Decorreu
no dia 4 de Abril, no Museu Bernardino Machado, mais uma conferência do ciclo
“Ideias e Práticas do Colonialismo Português”, tendo sido o conferencista
convidado o Prof. Sérgio Neto que proferiu a conferência “De Goa a Luanda:
pensamento e acção de Norton de Matos”. O Prof. Sérgio Neto, na sua
conferência, fez uma análise ao percurso colonialista de Norton de Matos em
vários tópicos, até à candidatura presidencial de 1949. Partindo do pressuposto
que Norton de Matos defendia para as colónias, e em particular para Angola, uma
governação civil em vez de uma governação militar, o Prof. Sérgio Neto analisou
inicialmente os pressupostos ideológicos coloniais de oitocentos baseando-se
essencialmente no darwinismo social e no mito ariano ou na análise de propaganda
realizada no campo literário, através de Júlio Verne, Emilio Salgari ou de
Joseph Conrad, focando e contextualizando a polémica portuguesa em volta da
centralização e da descentralização. Relativamente a Norton de Matos,
analisando as influências familiares e as suas leituras, nomeadamente as de
John Lock, Voltaire, David Hume, Adam Smith, Jeremy Bentham e, mais tarde, em
Coimbra, onde tirou o curso de Matemática, Proudhon, Marx, Comte ou Spencer, as
quais vão ter influência no seu pensamento, o Prof. Sérgio Neto falou-nos,
partindo do início da carreira militar, da primeira experiência colonial (na
Índia, em Goa), na qual Norton de Matos chegou a escrever um “Manual do
Agrimensor”, na medida em que foi director dos serviços de Agrimensura na Índia,
estabelecendo a demarcação dos prédios urbanos e rurais, criando serviços de
raiz, recrutando locais. Até à República, o percurso de Norton de Matos ficaria
estabelecido pela nomeação de outras comissões, considerando, mais tarde, que
na Índia “a minha vida foi uma iniciação”. Aderindo ao Partido Democrático em
1911, Norton de Matos seria nomeado Governador Civil de Angola (1912),
iniciou-se na Maçonaria (1912), Ministro da Guerra (1914), realizando o
“milagre de Tancos” na organização do C. E. P., mesmo com os seus defeitos. O
segundo consulado em Angola, desta vez como Alto-Comissariado (1920-1921),
Norton de Matos ressalva o seu projecto, que era essencialmente, nas suas
palavras, “uma obra verdadeiramente económica”. A base desenvolvimento seria a
agricultura, depois desta o comércio e, finalmente a indústria. O projecto
modernizador e descentralizador para Angola passou pela criação de um quadro de
funcionários, acabar com a exportação e degradados, fomentar a emigração, o
desenvolvimento das vias rodoviárias, o desenvolvimento da educação e da
instrução, a proibição das armas e das bebidas alcoólicas, sendo Angola vista
na sua ideia como o prolongamento de Portugal, entre outras ideias, para que a
posse civil do território fosse uma realidade. Embaixador de Portugal em
Londres (1924-1926), o programa de Norton de Matos para o desenvolvimento de
Angola seria criticado entre o despesismo e a prepotência, caindo, na ideia do
Prof. Sérgio Neto, em algumas contradições, caso da ideia mística imperial,
retomada pelo Estado Novo, ou mesmo, já na fase final, a ideia paternalista e a
ideia de proteccionismo face às colónias. Se Norton de Matos foi o criador do
império português, por outro lado, assistiu igualmente à destruição, como foi
com o caso da Índia.
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