Na
apresentação do conferencista convidado, o Prof. Miguel Santos, o Prof. Norberto
Cunha, coordenador científico do Museu Bernardino Machado, referiu-se que seria
apresentada a “outra faceta de Paiva Couceiro, para além das invasões
couceiristas”. De facto, na segunda conferência do Ciclo “Ideias e Práticas do
Colonialismo Português”, o Prof. Miguel Santos na conferência com o título “O
Pensamento e a Acção Colonial de Paiva Couceiro” apresentou ao auditório do
Museu Bernardino Machado uma outra faceta de Paiva Couceiro. Partindo do
princípio de que no pensamento colonialista de Paiva Couceiro temos não só o
“militar, mas também o pensador”, cujo pensamento não pode ser desligado de
outros pensadores. Partindo da análise de obras como “Relatório de Viagem entre
Bailundo e as Terras do Mucusso” (1892), passando pelo título “Experiência de
Tracção Mecânica na Província de Angola” (1902) até à sua “Profissão de Fé”
(1944), o Prof. Miguel Santos pretendeu analisar analisou a “teoria do império”
em Paiva Couceiro no âmbito de uma filosofia política, sendo a questão a saber
se esta mesma teoria foi inovadora. Ora, se na Europa são as elites que fazem a
colonização, em Portugal são os militares que a desenvolvem. Neste âmbito, o
Prof. Miguel Santos apresentou três mecanismos, três ideários de colonização
para percebermos a contextualização do pensamento de Paiva Couceiro neste
âmbito, o colonial: o comercial, a plantação e a ocupação efectiva do
território no seu povoamento, para o desenvolvimento da agricultura. Defendendo
Paiva Couceiro a autonomia progressiva para as colónias, em particular para
Angola, tal desenvolvimento deveria ser feito pelo conhecimento territorial e,
paralelamente, não há construção de um território se não houver vias de
comunicação. Neste âmbito, Paiva Couceiro pertenceu a uma geração a que os
historiadores designaram como a “ocupação cientificizada do espaço”. Desta
forma, e tendo como pano de fundo o exemplo do Brasil, Paiva Couceiro
acreditava na terceira perspectiva atrás apresentada, através do aculturamento,
da misecinização para o aparecimento de novas culturas, sendo este o caminho da
desconstrução para a construção da autonomia das colónias, não propriamente a
“independência”. Numa perspectiva económica, Paiva Couceiro desenvolveu um
modelo específico, denominado pela agricultura, pelo comércio, sendo este só
possível com o desenvolvimento das infra-estruturas, apelando a uma
“civilização do trabalho”, aqui divergindo do pensamento de Oliveira Martins.
Nas palavras de Paiva Couceiro, “o trabalho é o elemento estruturante da
soberania para a construção de uma nova identidade”, entrando aqui o papel da
instrução, do ensino. Classificando o pensamento colonial de Paiva Couceiro
como sendo um “nacionalismo tradicionalista”, o Prof. Miguel Santos, num
segundo momento da sua conferência, analisou a seguinte ideia: se há ou não no
pensamento de Paiva Couceiro um objectivo colectivo, o qual recorre à tradição
historiográfica identitária. Neste pensamento, temos não só uma visão
decadentista do mundo moderno, como igualmente o reforço da componente
decadentista que põe em causa a qualidade da raça e ameaça o futuro do país.
Por outro lado, temos em Paiva Couceiro um certo imperialismo, uma espécie de
“Teoria do Império”, sendo esta a oportunidade do surgimento da Pátria, numa
concepção historicista. Portugal surge aqui, na busca das qualidades
étcnico-rácicas enquanto povo colonizador, com um objectivo colectivo, estando
aqui igualmente um pensamento determinista, na busca das qualidades inatas dos portugueses,
indo-se até aos lusitanos.
O
Prof. Miguel Santos ofereceu ao Museu Bernardino Machado os seguintes títulos:
“Imperialismo e Ressurgimento Nacional: o contributo dos monárquicos
africanistas” (2003), “Luís de Magalhães, Oliveira Martins e a “Vida Nova”
(2003), “O Mito da Atlântida nas Leituras Historiográficas do nacionalismo
Monárquico” (2008), “Arlindo Vicente e a Oposição: as eleições presidenciais de
1958” (2009), “A Contra-Revolução na I República: 1910-1919” (2010), “A
República e as Letras” (2010) “Presidentes: entre o público e o privado” (2011)
e “As Ditaduras na História Política Contemporânea: contributos para um debate”
(2011).
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