AS “PORTAS DA HISTÓRIA”
OS CAMINHOS DA NOVA HISTORIOGRAFIA
É
tempo de rasgar horizontes. Fernando Rosas, na última lição que proferiu na
Universidade Nova de Lisboa (“História e Memória: “Última Lição” de Fernando
Rosas”. Lisboa: Tintas-da-China, 2016), convoca-nos a uma reflexão sobre o
papel da Memória na História. Alerta-nos para três paradigmas problemáticos e
desconfiguradores da memória historiográfica nesta sociedade neo-liberal
conservadora. A primeira desconfiguração da Memória é a desmemória, cujo
processo que encarna o pensamento conservador contemporâneo na sua
reivindicação ideológica. Este primeiro paradigma da desconfiguração da memória
constrói-se de “silêncios” e de “omissões”, baseado num “amoralismo
intelectual” e de ignorância sitémica., existindo assim há volta da memória um
silêncio organizado nas instituições na efectivação da História. O segundo
paradigma da desvirtualização da Memória é a convocação da memória como
“farsa”, isto ´r, a teatralização da memória no espaço público. Mais do que uma
espécie de “literatura de cordel”, protagonizada, em parte, pelos meios de
comunicação social, , existem fenómenos culturais cuja projecção pública
desvirtuam o seu real significado, porque depois não aplicados. Finalmente, o
terceiro paradigma da desvirtualização da Memória, o “revisionismo historiográfico”,
o qual “opina muito”, mas “investiga pouco”, tendo como consequência inevitável
a manipulação da própria Memória, ficando suspenso o discurso crítico
historiográfico. Destes três paradigmas da desvirtualização da Memória para a
efectivação de um discurso historiográfico crítico, vários são os exemplos que
poderia citar (e não é preciso ir muito longe, dentro de portas também os
temos): pelo que se tem feito em volta de algumas personalidades, com excepções
há regra; na falta de um discurso historiográfico crítico, muitas vezes
incoerente, tipo corta e cola; no caso de algumas instituições deixarem passar
em branco praticamente as comemorações centenárias; por um discurso
historiográfico de ignorância histórica, elaborado em algumas circunstâncias
via Dr. Google, com indicações bibliográficas incoerentes, o que daqui se supõe
a falta de honestidade intelectual e pelos plágios constantes.
Vêm
estas reflexões a propósito da publicação dos dois volumes das “Portas da
História”, as quais foram apresentadas no Dia do Município de V. N. de
Famalicão. Projecto editorial do Presidente do Município famalicense na última
vereação, Dr. Paulo Cunha (recentemente eleito nas eleições autárquicas do dia
1 de Outubro), teve a virtualidade de trazer para a Praça Pública não só as
comemorações do Dia do Município, na sua segunda efectivação, como igualmente
as “Portas da História”, as quais significam a maturidade historiográfica (o
mesmo acontecendo em 2005 com a “História de Famalicão”). Se ambas as
histórias, conforme o afirmou Artur Sá da Costa na apresentação das “Portas da
História”, se complementam, mais do que um discurso ideológico, elas são a
reivindicação de uma identidade historiográfica multidisciplinar,
manifestando-se contra aqueles que ainda possam acreditar que Famalicão é uma
“Terra sem História”, esta mitificação desconfiguradora da memória que tem os
seus perigos. Sim, é tempo de rasgar horizontes nas instituições culturais
famalicenses (colocando aqui um papel primordial na rede de Museus), com
projectos mais ambiciosos entre o local numa glocalização (a exemplo, com o
Eixo Atlântico). Mais do que apresentar projectos públicos como dados
adquiridos (a tal teatralização da Memória) é tempo de rasgar horizontes para uma identificação do
território famalicense além fronteiras.
Só para dizer que te encontrei!
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