gráfico]. In O
Século. Lisboa (2 Fev. 1893). [1 recorte de imprensa].
“Discursou
também, e brilhantemente, o sr. dr. Bernardino Machado sobre serviços de
instrução. Examinou o que se fez a respeito dos diversos ramos do ensino e
disse que tudo foi anarquizado pelo sr. Dias Ferreira. Até dispensou as
escolas, diz o orador / – Dá cabo de tudo, observa o sr. visconde de
Chanceleiros. (Risos). / Crítica a criação de uma cadeira de latim em Amarante,
quando tantas suprimiu por toda a parte, e conclui acentuando como, pelas
razões que deu, não pode deixar de ser oposição ao gabinete.”
[“Serviço
de Instrução”] [material gráfico]. In O
Primeiro de Janeiro. Porto (2 Fev. 1893). [1 recorte de imprensa].
“Proferiu
na Câmara dos pares um notável discurso o sr. dr. Bernardino Machado, afirmando
mais uma vez o seu grande talento e erudição. / Disse S. Ex.ª que o caminho
seguido pelo governo enfraquecera o prestígio de todos os poderes, que o sr.
Dias Ferreira só formara conventículos eleitorais, introduzindo na reforma
administrativa a absorção do ensino municipal e fizera um governo pessoal. / E,
além de tudo o mais, disse ainda o sr. dr. Bernardino – o sr. Dias Ferreira
anulou o Conselho Superior de Instrução Pública, mandou acutilar a academia,
injuriou o prelado da Universidade, decretou na reforma a anarquia dos estudos,
dando a liberdade de cada um fazer os exames que quisesse, despovoou as escolas
primárias, estabeleceu a instabilidade dos professores e nada fez de economia
real, não teve força para arcar com as localidades que tinham liceus e até
criou uma cadeira de latim… em Amarante, aumentou o número de professores de
Lisboa, tendo acusado a Câmara Municipal de ter pessoal a mais no serviço de
ensino. / Terminou declarando-se contrário ao governo, cuja situação é anómala
e não lhe parece que possa prolongar-se.”
[“Instrução
Pública”] [material gráfico]. In Gazeta
Nacional. Lisboa (4 Fev. 1893). [1 recorte de imprensa].
“Ao
fim duma tarde calmosa de Junho ou Julho, no ano terrível da França e de Victor
Hugo, entrava em Coimbra no meu quarto, de cuja janela amplamente aberta se
viam algumas das ínsuas verdejantes da margem direita do Mondego, alguns dos
seus regatos límpidos e das suas ilhotas fulvas de areia, um estudante
simpático a todos os outros e que todos conheciam por um só nome – O
Bernardino. O Anuário da Universidade teria talvez homónimos; mas o pronome
assim, só, sem apelidos, não o deixava confundir; era um reconhecimento de
talento e um distintivo de afeição. / – Feche lá a janela – disse-me ele. /
«Porquê? É tão agradável tê-la aberta!» /
– Porque me parou de repente o suor com uma rajada de vento ali na Rua
Larga, e sinto uns arrepios. / – «Ah! Sim? Pois fecha-se a janela. Mas isso
passa depressa, acrescentei, com o riso dos que tendo boa saúde não acreditam
nos sofrimentos dos outros, senão quando são evidentes. Passa depressa, verá;
vamos ler um pedaço.» / E da estante em que se enfileiravam filósofos, desde
Platão, Aristóteles e Plotino, passando por Bacon e Descartes, até Kant e
Hegel, Comte e Spencer, sonhadores que vão adiante da humanidade como aquele
nuvem de fogo ou de fumo que dirigia os hebreus no deserto, tirei um livro, o
tomo 2.º das obras de Platão. / «Vamos ler um destes diálogos. Há-de ser o
primeiro Hípias ou Do Belo.» / Líamos e trocávamos
observações. O encanto daquela prosa, rítmica, melodiosa, apesar da tradução,
sóbria de adjectivos e proporcionada em tudo, como a de todos os grandes
escritores gregos, fez-lhe depressa olvidar a preocupação, e o facto, que pode
parecer singular, não era fortuito, mas característico. / De estatura regular,
delgado, seco, nervoso, cabeça poderosa num corpo débil, a imaginação,
baseando-se nalguns sofrimentos reais, percorria-lhe nas horas de ócio a órbita
das doenças; mas no estudo ou na leitura, o corpo e o espírito estavam a postos
e velavam, atentos e vivos, sem fadiga, sem bocejos e sem distrações, o
necessário para ser dos primeiros nas aulas e ainda nas palestras e contendas
literárias. / Cursando ao mesmo tempo na Universidade a Faculdade de
Matemática, onde foi até ao terceiro ano e onde teve partidos, e a de
Filosofia, em que teve distinções e accessits,
e em que se doutorou, não se deixou enredar nas linhas de geometria e nos
hieroglíficos da álgebra, não perdeu de vista, levantado nas espirais do
cálculo, a terra e os homens, nem nas experiências da física e da química se
lhe embotou o instinto do belo, o sentimento do gosto e a admiração da arte; o
seu espírito prendia-se por igual a tudo em que havia uma parcela de verdade ou
um fio de glória, e se parecia que aquele corpo franzino podia com pouco,
via-se que cabia muitíssimo naquele cérebro vasto. / Filiou-se cedo no partido
Regenerador, sendo padrinho do seu doutoramento Fontes Pereira de Melo; esse
doutoramento olhava para as cadeiras da Universidade por direito e para as
eminências da política por aspiração. / Como lente, regeu distintamente a
cadeira de Física, a de Química e a da Agricultura, depois substituída por
proposta sua pela de Antropologia. Ramalho Ortigão, que visitou Coimbra por
este tempo, dizia dele, para um jornal do Rio de Janeiro, que tinha uma
reputação estabelecida de grande talento e de vasta erudição; que era um dos
mais célebres representantes do professorado; que era citado como um dos tipos
mais perfeitos do erudito moderno, versado em toda a história do
experimentalismo das novas escolas, na ciência filosófica e na literatura; e,
traduzindo um pouco do seu modo de ser, da correcção das suas maneiras e da
suave idealização que dava às coisas, Giner de los Ríos, escrevia dele nas Dominicaes do Livre Pensamento que nos
seus lábios Zola parecia um místico e os ímpetos dos oradores revolucionários
espanhóis trechos de poesia oriental. / Nada do que fosse humano ele queria com
efeito que lhe fosse estranho: de manhã demonstrava, por exemplo, dando á roda
da sereia acústica que o som, em chegando a uma certa altura, se torna imperceptível;
à tarde discutia o último romance de sensação, recordava os versos de bronze e
de aço de Victor Hugo, ou a prosa, doce como o mel de Himeto, do diletantismo
musical e vago de Renan. / Muita inteligência, muita bondade, muita vontade
eram então e são hoje a síntese da personalidade de Bernardino Machado, e raras
vezes uma alma se espelhou tão clara, tão visível e tão evidente numa
fisionomia. Na testa ampla adivinha-se-lhe o poder e a largueza do pensamento;
nos olhos pretos, rasgados, de olhar direito, vivo e suave. A lealdade do
carácter e a agudeza do engenho; a luz desses olhos e o sorriso que se abre
facilmente, natural e sincero, quando encontra um amigo e quando fala,
iluminam-lhe o rosto pálido e traduzem a bondade do coração; e na oval
estreita, quase, quase aguda e proeminente barba, revela-se, sem possibilidade
de engano, a força e a firmeza de uma vontade, que lhe impõe uma disciplina
severa e uma higiene rigorosa para uma vida de trabalho, que acorda com a
manhã, e, ao mesmo tempo, é capaz de todas as resistências aos outros, quando
sejam precisas, pelo convencimento da bondade de uma causa ou por um sentimento
de dignidade que se respeita e não quebra. Destas qualidades e de poucos
acidentes deriva a sua carreira. / Da Universidade veio para a política e para
Lisboa, deputado e vogal ordinário do Conselho Superior de Instrução Pública,
dando-lhe depois os estabelecimentos científicos a honra, que concebem a
poucos, de o elegerem seu representante na Câmara dos Pares. O funcionário e o
político continuaram o professor, e ele pode dizer com verdade o que escreveu
na advertência do seu livro Afirmações
Públicas: «Uma coisa entre todas me preocupou sempre, quando mesmo me não
ocupava: a causa do ensino.» / As questões de quem sobe e quem desce, desta
ilegalidade e daquele abuso, deste escândalo ou daquela intriga, deste benesse
ou daquele mexerico, o aproveitamento para elevação própria de circunstâncias
pouco prósperas do país, carregando-se como faltas aos adversários; assuntos os
mais clamorosos, os que dão mais nome, os que mais fazem subir, não o atraíram
nunca, e nas lutas dos rudes ataques e das defesas apertadas e a todo o transe,
o seu papel foi nulo ou esmaecido; nunca foi o Temístocles de nenhuma Salamina
em que se jogassem os destinos de um partido; nunca esteve nas Termópilas a
defender um ministro, para salvar a existência de um gabinete ou sequer o
prestígio do poder; capaz de se bater, sem cálculo, mas por tendência natural,
escolheu, reservou para si uma região, em que se podem levantar grandes
tempestades, mas que de ordinário se conserva serena – a da instrução pública.
/Aí esteve sempre presente, no parlamento e fora dele, fomentando-a,
dirigindo-a, incitando-a, animando-a por todos os modos por que podia, pela
discussão das propostas governamentais. Pelos projectos de iniciativa própria,
pelas conferências nos ateneus, pelos discursos nos centenários, pelos
congressos de professores, pela correspondência com pedagogistas estrangeiros,
pela visita e direcção de escolas, pela convivência e amizade com mestres e
alunos. Nesta época de cepticismo tem uma crença, nesta maré de indiferença uma
paixão, a crença no valor do pensamento, a paixão do bem por meio da escola,
compreendendo-se nesta palavra a primária, a secundária, a superior e a
profissional, a ideia geral que civiliza e a ideia técnica que aviventa os
ofícios, o sol que faz crescer a riqueza de um país. / O que predomina no seu
corpo é a cabeça, por isso a sua religião é o pensamento. «Quanto pode a
inteligência!» – escreveu ele. «Nós só um ideal tivemos; a princípio nem
passava de uma quimera, e imortalizou-nos o nome!» Com um tal programa, parece
que a pouco se poderia chegar no nosso país; todavia, achou por meio dele, no
estrangeiro, relações que lhe dão nome e na pátria uma clientela numerosa e
dedicada de professores de diversas classes. / Nalgum fim de tarde, ide ao seu
rés-do-chão da Rua da Junqueira, longe do Terreiro do Paço e perto da praia do
restelo, onde se estabeleceu para se obrigar a grandes caminhadas, compensadoras
da vida de estudo, apedar de estudar de pé e, enquanto a esposa lida nos
preparativos do jantar e os filhos acabam as lições de línguas ou os exercícios
de um ofício, carpitejando como S. José, podereis a maior parte das vezes
entreter-vos no jardim com professores portugueses e com algum estrangeiro
instruído, ou que esteja em Lisboa de passagem ou do quadro das escolas
industriais. / neste caminho e com esta clientela teria achado o que parecia
que procurava – a pasta da instrução pública – se a política do país lhe não
lhe tivesse feito bancarrota; não foi, porém, dos credores mais infelizes; se
não lhe pagaram na moeda de ouro que ele queria, deram-lhe pelo menos setenta
por cento – o Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria. / Agora
sinto o rumor das reclamações que suscitaram os seus actos; ouço a graça
nacional, em crítica alegre ao ministro, na sonhada perspectiva de uma queda
próxima, vestir-se, transmudando-as um pouco, nas estrofes heroicas e nas rimas
amorosas de Camões, e pequenos empregados perguntam-me com olhos rasos de água
onde está a bondade da sua alma, a bondade que eu afirmo, a origem da via
láctea das simpatias que o cercavam. / Esse pacífico, de quem Giner de los Ríos
dizia, errando, e de quem muitos pensariam, que não perturbaria nada, correcto
no trajo e no procedimento, sem nódoas num e noutro, irrepreensível na alvura
do seu colarinho e da sua vida, desarrumará tudo que julgar mal arrumado, se o
deixarem, tomando sempre a sério o seu papel. / Diante de um problema qualquer
de administração não ficará pasmado, como um idiota, nem com a indolência
invencível de um temperamento ou com o egoísmo de um horaciano, que só quer a
vida e as honras para as gozar, dirá ao tempo – resolve tu as coisas. No início
de uma carreira, num momento atormentado de necessidades que colidem, não é
estranho que não encontrasse logo o ponto luminoso e único salutar de reforma
em que a simplificação dos serviços e a diminuição importante de despesas se
combinam com a equidade devida aos homens, sobretudo aos que não têm por
broquel da sua justiça senão a justiça e a piedade dos outros; mas, em vista se
lhe afeiçoando à escuridade própria das complexas questões que lhe foram
entregues, cremos que a energia e a ousadia da sua vontade obedecerão acordes
ao seu pensamento e ao seu coração, e o tempo do seu ministério não será, nem
perdido para o seu nome, nem inútil para o país.”
LARANJO, José
Frederico - “Bernardino
Machado” [material gráfico]. José Frederico Laranjo. In A Semana de Lisboa: suplemento do Jornal do Commercio. Lisboa, n.º
27 (2 Jul. 1893), pp. 1-3.
·
Em
23 de Março, nomeia Oliveira Martins Vogal do Conselho Superior de Agricultura.
·
Em
1 de Julho, cria a “Biblioteca Agrícola”.
·
Propõe
a reorganização dos estabelecimentos de ensino, relativa ao ensino superior de
agricultura, aos cursos primários nas escolas industriais e dos institutos
industriais.
·
Propõe
a descentralização do ensino industrial, criando a Escola Industrial de Aveiro,
a Escola Industrial e Comercial da Figueira da Foz, a Escola Oficina de Viana
do Alentejo, a Escola Industrial da Marinha Grande e a Escola Industrial de
Évora.
·
Em
21 de Dezembro, cria o Museu Etnográfico Português, nomeando director José
Leite de Vasconcelos.
·
É
eleito Sócio de Mérito do Ateneu Comercial de Braga.
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