Joaquim José
de Sousa Fernandes
(Vila Nova
de Famalicão, 24/01/1849-Vila Nova de Famalicão, 13/041928)
Nascido
em Vila Nova de Famalicão, era filho de António Joaquim Fernandes e de Justa
Maria de Sousa Fernandes. Com treze anos, em 1862m emigrou para o Brasil,
segundo um caminho já traçado por outros membros da sua família, tornando um
brasileiro de torna-viagem, até fixar residência definitiva em V. N. de
Famalicão, em 1906. No Brasil, a exemplo de outros portugueses emigrados,
seguiu a carreira comercial, no Rio de Janeiro, na casa Gomes & irmão,
tornando-se sócio-gerente em 1878.
Foi, precisamente, no Rio de Janeiro que começou
a sua instrução autodidacta, vindo a ser influenciado pela revolução
republicana brasileira (1889), escrevendo assiduamente não só para o jornal
portuense “O Primeiro de Janeiro” as suas afamadas “Crónicas Brasileiras”, como
igualmente na Revista do Retiro Literário Português, fundada por Sousa
Fernandes, vindo, aliás, a ser Presidente Honorário e seu Sócio Benemérito do
Retiro. Colabora, igualmente, ainda nesta época, em dois almanaques,
nomeadamente no “Almanaque do Minho” (1893) e no “Almanaque de Braga” (1894),
com ficções e textos de divulgação sobre V. N. de Famalicão, o mesmo
acontecendo, no último caso, no citado jornal portuense, segundo demonstra a
seguinte notícia: “Este importantíssimo diário portuense publicou no seu número
de Domingo último gravuras desta formosa vila, acompanhas dum artigo descritivo
do ilustrado publicista nosso conterrâneo, Exmo Sr. Sousa Fernandes.[1]”
Publicou três livros: “Recordações de Viagem” (1883), “Telas de Viagem” (1890)
e “Pequenos Estudos” (1891), sendo um dos primeiros a escrever, e a publicar,
sobre o género, a literatura de viagens, em V. N. de Famalicão
[1] “O Janeiro”. In O Lutador. V. N. de Famalicão, Ano 2,
n.º 69 (16 Abr. 1902), p. 2.
Como
aconteceu um pouco por todo o País, a última década do século XIX foi marcada
pela efervescência da propaganda republicana, o mesmo acontecendo entre nós. Na
sequência do Ultimatum e da revolução
republicana do Porto de 31 de Janeiro de 1891, o Partido Republicano Português
vê aumentar a sua força, crescer o número de aderentes e multiplicam-se os
órgãos de propaganda. Em V. N. de Famalicão, e através de Sousa Fernandes,
publicou-se a revista literária “Nova Alvorada”, de propaganda carismaticamente
republicana, sendo Fernandes seu director entre 1891 a 1895; e, por seu turno,
neste mesmo último ano funda não só a Comissão Municipal do Partido
Republicano, como igualmente o seu órgão, o jornal “O Porvir”, assim se
candidatando às eleições municipais.
Destes
tempos de propaganda temos, pelo menos, dois testemunhos; o de Manuel da Silva
Mendes (1869-1938) e o de Nuno Castelo Branco (18641896). Nuno Castelo Branco,
a 27 de Outubro de 1895 no jornal “O Leme”, numa crónica denominada “A Política
do Concelho”, analisa os três partidos que então vão concorrer à autarquia
famalicense: do Partido Regenerador, diz-nos que “as coisas não lhe estão na
melhor ordem”, enquanto que relativamente ao Partido Progressista questiona:
“Quem é o chefe? Onde está o chefe? Quem são os progressistas? Onde estão
eles?” Quanto ao Partido Republicano, afirma que este é o que vai ganhando
“sangue novo”, tratando “de se preparar para as eleições camarárias com toda a
sua força.” E continua: “ Não sabemos se tem bons dados para o alcançamento da
vitória”, existindo “grande receio por parte dos regeneradores, progressistas e
mesmo católicos”.
Quem
nos conta um pouco mais desta época republicana nascente em V. N. de Famalicão,
e do papel de Sousa Fernandes, é Silva Mendes nas suas “Impressões de Macau”.
Referindo-se a si mesmo como “republicaneiro”, informa-nos que dizia mal da
odiosa monarquia e dos monárquicos no “Porvir” de Sousa Fernandes; e deste,
diz-nos, a dada altura, que “vindo da Rua do Quitanda para Famalicão, donde era
natural, com alguns fumos de rico, e muitos de liberal-republicano. No Rio
tinha feito muitos discursos vermelhos, sabia de cor Danton e Robespierre e
fundou na vila “O Porvir”, que era como quem dissesse a República à porta."
Esta
fase de euforia republicana duraria até finais de 1897, altura em que Sousa
Fernandes regressou ao Brasil. A partir daqui, com o fim da publicação do
jornal “O Porvir” e as demissões verificadas na Comissão Municipal Republicana,
alguns dos quais irão surgir mais tarde nas fileiras do Partido Progressista,
os republicanos famalicenses passariam por uma crise identitária, só terminando
com o regresso de Sousa Fernandes, com uma nova fase de propaganda, a saber:
reorganizou uma nova Comissão Municipal em 1905, 1906 e 1908 e fez parte da
Comissão Distrital Republicana de 1908 e 1910. Em 1906 faz Fernandes ressurgir
“O Porvir” e neste mesmo ano, na Associação do Operariado Famalicense, mais
propriamente no Teatro Progresso, realiza em 18 de Novembro a conferência “O
Espírito da Associação na sua Evolução Histórica e Modo de Ser Actual” e o
comício de Braga em 1908, uma nova etapa de propaganda republicana em Famalicão
se concretiza, tendo sido o acontecimento mais marcante a inauguração em 14
Novembro de 1909 do Centro Republicano Dr. Bernardino Machado, com a presença
do patrono, o qual proferiu a conferência “Têm Liberdade os Monárquicos em
Portugal?”, numa homenagem, ao mesmo tempo, ao republicano Gonçalves Cerejeira.
Depois do 5 de Outubro, Sousa Fernandes será,
sucessivamente, Administrador do Concelho e Presidente da Comissão Municipal
Republicana da Câmara Municipal (recorde-se, não sem incidentes de percurso,
como são os casos da Fonte Santa de Mouquim, a polémica à volta do regulamento
da Guarda Nacional Republicana ou ainda a intenção de Fernandes de acabar com
os Bombeiros e a sua respectiva associação, para dar voz a uns Sapadores de
Bombeiros, polémica esta com a Comissão Municipal do Partido Republicano
Evolucionista, entre outras), que tomou posse a 8 de Outubro de 1910, ficando
marcado este último cargo, indiscutivelmente, pela sua intervenção na fundação
da Biblioteca Municipal Camilo Castelo Branco. Foi deputado à Assembleia
Constituinte (1911) e eleito Senador pelo Distrito de Braga. Desiludido com os
sucessivos governos republicanos, considerava que só o Governo Provisório e o I
Ministério de Afonso Costa tinham feito obra útil e republicana, afastando-se
Fernandes da actividade política a seguir ao sidonismo, dedicando-se a causas
cívicas e culturais. participando e discursando nas sessões cívicas e
comemorativas de V. N. de Famalicão, no plano cívico, e segundo o “Estrela do
Minho”, de 15 de Abril de 1928, numa espécie de In Memorian, sabemos que o edifício escolar da época “deve-lhe
grande auxílio de alguns contos que lhe prestou, abrindo uma subscrição entre
os seus amigos no Brasil.”
Paralelamente,
será nomeado por Carlos Bacelar Director da Casa-Museu de Camilo em 1924, assim
que a Comissão de Homenagem a Camilo, presidida então por José de Azevedo e
Menezes, passaria a administração da respectiva Casa-Museu para o município
famalicense. O “Estrela do Minho”, de 13 de Abril de 1924, noticia, assim, já
na parte final da notícia, o referido acontecimento: “Está, portanto, entregue
em boas mãos o Museu Camiliano de Seide. O sr. Sousa Fernandes é um culto e um
alto espírito que muito honra Famalicão. Tem, por isso, toda a competência para
aquele delicado cargo, além de ser também um fervoroso admirador da obra do
grande torturado de S. Miguel de Seide.”
Em
1925, entrando já a República na sua fase de decadência, no jornal “O Minhoto”,
órgão do Partido Republicano Radical da Comissão Municipal, em 5 de Outubro de
1925, considerava-se Fernandes “um soldado fiel e disciplinado do velho e
benemérito Partido Republicano Português.” Homenageado em 1911 e em 1925 por um
Grupo de Republicanos Famalicenses, a Câmara Municipal de V. N. de Famalicão
homenageou-o em 1988.
Passei e gostei...
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