domingo, 6 de abril de 2014

Norton de Matos, o militar civil


Decorreu no dia 4 de Abril, no Museu Bernardino Machado, mais uma conferência do ciclo “Ideias e Práticas do Colonialismo Português”, tendo sido o conferencista convidado o Prof. Sérgio Neto que proferiu a conferência “De Goa a Luanda: pensamento e acção de Norton de Matos”. O Prof. Sérgio Neto, na sua conferência, fez uma análise ao percurso colonialista de Norton de Matos em vários tópicos, até à candidatura presidencial de 1949. Partindo do pressuposto que Norton de Matos defendia para as colónias, e em particular para Angola, uma governação civil em vez de uma governação militar, o Prof. Sérgio Neto analisou inicialmente os pressupostos ideológicos coloniais de oitocentos baseando-se essencialmente no darwinismo social e no mito ariano ou na análise de propaganda realizada no campo literário, através de Júlio Verne, Emilio Salgari ou de Joseph Conrad, focando e contextualizando a polémica portuguesa em volta da centralização e da descentralização. Relativamente a Norton de Matos, analisando as influências familiares e as suas leituras, nomeadamente as de John Lock, Voltaire, David Hume, Adam Smith, Jeremy Bentham e, mais tarde, em Coimbra, onde tirou o curso de Matemática, Proudhon, Marx, Comte ou Spencer, as quais vão ter influência no seu pensamento, o Prof. Sérgio Neto falou-nos, partindo do início da carreira militar, da primeira experiência colonial (na Índia, em Goa), na qual Norton de Matos chegou a escrever um “Manual do Agrimensor”, na medida em que foi director dos serviços de Agrimensura na Índia, estabelecendo a demarcação dos prédios urbanos e rurais, criando serviços de raiz, recrutando locais. Até à República, o percurso de Norton de Matos ficaria estabelecido pela nomeação de outras comissões, considerando, mais tarde, que na Índia “a minha vida foi uma iniciação”. Aderindo ao Partido Democrático em 1911, Norton de Matos seria nomeado Governador Civil de Angola (1912), iniciou-se na Maçonaria (1912), Ministro da Guerra (1914), realizando o “milagre de Tancos” na organização do C. E. P., mesmo com os seus defeitos. O segundo consulado em Angola, desta vez como Alto-Comissariado (1920-1921), Norton de Matos ressalva o seu projecto, que era essencialmente, nas suas palavras, “uma obra verdadeiramente económica”. A base desenvolvimento seria a agricultura, depois desta o comércio e, finalmente a indústria. O projecto modernizador e descentralizador para Angola passou pela criação de um quadro de funcionários, acabar com a exportação e degradados, fomentar a emigração, o desenvolvimento das vias rodoviárias, o desenvolvimento da educação e da instrução, a proibição das armas e das bebidas alcoólicas, sendo Angola vista na sua ideia como o prolongamento de Portugal, entre outras ideias, para que a posse civil do território fosse uma realidade. Embaixador de Portugal em Londres (1924-1926), o programa de Norton de Matos para o desenvolvimento de Angola seria criticado entre o despesismo e a prepotência, caindo, na ideia do Prof. Sérgio Neto, em algumas contradições, caso da ideia mística imperial, retomada pelo Estado Novo, ou mesmo, já na fase final, a ideia paternalista e a ideia de proteccionismo face às colónias. Se Norton de Matos foi o criador do império português, por outro lado, assistiu igualmente à destruição, como foi com o caso da Índia.

Sem comentários:

Enviar um comentário