sexta-feira, 3 de maio de 2013

Bernardino Machado e a Imprensa Famalicense 1907

 
O ano de 1907 é um ano riquíssimo a nível de acontecimentos na imprensa famalicense à volta de Bernardino Machado. Tudo começa sobre a sua vinda ao Porto, em homenagem a Heliodoro Salgado, para uma referência seguinte ao discurso "A Autópsia do Franquismo", radicalizando- se na revolta académica. De facto, através do jornal de Sousa Fernandes, "O Porvir", o órgão da Comissão Municipal do Partido Republicano de V. N. de Famalicão, que vai transcrevendo as notícias do jornal "A Voz Pública", assim como as breves notícias do "Estrela do Minho" a propósito da Homenagem de 1907, cuja comissão viu, num primeiro momento, ser proíbida pelo governo. A demissão de Bernardino Machado da Universidade de Coimbra marca o seu corolário: se a sua participação cívica era já então notável, tal atitude reforça-a indiscutivelmente (conforme se pode ver na caricatura do jornal "O Século") representando a sua filosofia kantiana. Mas em V. N. de Famalicão, o seu irmão, António Luís Machado Guimarães, 2.º Barão de Joane, homem forte do Partido Progressista local, tem um gesto de nobreza para com o seu irmão Bernardino: pede uma demissão temporária da presidência da Câmara Municipal (1905-1907), um mês antes da homenagem. A Câmara que a seguir toma posse, convidadapara a manifestação, recusa, considerando-se "monárquica e conservadora." Compreende-se o gesto!Indiscutivelmente, para o Dr. Manuel Sá Marques, com o meu abraço de fraterna amizade.
 
 
 
 
·         “Dr. Bernardino Machado”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 3, n.º 150 (31 Jan. 1907), p. 3.
      Por notícia que lemos no Primeiro de Janeiro soubemos ter aqui estado segunda-feira, em rápida visita a seu irmão o sr. Barão de Joane, o ilustre caudilho republicano Dr. Bernardino Machado. / Segundo a mesma noticia o ilustre democrata que veio expressamente ao Porto para presidir a homenagem à memória de Heliodoro Salgado, terá regressado a Coimbra  nesse mesmo dia à noite.
·         “Verdadeiro”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 3, n.º 147 (10 Jan. 1907). P. 2.
O devotado apóstolo da ideia republicana, o eminente catedrático dr. Bernardino Machado, na sua notável conferência realizada no Domingo passado, em Lisboa, na qual fez a autópsia do franquismo, teve uma frase que define bem o sr. João Franco e o gabinete actual: «Os homens que, segundo era voz pública, queriam entrar de chapéu na cabeça, no paço, organizam torneios em volta do rei, para lhe beijar humildemente a mão.» / Assim é. O sr. Franco, com o fim de captar as simpatias do povo, que já está farto de aturar os Messias monárquicos, acenou-lhe com promessas de liberdade, afirmando que estava arrependido a política que em outros tempos tinha feito. / O actual presidente do conselho, qual outro pecador arrependido da política que em outros tempos tinha feito. / O homem até teve o despejo de dizer no comício realizado no teatro Príncipe Real, onde – diga-se de passagem –, só teve ingresso quem foi portador de um bilhete intransmissível, que caçava no mesmo terreno dos republicanos. / Em vista destas formais declarações, houve ingénuos que acreditaram que o Partido Republicano estava morto em Portugal. / A desilusão não se fez esperar. / O sr. João Franco disse no parlamento que o rei tinha recebido ilegalmente adiantamentos; pois, agora, armou em Costa Pinto, promovendo manifestações em homenagem ao sr. D. Carlos. /Diz muito bem o sr. dr. Bernardino Machado: «Os homens que queriam entrar de chapéu na cabeça, no paço, organizam recepções para lhe beijar a mão.» / Ainda bem; o sr. João Franco está servindo à merveille o Partido Republicano. / Esta será, sem dúvida, a última experiência dentro dos partidos monárquicos.
 

 
·         “Coimbra em Revolta”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 3, n.º 155 (6 Mar. 1907), p. 1.
O caso sensacional da última semana foi sem dúvida a atitude dos estudantes da Universidade em relação à injustiça de que foi vítima o Dr. José Eugénio Ferreira. / Este ilustre académico, estudante laureado da Faculdade de Direito, talento brilhante da actual geração universitária, foi unanimemente reprovado na sua tese de doutoramento. / Tratando-se de um espírito de ideias muito avançadas, insubmisso aos dogmas conservadores em qualquer dos campos político, religioso ou científico, desde logo se compreendeu que o acto da Faculdade de Direito, reprovando o Dr. Eugénio Ferreira, apenas obedeceu às preocupações mesquinhas de castigar um revoltado. / Assim o entendeu a academia, que do seu entusiasmo pela vítima passou à indignação contra os algozes, apupando estes na rua, apedrejando-lhes as casas, pondo-os numa pavorosa, de que alguns houveram por bem escapar-se… pela tangente da fuga. / O governo, sabedor do caso, providenciou logo pela forma mais paternal, mandando marchar sobre Coimbra cinco soldados e um cabo de cada regimento do nosso exército. E não bastando isto para que a hidra revolucionista se aplacasse, acabou por decretar o fechamento das aulas, ordenando à mocidade em revolta que em 24 horas abandonasse Coimbra! / Está muito bem, pelo que respeita à ordem pública, mas… queimar não é responder, como a Robespierre objectou Camille Desmoulins. O fechamento da Universidade não importa uma satisfação ao Dr. José Eugénio Ferreira. Como conta o governo remediar a injustiça de que foi vítima este ilustre académico?... / O busílis mais complicado do caso é este.

 
 
·         “A Questão Académica”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 3, n.º 158 (28 Mar. 1907), p. 1.
Não vai muito encaminhada para uma solução conciliadora esta irritante questão que em má hora a Faculdade de Direito provocou.  / Muito ao invés do que há dias circulou por meio da imprensa oficiosa, talvez no propósito de se conseguir pelo embuste as boas graças da mocidade em revolta; muito ao invés das promessas de bom acolhimento que aos académicos foram feitas, a verdade é que a autoridade académica, certamente a isso instigada pelo governo, resolveu submeter a julgamento no foro universitário todos os estudantes considerados cabecilhas do movimento de protesto. / É manifesto por isto o descontentamento dos académicos, e de sobra o revelaram no comício que há dias celebraram no Porto, em repetidas reuniões da classe, e em artigos que têm dado a público na imprensa do Porto e Lisboa. / Não se pode bem prover o que sairá desta situação anormal entre professores e discípulos, convém, entretanto, notar que o caso não dá muito para previsões de fácil optimismo, atenta a solidariedade que os académicos de todo o país se prometem, e a simpática adesão que eles têm da opinião pública. / Ainda há última hora um facto deveras notável vem dar uma grande força às reivindicações académicas. É o caso do sr. dr. Bernardino Machado, indiscutível ornamento da cátedra universitária, haver declarado que não voltará a reger a sua cadeira na Faculdade de Filosofia desde que qualquer estudante seja riscado da Universidade por motivos da pendência em litígio. / Esta declaração, que sobremaneira honra o ilustre catedrático, pode materialmente não ter o peso da espada de Brennus em favor da causa dos estudantes, mas tem um alcance moral que iliba estes de toda a pecha com que lhes queiram macular a razão e justiça das reclamações porque lutam. / E isto já é muito, embora possa parecer pouco a frívolos e superficiais conceitos
 
·         “Dr. Bernardino Machado”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 3, n.º 158 (28 Mar. 1907), p. 2.
Transcrevemos da «Voz Pública», de ontem, esta notícia referente á honrosa declaração feita por este nosso eminente correligionário a propósito do incidente académico: / «O sr. dr. Bernardino Machado, catedrático da Universidade, anteontem á tarde, na sessão solene e inauguração do Centro Eleitoral de Belém, de Lisboa, protestou contra os processos universitários, sustentando que, se houve desmandos lastimáveis contra quaisquer lentes, devem ser submetidos aos tribunais comuns. E, quanto às reivindicações liberais da academia, afirmou estar inteiramente com ela, não admitindo que o governo pretenda, como disse o ministro das obras públicas, obriga-la a voltar à normalidade para só depois lhe fazer justiça, quando o seu dever é, pelo contrário, começar de pronto a dar-lhe a justa satisfação para que ela volte confiadamente aos seus estudos, e declarou categoricamente que, em consequência da sua nobre solidariedade colectiva nas reivindicações liberais – porque ele tem pugnado sempre e que com ele tantos dos seus colegas julgam absolutamente imprescindíveis e urgentes, para o progresso do ensino e para as boas relações entre professores e alunos se algum dos estudantes for, como caudilho desse honroso movimento, expulso das aulas por um arcaico e falso critério disciplinar, ele as considerará também para si fechadas.» / Para ser amado e querido no país, não precisava o ilustre caudilho republicano dar novas provas da sua bondade e do seu espírito de justiça. Se precisasse, bastava este acto de generosa solidariedade com os académicos perseguidos para lhe conquistar o culto da opinião pública. / Este facto importa pouco para nós, motivo de uma dupla satisfação – porque honra o nobilíssimo carácter do dr. Bernardino Machado e honra a causa que o tem por fervoroso adepto e infatigável missionário.
·         “A Questão Académica”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 3, n.º 159 (4 Abr. 1907), p. 1.
      A decisão que esta questão acaba de ter em Coimbra, por parte do foro académico, deixa-nos fundados receios de que não esteja nesse julgamento do conselho de decanos o último acto do agitado incidente. / Afigura-se-nos que a sentença proferida é violenta de mais para que não desperte o irritado protesto das vítimas, e daqui a apreensão em que ficamos pelos acontecimentos que o dia de amanhã nos possa trazer. / Imaginemos, porém, que tudo correrá pelo melhor, dissolvendo-se pela crueldade e pelo terror a dissidente atitude da mocidade das escolas – e certo é que ainda depois deste resultado em evidência, nos parecerá que o conselho de decanos não andou bem em socorrer-se de um tal rigorismo inquisitorial para fins que por mais humanos e justos processos também podia conseguir. / Reduzir pela violência, ainda que com favorável sucesso, é sempre deprimir o carácter da vítima, abatendo-lhe a sujeição humilhante dos seres inferiores, e tão rara vai sendo entre nós a altivez de carácter que foi apanágio de antigos portugueses, que habituar a semelhantes práticas a mocidade que será a geração dirigente de amanhã, é sem dúvida prestar um desserviço à nossa comunhão nacional. / A sentença proferida pelo foro académico de Coimbra funda-se na legislação de dois decretos que datam, um de 1839 e outro 1844! / Não admira, pois, que com uma legislação cuja origem quase se radica no tempo de Pina Manique, os decanos da Universidade promulguem sentenças que ressudam cruezas de Torquemada.
António Luís Machado Guimarães
 
·         “O Caso Complica-se”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 3, n.º 159 (4 Abr. 1907), p. 1.
     As cartas que acabam de trocar-se entre o reitor da Universidade e o sr. dr. Bernardino Machado, lente da Faculdade de Filosofia, justificam o pessimismo com que estamos vendo os acontecimentos de Coimbra, como em outra parte manifestamos. / Não nos parece que as nuvens negras que se vão condensando no horizonte, deixem de dar borrasca mais dia menos dia, mas como é certo que Deus dementa aqueles que quer perder, deixemos entregues à sua sorte os que de ouvidos cerrados aos concelhos da razão persistem em provocar o leão que dorme. / Registemos, então, as duas cartas a que aludimos, por que elas representam um bom subsídio para a história destes dias de cómicas provocações por parte dos homens que mandam e que de pachorrentos e medrosos Sanchos Panças se querem dar às pimponices de D. Quixote.
     Il.mo  Ex.mo Sr. Queira V. Ex.ª declarar-me com urgência se é ou não verdade ter V. Ex.ª proferido publicamente, na sessão de 25 do corrente, do Centro Republicano Escolar de Belém as expressões que lhe são atribuídas no jornal «O Século», n.º 9071, de 26 deste mês, nos termos seguintes: (Segue a transcrição). / De V. Ex.ª, Paço das Escolas, em 30 de Março de 1907. Il.mo e Ex.mo Sr. Conelheiro Dr. Bernardino Luís Machado Guimarães, Lente Catedrático da Faculdade de Filosofia. (a) O reitor António dos Santos Viegas. / O sr. conselheiro Bernardino Machado respondeu nos seguintes termos: / Il.mo e Ex.mo Sr. Surpreende-me o ofício de V. Ex.ª. Então eu preciso ainda de dar provas da minha cordialidade para com todos, grandes ou pequenos, mestres ou discípulos? E é V. Ex.ª que ma põe em dúvida, V. Ex.ª que, num lance crítico da sua vida universitária, quase só com a minha consideração pública se encontrou! Tenho bem o direito de lho recordar, não por mim, mas por V. Ex.ª / Compreende-se que V. Ex.ª, apesar de todo o meu claro passado, levasse o zelo da sua estima pelo meu bom nome ao ponto de chamar a atenção para quaisquer palavras destoantes que algum jornal me atribuísse. Era dum colega e dum reitor. Mas intimar-me a dar-lhe explicações por elas! V. Ex.ª não pensou, decerto, que se dirigia ao / De V. Ex.ª sempre att.º ven. Bernardiono Machado, Lisboa, 1-4-1907.
·         “Dr. Bernardino Machado”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 3, n.º 160 (11 Abr. 1907), p. 1.
A conferência que o dr. Bernardino Machado fez domingo passado no Centro Eleitoral Republicano, em Lisboa, é a todos os títulos uma peça oratória que honra o ilustre membro do Directório Republicano. / Tomando a disciplina para tema da sua prelecção, o sábio catedrático abordou com magistral perícia duas questões da actualidade que com especial propriedade se adaptavam ao enunciado da sua tese: o caso Homem Cristo nas suas actuais relações com a hierarquia militar e o conflito académico na sua dependência do obsoleto foro universitário. / E tão bem, com tanto critério e justiça expôs e julgou a moralidade destes dois casos, que só nos resta pena de não dispormos de espaço para fazer o que fizeram muitos jornais de Lisboa: para publicar quase na íntegra a notabilíssima conferência do nosso eminente correligionário.
 
 
·         “Dr. Bernardino Machado”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 3, n.º 160 (11 Abr. 1907), p. 2.
Pretendendo hostilizá-lo, amargurar-lhe o espírito, desmerecê-lo aos olhos do país, o governo mandou que os seus três jornais abrissem agressiva arremetida contra o dr. Bernardino Machado, e à arcaica e inquisitorial justiça universitária ordenou por igual que metesse em processo o catedrático ilustre. / Pois a conhecida macaca do chefe do governo ainda aqui se revelou por uma forma inequívoca. É que a perseguição da moralidade triunfante só conseguiu pôr o ilustre caudilho republicano em mais simpática evidência, e dar-lhe dias alegres e felizes por ver-se aplaudido pela opinião pública à conta da sua nobre atitude na questão do dia – na questão académica. / Excepção feita dos jornais franquistas – três apenas! – toda a imprensa da capital se tem ocupado, com os mais rasgados encómios, do nosso eminente correligionário, sendo, sobretudo, para notar, por virem de jornal que não é republicano, uns magníficos artigos de fundo sobre a superior individualidade do dr. Bernardino Machado publicou «O Século». /  Mas nem só a voz da imprensa se tem manifestado neste concerto apologético. / Domingo, em plena avenida, quando a enorme multidão, ali reunida para assistir ao enunciado comício dos estudantes, lobrigou o nosso prezado correligionário, fez-lhe uma das mais vibrantes ovações a que se tem assistido em Lisboa. Foi uma repetição do que se deu com Afonso Costa na praça de touros do Campo pequeno! / E porquê isto?  / Por uma coisa aparentemente muito simples. / O dr. Bernardino Machado disse uma vez: «Se algum dos estudantes for, como caudilho desse honroso movimento, expulso das aulas por um arcaico e falso critério disciplinar, eu considerá-las-ei também fechadas para mim…» / Foram expulsos alguns estudantes e o lente que pronunciou aquelas palavras cumpriu honradamente a sua palavra, colocando-se ao lado deles. O governo, irritado, persegue e acusa o lente; o povo, o país todo, revolta-se contra este regime de ineptos e maus que para aí estão a tripudiar loucamente, e saúda com efusão o homem de carácter ileso que se sacrifica pela sua palavra, pelas suas opiniões e pelo seu amor aos perseguidos. / E aqui está para o que deu, neste caso, o caiporismo do governo franquista: fez um herói onde queria fazer uma vítima, promoveu uma apoteose para quem só um castigo destinava! / Já é não ter sorte.
·         “Dr. Bernardino Machado”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 3, n.º 161 (18 Abr. 1907), p. 2.
      A «Voz Pública» de hoje trouxe-nos esta notícia: / «O sr. dr. Bernardino Machado acaba de dirigir a reitoria da Universidade, um ofício apresentando a sua demissão de Lente da Faculdade de Filosofia.». No seu laconismo, esta notícia pode passar desapercebido para os espíritos menos cultos ou para aqueles que não dispõem das mais elementares faculdades de ponderação; o caso, porém, é digno de nota para todos aqueles que se interessam pelo ressurgimento da pátria portuguesa. / A Universidade de Coimbra acaba de sofrer uma perda irreparável, não só porque perdeu um dos seus mais abalizados professores mas principalmente porque perdeu o seu primeiro educador. /  Com efeito, sob este ponto de vista, o Dr. Bernardino Machado é insubstituível. /  Só quem não dispõe de elementos para comparar a educação de países como a França, a Alemanha e a Inglaterra com a educação do nosso país e que não compreende o alto valor de Bernardino Machado, como educador. / A verdade é que além de sermos um povo ignorante, somos um povo mal-educado. / Lamentamos aqueles que não compreendem isto.
 
·         “D`esta vez não mentiu”. In O Porvir. V. N. de Famalicão, Ano 3, n.º 161 (18 Abr. 1907), p. 2.
Do nosso colega «A Voz Pública», extratamos o seguinte, que, comparado com as apreciações que o franquismo actualmente faz ao nosso eminente correligionário Bernardino Machado, deixa margem para se fazerem àquele grupelho monárquico certas considerações que não são de molde a lisonjear ninguém que se prese. / Tem a palavra «A Voz Pública»: / Há um ano apenas – Março de 1906 – ao tempo em que a moralidade triunfante, ávida, doidamente raivosa do poder, exercia junto da coroa a mais torpe chantagem para o alcançar, dizia o órgão do sr. João Franco o seguinte: / O sr. Bernardino Machado tem hoje, supomos, mais de cinquenta anos; foi ministro coroa; professor na primeira escola do seu país; é um estudioso e um erudito, com notoriedade que galgou as nossas fronteiras. Como homem, estamos certos de poder afirmar que nunca vimos outros mais e inalterável e perfeitamente bem educado; como político, conhecemos poucos que possam gabar-se de ver tão ponderados e tão serenos; como carácter, ninguém pode negar, por muito que discorde das suas ideias e aspirações políticas, que possui, e merece, a estima e o respeito geral. / Leram? / Pois agora, na opinião do órgão franquista, não há defeito que o sr. dr. Bernardino Machado não tenha. / Em vista disto, perguntámos nós: que autoridade moral têm as folhas franquistas para condear o nosso eminente correligionário? / O que vale é que o País já conhece o sr. dr. Bernardino Machado e não são os jornais franquistas que hão-de demolir a sólida reputação moral de tão insigne cidadão, que é uma das mais lídimas glórias nacionais. / Ainda que isso pese a muita gente!
 
 

·         “Dr. Bernardino Machado”. In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão, Ano 12, n.º 620 (7 Jul. 1907), p. 2.
Em Lisboa vai ser prestada, no dia 28 deste mês, uma grande homenagem ao distinto catedrático e lídimo carácter, sr. dr. Bernardino Machado, irmão do nosso amigo sr. Barão de Joane. / Tudo merece o insigne homem de ciência e paladino máximo da instrução em Portugal. / Por isso a essa homenagem nos associámos entusiasticamente.
·         “Homenagem a Bernardino Machado”. In Estrela do Minho, Ano 12, n.º 622 (2 Jul. 1907), p. 3.
      O governo proibiu a grandiosa manifestação pública de simpatia ao eminente pedagogo da democracia e ilustre propulsor da instrução e da educação cívica em Portugal. / Mas apesar da anunciada proibição, a comissão organizadora pensa em resistir a essa ordem, não desistindo de pôr na rua o cortejo com que se pretende celebrar as nobres e elevadas qualidades do cidadão prestantíssimo que tanto tem trabalhado pela causa da elevação moral do nosso povo. / A nossa câmara solicitada para fazer-se representar nesta homenagem respondeu de modo seguinte: / «Atendendo a que esta câmara é conservadora e monárquica, deplorando em vez de louvar, as pessoas que se salientaram no conflito académico, resolve responder que não adere à manifestação em honra do republicano sr. Bernardino Machado», o que foi aprovado por unanimidade.
·         “Dr. Bernardino Machado”. In Estrela do Minho. V. N. de Famalicão, Ano 13, n.º 623 (4 Ago. 1907), p. 1.
A homenagem prestada ao distintíssimo homem de ciência e grande homem de bem, sr. dr. Bernardino Machado, causou nesta vila grande contentamento. / Como se sabe, Famalicão orgulha-se de ter sido berço do ilustre antigo ornamento da nossa Universidade, que tem em cada famalicense um admirador entusiasta pelo seu carácter aliado a uma das intelectualidades mais em destaque do nosso país.
 
 
 

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