Para
as comemorações do 105.º Aniversário da Implantação da República em Portugal, a
Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão organiza a
exposição “A Imprensa e a I República em V. N. de Famalicão”, dando, assim, um
contributo para a valorização e a projecção da História Local. Desta forma,
pretendendo dar a conhecer a Comissão Municipal do Partido Republicano
Português desde os seus tempos de propaganda até ao poder, a exposição “A
Imprensa e a I República em V. N. de Famalicão” pretende também demonstrar as
dificuldades pelas quais os republicanos famalicenses passaram até ao 28 de
Maio de 1926.
Numa primeira abordagem, o que convém questionar
é se, de facto, o republicanismo em V. N. de Famalicão através da imprensa, na
divulgação do seu ideário, teve o seu efeito prático. Na realidade, num
primeiro momento, quando Sousa Fernandes em 1909, na inauguração do Centro
Republicano Dr. Bernardino Machado, salienta a importância dos centros
republicanos como meio de propaganda e de instrução, foca, enquanto
instrumentos para tal fim, o jornal, o livro e a conferência. Contudo, pretende-se
aqui enunciar cinco áreas concretas à volta da imprensa famalicense, entre o
período histórico da última década da monarquia e os anos da I República, a
saber: os periódicos republicanos, os periódicos de transição, os periódicos
informativos e noticiosos, os periódicos literários e humorísticos e os
periódicos associativos. Se no caso dos periódicos republicanos a caminhada
teve início de forma simplista com “A Egualdade” (1885), o ideário republicano
justifica-se com a “Nova Alvorada” (1891-1903) perante as comemorações das
figuras gradas da cultura nacional e internacional (e mesmo locais) e o jornal
“O Porvir” (1895-1897, 1906-1907 e 1910-1914), num combate anti-jesuítico e
catolicista. Desta forma, primeira conclusão que se pode retirar é da aposta,
numa primeira fase, por parte dos republicanos famalicenses, no discurso
cultural, face ao discurso político, este já acentuado, numa segunda fase, com
“O Porvir”. Face à irregularidade deste jornal, os republicanos evolucionistas
de V. N. de Famalicão publicariam o “Desafronta”, com Francisco Maria de Oliveira
e Silva, um dissidente da Comissão Municipal do Partido Republicano Português,
e, só muito mais tarde, nos anos 20, iria surgir “O Clarão” (1920-1921), o
porta-voz do operariado do concelho famalicense, e o semanário republicano “O
Democrata” (1922-1923), ambos tendo na frente a figura de António Gonçalves
Branco (1891-1972). Como se vê, tal como a nível nacional, as cisões
partidárias do Partido Republicano Português tiveram não só influência na
constituição de novas comissões municipais, como igualmente na formação dos
seus órgãos de imprensa, caso dos evolucionistas e dos radicais. Estes, em
1925, constituíam não só a Comissão Municipal do Partido Republicano Radical,
como igualmente o seu órgão de propaganda com o título “O Minhoto”. Por seu
turno, e nos periódicos de transição, e já na I República, há,
indiscutivelmente um nome que convém reter, o de Joaquim José da Rocha
(1874-1930), tipógrafo e o patrão da Tipografia Aliança. De facto, e face à
imprensa republicana, desde 1899 que o Partido Regenerador contou com três
títulos, tendo sido o de maior longevidade “O Regenerador” (1899-1910), já se
realçando no jornal então fundado por Monsenhor Santos Viegas, Joaquim José da
Rocha, director e proprietário. Já na parte final da monarquia, os
regeneradores famalicenses publicavam mais dois títulos efémeros, nomeadamente
o “Notícias de Famalicão” (1910), sendo director Guilherme da Costa e Sá e na
administração encontrámos o nome de António Maria Pereira (1878-1953),
franquista em 1907, então jovem professor, e o “Novidades de Famalicão”
(1910-1912), tendo como director e redactor principal Manuel José Rodrigues,
incorporando-se mais tarde, na I República, na comissão municipal do Partido
Republicano Liberal. Por outro lado, por parte do Partido Progressista, a
comunidade famalicense deparava-se com o jornal “O Famelicense” (1908-1914),
destacando-se o nome de José Maria da Graça S. de Sousa Júnior.
Se,
em parte, os republicanos famalicenses contavam com o “Estrela do Minho”
(1895-1969) de Manuel Pinto de Sousa, o fundador da Tipografia Minerva, como
seu editor, proprietário e director, dando uma marca pessoal de político
republicano laico e de independência e estando presente do princípio ao fim nas
comissões republicanas-democráticas famalicenses, os monárquicos e os
conservadores, assim como alguns dissidentes republicanos, particularmente
oriundos dos evolucionistas, tiveram em V. N. de Famalicão o seu porta-voz
incontestável, Joaquim José da Rocha. Para além de ter sido proprietário do
semanário independente “Aptas” (1910), ao lado de Elpídio Brandão Peixoto
(director e editor), o mesmo sucedendo com “A Paz” (1910-1911), surge em 1912
com a “Tribuna”, aqui já como editor e proprietário, secundado agora por Abílio
Pereira de Araújo como director. Perante a efemeridade destes três títulos,
será com a “Gazeta de Famalicão” (1914-1919), denominando-se “semanario
monárquico”, e com “A Paz” (1919-1930), designando-se como “semanario
conservador independente”, estes dois últimos títulos de maior longevidade, que
Joaquim José da Rocha, de uma forma ou de outra, elabora não só o seu percurso
ideológico, como igualmente o dos monárquicos e dos conservadores famalicenses,
alcançando o seu apogeu com o pimentismo, na vitória das eleições municipais de
1917, no sidonismo e na monarquia do norte, numa constante reivindicação aos
valores de uma “pátria” já ida e em constante remodelação.
Ao
lado destes periódicos informativos e noticiosos, dos republicanos e de transição,
a imprensa em V. N. de Famalicão toma um outro rumo, nomeadamente o literário e
o humorístico, sem esquecer, como é óbvio, a cultura sempre presente nas
páginas do “Estrela do Minho”, pontificando Camilo Castelo Branco e a Casa de
Seide. No primeiro caso, conta-se nos seus corpos directivos e redactoriais
personalidades conservadoras, oriundas do monarquismo franquista e de
regeneradores, ao lado de uma nova geração que então começava a dar os seus
primeiros passos nas lides jornalísticas. Neste último caso, temos o
quinzenário humorístico, literário e noticioso “O Sonho” (1915-1916), estando
aqui como editor Alexandrino Costa e na direcção o então ainda jovem
republicano Alberto Veloso de Araújo, “O Pandilha” (1913-1914) e as três séries
de “O Sorriso” (1909, 1912 e 1915), pontificando nomes como Daniel Correia
Guimarães, António Maria Pereira, Joaquim Fortunato de Almeida, Alfredo Saraiva
Sampaio e o de Francisco Mesquita de Araújo; e se já o “Novidades de Famalicão”
em 1911 publica “O Sorriso” em seis números, uma página literária dedicada às
damas famalicenses, sendo responsável A. Fontes, tais jornais, diga-se, sem
excepção, radicalizam-se numa estética naturalista.
Surgem-nos,
finalmente, os periódicos associativos, destacando-se indiscutivelmente “A
Lavoura do Minho” (1912-1925), órgão de imprensa da Associação de Agricultura
Famalicense, esta criada em 1912 e transformada em Sindicato Agrícola em 1913. No
âmbito da ideologia republicana para a defesa e a divulgação da agricultura,
destacaram-se nomes como os de Duarte Maria Menezes, Joaquim Moreira Pinto e
Guilherme da Costa e Sá (integrou a equipa do jornal regenerador “Novidades de
Famalicão”) e, no fim deste jornal, surgiria em Landim “O Guia do Agricultor”
(1925-1935), com nomes como os de Abílio Gomes da Costa, Augusto Padrão e
António Cândido de Sousa, conservadores.
Com
a criação do Orfeão Famalicense (1916), surgiria o título “O Orfeonista”
(1916-1917), com nomes como Alexandrino Costa e Mário Lima na administração, redactor-chefe
Alberto Veloso de Araújo e tinha uma direcção de propaganda: ao lado dos já
nomeados, acrescenta-se os de António Maria Pereira e Carlos Alberto Oliveira.
Paralelamente,
o Grupo Desportivo Famalicense, que nascia no ano de 1922, fundava no mesmo ano
“Vida e Sport”, sendo seu proprietário e editor Uriel Dias Marques.
Concluindo,
se num primeiro momento o ideário republicano se impôs na comunidade
famalicense através da imprensa, particularmente pela cultura, num segundo
momento é clarividente a projecção conservadora e monárquica, que suplantará a
imprensa republicana. Indiscutivelmente, que as consequências serão
desastrosas.
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